2006/08/02
Homenagem a Salazar
No Vimieiro, sábado passado
Um factor novo nos movia e move, a certeza de que a Câmara Municipal de Santa Comba Dão continua a fazer o possível e o impossível para que, em 2009, esteja já aberto ao público o Museu do Estado Novo, lugar de rigor e grande dignidade onde Salazar receberá, por certo, a melhor e mais alta homenagem a que a sua dimensão pessoal e histórica lhe dá inegável direito: a homenagem à verdade e grandeza histórica da sua obra e à integridade moral e intelectual do seu percurso pessoal ímpar.
Entre mais de cinquenta pessoas presentes, todas vindas de longe, que a homenagem não foi localmente divulgada, estávamos apenas dois dos participantes na primeira destas romagens, a de 1989, no ano do centenário do nascimento de Salazar.
Os restantes eram gente em geral muito mais nova, a comprovar a crescente renovação do culto à sua memória.
Não admira, por isso, que alguns se sintam nestas alturas inclinados a reflectir sobre as possibilidades de fazer renascer politicamente o salazarismo, como força organizada, tantas são as incitações recebidas manifestando esse desejo.
Por mim, costumo pôr-me intimamente três observações que, penso, poderiam orientar qualquer acção naquele sentido:
1ª – As romagens ao Vimieiro deverão continuar a ser o que sempre têm sido, sem o mínimo desvio: isto é, ocasiões unicamente de culto cristão à memória dum falecido de vida pública modelar.
2ª – Politicamente, o salazarismo tem de renascer e desenvolver-se sobre os alicerces democráticos do sufrágio universal mais puro e rigoroso.
3ª – É dos novos e muito novos que estão a aparecer nestas e em muitas outras idênticas manifestações, tanto ou mais discretas que esta, que terão de surgir os promotores e futuros dirigentes do salazarismo renascido politicamente, se o País der provas de o desejar, como muitos cremos. Por uma razão: por ser o salazarismo a mais rica e original fonte portuguesa de pensamento e doutrina política e a melhor escola nacional de arte de governar.
Fico a pensar se não é pedir demais aos novos e muito novos.
A.C.R.
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2006/04/04
“O homem que mudou o mundo”.
“Aquele que deixou o mundo melhor”.

Mas é tão fácil criar lemas para aquela personalidade tão rica e tão fascinante, misteriosamente viva ainda, cada vez mais viva!
A propósito do ano que passou sobre a sua morte, escrevi aqui no domingo, 2, deixando correr a alegria de recordá-lo e revivê-lo, a extravasar-me do coração como a muitos mais como eu que estes dias também não conseguiram ou não quiseram fechar o coração ao deslumbramento… Tal qual há um ano…
“Literalmente, Outro Cristo!”
Pressinto… Não! Tenho a certeza. Que alguém terá achado isto inadequado, excessivo, provocador, imprevisível, surpreendente, nada teológico, mesmo herético.
E, no entanto, bastaria que se lembrassem de São Paulo a dizer… “Já não sou eu que vivo. É Cristo que vive em mim.”
Era isso que transparecia em João Paulo II, essa verdade deslumbrante que cegava e tornava tudo tão simples e tão claro!
Já não era Karol Wojtyla, João Paulo II que vivia, era Cristo que vivia nele!
Quantas vezes terá acontecido tal ao longo da História?...
Não sei, não quero, não preciso nem tenho que saber.
Basta-me, e aos muitos que tivemos a glória de experimentar o mesmo deslumbramento, que isto tenha acontecido uma vez.
Uma vez só, mas no nosso tempo dum século de impiedade e sofreguidão religiosa, mas nas nossas vidas!
Tudo porque foi Ele, Wojtyla, quem nos deu a experiência única de termos estado ante o próprio Cristo.
A.C.R.
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2005/12/16
Salazarismo democrático (XIV)
É que se trata dum salazarismo para ir a votos, mais tarde ou mais cedo, inequivocamente.
Nada tem a ver com os nacionalismos historicistas e filosófico-literários de certa tradição intelectual portuguesa.
Misturá-los ou confundi-los é uma ofensa, chega a ser um insulto, mesmo quando involuntário, para o salazarismo em geral, e para o salazarismo democrático, em particular.
Que não tem nada de restauracionista, nem de ressurreccionista, seja de pessoas ou modelos pessoais, seja de sistemas.
O salazarismo não é uma ideologia, no sentido puramente especulativo e literário daquelas correntes.
Podemos, os novos nacionalistas, dispensá-las sem irremediável perda.
O salazarismo democrático é, sim, o que fica duma arte e escola de governar portuguesa, concreta e largamente provada e comprovada, seguramente a mais perfeita e acabada destes duzentos e tantos anos.
Essencialmente isso, mas nada menos que isso.
Uma excelente escola que não se pode deixar perder.
Ela salvar-nos-ia das tentações megalómanas, possivelmente criminosas, dos projectos da OTA e do TGV, com o seu voluntarismo suicida que está e vai pôr em perigo gravíssimo o que ainda resta de Portugal.
Haja Portugueses – como cada vez mais se vão assumindo – que não se deixam arrastar pela embriaguez completamente insana que parece ter tomado conta de certos ministros.
A.C.R.
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2005/10/14
Ingovernabilidade?
Para um salazarismo democrático (XIII)

Chama-lhe redondamente “falsa”.
Estou de acordo.
Mas quanto à “perseguição” que aqui tenho pretendido denunciar contra aquilo que VPP chama “certos grupos privilegiados, militares, juízes, professores por aí fora”, incluindo “os corpos do Estado – o corpo judicial e o corpo militar – e corporações como os professores”, aí VPV acha que o povo até “pode ter gostado do aperto que Sócrates (lhes) deu”.
O povo não terá gostado, segundo VPV, foi “da revisão do regime de pensões e de carreiras do funcionalismo, nem do aumento do IVA, nem do jejum orçamental”.
Não discordo.
Mas acho pouco, porque não abrange a realidade toda.
E para abranger esta, é preciso lembrar que os grupos visados, perseguidos de facto, são constituídos por algumas centenas de milhares de eleitores, sem contar pessoas afins.
Ignorá-lo não é coragem, é cegueira política, no mínimo.
Basta a mudança de sentido de voto desses grupos ou classes sociais, em relação a 2001, para na realidade explicar a derrota do PS.
A revolta desses grupos e classes sociais é quanto basta para tornar o Estado ingovernável, porque eles são realmente fundamentais para manter o País estruturado e a funcionar.
O governo parece ter ignorado ou esquecido de todo que “há País para além do défice”.
Aproveitar o défice para destruir socialmente o País é talvez a única coisa que um governo não deveria fazer, mesmo com o objectivo de reequilibrar as finanças públicas.
Por isso, honra lhes seja, Guterres, Durão Barroso e Santana Lopes nunca foram ou ameaçaram ir por tais caminhos.
Quem será capaz do “golpe de asa” necessário para compatibilizar os dois objectivos?
A.C.R.
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2005/09/19
Quem tem medo de Salazar?


Mesmo morto ele, e o regime do Estado Novo enterrado…
Ao secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, tivemos nós de o esclarecer aqui, ainda há dias, que os defensores do “salazarismo democrático” — dos primeiros a defendermos a reforma profunda do sistema político que nos governa — não pretendemos de modo algum subverter o regime político, mas apenas substituir o actual sistema político que está levando Portugal ao fundo.
O secretário-geral parecia querer advertir o seu público contra a eleição dum candidato de direita capaz de ressuscitar o fantasma do salazarismo…
Também Mário Soares, uns dias antes, havia exibido, na Televisão, uma surpreendente espécie de admiração por Salazar, a qual parece ter confundido muita gente, incluindo alguns leitores nossos.
Mas insinuámos que tal admiração tardia poderia esconder, de facto, apenas algum eleitoralismo, talvez na mira de fazer esquecer a muitos eleitores das presidenciais, a sua fúria anti-Salazar de outros tempos.
Salazar, trunfo eleitoral do regime, era perfeitamente inimaginável!
Mas outros se socorrem dele.
Ainda há dois ou três dias, no Porto, Rui Rio, candidato à reeleição como presidente da Câmara Municipal da Invicta e dos Dragões, se lamentava da possibilidade de virem a privá-lo, com a revogação dum decreto-lei de 1945, dos instrumentos forjados por Salazar para despejar inquilinos incumpridores dos bairros sociais, neste caso do Porto.
Também Rui Rio terá querido passar a mão pelo pêlo a alguns salazaristas?
Ou, de passagem, querido mostrar alguma admiração ou respeito por virtudes que tenha descoberto no salazarismo?
A ser assim, as coisas estarão a ficar mesmo negras — teoricamente, claras — para os virtuoses do bota-abaixo anti-salazarista. Não será altura de tomarem algumas cautelas?
Ou, melhor solução, possivelmente, seguirem o exemplo demolidor de António Almeida Santos.
“Ouvi um candidato à presidência da República gabar-se de que cultiva um grande distanciamento dos partidos”. — disse Almeida Santos, logo acrescentando…
“O Salazar subscreveria esta afirmação.”
Falava “o” Almeida Santos na convenção autárquica do PS, assim entrando na campanha eleitoral… presidencial, de que ali não se tratava, ao criticar a declaração de Cavaco Silva em Londres, na qual se afirmou cada vez mais distanciado dos partidos políticos. “Duvidemos sempre daqueles que se dizem democratas e não gostam dos partidos, porque não há democracia sem democratas e fora dos partidos” — concluiu.
Aí parece estar outro — Almeida Santos — que também já vê fantasmas de Salazar e do salazarismo no horizonte próximo. E que não só está assustado, mas quer assustar toda a gente.
Deve ele estar realmente muito assustado para não se envergonhar de usar o seu próprio medo como arma arrasadora já para as autárquicas.
Ao pé destes atemorizados, o “fundador do PS” que referi no poste de 09 do corrente, por causa da sua “Carta aberta a José Sócrates”, era um inocente e um bem intencionado, porque apenas nos acusava de querermos compatibilizar a Revolução e o salazarismo…
A.C.R.
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2005/09/16
Por um salazarismo democrático – XII
“Para a subversão do regime”, dizem eles.

Entre muitas outras pérolas, disse o S. G. especialmente esta.
“Não são o regime democrático e a Constituição da República a causa das dificuldades do país, nem tão pouco o país precisa de um presidente autocrático para superar a crise, como alguns publicamente preconizam e que outros alimentam na secreta esperança de utilizar a Presidência da República como instrumento para a subversão do regime”.
Também este “descobriu” as tenebrosas ameaças.
A avaliar pela exaltação daquilo que diz, penso que também os da Aliança Nacional estaremos entre os que, aos olhos do S. G. do PCP, trabalham para vir a “utilizar” a Presidência da República como instrumento para a subversão do regime.
Nós!
Por andarmos a defender um “salazarismo democrático”?
Nós!
Por pretendermos que, se não for adequadamente modificado, o sistema político* que temos se afundará e afundará o Pais?
Mas não nos queixamos por o PCP não compreender nada do sentimento profundo do País. Teríamos de queixar-nos antes da gente de direita para a qual o salazarismo nunca poderá ser democrático, porque teria nascido intrinsecamente anti-democrático, e anti-democrático teria de continuar a ser, para permanecer salazarismo.
São os eternos ideólogos de mentes imobilistas, que os há mesmo à direita.
Basta ir à Constituição de 1933, para se ver como ela tinha em si o fermento das mudanças necessárias às adaptações que viessem a ser indispensáveis.
Também isso deveriam aprender com o Mestre e não só o que primariamente lhes agrada.
A.C.R.
* Nunca confundimos regimes políticos com sistemas políticos.
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2005/09/09
O sucesso duma Causa começa a estar garantido, quando certas adesões afluem…

E mais, não o faria se não tivesse a crise do País por tão grave e ameaçadora como até os menos pessimistas a julgam, a ponto de já se afigurar potenciadora “perigosa” de nostalgismos salazaristas, em via de generalização crescente.
Por mim, penso que são todos uns exagerados, tantos os que tremem de “pavor”, como os que depositam fortes esperanças na possibilidade de que um novo salazarismo, ainda que democrático, esteja já aí a rebentar.
As frases de Soares vieram atear pavores e esperanças.
Creio que Soares se terá lamentado, durante a entrevista, de a putativa candidatura já o ter obrigado a interromper o trabalho duma biografia de Salazar que estaria a escrever.
Adivinham-se os milhares de espectadores de bocas abertas e olhares arregalados!...
O supremo manipulador explicou então que Salazar era para ele uma personalidade fascinante, deixando entender que, ao estudá-lo, pretendia perceber como é que Salazar tinha conseguido durar 40 anos no poder.
E, para que não restassem dúvidas sobre a razão de ser do seu fascínio, Soares acrescentou que Salazar fora evidentemente um “ditador”, mas que isso não podia explicar tudo.
Em suma, os admiradores de Salazar ficaram a saber que Mário Soares é um deles e que, nisto da candidatura, o que lhe custa a ele, Soares, é ter tido de interromper o seu estudo sobre o estadista, talvez esperando, em compensação, que muitos salazaristas venham por isso a votar na sua candidatura à presidência da República.
É mesmo possível que Soares se veja já a si próprio no papel de De Gaulle, que aqui temos evocado, “salvador” da França através do golpe de Estado constitucional que, por referendo, lhe permitiu em 1968 derrubar a IV República e criar a quinta, ainda “felizmente” vigente.
Do que não duvidam muitíssimos de nós é que também em Portugal estamos na hora de mudar radicalmente de sistema político.
Candidato que não sinta isso, não vai conseguir impor-se credivelmente.
E julgo que Mário Soares vai aderir, até antes cedo que tarde, com o seu provado “cheiro” para certos ventos.
A dúvida está na combatividade de que ainda se sinta capaz.
Porque, para isso, tudo parece poder vir a correr-lhe de feição.
Por exemplo, não lhe seria difícil uma vez eleito, arrastar o PM Sócrates e secretário-geral do PS para a necessária revisão constitucional; e não vejo razão para que o PSD não corresse pressurosamente atrás.
Porém, a coisa que mais falta a Soares é a vocação para o papel em questão.
Lá actor é… mas, para tanto, seria preciso ter também a força, a grandeza, a capacidade de premonição dum De Gaulle.
Ou dum António de Oliveira Salazar.
É capaz de ser pedir demais.
Ele poderia iludir-se, mas as forças morais e as realidades políticas acabariam por trai-lo.
O papel que Soares sempre desempenhou é o oposto do que agora teria de desempenhar. Por muita vontade de mudar de máscara e de fatiota que agora parece começar a tentá-lo…
… é tarde para ter êxito.
Não tanto pela idade, mas porque vai ser indispensável agir depressa e bem.
Ora há muito que Soares não consegue concentrar-se mais de três a quatro horas por dia.
Seria deposto dentro de pouco tempo, ou desistia da missão de salvar Portugal e de dar um grande exemplo de renovação democrática à U.E., que bem precisa.
Seia, 29.08.2005
A.C.R.
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Um “salazarismo democrático” — XI
Que susto!
Transcrevo desta uma passagem que considero pelos menos intrigante.
Referindo-se ao “povo” como supostamente crítico do Sócrates partido de férias para safari em África, diz Edmond Padilha:
“(…) Esse povo que, longe já do ciclo libertador durante o qual ele pôde pôr em causa a propriedade, durante décadas geradora de tantas desigualdades e injustiças, e a autoridade, à qual a Igreja Católica durante 50 anos jamais cessou de dar a legitimidade moral, observa, hoje, impotente as tentativas restauracionistas do antigamente, procurando reconciliar a revolução e o salazarismo em algumas das suas práticas e valores. Tentativas protagonizadas por jornalistas, economistas, intelectuais e políticos — alguns deles herdeiros de nomes que formavam outrora a “comunidade carismática” que sustentava a legitimava Salazar.
“Restauracionismo do qual se fazem porta-vozes jornais e a televisão pública (de todos e de cada um!). Restauracionismo que faz do revisionismo o vector da sua visão da história portuguesa contemporânea e que está a criar raízes nas mentes portuguesas à medida que a desilusão política se agrava.”
Fim de citação.
Tenho de confessar que em absoluto nada sei das “tentativas restauracionistas” que o Autor refere e que tão avançadas parecem estar já.
Não se refere ele explicitamente a nós ou à nossa visão do novo salazarismo, democrático, mesmo sendo legítimo suspeitar de o uso da palavra “vector” poder ser tomado como uma espécie de insinuação ou dica disfarçada, relativamente ao grupo do VECTOR.
Apesar de tudo, parece-me sintomático que a passagem transcrita seja o ponto fulcral e realmente novo da mensagem deste “fundador do PS”.
Haverá de facto no País uma grande predisposição para rever e aceitar um salazarismo realmente novo, “reconciliado” com a revolução ou, antes, com o regime, ainda que isso assuste uns tantos, como este “fundador do PS”?
Um outro fundador do PS — e que fundador! — deu-me logo a seguir, em entrevista à RTP, razões para reavaliar o suposto fenómeno do suposto renascimento salazarista..
Amanhã.
Seia, 28/08/2005
A.C.R.
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2005/07/28
Para um salazarismo democrático (X)
Vi o seu comentário, em que se me refere, ao texto “Enquanto estou acordado”, de Pedro Guedes.
Agradeço-lhe ter vindo em minha defesa, a seguir ao comentário dum Anonymus que pergunta se eu “ainda” estou “vivo”, o que a si lhe terá parecido esconder alguma intenção ofensiva.
Compreendo menos a sua ilusão de que as polémicas entre direita nacionalista e novo nacionalismo, por um lado, e o “nacionalismo zoológico”, por outro, sejam causa de enfraquecimento de “toda a direita” (portuguesa).
Digo que pensar isso seria iludirmo-nos, por estar absolutamente convicto de que, pelo contrário, o desmascaramento dos nacionalistas zoológicos só pode reforçar a direita.
Assim aconteceu em 1932 ou 1933, quando o Presidente Salazar liquidou os nacional-nazis do Rolão Preto.
Os nacional-racistas de agora são os herdeiros daqueles, igualmente anti-portugueses e anti-católicos.
Tem visto como ultimamente eles se declararam “patriotas” exclusivamente pró-germânicos?
É preciso que não passem do zero que são, os nossos “f.n.”, para que, definitivamente, a direita portuguesa volte a ser a força que deve ser, sem deixar lugar a dúvidas que a manchem.
Tentei voltar a explicar isto exactamente, nos textos dirigidos a semana passada ao PG (aqui e aqui).
Se tiver tempo, peço-lhe o favor de os ler porque foram feitos especialmente para pessoas de Boa Vontade como A.C.J.A..
Saudações fraternais.
A.C.R.
Etiquetas: racismo e racialismo, Salazar, Um salazarismo democrático
2005/07/14
Um salazarismo democrático (IX)

Ao governador do Banco de Portugal é mais difícil pedi-lo, porque é mais grave, por aquilo que representa.
Ele anunciou ontem, em nome do BP, que a previsão do aumento do PIB para 2005, que era de 1,6%, tem de baixar agora para 0,5%, isto é, menos de 1/3.
Afirmou, porém, que mesmo este valor pode não ser atingido, admitindo até que o crescimento pode vir a ser negativo, entrando o País tecnicamente em recessão, isto é, em empobrecimento geral, nacional efectivo.
Em 77 anos de vida económico-financeira portuguesa é a 1ª vez que tal acontece!
Para se chegar a este estado houve com certeza erros gravíssimos.
Já aqui registámos o que disse Miguel Cadilhe, o antigo ministro das Finanças de Cavaco Silva, da política deste quanto ao desencadear dos salários e privilégios da função pública, que acabariam nas loucuras de Guterres, completamente desaustinadas.
Mas já ninguém fala do começo de tudo, o processo revolucionário concomitante do PREC, da autogestão das empresas, largamente consentida e louvada, culminado nas nacionalizações.
Os dois maiores responsáveis por esses crimes foram há dias enterrados no meio dos maiores encómios do povo-vítima e dumas dezenas de “intelectuais” completamente tontos ou cegos pelo facciosismo.
Com as reprivatizações desencadeadas a partir de 1985 por Cavaco Silva, tudo poderia ter voltado a carrilar pelo melhor.
A verdade, porém, é que tínhamos vivido durante onze anos ou mais – onze anos! – como se fôssemos em economia, estruturalmente, pior ainda que qualquer república comunista da Cortina de Ferro.
Perdemos mercados.
Perdemos os hábitos e lições antigas da vida e luta em mercados livres.
Desvalorizámos os quadros que sabiam como fazê-lo.
Perdemos competitividade e os hábitos e práticas da competitividade.
Os dirigentes sindicais sem outra visão que a da simples demagogia impuseram a dirigentes políticos tão demagogos como eles, leis laborais completamente irrealistas, que agravaram irreversivelmente o estado de coisas.
Hoje, perante os resultados destes 31 anos para a economia portuguesa, não podemos ter dúvidas de que estamos a deixar submergir o País.
O Estado tem de gastar menos, todos os analistas sérios estão de acordo com isso.
Os Portugueses, sérios ou não, de qualquer classe profissional, vamos todos ter de passar por um período doloroso de adaptação e de reforço de um modelo económico mais criativo e mais agressivo.
Não temos uma classe empresarial perfeita, mas é a que temos, e é a única de que pode esperar-se a recuperação relativamente rápida do País.
O Governo, por seu lado, não pode aumentar mais nem as despesas nem as taxas dos impostos, porque seria muito de temer que maiores impostos só sirvam para gastar mais em desperdícios despesistas.
Em suma, terminaria dizendo que se for necessário gastar temporariamente menos alguma coisa em serviços públicos inúteis, em saúde, em educação, em cultura, em rotundas, em novas grande estradas, no TGV, na OTA e na concorrência entre municípios pelos “bonitinhos” das suas sedes, e concentrar essas economias numa profunda e larga política de defesa e qualificação das empresas e estímulo à competitividade, devemos fazê-lo, teremos de fazê-lo.
Mas dar directamente às empresas, nem um só tostão!
Seria muito bom que os que se dizem nacionalistas se debruçassem nestas questões da economia nacional – nem uma palavra, em tantos dos textos “nacionalistas” que proliferam por aí! – em lugar de teimarem quase sempre em questões meramente ideológicas repetitivas, que não apontam para qualquer caminho novo ou, pior ainda, que não esteja já amplamente desacreditado.
A.C.R.
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2005/06/30
O Défice visto em 1928
deficit crónico, que tomou foros de instituição nacional, de venerando monumento nacional, deficit cuja repetição provocou uma dívida relativamente avultada, nem sempre compensada por contrapartida equivalente no activo do Estado; uma dívida flutuante muito elevada, de taxas de juro altas, onerosa portanto e com perigo de reembolso imediato; e uma dívida fundada constituída por tão diversos tipos de empréstimos e juros tão afastados da taxa de mercado que as cotações parecem acusar o nosso descrédito, quando, de facto, traduzem apenas os baixos rendimentos. Acrescentemos ainda a má arrecadação das receitas e a desigual distribuição dos rendimentos públicos pelos serviços do Estado.
Será por aqui que deve começar-se a solução do problema nacional? Digo-vos: a não resolução deste problema fundamental traduz-se no recurso indefinido ao crédito. Quando este falta, é preciso recorrer à emissão de notas, à fabricação de moeda falsa, que tanto é a emissão de notas sem contrapartida. As que se fizeram representavam saques sobre o futuro: são esses os que somos agora chamados a pagar.”
SALAZAR (1928)
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2005/06/29
Para um salazarismo democrático (VIII)

Não posso dizer que ficasse surpreendido por aí além, mas alegrou-me, sobretudo, que todos tenham achado oportuna a iniciativa e que ninguém tenha estranhado ver unido o qualificativo democrático ao termo salazarismo.
Quer isso dizer, penso, que, como eu, nenhum dos meus interlocutores vê grande dificuldade em imaginar o salazarismo funcionando em pleno regime de sufrágio universal e sujeitando-se a passar-lhe periodicamente pelo veredicto, com a mais completa lisura e transparência.
Devo acrescentar mais isto, para não restar dúvida alguma.
Como qualquer outro programa político, um futuro salazarismo democrático terá de aceitar e defender que não voltará a ser Poder se o não conquistar pelo sufrágio universal; e que, perdendo o Poder pelo veredicto deste, só voltará a aspirar de novo ao Poder, através do mesmo sufrágio universal.
O novo salazarismo, como o concebo, é um programa e estilo de governo testado por uma longa experiência de sucesso, que por isso merece novas oportunidades.
Na minha opinião e na dos que me escrevem, pressinto, o salazarismo é um singularíssimo repositório de doutrina e praxis políticas que, no conjunto, constituem a melhor expressão da única grande tradição e escola portuguesa de governo destes duzentos anos, simultaneamente testada como projecto e como prática.
Essa formidável Arte de Governar é um património adquirido que não deve e não pode ser desperdiçado ou desprezado.
Entendo, pelo que alguns me escrevem, que, no caso de a experiência de governo em curso falhar, não haverá outra saída senão recorrer-se a uma solução de salazarismo democrático – uma solução de rigor na gestão, de fidelidade a Portugal, de poder patriótico criativo e de reivindicação para cada País europeu de parcelas perdidas de soberania que se revelam supérfluas e até embaraçosas para a sua actual depositária, a União Europeia.
No momento próprio deverá pois surgir o movimento político supra-partidário, capaz de formular e prosseguir um ideário e um programa de salazarismo democrático, capaz de redimir-nos de todos os falhanços, incompetências e despropósitos que, em três dezenas de anos, reduziram Portugal ao estado em que está?
É uma possibilidade que nos ultrapassa completamente, aos mais velhos.
Tem de aparecer muita gente nova e sem vícios para encabeçar o movimento e realizá-lo.
Realizá-lo com muito ideal e equivalente grau de pragmatismo, acreditando que Portugal continua a ser viável ou que tem de voltar a sê-lo.
António da cruz Rodrigues (A.C.R.)
(continua)
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2005/06/27
Por um salazarismo democrático (VII)
Mais tabus caídos!
Alguns se lembrarão da nossa campanha dos tabus políticos que, como assinalámos há alguns meses, foram caindo depois dos piparotes que lhes havíamos dado.
Parece-me terem surgido mais dois … que deixaram de o ser.

O jornal (“Público” de 2005.06.26) chama premonitório ao ministro, que teria “sentenciado” – diz o periódico – pura e simplesmente estas barbaridades, certíssimas mas ainda há pouco inimagináveis, depois de alguns lugares comuns inevitáveis.
“(…) no curto e médio prazo a vida nacional será condicionada pela gravidade da crise orçamental.”
“(…” a crise – disse logo a seguir, indo mais fundo e derrubando tabus como elefante em loja de louças – a crise tem raízes profundas ao nível do Estado e da economia e põe em causa a governabilidade do país e a própria independência nacional.”
Que estoiro!
Mas logo prosseguiu explicando que o cenário referido “colocará em causa valores essenciais da nossa identidade e da nossa própria personalidade política.”
E não hesitou em explicar ainda melhor como a independência se perde: se não houver uma inversão “na linha de declínio em que o País vem caindo ao longo dos últimos anos”, a economia definha e as empresas portuguesas “são adquiridas por empresas de economias mais poderosas.”
E lá se vai a independência nacional, permite-nos concluir ou quer o Ministro que concluamos.
Lembram-se de há poucos dias termos aqui escrito que a nossa independência, a nossa soberania, antes de perder-se gradualmente com a entrada na UE já vinha a perder-se e continuou até agora, com a insustentabilidade do défice?
Foi no poste de 16 do corrente, que recordámos como a independência nacional se perde inevitavelmente se não tivermos finanças solidamente equilibradas.
O Ministro tem seguramente ouvido excelente e uma lucidez de primeira apanha, sem complexos.
Amanhã continuo.
A.C.R.
Continua em:
- Outro tabu também caído agora
- Para um salazarismo democrático (VIII)
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2005/06/17
Como reagiriam os Ministros do Interior de Salazar?
Por um salazarismo democrático. (VI)

Temos agora o exemplo dos recém-aparecidos “arrastões”, cometidos ou tentados nas praias da Linha de Cascais e do Algarve, zonas emblemáticas ambas do nosso turismo.
Revelou-se a intolerável insegurança das nossas praias. Mas na primeira esparrela qualquer cai; à 2ª, só cai quem quer ou é parvo e impotente.
Cabe-nos, por isso, esperar que o Governo tenha aprendido, e não caia 2ª e 3ª vez na simplicidade simplória de se deixar encostar à parede por bandos de garotos, a esta hora ainda fartos de rir e gozar a sua fácil vitória.
Se isso acontecer, teremos de admitir que haja por detrás de tudo isto quem vá fazendo o seu melhor para minar e sapar os alicerces ao governo do Engenheiro José Sócrates.
A fraca reacção da PSP no caso de Carcavelos, ao fim de horas de desencadeados os acontecimentos, não deixa grandes esperanças.
Como teriam reagido os Ministros do Interior do Doutor Salazar?
Não deixariam, com certeza, que fosse a sociedade civil a reagir, na falta de melhor, correndo-se o risco de que as suas reacções assumissem a forma de puro racismo, com uma raça inteira injustamente confundida no mesmo saco.
Mas isso exige governos fortes e decididos, que não se sabe ainda se de facto temos.
Este de José Sócrates enfrenta esse desafio.
Vai ter de provar o que vale.
Espero bem que da melhor forma.
A.C.R.
(continua)
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2005/06/16
O Verão Quente de há trinta anos, esse sim, é a nossa comemoração! (III)
Por um salazarismo democrático. (V)
Os funerais destes dias parece terem trazido a muitos militantes de esquerda novas, fortes razões de tornarem a acreditar.
Sintomático.
As manifestações comunistas de 1974/75 impuseram-me uma regra, fruto de repetidas observações: cada vez que os seus organizadores anunciavam a participação em qualquer delas de x manifestantes, para se ter uma ideia aproximada da verdade era preciso dividir esse número por 9 ou 10.
Não pude verificar agora se o descaramento voltou.
Se não voltou, é que as convicções e expectativas continuam muito arrefecidas.
Talvez porque o défice agora não ajuda …
Que quero dizer?
Que também vai ser muito difícil, se não impossível, obrigá-los a reconhecerem a sua suprema derrota, isto é, que o famoso défice – esse “monstro”! – é principalmente ainda obra do PREC e das suas heranças, ou seja, de tudo, enfim, que foi a cegueira gonçalvista ou cunhalista e dos seus apaniguados e cúmplices, que agora tiveram ocasião de voltar a juntar-se, para reviverem um passado mítico, que lhes teima em não querer voltar.
O Regime vem, não há dúvida, desde há trinta anos mostrando a sua incapacidade para resolver a chaga do défice.
E sem isso não há país viável, capaz de funcionar independentemente.
A independência que todos os dias vamos perdendo, não foi e é tanto por causa da UE, mas fundamentalmente porque, em razão do défice, anterior à UE, passamos o tempo a pedinchar e a solicitar obséquios mais ou menos humilhantes, de espinha dobrada, para não dizer quebrada.
Também aí o exemplo do salazarismo é incontornável, como modelo que deveríamos ser capazes de converter em ideal democrático.
O défice é praticamente crónico dos últimos duzentos anos da vida política nacional, pelas mais variadas razões.
Com uma só interrupção estrutural, a dos quarenta anos de superavides do Estado Novo, com guerras e tudo e com empréstimos, sim senhor, mas empréstimos para possibilitar investimentos, garantido o pagamento das respectivas prestações.
Julgue-se da possibilidade de duração tão longa do Estado Novo, se não fosse o rigor financeiro da sua gestão e a boa administração dos resultados dessa gestão …
Isso foi seguramente bem mais importante para a duração e sucesso do Regime que a PIDE, a censura e o controlo dos resultados eleitorais.
Quero dizer que, se um regime político olhar sem falhas pelas suas finanças, isso é ponto de partida bastante para todos os restantes êxitos, caso não tenha de temer ameaças desproporcionadas à sua segurança interna e externa.
É por isso que a nossa relação com a União Europeia é tão importante, mas, por isso mesmo, impondo-se que a pratiquemos exigentemente, com perfeita autonomia e sem subserviências, o que o sistemático défice das contas públicas não permite.
A.C.R.
("Por um salazarismo democrático. (VI)")
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2005/06/03
Um salazarismo democrático. (IV)
Do PREC, em Portugal, ao Solidariedade na Polónia
Recordar a entrevista de elementos do grupo fundador da UL com o ME da altura, Doutor Sottomayor Cardia, creio que na Primavera de 1977, uns meses antes de aquela abrir, trouxe-me também à memória outros aspectos e circunstâncias do País claramente pós-PREC, que já então éramos.
O grupo do Vector tinha começado a trabalhar no projecto do que viria a ser a UL, mais de ano e meio antes de esta abrir, por Novembro de 1977, em Lisboa.
Não vou repetir o que disse já, nesta série, da importância do nosso salazarismo como motor implícito daquela iniciativa na área do ensino superior universitário privado, que nos levaria à criação da UL.
Mas não queria deixar de sublinhar a importância da marca do salazarismo na formação persistente da capacidade de reacção do Povo português, em geral, contra tudo o que o PREC tentou forçar-nos a aceitar.
E isso seria, como todos sabem, a marxização do País, levada a cabo pelo PREC e simpatizantes, além dos muitos inocentes úteis.
Muitos se lembrarão do que foi o magnífico levantamento popular contra o PCP, na Primavera e Verão Quente de 1975, por todo o País, a Norte do Tejo sobretudo.
Também se lembrarão de, ainda em 1974, as missões do MFA mandadas para o Interior para “lavarem” dos cérebros as fixações anti-comunistas do Povo português terem sido praticamente corridas por toda a parte, a ponto de se terem rapidamente dispensado de sequer tentarem voltar.
Esse profundo sentimento anti-comunista, enraizado pela pregação da Igreja e pela doutrinação do salazarismo, ao longo de quarenta anos, é que foi o grande motor e terreno de cultura da reacção do País contra o PREC marxista.
Depois, quando compreenderam a realidade nacional, o PS e outros limitaram-se a seguir na onda.
Que já vinha em movimento, havia muitos anos.
Estou convencido de que não foi essa a última grande vitória do Povo português sobre o comunismo.
É preciso admitir, creio-o bem e já aqui foi dito, embora de passagem, que o exemplo da nossa vitória – do Povo português, da Igreja e do que restava do salazarismo – sobre o comunismo, deve muito plausivelmente ter inspirado ou animado e encorajado a reacção dos católicos polacos, uns cinco anos depois, na sua aparentemente intempestiva reacção contra o regime do seu País, terminando na queda do Muro de Berlim e na destruição da URSS.
Por mim gosto de pensar que isso explica muito da devoção do Santo Padre João Paulo II a Nª Sª de Fátima e a sua grande amizade por Portugal.
O caso português ter-lhe-ia feito descobrir que o comunismo já não passava de um castelo de cartas, quando enfrentado por gente lúcida e corajosa.
ACR
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2005/06/01
“Os 50 momentos políticos mais importantes depois do 25 de Abril – 1ª parte (1974-1985)”. (2)
Um salazarismo democrático. (III)
Falo de salazarismo, a propósito da criação da UL-Universidade Livre, porque eram geralmente conhecidas as convicções salazaristas de muitos dos responsáveis pela iniciativa e seu desenvolvimento, alguns dos quais tinham desempenhado no Regime funções de grande responsabilidade ou mesmo de altíssima responsabilidade.
Nenhum de nós tinha porém qualquer ordem de pretensões restauracionistas e todos riríamos à gargalhada se elas nos fossem de qualquer modo atribuídas, até porque um grande sentido de humor (responsável) caracterizava os melhores de todos.
Todos, aliás, gostávamos enormemente de contar ou de ouvir de novo os melhores ditos de espírito do Mestre e de falar das situações mais cómicas que se sabia terem sido vividas por ele.
Talvez por isso, porque, tendo bom sentido de humor, começávamos por não nos levar demasiado a sério a nós próprios, só lentamente foi surgindo entre nós a ideia de que aquilo em que nos estávamos a meter era o esboço duma espécie de salazarismo democrático, isto é, um salazarismo só compatível com um regime democrático e que só poderia crescer em regime democrático.

Para lhe explicarmos o que queríamos e pensávamos fazer.
Foi completo o seu acordo com o projecto, salientando que nada nos podia impedir de levá-lo a cabo.
Creio que o terá tocado particularmente o sentimento, que exprimimos, pelo temor de tantas famílias por os seus filhos não encontrarem ou virem a encontrar nas Universidades públicas, vivendo então em plena desordem estabelecida, a qualidade e regularidade do ensino que o PREC lhes fizera perder e que, depois do PREC, estavam ainda longe de recuperar.
Isto é, creio que o ministro terá logo percebido como um projecto privado de ensino superior ou de preparação para o acesso ao ensino superior poderia ajudar a recuperação e reordenamento das Universidades estatais.
E deu-nos, implicitamente pelo menos, a garantia de que o Ministério da Educação nada faria que travasse o nosso avanço.
Que, daí em diante, se acelerou ainda mais e com maior segurança, tranquilidade e desembaraço.
Simplesmente por termos confiado em absoluto na palavra do ministro e sem insistirmos na sua redução a escrito, o que poderia, naquela fase, complicar inutilmente as coisas.
Por isso, embora crítico do esquecimento de José Pacheco Pereira, quanto à criação da UL, não posso deixar de agradecer-lhe a evocação que faz do ministro Sottomayor Cardia na 1ª parte da sua lista dos “50 momentos políticos mais importantes” do “pós-Abril.
Porque – e isso é o mais importante – fomos muitos testemunhas de como o seu espírito funcionava já em plena reacção política ao PREC.
Nada poderia demonstrá-lo melhor do que a carta branca, discreta mas suficientemente eficaz, que, na audiência como ministro da Educação, Sotto Mayor Cardia nos deu para o lançamento da Universidade Livre.
Saímos de lá prontos para todas as audácias, decididos, como os do grupo do Vector sempre tínhamos defendido, a que a UL viesse a ser uma Universidade no sentido pleno da palavra e não apenas umas salas de estudo de apoio e “explicações” aos alunos das caóticas Universidades públicas, como outros companheiros mais timoratos até aí tinham pretendido.
Bem haja, pois, apesar de tudo, Dr. José Pacheco Pereira!
A.C.R.
N.B. – A restauração da ordem legal tradicional do País era um objectivo de natureza profundamente salazarista que assim, com a UL e o beneplácito do ministro, o grupo do “Vector” ia prosseguir afincadamente, no ensino superior e em regime democrático. Sottomayor Cardia tê-lo-à compreendido no momento certo e com total lucidez.
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2005/05/30
Um salazarismo democrático (II)

Mostrou receio pelo aumento do desemprego e as consequências daí derivadas, com risco possivelmente grave para a estabilidade social do País.
Afirmou também o seu desacordo com o anunciado aumento de impostos, especificando, quanto ao IVA, que sendo a sua taxa máxima em Espanha de 16%, a subida da correspondente taxa portuguesa para 21% vai com certeza prejudicar a competitividade das empresas nacionais. Nas suas exportações para o nosso grande vizinho peninsular, mas também nas suas exportações para outros Países onde enfrentemos a concorrência das empresas espanholas.
Na mesma sessão em Braga, Cavaco Silva foi ainda mais claro e abrangente na defesa da competitividade das empresas nacionais, seguramente prejudicadas pelo aumento dos impostos, considerando que ela, a competitividade, deve ser a total prioridade do Governo, que acima de tudo a tem de ajudar na conquista ou reconquista de mercados externos e na promoção da imagem do País.
Não nos diz Cavaco Silva como isto há-de ser feito. Mas, ao insistir no desemprego como fonte de possível instabilidade social, parece querer ignorá-lo como factor, que aqui recordei, de reorientação do emprego e, por isso, directa ou indirectamente, de competitividade das empresas e do desenvolvimento sustentado do País.
Lembrou, aliás, o seu antigo ministro das Finanças, Miguel Cadilhe, na mesma semana, que o crescimento dos custos com o funcionalismo público, iniciado a partir de 1990 (até chegar aos 14,9% do PIB actuais) foi da responsabilidade de Cavaco Silva, que não terá querido condicionar os aumentos desses custos aos ganhos de eficiência do pessoal abrangido.
Os burocratas e os sindicatos – assegura Cadille – atingiram os seus fins em matéria de tabelas, promoções e progressões nas carreiras, mas chegou-se à monstruosa máquina burocrática que temos. Ela é a principal responsável pelo défice público e, daí, pela baixa produtividade nacional, como pode concluir-se da história contada por Miguel Cadille.
(V. Público de 29 do corrente, pg. 16)
Não seguiu o cavaquismo o exemplo de salazarismo que sempre soube, ao longo de quarenta anos, conter a despesa pública nos limites do mais perfeito rigor e da melhor prudência e eficácia desenvolvimentista.
A.C.R.
Etiquetas: Salazar, Um salazarismo democrático
2005/05/25
Um salazarismo democrático
Registemos uns tantos dados que ultimamente têm sido abundantemente repetidos para definir a “desgraçada” situação a que os políticos trouxeram Portugal, visto este, é claro, exclusivamente do lado do défice.
Para simplificar ou porque, estando o défice supremamente em foco, tudo parece mais fácil de compreender.
População activa desempregada: 7,5%, a maior taxa desde há oito anos.
Em termos de lógica económica dos sistemas políticos contemporâneos, o desemprego pode encarar-se como, sobretudo, um instrumento de saneamento da economia empresarial, ou seja, um mal necessário.
A Espanha deu-nos essa lição ao longo dos últimos mais de vinte anos.
Nunca vi os Espanhóis responsáveis queixar-se do desemprego, que chegou a passar dos 20%.
Tinham compreendido ou pelo menos interiorizado que isso era consequência inseparável da reformulação de todo o seu sistema empresarial em que andavam empenhados.
Até os socialistas compreenderam isto. Nós aqui ou nos queixávamos do desemprego, mesmo baixo, que tínhamos, ou ríamo-nos e esfregávamos as mãos irresponsavelmente da alta taxa do desemprego espanhol. Sem capacidade para compreender que o subsídio de desemprego não é uma esmola para ir deixando os desempregados sobreviver, mas um instrumento activo de política económica.
Suporta-se, promove-se mesmo o desemprego, para que empresas falidas ou não competitivas fechem ou se reorganizem. Isso tem custos económicos e custos sociais, mas, se encararmos os primeiros pelo que são, podem-se minimizar radicalmente os segundos.
Foi o que os Espanhóis fizeram e nós, aqui ao lado, governantes e governados, não nos entrou a lição pelos olhos adentro.
E não foi o único exemplo que tivemos, porque outros países europeus o deram também. A Áustria e a Irlanda, de facto, abundaram no mesmo sentido.
Em vez de lamuriar, como os nossos empresários e os nossos governantes e muitos economistas, mas sobretudo sindicatos, não considerámos o desemprego por aquilo que ele deve ser quando utilmente considerado: o tal instrumento activo de política económica e de política de mão-de-obra.
Todos, em vez disso, empenhadíssimos em “salvar” o emprego a todo o custo, em centenas de empresas previsivelmente condenadas …
Lembram-se de termos falado aqui do Fundo de Desenvolvimento de Mão-de-Obra, exactamente como fundamental instrumento daquele tipo, criado em 1961/62 e, digo-o agora, quase transformado depois de 1974, com uma filosofia sobretudo de órgão esmoler do Estado, em suprema Misericórdia pública?
É fundamental saber História.
A.C.R.
(continua)
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Um salazarismo democrático - Índice actualizado
2005/05/30 - Um salazarismo democrático (II)
2005/06/01 - “Os 50 momentos políticos mais importantes depois do 25 de Abril – 1ª parte (1974-1985)”(2)/Um salazarismo democrático (III)
2005/06/03 - Um salazarismo democrático (IV)/Do PREC, em Portugal, ao Solidariedade na Polónia
2005/06/16 - O Verão Quente de há trinta anos, esse sim, é a nossa comemoração! (III) - Por um salazarismo democrático. (V)
2005/06/17 - Como reagiriam os Ministros do Interior de Salazar? Por um salazarismo democrático. (VI)
2005/06/27 - Por um salazarismo democrático (VII). Mais tabus caídos!
2005/06/29 - Para um salazarismo democrático (VIII)
2005/06/30 - O Défice visto em 1928
2005/07/14 - Um salazarismo democrático (IX)
2005/07/28 - Para um salazarismo democrático (X)
2005/09/09 - Um “salazarismo democrático” — XI. Que susto!
2005/09/09 - O sucesso duma Causa começa a estar garantido, quando certas adesões afluem…
2005/09/16 - Por um salazarismo democrático – XII/“Para a subversão do regime”, dizem eles.
2005/09/19 - Quem tem medo de Salazar?
2005/09/27 - “O homem que passou”…
2005/10/14 - Ingovernabilidade? Para um salazarismo democrático (XIII)
2005/12/16 - Salazarismo democrático (XIV)
2006/08/02 - Homenagem a Salazar no Vimieiro, sábado passado
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