2012/10/15
Iliteracia política
A deficiente e desadequada percepção do fenómeno político continua a gerar, não só entre o "povo" mas também entre os políticos, flagrantes contradições nas ideias e no discurso.
A última grande evidência disto foi a ideia e o discurso peregrino de que a política reincidente do governo de Passos Coelho no aumento "enorme" de IRS é uma política neoliberal, e que, portanto, o caso avia-se culpando o liberalismo, que eles chamam "neoliberalismo". Trata-se de um erro crasso de ciência política, em que se compreende que a esquerda (PS, PC e BE) queira deliberadamente incorrer por uma questão de cinismo e de sacudir a água do capote para culpar os outros, mas incompreensível nos políticos do PSD e do CDS. A não ser que estes não saibam o que é o liberalismo nem o socialismo, isto é, não saibam distinguir a mão esquerda da mão direita.
Qualquer pessoa que estude o mínimo de ciência política sabe que a política seguida pelo governo de Passos Coelho de aumentar e voltar a aumentar impostos sobre rendimentos do trabalho e das empresas para tapar buracos financeiros a fim de aguentar o imperativo ideológico de um Estado intervencionista e cada vez mais pesado, desenhado ao sabor de uma constituição "a caminho do socialismo", é socialismo puro, e nada mais.
Se o governo de Passos Coelho fosse neoliberal não aumentaria prioritariamente o IRS, mas sim reduziria para o necessário a despesa pública, isto é, do Estado, e com ela o poder do mesmo Estado. O que acontece é que tomar esta última opção obrigaria o governo a enfrentar-se mais ainda com a função pública, com a poderosa CGTP e com os interesses instalados na máquina de sucção do Estado, que, como sabemos, não são poucos nem claros.
Ao reincidir em mais aumentos de IRS, Vítor Gaspar escolheu sacrificar o sector privado, como aquele onde irá provocar mais desemprego nos anos seguintes, em favor do sector público, que deverá ser bem mais poupado a esse fado. Se isto não é socialismo...
Dizer que o governo de Passos Coelho é neoliberal demonstra duas coisas. Cinismo da parte da esquerda, que sabe bem o que é o socialismo, e estupidez, ignorância e incompetência da parte do PSD e do CDS. Bem sabemos os complexos do PSD e do CDS para se demarcarem da esquerda.
Se o governo de Passos Coelho é neoliberal e não é socialista, então o socialismo não existe.
Seja como for, isto já não vai lá apenas como mudanças de governo e de governantes, porquanto se vê, mais uma vez, que são todos iguais.
O grande problema do País não é só o governo A ou o governante B. É o regime. Esse é que tem que mudar.
Etiquetas: Impostos, socialismo