2005/03/23
Durão Barroso versus Chirac.
Nenhum deles é "bom de assoar".
Também por amor da justiça parece ter sido movido Durão Barroso na sua “guerra” com Chirac, o presidente francês da República gaulesa e ele, Barroso, como presidente da comissão Europeia, sede Bruxelas.
A propósito, sabem, da polémica sobre a Directiva Bolkestein, do nome do antigo comissário holandês, sobre a liberalização de circulação dos serviços* – 70% do PIB europeu – ainda “largamente confinados dentro das fronteiras de cada Estado”.
Os Franceses temem que, aprovada a Directiva pela Comissão Europeia, isso signifique a livre entrada e instalação no seu espaço, das empresas e serviços dos concorrentes europeus, frequentemente mais baratos e melhores e ao abrigo da legislação dos países da sua origem.
Chirac e os seus eleitores de direita e de esquerda, não querem, portanto, ouvir falar da Directiva.
Opõem-se com unhas e dentes.
Chirac telefonou furioso a Durão Barroso, para lhe ralhar pelo apoio por este dado à directiva. E Durão chegou a dizer-lhe que não é presidente da Comissão Europeia para “defender os interesses dos velhos 15 estados da UE contra os dos 10 novos”.
Esperava Chirac esmagar Barroso, com o seu despautério de “patrão”, senhor e dono da Europa que pensa ser.
As agências noticiosas contam que D.B. esteve à altura, como aliás não surpreende, irritando ainda mais Chirac que cada vez mais receia perder o referendo em França sobre a Constituição europeia, ameaçada de rotundo não dos eleitores, a 29 de Maio.
Durão agravou as coisas vindo lembrar depois que o referendo não é sobre a directiva mas sobre a Constituição e precisando ainda melhor: “Não se pode pedir à Comissão para fazer o trabalho que é o trabalho dos homens políticos nacionais”.
E mais: que o papel da Comissão é representar o interesse geral da Europa e não “decidir em função de um único país”.
Terá D.B. ido longe de mais irritando ostensivamente Chirac?
Não creio, pensando em toda a arrogância que Chirac é muito capaz de ter exibido no tal telefonema.
Mesmo um santo teria perdido a cabeça, quanto mais sendo Durão Barroso e achando-se na cómoda posição de estar a defender os interesses dos mais fracos e mais pequenos.
Chirac bem podia ter percebido que, com D.B., à bruta não vai lá.
A.C.R.
*Com vista a um mercado único dos serviços como há o mercado único das mercadorias.