2005/04/04
João Paulo II deixa o Mundo sem dúvida
Melhor do que o encontrou.
De quantos chefes religiosos ou políticos de alcance mundial poderá dizer-se o mesmo? Nos últimos vinte e sete anos – tantos quanto durou o seu pontificado – não sei, talvez, de mais que um ou dois.
Uma vez eleito Papa, em 1978, a primeira visita de Woityla foi à sua Polónia natal.
Entusiasmadas com o extraordinário e inédito sucesso internacional do seu conterrâneo, arcebispo de Cracóvia, as multidões polacas receberam-no em delírio cantando o “Queremos Deus”, que logo soou ao Poder como um cântico perigosamente mobilizador.
Não sei se houve em toda a história um Papa de facto mais revolucionário de estruturas sociais vigentes que João Paulo II.
Demonstrada, verificada a impotência do Poder comunista polaco para conter a indomável reacção católica à visita do Papa, imediatamente essa reacção contagiou os operários dos importantes estaleiros navais de Gdansk, a Dantzig de antes da guerra, “causa” da guerra de 1939-45.
Dirigidas pelo profundamente católico Lech Valesa, seu colega de trabalho e velho conhecido de Karol Woytila, as massas operárias de Gdansk depressa fazem surgir o primeiro sindicato livre na Polónia comunista, o famoso “Solidariedade”, que viria a resistir vitoriosamente a todas as tentativas do Poder de Varsóvia para o neutralizar e esmagar.
Estava dado o primeiro e decisivo impulso para o desmoronamento, como um gigantesco dominó, de todas as pedras do abominado império russo-soviético.
Em menos de treze anos, todos os Estados satélites europeus da URSS, de além da Cortina de Ferro, tiveram as suas “revoluções de veludo”, ou quase, e rejeitaram os regimes marxistas-leninistas-estalinistas que os regiam, acabando a própria URSS por desfazer-se em 1991.
Tudo principalmente, à partida, porque um grande Bispo polaco, de enorme visão e coragem, foi eleito para a Cadeira de São Pedro.
Às vezes pergunto-me se o universalmente então badalado levantamento dos católicos portugueses, com o apoio do Arcebispo de Braga, D. Francisco Maria da Silva, no Verão de 1975, contra o domínio comunista do PREC (que isso, sim, é que apavorou o PCP e o fez encolher definitivamente as garras) não terá também funcionado três ou quatro anos mais tarde para os católicos polacos, como um certo encorajamento para a luta política de morte que empreenderam a partir da 1ª visita do “seu” Papa e da mobilização de Gdansk.
Não será muito de estranhar, pensando também na ligação antiga do arcebispo Woityla a Portugal, como grande devoto de Nª Sª de Fátima que era.
Já agora que falamos do factor religioso em política, penso na força que a eleição de um Papa negro poderia ter para a libertação que a África está a exigir dos muitos quadros, governos e políticos corruptos e incompetentes que a desgovernam.
Há um cardeal nigeriano – portanto do 2º país africano mais importante ao sul do Saará – Francis Arinze, que, como Papa – e é tido agora por um dos papabili – poderia ser o agente da grande revolução na África que se espera.
Mas se não tivesse já 72 anos…
Mas se não viesse de um País muito predominantemente muçulmano…
Mas se o “inimigo” a abater fosse aí tão identificável e definido como era na Cortina de Ferro…
Mas se os Nigerianos não estivessem completamente cegos pelas promessas petrolíferas… e “prisioneiros” ou “protegidos” por grandes interesses internacionais corruptores…
Será pois que, aí, nenhumas felizes perspectivas podemos esperar de uma radical revolução político-religiosa?
É capaz de ser ainda cedo para a África.
Embora cada vez mais tarde para os Africanos.
Seia, 02 de Abril de 2005
António da Cruz Rodrigues (A.C.R.)
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