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2004/04/23

Mais perguntas aos Nacionalistas 

Dou exemplos, ao correr da pena.

Os nacionalistas católicos sofrem ou não de limitações éticas e políticas de que os demais nacionalistas não sofrem?

Por que é que o Estado Novo não restaurou a Monarquia?

O nacionalismo tem ou não de ser corporativista?

Pode ou não um nacionalismo católico português aceitar que as paróquias nacionais venham um dia a ser maioritariamente geridas por sacerdotes estrangeiros?

Qual a posição do nacionalismo em relação a Israel?

E em relação ao judaísmo?

E em relação ao anti-semitismo?

E quanto ao problema palestiniano?

Já agora: em relação à ONU, que pensar do seu papel no futuro?

Ou quanto aos Direitos Humanos?

Os nacionalistas têm de ser anti-Americanos?

E podem ser pró-Americanos?

Posição do nacionalismo relativamente ao chamado Imperialismo americano?

Que atlantismo podem os nacionalistas cultivar?

Atlantismo ou europeísmo?

O nacionalismo pode ser autoritário em política e liberal em economia?

O nacionalismo deve defender um regime de empresas mistas?

Ou de empresas privadas?

Ou de empresas nacionalizadas?

Ou um regime misto de empresas privadas e de empresas estatais ou públicas?

E em relação ao ensino, que tipo de estabelecimentos pode ou deve o nacionalismo defender?

Há uma ideia ou ideias nacionalistas da educação e do ensino?

Há uma concepção nacionalista da família?

E da propriedade?

E da liberdade de iniciativa?

E da liberdade de expressão?

E da liberdade em geral?

E da liberdade religiosa, em particular?

E da importância e futuro da religião, também como fenómeno de reflexos políticos e sociais?

Qual a posição do nacionalismo em relação à ideia da "guerra de civilizações"?

E em relação à "guerra preventiva"?

Que posição tem o nacionalismo relativamente à Europa em construção?

E relativamente ao peso do Cristianismo na construção da Europa de sempre?

Que ideia temos de Nação?

Que ideia temos da "sociedade de classes"?

O nacionalismo é ou tem de ser anti-burguês, por exemplo?

............................................................
Poder-se-ia continuar por muito tempo.

Também se pode prever que as respostas dos novos nacionalistas serão quase sempre ou muitas vezes diferentes e até contrárias às respostas dos adeptos da maioria dos nacionalismos do séc. XX e fins do séc. XIX.

Além disso, ainda há que distinguir entre perguntas que dizem respeito à ideologia e outras que respeitam a opções políticas conjunturais.

A distinção não será sempre fácil.

E algumas vezes, ainda, considerar uma pergunta como sendo do foro ideológico ou considerá-la do foro das opções políticas conjunturais, pode já em si definir tipos diversos, se não mesmo divergentes, de nacionalismo.

Por exemplo, ser contra o chamado imperialismo americano é demonstração de nacionalismo ideológico ou pura opção política conjuntural?

O mesmo para ser-se ou não se ser anti-judaico.

Ou para ser-se ou não se ser xenófolo.

E racista.

Quantos becos sem saída, à luz dum nacionalismo que tome como opções de fundo, ideológicas, de princípio, as meras opções conjunturais das políticas de governo!

Um nacionalismo que seja ou vier a ser governo não pode deixar de fazer a sua destrinça permanentemente.

No pensamento, haverá que ter opções ideológicas e opções conjunturais.

E na acção haverá que ter uma estratégia e tácticas variadas, adaptáveis às variadas situações.

A.C.R.

(continua)

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2004/04/22

O declínio da Europa e a ideologia onusiana (VII) 

(continuação do post de 2004/04/21)

Assente a necessidade de afirmar o realismo da condição humana que, logicamente, se contrapõe à ingenuidade antropológica rousseauniana, para dar um novo sentido ao homem, enquanto ser político e social, e à Europa, resta tentar estabelecer quais deverão ser as prioridades próximas das nações europeias:

1) A afirmação e o respeito pela soberania, liberdade e independência de cada nação, o que exclui uma constituição e a criação de um super-estado. Uma Europa de Nações, livres e independentes de fazerem acordos entre si, à medida dos interesses recíprocos, segundo os sentir das comunidades nacionais.

2) São competências insubstituíveis do Estado a defesa e a segurança do território, bem como o exercício da justiça.

3) O combate à crise demográfica, mediante a criação de condições mais favoráveis (menos penalizadoras) à família e à maternidade, que vão desde o desagravamento da política fiscal à harmonização de horários laborais compatíveis com a dedicação aos filhos. A Europa tem penalizado de uma forma particularmente cruel as suas famílias e os seus filhos.

4) Controlar e evitar o caos no sector da imigração, mediante a exigência de legalidade à entrada, por razões de segurança, muito mais fáceis de entender a partir de 11 de Março.

A curto prazo a questão mais premente na Europa é a segurança. É bem conhecida a fragilidade neste sector em países como Portugal, de tal forma que se pode afirmar, sem receio de errar, que se o terrorismo, islâmico ou qualquer outro que seja, ainda não fez aqui “das suas” foi porque não quis. E oxalá não queira. Porque se quiser, ninguém dá conta deles.

Ninguém está livre de um ataque terrorista. Nem mesmo os EUA, que são os polícias do mundo. Mas vale a pena comparar a reacção dos americanos a seguir ao 11 de Setembro com a dos espanhóis – e de outros europeus – a seguir ao 11 de Março. Essa diferença é sintomática da crise europeia.

Os americanos, com maior ou menor sensatez e eficácia, que se pode discutir, ganharam espírito de corpo, sentido nacional, cada um percebeu que era consigo, e reagiram militarmente. Em Espanha, aproveitaram a ocasião para pôr no poder aqueles que, numa clara demostração de fraqueza e de medo, se pretendem curvar subservientemente diante dos terroristas: “Vá lá, não nos façam mal que nós somos bons rapazes! O que é que pretendem? Peçam que a gente dá...”.

Certamente que a intervenção anglo-americana no Iraque é desastrada, como tem sido a política externa americana ao longo de décadas, com algumas (poucas) excepções. Mas uma vez que se assumiram determinados compromissos militares, estes devem ser levados até ao fim. Recuar na hora de honrar compromissos em virtude do pânico e do medo gerado por acções terroristas é afirmar categoricamente que quem manda são os terroristas. Neste caso particular de Espanha até se pode afirmar que foram eles que ganharam as eleições.

Não se exige à Europa de hoje declarações de guerra nem acções militares no Oriente, como se de uma reedição das cruzadas se tratasse. Não. Até porque não tem capacidade bélica nem moral para isso. Pede-se, tão somente, a lucidez e a coragem para garantir a segurança das suas nações, sem soçobrar pelo medo diante do espectro do terrorismo. Viver habitualmente. Porém, parece que nem disso é capaz.

Eis o resultado na Europa da ideologia onusiana, que a UE perfilha e injecta nos seus países, através dos partidos maioritários (PPE e Intenacional Socialista) e da sua burocracia. Gente que vê o perigo e recua, foge, em vez de se preparar para o enfrentar. A Europa cultiva a cobardia, a fraqueza e o anti-governo: foi amestrada para isso.

A Europa só tem dois caminhos: ou se prepara – pela vontade e determinação dos seus povos, sem “supervisões” externas da ONU e EUA – para combater a crise que os seus políticos e governantes alimentaram, ou recua. Mas, se recua, é cada vez mais para sempre.

Manuel Brás

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2004/04/21

O declínio da Europa e a ideologia onusiana (VI) 

(continuação do post de 2004/04/20)

A crise que a Europa e, em geral, o ocidente atravessam actualmente – de que o terrorismo é um sinal preocupante e chamativo – tem as suas causas dentro de portas. E não fora delas. A crise da Europa é interna; é consigo mesma. A verdadeira ameaça está cá dentro. Não é de crer, por isso, que a solução se deva procurar em acções externas, fora do seu espaço, e muito menos militares.

A grande crise da Europa é a crise do chamado homem moderno e da sua falta de sentido. O homem moderno tanto barafusta porque quer auto-estradas, que considera essenciais para o desenvolvimento, como berra porque não quer que a auto-estrada lhe passe à porta; sujeita-se a tudo para ganhar uns tostões num concurso televisivo, mas acha que realizar certos trabalhos socialmente menos considerados é coisa humilhante e degradante; é apologista da igualdade, da tecnologia e do progresso, mas admite que estes possam ser utilizados para seleccionar vidas humanas.

A resolução da crise europeia passa pela desmontagem das concepções de fundo que criaram o “homem moderno”, que são as mesmas que sustentam a ideologia onusiana e que, em termos genéricos e de princípio, decorrem da Revolução Francesa, a saber:

1) a ingenuidade antropológica de Rousseau ou a teoria do bom selvagem: os homens nascem bons, em estado imaculado; a sociedade e as suas estruturas (família, a religião, as forças de segurança e da ordem, enfim, tudo quanto possa cheirar a hierarquia e autoridade) é que o fazem mau e depravado, pelo que se impõe o desmantelamento de tais estruturas a fim de que cada homem possa manifestar-se em “estado puro”.

2) que o povo é que governa, por via eleitoral; identifica-se a democracia com os votos e com o poder dos partidos, isto é, com a partidocracia, ainda que frequentemente os eleitores não conheçam de parte nenhuma a maior parte dos eleitos e votem sempre em candidatos escolhidos pelos partidos, muitas vezes com convicções contrárias às suas, sem o saberem, em matérias, como por exemplo, o aborto, a educação sexual, leis sobre educação e família, etc. Fica de fora a genuína ideia de democracia: a capacidade de cada um intervir na vida política e social pelas suas convicções e pelo seu querer. Eles não admitem que alguma coisa fique fora dos partidos e dos seus homens; para eles a vida política começa e acaba nos partidos, que representam necessariamente os cidadãos, mesmo quando se atingem taxas de abstenção de quase 40% e até, em algum caso, de 50%. Numa sociedade partidarizada os abstencionistas não contam para a vida política. Politicamente, são clandestinos.

3) que a liberdade individual é uma concessão do estado de direito democrático; ou seja, que os homens devem a sua liberdade ao Estado e aos que o representam. Não pode haver boutade mais cínica e arrogante, pela qual cada homem se tornaria devedor da sua própria liberdade e, por isso mesmo, sempre limitado e manietado para pôr em questão o sistema, seu credor, sempre em posição de lhe recordar que não pode morder a mão de quem lhe dá de comer.

4) a ideia do Estado democrático como fonte e origem do direito ou o chamado Estado de direito, como se ao longo da História os Estados e as Nações não se baseassem no direito e nas leis: em Roma, como no início da nacionalidade portuguesa. Que o povo democraticamente define os direitos e aprova as leis é outra sentença com piada, não soubéssemos nós como são os políticos parlamentares, tantas vezes à revelia do sentir popular, que aprovam e reprovam o que lhes dá na gana. Sempre que o povo se pôde pronunciar em referendum fê-lo contra a maioria parlamentar. E já agora, quem é que define os direitos humanos? Não me digam que também é o povo.

O truque é simples: os iluminados definem quais são os direitos (que eles dizem ser do homem) que os pobres mortais hão-de aceitar, quer queiram, quer não.

O sistema assente sobre estes pressupostos gerou, na Europa, ao longo de décadas, homens vacilantes, débeis de vontade, faltos de determinação, tolhidos pelo medo e por complexos de inferioridade e de culpa. Medo da guerra, medo de morrer, medo de ter filhos, medo de assumir compromissos, medo de Deus, medo da dor, medo da própria vida. Eis o homem fraco e degenerado da Europa de hoje: um homem de rastos diante de si próprio. Eis o homem da educação para a cidadania mundial.

A crise está cá dentro e, mais do que no regime político, reside na concepção de homem. É por isso que não se resolve com acções externas nem com soldados militares. O que a Europa de hoje precisa é de soldados políticos. O choque de civilizações existe, conforme diagnosticou Samuel Huntington. Mas a resposta apta não é militar, pelo menos numa fase inicial: é política e interna.

A Europa precisa de um pensamento pós-moderno, de concepções diferentes de homem, de sociedade e de mundo, que supere a crise em que se vê atolada pela Revolução Francesa e pela ideologia onusiana:

1) Assumir o realismo da condição humana; o reconhecimento dos limites e fraquezas, presentes em cada homem, sem excepção. Não mais utopias.

2) A superação das particularidades.
Assumir, reconhecer e respeitar as particularidades pessoais, que sempre existem. Assumir aquilo que pessoas e grupos têm em comum e com o qual todos se identificam ou tendem a identificar. Nesse sentido, a nota essencial do pensamento pós-moderno é que cada pessoa seja capaz, pelo seu querer, de superar a sua particularidade e se universalizar, sem estar à espera que o Estado de direito tome a dianteira ou tenha iniciativas. É esse o repto que o pensamento pós-moderno lança a cada homem.

3) O pensamento pós-moderno reconhece a primazia do interesse geral sobre o interesse particular, mas não aceita que tal primazia se afirme à custa do esmagamento arbitrário da pessoa pelo colectivo ou pelo aparelho de Estado, como pretende o socialismo.

4) A existência de um objectivo comum, de um destino, de uma ideia que potencie o que os elementos de uma comunidade têm em comum, configura o seu relacionamento, cria laços específicos entre as pessoas e os grupos em ordem à consecução de um bem maior que o estritamente individual ou de grupo. É a isso que leva a Nação: à criação de laços que sustentam uma comunidade nacional. É nessa relação que a Nação se manifesta como realidade exterior ao pensamento – metaimanente ou transcendente – mediante relações específicas e qualificadas entre os elementos da comunidade nacional.

No dia em que superarmos as aldrabices de 1789 e da ideologia onusiana e assumirmos um pensamento pós-moderno, aí começámos a ter uma nova Europa.

Manuel Brás

(continua num próximo post)

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2004/04/20

"O Novo Nacionalismo" no Nova Frente, em 12 último 

O Autor do poste pretende que, ao tratar Goulart Nogueira de Poeta Goulart Nogueira, a propósito de um seu texto em prosa que o NF transcrevera dias antes, eu diminuí acintosamente GN, o qual segundo o NF é sobretudo um "ensaísta e doutrinador de fôlego".

Conheço apenas mais dois textos em prosa de GN e, como deste, penso não poderem considerar-se ensaios doutrinários ou políticos (talvez ensaios de voluntarismo político), pelo que não tive dúvidas em que estaria mais à medida da sua estatura intelectual e cultural chamar-lhe Poeta, como grande Poeta que é muito mais geralmente reconhecido. Opção minha mas insusceptível de malévolos juízos de intenção.

O Poeta Goulart Nogueira devia merecer do NF outro respeito.

Bem como os leitores que não deixarão de pensar que o NF está apenas a servir-se dele como arma de arremesso, à maneira dos velhos e desacreditados "argumentos de autoridade"; além de que tiros desses saem sempre pela culatra.

Processos de intenção como este (ou outros) não deveriam valer.

Ou para o NF vale tudo?

Por estranho que pareça ao NF, não identifico o seu A. com quem quer que seja, pelo que para mim continua Anónimo, pois que em parte alguma do seu blogue se lhe encontrou o nome.

Se é verdade — assim o professo e pratico — que não andamos aqui senão para discutir ideias e valores do(s) nacionalismo(s), ninguém entre nós deve desferir pedradas contra outrem, a coberto de anonimato.

Eu dou a cara, sempre.

Estranho, por isso, que o NF me faça anonimamente insinuações, processos de intenções, outros ataques pessoais, que aliás inteiramente repudio, por tendenciosos de fio a pavio.

Misturar alhos com bugalhos é um velho estratagema do confucionismo sem outros argumentos.

É de admirar, ainda para mais num blogue que se subintitula de "Um Blogue de Ideias e Cultura".

Não basta proclamar-se um blogue de "Ideias e Cultura" e imolar-se, como diz, a viver "ensimesmado em velhos conceitos de honra e honestidade".

Ensimesmado?...

Tão ensimesmado, que anónimo?...

Tudo estranho.

Mas mais estranho ainda me parece pretender o NF defender-se de acusações ou insinuações que não lhe fiz.

Por exemplo, a propósito da minha pergunta sobre a ideia da homogeneidade étnica no nacionalismo, e não sobre as ideias pessoais do NF e seu A. a esse respeito, que não interessam para o caso.

Não deve ter discernido bem o verdadeiro plano em que pus a conversa.

O mesmo para todos as outras perguntas, aliás.

Não lhe perguntei, ainda outro exemplo, quais as ideias a respeito do sufrágio universal professadas pelos partidos nacionalistas dessa Europa fora — em nome dos quais parece responder-me o NF — porque isso é melhor conhecido através dos jornais.

Escusava, portanto, de maçar-se a desviar por aí a resposta à questão.

Como também escusava, se não queria responder-me, de denunciar a sua própria ideia a respeito do sufrágio universal: "venham de lá os papelinhos", diz muito significativamente o A. do NF.

De facto não são as suas ideias que eu queria conhecer, embora verifique com prazer — a avaliar por algumas posições pessoais que confessa — que as ideias do Responsável do NF se vão ou foram aproximando das do novo nacionalismo.

Ainda há não muitos anos as ideias do nacionalismo encartado, em Portugal, iam como já disse, para um "sim!" a todas as minhas perguntas: isto é, pela homogeneização étnica; pelo partido único; contra o sufrágio universal, que consideravam inconciliável com o nacionalismo; aliás como muitos nacionalistas o consideravam também, em matéria de regime, só compatível com a monarquia.

Não censuro os nacionalistas por mudarem inteligentemente, antes pelo contrário, com tanto que há de circunstancial no que muitos nacionalistas têm defendido como sagrado.

Porque nesse ponto é que estava toda a questão, e a única, do meu comentário ao texto de Goulart Nogueira, texto que o NF considera "intemporal", tal e qual.

Por isso também é que eu queria saber a data do texto.

Se escrito há cerca de quarenta anos, como admiti e NF não desmente, garanto-lhe — e, sabe-o tão bem ou melhor, talvez, que eu — que o GN desse tempo não estaria de acordo com as "mudanças" a que o NF agora diz ter chegado.

Como vê, não há texto político intemporal.

Mas quem o não sabe?

Conclusões a que se queria chegar:

O texto do Poeta Goulart Nogueira anatematiza todos os nacionalistas que, à altura da publicação, tinham mudado a seus olhos.

E se GN fosse Miguelista à data dessa publicação?...

Não nos dizendo quais foram essas mudanças que o A. recusava, tornou-se um texto sem significado útil, que não valia a pena ser ressuscitado, porque dá uma ideia de imobilismo e fixismo ideológico que, pelos vistos, nem os mais "velhos" dos nacionalistas já hoje praticam, como o próprio NF informa.

E foi um mau serviço prestado ao Autor do texto, por este ter sido apresentado como se actual, fora do seu contexto temporal, sem a data que revelaria o logro.

Foi uma manipulação ou não foi?

A.C.R.

ZAPATERO CUMPRE! 




Terroristas atacam em Madrid, a 11 de Março: 1200 mortos e feridos.

Zapatero ganha inesperadamente as legislativas a 13, com os "votos" terroristas.

Zapatero agradece: retirará as tropas espanholas do Iraque, logo que...

Os terroristas compreendem e sem demora anunciam que não basta: Zapatero tem de retirá-las já, se não...

Zapatero compreende e obedece: anuncia que vai retirá-las já.

.............................................................
Zapatero explica ao Mundo que são promessas eleitorais feitas aos Espanhóis.

Mais parecem promessas feitas à Al-Qaeda, dizem outros.

("Extracto dos jornais espanhóis destes dias”, adaptado.)

ACR

O declínio da Europa e a ideologia onusiana (V) 

(continuação do post de 2004/04/19)

Após extensa dissertação sobre a ideologia onusiana, é legítimo perguntar: o que tem isso a ver com a Europa e com o seu anunciado declínio? Que relação existe entre as duas coisas?

A ONU pretende ser a autoridade da governação mundial. Criou até uma ideologia e uma ética de integração holística – planetária, que transcende e supera as religiões e as identidades nacionais – para tornar essa tarefa mais fácil, onde tudo está definido e programado, desde os conceito de saúde, de educação, de desenvolvimento, de família alargada, aos direitos, tais como o de saúde reprodutiva, de escolha, etc.

A Europa não escapa ao alcance desta governação. Há até boas razões para desconfiar que tal ideologia foi urdida a pensar especialmente na Europa, como que a proclamar-lhe o ultimatum: a vossa gesta civilizadora acabou! A Europa não pode levantar mais a cabeça: nem na economia, nem na tecnologia, nem na arte, nem na filosofia, e muito menos na cena militar e internacional.

E vejamos como assim é: a perda de importância da Europa a nível mundial nas últimas décadas é bem visível na economia, na tecnologia, na arte. A desmilitarização da Europa é tal que podemos duvidar que seja capaz de se defender a si própria. O colapso de influência da Europa na cultura e na política internacional é notória, sobretudo desde a perda das colónias e das províncias ultramarinas. Filósofos e homens de pensamento até tem havido, mas já quase todos desapareceram. Resta-nos ter esperança que novos valores saibam privar com eles através das suas obras e pôr de pé, de novo, a cultura. Mas, onde estão esses novos valores, esses visionários das nações europeias para o séc. XXI?

A Europa está dividida. Ficou claramente provado na hora da verdade: na hora de tomar posição face à intervenção anglo-americana no Iraque. E ainda bem.

Ainda bem por várias razões:

1) Porque faz bem aos europeus tomarem consciência das suas reais e actuais fraquezas e limitações. Não há nada pior que as pessoas e os povos viverem enganados a respeito de si próprios. Sobre a lucidez e o realismo das circunstâncias actuais pode-se começar a construir.

2) Porque tal divisão, que estava latente, demonstrou que não é possível, de facto não foi, aprovar uma Constituição europeia e fundar um estado unitário transcendente às nações europeias, em virtude do que isso suporia de perda de soberania, de liberdade e de independência. Já se sabia que havia nações que não estavam dispostas a submeter-se aos desígnios de outras.

3) Porque o falhanço da Constituição europeia é o falhanço da ideologia onusiana para a Europa. A ideologia onusiana só pode ser imposta às nações europeias mediante um estado unitário e totalitário, como aquele que Chirac e Schröeder pretendem, em que o direito da União tem primazia sobre o dos Estados-Membros (art. 10º, 1) e a cidadania europeia acresce, mas não substitui, a cidadania nacional (art. 8º, 1), o que é, no mínimo, bizarro.

Não há dúvidas de que este projecto – felizmente – falhado de Constituição europeia e de um estado unitário serviria os desígnios da ONU, na medida em que as directrizes da UE e do Parlamento Europeu são convergentes na adopção da sua lógica e dos seus princípios holísticos (desde a saúde à educação, passando pela ecologia, modelos de desenvolvimento e concepções do homem e do mundo). A ideologia dominante no Parlamento Europeu é a da ONU.

Um exemplo bastante elucidativo: nos últimos dois anos a administração Bush negou à Agência das Nações Unidas para o Apoio à População uma verba que ascende a 34 milhões de dólares, alegando que essa agência se tem dedicado a promover abortos e esterilizações sem consentimento, posição que manteve apesar de insistentes pressões do lobby pro choice. A famosa agência da ONU não deu o caso por perdido. Eles bem sabiam que para a causa da saúde reprodutiva a União Europeia lhe dispensaria a módica quantia de 32.000.000,00 €. E assim foi.

Podemos questionar a oportunidade, a sensatez e o acerto da intervenção americana no Iraque. Não será mais do que a desastrosa continuação da sua desastrosa política externa, de há várias décadas a esta parte. Os próximos meses o dirão.

Mas há uma virtualidade emergente do relacionamento de Bush com a ONU, que tem a maior importância, por tabela, para o futuro da Europa: é que o Presidente dos EUA não se submeteu ao diktat da ideologia onusiana, cuidadosamente co-elaborado pelo seu predecessor. Mais: cortou com essa lógica em questões de política interna como a promoção da família, alternativas e restrições ao aborto, a recusa de concessão de privilégios aos homossexuais (a que alguns chamam direitos). Em suma, ousou ir por sua conta e contrariou as directivas da ONU. Neste particular, uma lição para a Europa.

Uma vitória de Kerry em Novembro próximo será o regresso a Bill Clinton e aí sim, os EUA voltarão a mandar no mundo através da ONU. A questão do Iraque será espinhosa para qualquer um deles: ficar no Iraque é mau, sair agora talvez ainda seja pior.

Já muito se escreveu sobre a crise actual na Europa: cultural, espiritual, económica, identitária, demográfica. Total.

As nações europeias têm raízes espirituais e culturais comuns (a civilização greco-romana, o cristianismo) profundamente assimiladas nos seus povos – muito mais do que nos comissários e funcionários de Bruxelas. Não precisam para nada de um estado unitário nem de uma Constituição, curiosamente, assentes nos pressupostos ideológicos que mais dividiram os povos europeus de há duzentos anos para cá: o laicismo e o jacobinismo.

Não! A Europa não precisa disso. Precisa somente de se encontrar a si própria, de reencontrar a sua identidade cultural e espiritual, no fundo, aquilo que a une em liberdade.

E encontrar-se-á se, e só se, cada uma das suas nações se reencontrar a si própria.

Manuel Brás

(continua num próximo post)

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2004/04/19

"Revolução" e "Evolução": o 25 de Abril 



O que se pode comemorar a 25 de Abril, cada ano?

É inesperadamente revelador e sistemático — seguramente fruto de... profunda meditação ou duma intuição política notável — perceberem hoje alguns responsáveis, mesmo que só ao fim de 30 anos, que o "25 de Abril" foi o arranque de duas cadeias de acontecimentos de naturezas divergentes, mas em certo modo complementares.

Houve o golpe de Estado, e é isso que até agora se tem comemorado e a única coisa que os revolucionários nostálgicos continuam a querer exclusivamente comemorar, tanto quanto possível sozinhos entre si.

Para não perderem a sua fèzada?... Talvez.

Mas outra cadeia de acontecimentos de reacção à primeira, passou a desenrolar-se logo nos dias a contar daí, numa espécie de revolução paralela, que viria a ser a tal evolução e acabaria por ter efeitos correctivos de muitos dos efeitos negativos desse "Abril" logo transformado em PREC.

Dir-me-ão que nada conseguiu corrigir os efeitos da chamada descolonização, por exemplo.

Vem, por isso, a propósito dizer que a visita recente do PM a Moçambique pode interpretar-se como uma tentativa de corrigir o que ainda possa ser corrigido, evidentemente que sem tentações de impossíveis "regressos".

É arriscado?... Os perigos de insucessos e mal-entendidos e incompreensões são muito grandes?... Mesmo as palavras, em especial as palavras, deveriam ser por vezes mais pesadas?

Sem dúvida, mas penso que a coragem de enfrentar tentações e riscos ou de ouvir certas palavras é por si muito louvável.

Adiante, porém.

O que agora quero, até para justificar o título do poste, é aprofundar em que consistiu a 2ª cadeia de acontecimentos gerada no "25 de Abril", essa sucessão de acontecimentos que definem realmente uma evolução muito favorável, os quais não têm sido devidamente postos em relevo e nunca foram, como tal, comemorados oficialmente.

Tendo praticamente, então, deixado de haver Estado em Portugal, só ficaram o Exército e a sociedade civil, isto é, o Exército, em caos, e tudo o resto, onde sobrenadavam algumas ilhas de poderes pré-revolucionários, como a Igreja e as Universidades.

Quem ficou cá, disposto a aguentar, sabe que o levantamento contra o domínio das esquerdas radicais, PCP à cabeça — as quais nos queriam transformar numa republiqueta da Cortina de Ferro — começou mal esse "Abril" dos fanáticos marxistas revelou os seus verdadeiros títeres.

E nessa primeira resistência, honra lhes seja, viriam a ter papel decisivo alguns partidos, militares no exílio, uma ou outra unidade militar, algumas associações, até de estudantes, e sobretudo a Igreja.

Vencido o PREC, uma certa parte da sociedade civil compreendeu isto: mais que político ou de rua, o combate tinha de passar a ser essencialmente educativo e cultural.

A mais importante realização desse tempo, em tal sentido — começada a preparar em 1976 — foi com certeza a Universidade Livre, tão importante que acabou vítima do seu próprio sucesso, dez anos depois — mas, de qualquer modo, já tendo desempenhado o essencial do seu projecto histórico.

Os novos nacionalistas podem e devem orgulhar-se do papel central que nesse projecto decisivamente assumiram e levaram a cabo.

É toda essa cadeia de acontecimentos, em que predomina, como no caso da Universidade Livre, o desempenho da sociedade civil ou informal portuguesa, que bem define aos olhos de muitos a triunfante "evolução" abrilina.

Comemorá-la a 25 de Abril, com referência ao próprio dia em que praticamente foi obrigada a nascer, no 1974, e com o cariz construtivo/reconstrutivo que efectivamente acabou por ter exclusivamente, é de justiça e, de facto, um direito de cidadania de cada Português, mas sobretudo uma obrigação do Estado nacional.

Assim todos compreendam que todos puderam ter o seu 25 de Abril — uns o "25 de Abril" do golpe de Estado a que chamam Revolução dominada pelo marxismo e os marxistas; outros o "25 de Abril" da evolução, ponto de partida da reconstrução, que podemos e devemos adoptar como nosso, pois que o foi efectivamente e é, em grande parte, a nossa própria História.

Será mais uma maneira de unificar os Portugueses, mesmo que pertencentes seja a um, seja ao outro dos dois países Portugal, de que já muitas vezes se falou neste blogue e que sempre surgem como incontornáveis, quando se aprofunda um pouco a nossa realidade histórica e a realidade contemporânea.

Reconciliados não necessariamente na História; mas na vida.

A.C.R.

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O declínio da Europa e a ideologia onusiana (IV) 

(continuação do post de 2004/04/17)

A educação para a cidadania, a tolerância, o direito de escolha, a saúde e direitos reprodutivos são, talvez, as expressões mais conhecidas da retórica onusiana. Certas condições particulares de Portugal justificam, em parte, que estes sejam os termos mais ventilados pela comunicação social na sua acção propagandística, quer para justificar o forte proteccionismo à educação estatal, quer para tentar vencer a resistência social e justificar a liberalização da prática do aborto.

Compreende-se que a educação – entendida de uma forma muito particular – se encontre na primeira linha de preocupações da ideologia onusiana, na medida em que um projecto de cariz totalitário se quiser consolidar-se e manter-se tem de ter às suas ordens a maior quantidade possível de estruturas educativas. Estatais e não estatais, o mais importante é que essas estruturas perfilhem e veiculem essa ideologia.

Em linhas gerais as orientações destinadas a gerar como produto final um cidadão mundial terão que desaconselhar o estudo da História das respectivas nações de forma a não permitir que se forme uma consciência e uma identidade nacionais; em vez disso, o estudo da história deverá incidir sobre espaços mais alargados (a Europa, o mundo, as civilizações antigas) e focar aspectos essencialmente económicos e sociais, injustiças, discriminações, opressores e oprimidos, ricos e pobres.

Deve-se evitar na escola uma cultura de exigência, de rigor e de consciência do dever. A escola é acima de tudo um espaço lúdico e de socialização, mais do que um espaço de aprendizagem e de aquisição de hábitos de trabalho intelectual. Tarefa importante da escola é fazer cidadãos portadores de uma tolerância pró-activa, que é mais do que o respeito passivo das diferenças: é a aceitação e a adopção activa, integração na própria consciência, dos valores dos outros que são diferentes, próprio duma ética inclusiva destinada a conduzir à paz. As certezas, o dogma, as respostas definitivas, as convicções fortes, o discurso moralizador, geram conflitos, pelo que se devem eliminar.

A maior preocupação educativa incide sobre os aspectos sanitários: a educação para a saúde, que é considerado, indubitavelmente, um valor absoluto, acima do qual nada existe. Na lógica da OMS, que é quem define o conceito, a saúde é um absoluto. Por razões óbvias, a educação sexual assume um lugar centralíssimo dentro da educação para a saúde. A concepção de cada ser humano como alguém que não é capaz a priori de ser senhor de si mesmo – tal como o cão de Pavlov –, o incitamento precoce à promiscuidade sexual típico de uma cultura hedonista, a consideração de que a gravidez é uma doença e a maternidade um crime, constituem os pressupostos para que os programas de educação sexual se resumam essencialmente ao seguinte:

- apologia de experiências sexuais precoces
- igualdade radical das relações heterossexuais e homossexuais: cada um faz as suas opções
- sexo seguro: o importante é que cada um se proteja dos perigos: doenças infecciosas e gravidez
- deve-se evitar ao máximo a gravidez e a maternidade sem prescindir da actividade sexual, daí a forte apologia da contracepção e do aborto

É claro que existem outras visões da educação sexual, mas esta é a oficial da OMS, patrocinada por poderosas ONG’s como IPPF (International Planned Parenthood Federation), de que a APF é sucursal em Portugal desde 1967.

Até há pouco menos de dois anos era a APF que tinha em Portugal o monopólio da educação sexual: definia os programas para o Ministério da Educação, formava os professores, ia às escolas...

Quando o governo através do Ministério da Educação decidiu abrir a formação em educação sexual a outras associações com orientação diferente da APF as acusações e as pressões não se fizeram esperar. A acusação mais bizarra foi que a associação em questão violava as orientações do Estado em matéria de educação sexual ao aconselhar e admitir a abstinência como forma de evitar a gravidez adolescente e a transmissão de doenças. Foi maravilhoso ficar a saber que o Estado tinha uma orientação em matéria de educação sexual. E não terá mais nenhuma orientação para impôr aos súbditos?

Assim se compreende como as directrizes da ideologia onusiana através das ONG’s e da UE se fazem sentir no panorama educativo europeu e, em particular, português. Os pais ficam de fora. Dificilmente têm acesso aos programas de educação sexual, sem conhecimento do que os seus filhos fazem e ouvem nas aulas, nem dos materiais que utilizam. É possível que muitos pais, sem conhecimento e contra a sua vontade, estejam a permitir condições na escola para que os seus filhos se tornem homossexuais e façam a sua “opção”.

E, no entanto, para a ONU, tudo isto são direitos. Uma das grandes novidades desta ideologia é definir como direitos das pessoas aquilo que eles querem que as pessoas façam. Contrariamente ao que sucedia antes em que práticas como o aborto, a contracepção e o homossexualismo eram vistas como coisas vindas de fora, com a invenção dos direitos sexuais e reprodutivos os ideólogos da ONU têm a esperança de que mais facilmente as pessoas façam essas práticas suas e as interiorizem melhor ao assumi-las como um direito pessoal. Daqui decorre a importância do direito de escolha.

Mais uma vez surge um termo que só funciona no sentido que se pretende, que é o de justificar a consumação da prática. Relativamente ao aborto isto é claríssimo, pois nunca, ao abrigo deste conceito, se apresentam alternativas ao aborto. Não há um partidário do direito de escolha que diga a uma mulher vacilante: não abortes, que eu ofereço-te uma alternativa. O direito de escolha só funciona para o lado que interessa a quem o inventou.

O mais interessante de tudo é indagar qual a origem, quem define o que são e quais são os direitos onusianos e porquê. O que, convenhamos, dava pano para mangas e muito mais.

Manuel Brás

(continua num próximo post)

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