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2005/06/01

“Os 50 momentos políticos mais importantes depois do 25 de Abril – 1ª parte (1974-1985)”. (2)
Um salazarismo democrático. (III) 

(continuação)

Falo de salazarismo, a propósito da criação da UL-Universidade Livre, porque eram geralmente conhecidas as convicções salazaristas de muitos dos responsáveis pela iniciativa e seu desenvolvimento, alguns dos quais tinham desempenhado no Regime funções de grande responsabilidade ou mesmo de altíssima responsabilidade.

Nenhum de nós tinha porém qualquer ordem de pretensões restauracionistas e todos riríamos à gargalhada se elas nos fossem de qualquer modo atribuídas, até porque um grande sentido de humor (responsável) caracterizava os melhores de todos.

Todos, aliás, gostávamos enormemente de contar ou de ouvir de novo os melhores ditos de espírito do Mestre e de falar das situações mais cómicas que se sabia terem sido vividas por ele.

Talvez por isso, porque, tendo bom sentido de humor, começávamos por não nos levar demasiado a sério a nós próprios, só lentamente foi surgindo entre nós a ideia de que aquilo em que nos estávamos a meter era o esboço duma espécie de salazarismo democrático, isto é, um salazarismo só compatível com um regime democrático e que só poderia crescer em regime democrático.

Isso nos levou a muito frontalmente e sem hesitações termos solicitado uma entrevista ao Doutor Sottomayor Cardia, então ministro da Educação, que prontamente nos marcou audiência e com a maior amabilidade e interesse nos acolheu.

Para lhe explicarmos o que queríamos e pensávamos fazer.

Foi completo o seu acordo com o projecto, salientando que nada nos podia impedir de levá-lo a cabo.

Creio que o terá tocado particularmente o sentimento, que exprimimos, pelo temor de tantas famílias por os seus filhos não encontrarem ou virem a encontrar nas Universidades públicas, vivendo então em plena desordem estabelecida, a qualidade e regularidade do ensino que o PREC lhes fizera perder e que, depois do PREC, estavam ainda longe de recuperar.

Isto é, creio que o ministro terá logo percebido como um projecto privado de ensino superior ou de preparação para o acesso ao ensino superior poderia ajudar a recuperação e reordenamento das Universidades estatais.

E deu-nos, implicitamente pelo menos, a garantia de que o Ministério da Educação nada faria que travasse o nosso avanço.

Que, daí em diante, se acelerou ainda mais e com maior segurança, tranquilidade e desembaraço.

Simplesmente por termos confiado em absoluto na palavra do ministro e sem insistirmos na sua redução a escrito, o que poderia, naquela fase, complicar inutilmente as coisas.

Por isso, embora crítico do esquecimento de José Pacheco Pereira, quanto à criação da UL, não posso deixar de agradecer-lhe a evocação que faz do ministro Sottomayor Cardia na 1ª parte da sua lista dos “50 momentos políticos mais importantes” do “pós-Abril.

Porque – e isso é o mais importante – fomos muitos testemunhas de como o seu espírito funcionava já em plena reacção política ao PREC.

Nada poderia demonstrá-lo melhor do que a carta branca, discreta mas suficientemente eficaz, que, na audiência como ministro da Educação, Sotto Mayor Cardia nos deu para o lançamento da Universidade Livre.

Saímos de lá prontos para todas as audácias, decididos, como os do grupo do Vector sempre tínhamos defendido, a que a UL viesse a ser uma Universidade no sentido pleno da palavra e não apenas umas salas de estudo de apoio e “explicações” aos alunos das caóticas Universidades públicas, como outros companheiros mais timoratos até aí tinham pretendido.

Bem haja, pois, apesar de tudo, Dr. José Pacheco Pereira!

A.C.R.

N.B. – A restauração da ordem legal tradicional do País era um objectivo de natureza profundamente salazarista que assim, com a UL e o beneplácito do ministro, o grupo do “Vector” ia prosseguir afincadamente, no ensino superior e em regime democrático. Sottomayor Cardia tê-lo-à compreendido no momento certo e com total lucidez.

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