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2005/10/14

Ingovernabilidade?
Para um salazarismo democrático (XIII) 

Sob este título da Ingovernabilidade, sem ponto de interrogação, Vasco Pulido Valente aplica-se hoje, no Público, a desfazer a tese de que “o voto de domingo não foi também, e sobretudo, um voto contra o Governo”.

Chama-lhe redondamente “falsa”.

Estou de acordo.

Mas quanto à “perseguição” que aqui tenho pretendido denunciar contra aquilo que VPP chama “certos grupos privilegiados, militares, juízes, professores por aí fora”, incluindo “os corpos do Estado – o corpo judicial e o corpo militar – e corporações como os professores”, aí VPV acha que o povo até “pode ter gostado do aperto que Sócrates (lhes) deu”.

O povo não terá gostado, segundo VPV, foi “da revisão do regime de pensões e de carreiras do funcionalismo, nem do aumento do IVA, nem do jejum orçamental”.

Não discordo.

Mas acho pouco, porque não abrange a realidade toda.

E para abranger esta, é preciso lembrar que os grupos visados, perseguidos de facto, são constituídos por algumas centenas de milhares de eleitores, sem contar pessoas afins.

Ignorá-lo não é coragem, é cegueira política, no mínimo.

Basta a mudança de sentido de voto desses grupos ou classes sociais, em relação a 2001, para na realidade explicar a derrota do PS.

A revolta desses grupos e classes sociais é quanto basta para tornar o Estado ingovernável, porque eles são realmente fundamentais para manter o País estruturado e a funcionar.

O governo parece ter ignorado ou esquecido de todo que “há País para além do défice”.

Aproveitar o défice para destruir socialmente o País é talvez a única coisa que um governo não deveria fazer, mesmo com o objectivo de reequilibrar as finanças públicas.

Por isso, honra lhes seja, Guterres, Durão Barroso e Santana Lopes nunca foram ou ameaçaram ir por tais caminhos.

Quem será capaz do “golpe de asa” necessário para compatibilizar os dois objectivos?

A.C.R.

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