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2004/04/16

O declínio da Europa e a ideologia onusiana (II) 

(continuação do post de 2004/04/15)

Com a queda do muro de Berlim ruiu o comunismo enquanto sistema. Mas os comunistas e socialistas não acabaram. Como se tem verificado.

De facto, continuam no poder, agora pela via eleitoralista, em importantes países do ex-bloco soviético, tais como a Polónia e a própria Rússia. Há quem diga que quando o sistema caiu não havia outras forças políticas preparadas para assumir os novos destinos. Assim, provavelmente, nunca irá haver.

Aqui há algo de curioso. Quando os sistemas socialistas caem, não há forças políticas alternativas para os substituir. Quando são outros os regimes que caem, os socialistas estão sempre prontos para governar. Fantástico, não é?

Serão eles os homens “fortes e independentes, preparados e predestinados para o comando” em que “encarna a razão e a arte de uma raça dominante”, que Nietzsche proclama em “Para Além do Bem e do Mal”, portadores de uma alma aristocrática relativamente à qual “outros seres têm por natureza de sujeitar-se e sacrificar-se-lhe”? Talvez.

Sucedeu, porém, que, caído o muro em 1989, a globalização económica e empresarial era uma tendência muito difícil, ou mesmo impossível, de conter entre dois blocos que já não existiam. Era só uma questão de tempo.

E os socialistas perceberam isso. Perceberam que já não fazia sentido falar de luta de classes, nem de confronto entre o proletariado e o capitalismo, nem fazer guerra aberta à iniciativa privada e muito menos a um sistema capitalista, que poderiam tentar moldar à sua maneira.

No início dos anos 90 a esquerda percebeu que devia enfrentar a nível global a globalização económica em curso, tida como imoral ou, pelo menos, amoral. Por isso, a fim de corrigir os males atribuídos à globalização económica – pobreza, violação dos direitos do homem, fragmentação social, desigualdade, injustiça, degradação do ambiente – a ONU entende ser sua responsabilidade dar-lhes uma resposta social e ética, reforçando a sua imagem de autoridade moral mundial, revelando ao mundo aquilo que designaram como uma ética planetária.

Foi este novo paradigma que a esquerda mundial criou nos anos 90: desenvolvimento sustentado, governação mundial, abordagem integrada (holismo), saúde e direitos reprodutivos, direito de escolha, estado de direito, diálogo, consenso, qualidade de vida, igualdade de todas as formas de vida e a consagração de múltiplas formas de família. Esse “novo paradigma” assumido pela ONU – e que esta tenta que o mundo aceite – teve como visionários vários especialistas e líderes mundiais, tais como Gro Harlem Bruntland, Bella Abzug, Nafis Sadik, Maurice Strong, Bill Clinton e Al Gore.

De início as empresas foram afastadas do consenso. Porém, após a criação de normas sociais, culturais, ambientais e éticas e a convocação crescente de ONG´s, consideradas como representativas da sociedade civil, com a missão de vigiar e corrigir as empresas e a iniciativa privada, servindo-lhes de contrapeso, as empresas foram integradas no novo sistema pela esquerda mundial. O crescente número de ONG’s que participaram nas Cimeiras da ONU ao longo dos anos 90 é bem elucidativo do que acaba de ser dito: 45 na Cimeira da Criança em Nova Iorque (1990) e 2400 na Habitat II em Istambul (1996), enquanto na de Pequim (1995), 30.000 pessoas representaram 2100 ONG’s.

É como se agora a luta de classes se colocasse entre ONG’s e empresas, mas com uma diferença significativa: sem confronto, – conceito proscrito pelo novo paradigma – pelo consenso.

Nos anos 90 a esquerda tomou a dianteira, desenhou o novo paradigma sem ondas nem discussão – evitando ao máximo o confronto de ideias, – apelou ao consenso sobre o seu próprio diktat no seio da ONU, sem que alguém fizesse resistência ao empowerment das ONG’s radicais. Enquanto isso, a direita, mais uma vez, geria muito mal – não geria, nem digeria – todas as aspirações e tendências culturais e espontâneas que se insinuaram nos anos 90.

Manuel Brás

(continua num próximo post)

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