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2004/04/19

"Revolução" e "Evolução": o 25 de Abril 



O que se pode comemorar a 25 de Abril, cada ano?

É inesperadamente revelador e sistemático — seguramente fruto de... profunda meditação ou duma intuição política notável — perceberem hoje alguns responsáveis, mesmo que só ao fim de 30 anos, que o "25 de Abril" foi o arranque de duas cadeias de acontecimentos de naturezas divergentes, mas em certo modo complementares.

Houve o golpe de Estado, e é isso que até agora se tem comemorado e a única coisa que os revolucionários nostálgicos continuam a querer exclusivamente comemorar, tanto quanto possível sozinhos entre si.

Para não perderem a sua fèzada?... Talvez.

Mas outra cadeia de acontecimentos de reacção à primeira, passou a desenrolar-se logo nos dias a contar daí, numa espécie de revolução paralela, que viria a ser a tal evolução e acabaria por ter efeitos correctivos de muitos dos efeitos negativos desse "Abril" logo transformado em PREC.

Dir-me-ão que nada conseguiu corrigir os efeitos da chamada descolonização, por exemplo.

Vem, por isso, a propósito dizer que a visita recente do PM a Moçambique pode interpretar-se como uma tentativa de corrigir o que ainda possa ser corrigido, evidentemente que sem tentações de impossíveis "regressos".

É arriscado?... Os perigos de insucessos e mal-entendidos e incompreensões são muito grandes?... Mesmo as palavras, em especial as palavras, deveriam ser por vezes mais pesadas?

Sem dúvida, mas penso que a coragem de enfrentar tentações e riscos ou de ouvir certas palavras é por si muito louvável.

Adiante, porém.

O que agora quero, até para justificar o título do poste, é aprofundar em que consistiu a 2ª cadeia de acontecimentos gerada no "25 de Abril", essa sucessão de acontecimentos que definem realmente uma evolução muito favorável, os quais não têm sido devidamente postos em relevo e nunca foram, como tal, comemorados oficialmente.

Tendo praticamente, então, deixado de haver Estado em Portugal, só ficaram o Exército e a sociedade civil, isto é, o Exército, em caos, e tudo o resto, onde sobrenadavam algumas ilhas de poderes pré-revolucionários, como a Igreja e as Universidades.

Quem ficou cá, disposto a aguentar, sabe que o levantamento contra o domínio das esquerdas radicais, PCP à cabeça — as quais nos queriam transformar numa republiqueta da Cortina de Ferro — começou mal esse "Abril" dos fanáticos marxistas revelou os seus verdadeiros títeres.

E nessa primeira resistência, honra lhes seja, viriam a ter papel decisivo alguns partidos, militares no exílio, uma ou outra unidade militar, algumas associações, até de estudantes, e sobretudo a Igreja.

Vencido o PREC, uma certa parte da sociedade civil compreendeu isto: mais que político ou de rua, o combate tinha de passar a ser essencialmente educativo e cultural.

A mais importante realização desse tempo, em tal sentido — começada a preparar em 1976 — foi com certeza a Universidade Livre, tão importante que acabou vítima do seu próprio sucesso, dez anos depois — mas, de qualquer modo, já tendo desempenhado o essencial do seu projecto histórico.

Os novos nacionalistas podem e devem orgulhar-se do papel central que nesse projecto decisivamente assumiram e levaram a cabo.

É toda essa cadeia de acontecimentos, em que predomina, como no caso da Universidade Livre, o desempenho da sociedade civil ou informal portuguesa, que bem define aos olhos de muitos a triunfante "evolução" abrilina.

Comemorá-la a 25 de Abril, com referência ao próprio dia em que praticamente foi obrigada a nascer, no 1974, e com o cariz construtivo/reconstrutivo que efectivamente acabou por ter exclusivamente, é de justiça e, de facto, um direito de cidadania de cada Português, mas sobretudo uma obrigação do Estado nacional.

Assim todos compreendam que todos puderam ter o seu 25 de Abril — uns o "25 de Abril" do golpe de Estado a que chamam Revolução dominada pelo marxismo e os marxistas; outros o "25 de Abril" da evolução, ponto de partida da reconstrução, que podemos e devemos adoptar como nosso, pois que o foi efectivamente e é, em grande parte, a nossa própria História.

Será mais uma maneira de unificar os Portugueses, mesmo que pertencentes seja a um, seja ao outro dos dois países Portugal, de que já muitas vezes se falou neste blogue e que sempre surgem como incontornáveis, quando se aprofunda um pouco a nossa realidade histórica e a realidade contemporânea.

Reconciliados não necessariamente na História; mas na vida.

A.C.R.

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