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2004/02/20


  • Assine e faça assinar a petição

  • Um parêntese. Achegas sobre a ida do MPP ao Alentejo, em princípios de Setembro de 1974. 

    (continuação do post de 2004/02/19)

    Em 2004/02/16, com notas sobre a vida do MPP – Movimento Popular Português (poste IX) publiquei alguns dados acerca da ida ao Alentejo para um comício.

    O comício foi no Cano, concelho de Sousel, distrito de Portalegre, logo nos começos de Setembro, a um sábado.

    Saímos de Lisboa, manhã cedo, em duas carrinhas, além de mim, o Agnelo Galamba de Oliveira, o Manuel Arnao Metelo, o Pedro Garcia Rocha, o José Luís Pechirra, o irmão Manuel Pechirra, um brasileiro Pontes (inventor do “Pontex”...) e o António da Gama Ochôa, que desde havia algum tempo passara a actuar no projecto MPP, mas que já a partir de 1973, pelo menos, era também militante e dirigente do VECTOR.

    Foi o António da Gama Ochôa um alto funcionário do Ministério das Corporações, exemplar chefe de família, culto e inteligente doutrinador do Corporativismo de Associação, que soube suportar com nobilíssima coragem as terríveis agruras dum saneamento pior que moralmente injusto, porque completamente ilegal, como depois do PREC veio a ser-lhe reconhecido.*

    Se me ler, que me perdoe as “indiscrições”.

    O dia de acção política começou no Cano, com distribuição na feira semanal, durante a manhã, do manifesto e de prospectos anunciando o comício dessa noite, bem como de autocolantes e brochuras; fomos almoçar a Estremoz, onde aproveitamos para também distribuir alguma propaganda; e, dada uma volta por outras povoações da zona, depois do jantar também em Estremoz voltámos ao Cano, para o comício ao fim da tarde.

    Perorámos todos do alto duma varanda, creio que na Casa do Povo, sobre a praça central do lugar, para uma assistência que excedia as seiscentas pessoas; nada mal para a conjuntura e para o meio.

    Não tínhamos, nenhum de nós, creio, experiência por aí além da oratória que se impunha, mas não nos saímos mal nas diatribes anti-comunistas que não poupámos. Todos ouvimos aplausos, não houve apupos, mas o Galamba de Oliveira e o José Luís Pechirra foram mesmo aplaudidos com particular vigor e entusiasmo.

    O comício começara ainda ao lusco-fusco. Acabámos noite bem cerrada, na praça fracamente iluminada, e regressámos a Lisboa convencidos de que o Alentejo não era uma seara política pobre e negativa como se dizia.

    Os acontecimentos a partir de umas três semanas depois daquela noite iam rectificar juízos eventualmente precipitados de alguns e alertar-nos fortemente para a necessidade de uma luta bem mais dura e mais arriscada, bem mais exigente do que até aí e daquilo que a maioria ousava prever.

    Veio a ser necessária, de facto, a partir do “28 de Setembro”, uma radical revisão e endurecimento das nossas disposições para o combate.

    Diga-se, com orgulho e alegria, que foram muitíssimo poucos os que não estiveram à altura.

    A.C.R.

    * Corporativismo de Associação por oposição a Corporativismo de Estado, na terminologia de grandes teóricos do Corporativismo, como Manoïlesco, adaptada e desenvolvida entre nós pelo grande Mestre do Corporativismo e Direito Corporativo, que foi o Prof. Doutor José Pires Cardoso; bem como por outros, menos conhecidos mas também influentes e distintos doutrinadores, de que me lembram agora, especialmente, o Dr. João Manuel Cortez Pinto e o Dr. Fernando Cid Oliveira Proença, aos quais o VECTOR também ficou a dever preciosos contributos das suas inteligências excepcionais.

    (continua num próximo post)

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    2004/02/19


  • Assine e faça assinar a petição

  • Voltando ao MPP – Movimento Popular Português. 

    Agora, sim, vamos falar, enfim, de porque acabou.
    O balanço do Novo Nacionalismo Português não ficaria completo. (XII)


    (continuação do post de 2004/02/18)

    Em certa altura, alguns de nós começámos a apercebermo-nos, já em Agosto, de tentativas de fractura da coesão interna do grupo. O provocador ostensivo era um dos outros dois jovens trazidos pelo jovem Craveiro Lopes, o qual parecia apostado em dividir o núcleo duro do MPP, que se reunia com alguma regularidade no “refúgio” de Conímbriga. A certo ponto, parecia mesmo estar a conseguir levar para o seu lado um dos mais velhos elementos do núcleo duro, mas também dos mais recentes, por isso talvez menos integrado na “cultura” do grupo do VECTOR. Desmascarado o jovem numa reunião de Conímbriga — penso que na última que lá fizemos — foi-lhe comunicada a sua expulsão do MPP, que acatou imediatamente, retirando-se logo seguido da jovem de que já também falei.

    Acreditámos que nos havíamos livrado do elemento perturbador, talvez mesmo mais que isso, talvez uma infiltração completamente alheia aos propósitos do grupo, possivelmente servindo interesses que não tinham a clareza dos nossos.

    Setembro, veio a ficar como um mês de derrotas, mas também como um mês que algumas coisas clarificou.

    Efectivamente rumores pouco tranquilizadores andavam no ar.

    Diria que o nosso posicionamento de radical anticomunismo não convinha aos spinolistas, que não quereriam alertar o PCP com as manobras que eles, spinolistas, andariam já a dispor para a “inventona” de fins de Setembro.

    Falhada a possível tentativa de nos minarem por dentro, “pondo” no MPP pessoas dóceis aos seus planos, mesmo assim só estaria completada, aos olhos deles, a “unidade” da Direita em Portugal, se o sector nacionalista que representávamos pudesse ser dado como incluído nela, mas depois de domesticado e depois de anulados os seus dirigentes incómodos, precisamente o núcleo duro do VECTOR, que éramos aliás a grande maioria dos dirigentes do MPP.

    Mas o grupo demonstrou a sua solidez rejeitando as tentativas de nos dividirem. Os que saíram não representavam de facto nada dentro do espírito e projectos do VECTOR.

    Isso, porém, não nos fechou os olhos às realidades circundantes do momento.

    E a principal dessas realidades era que não podíamos esperar senão hostilidade dos spinolistas, cujo líder, por outro lado, era a aposta de muita gente das nossas simpatias, gente que só o tempo poderia esclarecer, e não nós ou quem quer que fosse, naquela conjuntura de optimismo pouco reflectido.

    Convidados para uma reunião no “franjinhas”, onde se falou da manifestação da “maioria silenciosa”, no Campo Pequeno, projectada para a noite de 27 de Setembro, os dois representantes do MPP que lá fomos saímos perfeitamente convencidos e sem ilusões sobre o aventureirismo amador para que tudo aquilo se encaminhava.

    Como veio a confirmar-se

    Não aconselhámos a ninguém a participação nos “eventos” preparados.

    Consumada em 28 de Setembro a derrota da Direita e dos Nacionalistas, fez-se uma análise serena e fria da situação, para concluirmos que não havia mais lugar para a multidão de Partidos que tinham surgido naqueles cinco meses acabados de passar.

    Em coerência, decidiu-se a dissolução do MPP.

    Passado mais de um mês surgiu o convite ao grupo do VECTOR para aderir ao PDC – Partido da Democracia Cristã.

    Convite apresentado, aliás, expressamente, como traduzindo o reconhecimento do significado e valor do combate do CESV pela Doutrina Social da Igreja, que o PDC dizia prosseguir também.

    Na nossa aceitação do convite, depois de uma reunião do núcleo duro do VECTOR, que já incluía o Dr. Manuel Arnao Metelo, com os principais dirigentes e fundadores do PDC, para esclarecimento dos termos em que éramos convidados, pesaram esses termos perfeitamente satisfatórios, na altura. Mas pesou ainda mais a necessidade que todos reconhecíamos de unir forças face aos combates que se aproximavam e agora mais duros e exigentes seriam, depois da derrota de 28 de Setembro.

    Na verdade, o convite era sumamente interesseiro, porque o PDC carecia em absoluto de quadros experientes e de convicções.

    Nós estávamos desmobilizados politicamente, mas prontos para continuar o combate de sempre.

    A.C.R.

    (continua num próximo post)

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    DEPOIS DO “DEBATE SOBRE O ABORTO” - ONDE ESTÁ O TEU IRMÃO? 



    Comissão Nacional Justiça e Paz


    Do livro “Em Defesa da Vida”
    Editado por Nova Arrancada, S.A.

    A votação sobre a “interrupção voluntária da gravidez” veio terminar um amplo debate, nem sempre suficientemente sereno, mas que mobilizou praticamente o país todo. Esta mobilização, num país onde o debate público é ainda pouco significativo, pode ser indicativa de que a vida é uma preocupação que atravessa a sociedade portuguesa, embora, o que é normal e salutar, a partir de perspectivas e preocupações diferenciadas.

    Para já, o debate acabou. Dada a nossa tendência para intelectualizar as coisas em vez de as viver, corremos o risco de nos ficarmos pela lei, esquecendo as pessoas. Assim sendo, parece oportuno destacar alguns aspectos.

    Para a CNJP, é preciso continuar a recordar que, independentemente da lei que foi aprovada ou que futuramente venha a sê-lo, o aborto é sempre um crime moral, por muito despenalizadora que seja a lei, pois a Assembleia nunca pode legislar sobre a moralidade de um qualquer acto. É importante insistir nisto porque para muitos a despenalização de um acto aprovada pela lei (esfera legal) acarreta automaticamente a sua despenalização perante a consciência (esfera moral), quando é exactamente a inversa que é verdadeira. Pôr a dimensão moral subordinada à legal é, pois, inverter a prioridade das opções. No entanto, o modo como estes debates têm sido conduzidos não contribui muito para esclarecer esta confusão, antes pelo contrário, com consequências graves para a consciência dos cidadãos.

    O resultado da votação permitiu às comunidades cristãs respirarem de alívio, mas, parece, de um alívio do tipo “do mal o menos”. O melhor era não alterar a lei, mas, a ter de ser, que o seja o mínimo possível. Contudo, também a lei actualmente existente foi objecto de críticas e rejeições, na altura da sua discussão e aprovação. Esta atitude dos cristãos perante a evolução da sociedade, baseada no critério de “do mal o menos”, nada tem de evangélica, porque significa andarem sempre a reboque, incapazes de serem propositivos e activos, resguardando-se numa posição de reactividade defensiva. Por outro lado, esta dificuldade em criar pontes de diálogo manifesta a incapacidade de perceber ou de querer aceitar que a proposta evangélica de salvação é uma proposta entre muitas numa sociedade plural e secular e que a fé católica não se impõe, mas se propõe.

    Em quaisquer circunstâncias, os cristãos são continuamente interpelados por aquela pergunta terrível que ressoa desde as primeiras páginas da Bíblia: “Onde está o teu irmão?”. Também agora que o debate acabou, somos especialmente chamados a dar respostas concretas à pergunta bíblica. Que resposta vai ser dada pelos que tanto “lutaram contra o aborto” e pelas comunidades cristãs, mais prontas a atirar pedras do que a testemunhar a misericórdia de Deus?

    Concretamente, onde está a nossa irmã que, quantas vezes por falta de uma adequada educação sexual, concebeu um filho e não se sente com maturidade suficiente para o criar ou para resistir às pressões do meio ambiente?

    Onde estão os nossos irmãos que a falta de condições habitacionais atirou para a promiscuidade?

    Onde está a nossa irmã, mãe solteira, que teve a coragem de não abortar, assumindo o risco de ser desprezada pela própria comunidade cristã que tanto condena teoricamente o aborto?

    Onde estão os nossos irmãos que não têm as condições mínimas para ter mais filhos?

    Onde está a nossa irmã que na hora da decisão e da angústia não tem um ombro onde apoiar a cabeça nem uma palavra lúcida que lhe rasgue as trevas da solidão?

    Onde estão os nossos irmãos para quem a responsabilidade pelo acto cometido é esmagada pelo prazer do imediato e pelo egoísmo comodista?

    Ir ao encontro destes irmãos, acolhê-los e dar-lhes apoio psicológico, afectivo, económico e social é a única resposta possível que as comunidades cristãs, que querem ser rostos vivos de um Deus que ama e se comove, são chamados a dar à grande interpelação: “Onde está o teu irmão?”.

    (Maio de 1997)

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    2004/02/18


  • Assine e faça assinar a petição

  • Para o balanço do Nacionalismo Português contemporâneo (XI).  

    Mais alguns dados sobre a vida da “Resistência”.

    (continuação do post de 2004/02/17)

    “Resistência” foi o nome que demos à revista quando ela nasceu, em 1968, nome que foi logo muito bem acolhido, mesmo pelos que achavam que podia lembrar um certo cariz político dos tempos de 1939-45, na Europa, com tendências muitas vezes laicistas e anti-católicas.

    Não foi dessa opinião, por exemplo, o Pe. Joaquim de Jesus Guerra S.J.,(*) que viria a ser um grande amigo e colaborador da “Resistência” e meu, o qual abraçou desde logo a ideia do nome com o maior entusiasmo. Outros, aliás, o achariam um “verdadeiro tiro”, a acertar em cheio no alvo. Mesmo os que pensavam que o título era antes indicativo de “passividade na defensiva” que de “defesa mas ao ataque”, como se impunha, acabaram por aceitar muito bem a designação. Muitos viriam mesmo a pensar que dificilmente se teria achado um nome que expressasse melhor o longo fôlego da acção que então empreendemos, com o lançamento da “Resistência”.

    Fui, durante os dezoito anos da sua ininterrupta publicação, o seu director, na plenitude das responsabilidades, e chefe de redacção. Mas com o pleno empenhamento do grupo do VECTOR, a partir de Novembro de 1978, no conselho de administração e na direcção executiva da Universidade Livre, de que, nessa altura, me tornei o administrador-delegado, as funções de chefe de redacção passaram a ser exercidas, primeiro pelo Dr. Amândio César, esse que foi prodígio de talento literário, de dedicação e lealdade, de capacidade para a coordenação e angariação de colaborações as mais prestigiosas, para além do enorme talento de conversador cultíssimo, cheio também de humor... e tolerância; e, a seguir ao Dr. Amândio César, desempenhou o Dr. Paulo Teixeira Pinto as funções de chefe de redacção da “Resistência”. Era um jovem jurista, também ele muito talentoso, como já reconheciam todos os que com ele convivíamos e como a vida política e empresarial, a que veio a dedicar-se, plenamente confirmou, embora não sejam poucos os que ainda agora esperam bastante mais dele.

    Se a estes nomes acrescentássemos os de centenas de Autores que escreveram ou foram publicados na “Resistência”, com maior ou menor assiduidade, nacionais e estrangeiros, de todas as gerações contemporâneas da revista, teríamos um rol de personalidade verdadeiramente impressionante, em quantidade e em qualidade. Em suma, uma boa parte da elite cultural católica do país desses dezoito anos que a “Resistência” durou.

    Consultem-se os 147 tomos da revista, com as suas perto de 15.000 páginas...

    Não era de resto difícil conseguir originais: a grande maioria dos convidados sentiam muito prazer e mesmo honra em escrever para a “Resistência”, ao lado de tantos nomes consagrados ou de jovens promessas.

    Mas igualmente porque a “Resistência” também foi, em Portugal, a 1ª grande intervenção colectiva de leigos católicos, não mandatados, na discussão dos problemas da Igreja.

    Talvez por isso tenha a revista sido apreciada, como foi, pelo Patriarca D. Manuel Gonçalves Cerejeira e bastante menos pelo seu sucessor, D. António Ribeiro.

    A.C.R.

    (*) O Pe. Joaquim de Jesus Guerra S. J. missionou durante 50 anos no Oriente (China e Macau), foi um grande sinólogo, cujas traduções dos clássicos chineses viu publicadas nos anos oitenta e setenta, com o apoio do Governo português de Macau. Duas vezes condenado à morte pelos maoístas, das duas vezes se salvou in extremis.

    (continua num próximo post)

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    A NOVA INVESTIDA ABORTISTA 



    Comissão Nacional Justiça e Paz


    Do livro “Em Defesa da Vida”
    Editado por Nova Arrancada, S.A.

    "Reivindicar o direito ao aborto e reconhecê-lo legalmente, equivale a atribuir à liberdade humana um significado perverso e iníquo: o significado de um poder absoluto sobre os outros e contra os outros. Mas isto é a morte da verdadeira liberdade" (S.S. João Paulo II, "O Evangelho da Vida", 20)

    A Sociedade portuguesa volta a estar confrontada com nova tentativa para alargamento da possibilidade legal de interrupção voluntária da gravidez.

    Decorrido escasso tempo após a rejeição pelo Parlamento de uma das propostas de liberalização do aborto então apresentadas, insiste-se no seu reagendamento, porventura com ligeiras alterações que deixam o anterior projecto substancialmente na mesma.

    Não estamos, porém, perante uma nova reflexão sobre a mesma questão, nem se assistiu a um debate profundo desde aquela altura. Estamos, sim, perante uma iniciativa exclusivamente político-partidária, de ajuste de contas, motivada por tácticas conjunturais e por desejos incontidos de certos políticos sôfregos de protagonismo partidário e mediático.

    Por isso, a nova investida abortista há dias anunciada é, antes de mais, uma inadmissível violência sobre a consciência de numerosos parlamentares que antes se lhe opuseram, procurando agora que a disciplina e a imposição partidárias se sobreponham a princípios éticos e a razões de consciência.

    O mesmo órgão de soberania que, na mesma legislatura, rejeitou democraticamente uma proposta de lei desta natureza corre o risco de, independentemente do resultado de nova votação, ver afectada seriamente a sua imagem. Como compreenderão os portugueses que numa questão tão profunda e radicada em valores essenciais, em tão pouco espaço de tempo e sem qualquer debate na sociedade, a mesma Câmara possa mudar de posição? É intolerável, para a consciência das pessoas, equiparar esta requentada proposta abortista a um qualquer outro diploma técnico, orçamental ou desportivo.

    Uma questão que é, na sua essência, de princípios fundamentais, é reagendada — repete-se, sem qualquer debate prévio — numa óptica exclusivamente de oportunidade política, procurando relegar para um plano meramente secundário o que nela é essencial: a salvaguarda do direito à vida.

    A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) reafirma hoje a mesma posição que publicamente assumiu na oportunidade da anterior discussão parlamentar e que mantém a sua total actualidade. Remete-se, como tal, para as notas difundidas em Dezembro de 96 e Maio de 97.

    Nesta nota, a Comissão apenas entende voltar a sublinhar alguns aspectos relacionados com a essência do problema.

    Na realidade, na sociedade portuguesa continua sem se fazer a análise e a ponderação da experiência dos já longos doze anos, em que a interrupção voluntária de gravidez foi parcialmente admitida pela lei como prática não punida, o que deveria constituir o primeiro passo para um debate profundo e sério sobre tão importante assunto.

    O problema do aborto é muito complexo e delicado, tocando o íntimo mais profundo do ser humano. Mas, não obstante todo o terrível drama que envolve a prática do aborto, violar o direito à vida da criança a nascer não resolve ou sequer atenua o intenso sofrimento humano a que quase sempre o aborto está ligado. Limita-se a trocar um drama por outro muito maior, escolhendo a solução de maior mal.

    O aborto é sempre um crime, por muito despenalizadora que seja a lei, pois que a não ilicitude penal de um acto não acarreta necessariamente a sua licitude perante a consciência. Pôr a dimensão moral subordinada à legal é, pois, inverter a prioridade das opções.

    Hoje em dia é um dado adquirido que existe vida humana desde a concepção. Todas as mães e todos os pais, em todos os tempos e em todo o mundo, sempre tiveram a certeza de que aquele era o seu filho. O feto é, desde o primeiro momento, fiel depositário do património genético dos pais. Invocar o argumento da dúvida quanto ao momento do início da vida é uma grande hipocrisia. “Interromper a gravidez” é impedir que uma pessoa viva. E “impedir que viva” é, simplesmente, matar. E é um crime tanto mais abominável quanto é praticado sobre quem é completamente inocente e não se pode defender.

    Aceitar a prática do aborto voluntário é aceitar a vitória da banalização de comportamentos indignos da condição humana, do amolecimento das consciências, da degenerescência familiar, do egoísmo e do utilitarismo pérfidos sobre o Dom da vida, a defesa e promoção da família, o amor e a partilha.

    A vida humana não é um valor de troca ou de uso. É um Dom de Deus. Provém do direito natural e não do direito positivo.

    O direito à vida é um direito inviolável, imprescritível, inalienável e universal e o feto um ser com todos os direitos, irrepetível, livre e único.

    Dizer-se que o aborto mais ou menos liberalizado é a forma de combater o aborto clandestino é falso. A liberalização do aborto é a própria legalização do aborto clandestino.

    Por outro lado, o argumento da defesa da licitude por não cumprimento do quadro legal vigente conduzir-nos-ia perigosamente a uma sociedade sem normas, onde os criminosos orientariam a licitude ou não das situações (v.g. contrabando, corrupção, o próprio homicídio).

    O aborto livre é a forma mais bárbara e primitiva de planeamento familiar. Juntar argumentos de conveniência, de aparente liberdade de opção, e mesmo outros mais compreensíveis e penosos de ordem económica ou social é inaceitável, a não ser que se aceite a hierarquia do direito à vida.

    A vida humana está, entre nós, constitucionalmente defendida, indo para além da simples protecção do direito à vida. Se o Parlamento aprovar medidas legais contra ela, impõe-se a sua ilegitimidade mesmo pela via da inconstitucionalidade. É importante ter em atenção que existem sempre limitações éticas ao exercício da autoridade do Estado. Nem tudo o que é legal é legítimo.

    A igual dignidade de todos os seres humanos, entendida em toda a sua radicalidade, é um valor civilizacional e democrático que não pode ser violado pela ordem jurídica. Mas não basta uma firme oposição à admissibilidade ou alargamento da admissibilidade do aborto voluntário como acto lícito.

    Ao problema há que responder, na esfera do Estado e de toda a Sociedade, pela positiva, superando as causas da prática do aborto, com a adopção e desenvolvimento de medidas que proporcionem uma maternidade e uma paternidade responsáveis, o apoio ao papel da família na criação e educação dos filhos, a adopção de um planeamento familiar integral e consciente, a melhoria das condições laborais e sociais dos pais e, em particular, da mãe trabalhadora, o trabalho generoso de instituições de solidariedade e apoio social e afectivo para as mulheres e crianças vítimas do abandono e da exploração, o estímulo de condições económicas e sociais para uma vida digna, e o robustecimento dos valores e direitos fundamentais reconhecidos pelo senso moral comum.

    (Janeiro de 1998)

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    2004/02/17


  • Assine e faça assinar a petição

  • O balanço do Novo Nacionalismo Português continua (X). 

    O M.P.P. espelhou bem o período em que viveu.
    Actividades outras, paralelas, do grupo do VECTOR.


    (continuação do post de 2004/02/16)

    Enquanto prosseguia com intensidade a sua ligação ao M.P.P., o grupo do VECTOR impulsionava outras iniciativas.

    Além do “empurrão” já referido ao nascimento do “Bandarra” e do indispensável apoio logístico continuado à sua publicação, conseguimos manter sem uma quebra a saída regular da revista “Resistência”.

    Por aqueles tempos foram a “Resistência” e o “Jornal de Economia e Finanças”, as únicas publicações anteriores a 25 de Abril de 1974 que sobreviveram à Revolução, resistindo e reagindo sempre, conforme a sua vocação de origem, ao rumo anti-nacional que os Comunistas, e seus apaniguados da altura, quiseram imprimir-lhe furiosamente.

    Quando, em Junho/74, Spínola fez o seu famoso discurso para a descolonização, renegando inclusivamente os termos em que a questão fora apresentada no dia do levantamento pela “Junta de Salvação Nacional”, a que ele presidia, a “Resistência” publicou um editorial em que atacava frontalmente o pronunciamento do então Presidente da República.

    Nos termos da lei da Imprensa então vigente, já do Governo do Coronel Gonçalves, o editorial valeu-nos prontamente a pesada multa de cem contos, o equivalente, a preços de hoje, a cerca de 4000 contos (20.000 euros).

    Teríamos de pagar, sob pena de ser impedidos de publicar a revista, e não tínhamos o dinheiro, naturalmente.

    Fizemos um apelo de urgência aos nosso assinantes. E a reacção deles foi notável: em pouco mais de quinze dias juntámos perto de 200 contos, praticamente o dobro do que pedíramos, o que veio ajudar muito as contas da Editora, que nunca foram famosas e, antes pelo contrário, sempre deficitárias.

    Daí em diante, a “Resistência” superou-se a si própria a ponto de poder afirmar-se — lembro-me do que um dia me disse o senhor Dom Duarte Pio de Bragança a esse respeito — que foi um dos melhores repositórios de críticas e comentários à governação, durante todo o PREC. Aos olhos de alguns, nos quais incluo o Senhor Duque de Bragança, terá sido mesmo o melhor, com a regularidade quinzenal que então conseguiu manter.

    Chegou a ter mais de 3500 assinantes, o que para uma revista de cultura, doutrina e crítica foi, nesse tempo, um feito notável.

    Era seguramente a revista não eclesiástica com mais sacerdotes como assinantes, que chegaram a ser mais de 1000, o que dá ainda mais a ideia da influência que poderá ter exercido.

    Tudo isso enquanto o PREC decorria e o grupo fundador da revista, o grupo do VECTOR, desenvolvia a sua acção em várias direcções com o mesmo empenhamento e unidade estratégica, a curto e a longo prazo.

    A.C.R.

    (continua num próximo post)

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    2004/02/16


  • Assine e faça assinar a petição

  • Para uma resenha histórica e balanço do Nacionalismo Português moderno e pós-moderno (IX). 

    Como veio a acabar o M.P.P. — Movimento Popular Português

    (continuação do post de 2004/02/13)

    Ao contrário do que se passou com a audiência dada pelo Primeiro-Ministro Doutor Adelino da Palma Carlos ao M.P.P., não me foi possível, na realidade, recordar com segurança quem terá representado o M.P.P. na audiência concedida pelo Presidente da República General António de Spínola, em 10 de Julho de 1974, à “delegação representativa do Movtº Federalista Português, do Partido Trabalhista Democrático Português, do Partido Liberal e do M.P.P.”, como refere o “relatório” oficial sobre a intentona do 28 de Setembro de 1974, na parte transcrita em 06 do corrente pelo blogue “O Sexo dos Anjos”.

    Não se pode imaginar qualquer resultado minimamente interessante da audiência, sabido já na altura como Spínola estava a apostar tudo no Partido do Progresso e no CDS.

    Não consegui sequer recordar, nem recorrendo à ajuda de alguns dos nomes que apontei antes, directamente envolvidos no M.P.P., quem nos terá representado na audiência, se audiência acabou de facto por haver.

    A ter havido audiência (e não mera entrega do papel a algum secretário) e a termos estado representados, parece-nos que só poderia ter sido através do Eng.º A. Galamba de Oliveira e/ou do Dr. Manuel Braancamp Sobral.

    Quaisquer outros de nós éramos insuficientemente “diplomáticos” para suportar uma audiência com o homem que todos considerávamos o principal responsável pelo êxito do assalto em curso ao Poder por parte do PCP e, portanto, o principal responsável, pela consequente destruição de Portugal que, aos olhos de muitos, era já inevitável.

    Havia, porém, forças políticas de Direita e até Nacionalistas portugueses dispostos a perdoar tudo a Spínola, em nome dum pragmatismo político que não encontrava eco no M.P.P.

    Se é certo que, acima de tudo, o M.P.P. transmitiu desde a primeira hora a certeza de querer e saber identificar o Inimigo no meio da confusão triunfante, isto é, o inimigo principal, o PCP, não é menos certo que sempre o MPP viu em Spínola o “inocente útil” com quem nada queria, com quem não pactuaria nunca e que considerávamos politicamente um inepto, um desastrado, se não pura e simplesmente um desastre acabado.

    Com esse, nunca embarcaríamos em aventuras.

    Parecia que já em Julho estávamos a palpitar os desastres do “28 de Setembro” e do “11 de Março”.

    Mas não, não nos passava pela cabeça o que veio a acontecer.

    Tínhamos muito com que nos ocuparmos, acções concretas lançadas ou em via de lançamento, em cujo êxito estávamos profundamente empenhados.

    Íamos fazer o primeiro comício do M.P.P. entre o Povo e tínhamos escolhido, por sugestão do José Luís Pechirra, fazê-lo no Alentejo. Sim, no Alentejo, na “boca do lobo” comunista, para juntarmos os actos às palavras e darmos a prova de como não éramos de balelas, mas prontos a correr os riscos todos dos combates necessários, em que acreditávamos. Fomos ao Alentejo, admitimos por cautela o pior, não nos deram essa honra; e as coisas até não correram nada mal; teríamos até voltado em breve, não levassem os acontecimentos outro rumo, com a prisão do J. Luís Pechirra e do Manuel Maria Múrias, no “28 de Setembro”; e conseguiríamos a legalização do M.P.P., facilmente, com os milhares de assinaturas que por nosso intermédio foram mais tarde, na altura própria, para o PDC – Partido da Democracia Cristã.

    Mas é cedo para falar disso, que não era previsível em Julho.

    Nesse mês estávamos, o grupo do VECTOR, enquanto nos envolvíamos nas acções já referidas do M.P.P., a ajudar o Manuel Maria, com igual empenho e toda a nossa logística, a preparar a bela aventura do BANDARRA.

    Não vou aqui repetir-me, mas quem queira saber ou recordar o que isso foi pode refrescar conhecimentos ou recordações lendo, neste blogue, o que escrevi na morte do M.M.M., a propósito do lançamento do inesquecível semanário e dos seus inesquecíveis três números (o “zero, o “um” e o “dois”) os únicos que a pesada mão da “censura” abrilina/comunista deixou sair.

    Mas já chega por hoje, conto mais amanhã.

    A.C.R.

    (continua num próximo post)

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    ABORTO E CONSCIÊNCIA - O PERIGO DAS VERDADES PARCELARES 




    Do livro “Em Defesa da Vida”
    Editado por Nova Arrancada, S.A.

    NUNO SERRAS PEREIRA


    O dever de seguir a consciência, mesmo quando errónea, leva alguns a pensar que 1. só se pode pecar quando se age contra a mesma e 2. perante alguém que aja de acordo com ela só nos resta inclinarmo-nos reverentemente sem nunca nos ser lícito opor-lhe resistência. Donde teríamos de concluir que os brutais SS responsáveis pelo holocausto dos Judeus, 1. estariam justificados e 2. não deveriam ser coagidos a respeitar os direitos dos outros; não só não poderiam ser recriminados mas teriam de ser louvados pela sua coerência! Obviamente isto é inaceitável. Mutatis mutandis o mesmo se passa com o aborto.
    Consideremos dois pontos:

    1. Também se pode pecar por negligenciar o dever grave de formar a cons-ciência. De facto, todos têm o dever de procurar a verdade e de, uma vez conhecida, a ela aderir procurando praticá-la: “Não basta dizer ao homem: ‘segue sempre a tua consciência’. É necessário acrescentar imediatamente e sempre: ‘pergunta-te se o que a tua consciência diz é verdadeiro ou falso e procura incansavelmente conhecer a verdade’. Se esta necessária precisão não fosse feita, o homem arriscar-se-ia a encontrar na sua consciência uma força destruidora da sua humanidade verdadeira em vez do lugar santo onde Deus lhe revela o seu verdadeiro bem”. (João Paulo II).

    2. À lei civil compete-lhe assegurar “o respeito de alguns direitos fundamentais, que pertencem por natureza à pessoa e que qualquer lei positiva tem de reconhecer e garantir. Primeiro e fundamental [...] é o inviolável direito à vida de todo o ser humano inocente. A tolerância legal do aborto e da eutanásia não pode, de modo algum, fazer apelo ao respeito pela consciência dos outros, [...] porque a sociedade tem o direito e o dever de se defender contra os abusos que se possam verificar em nome da consciência e com o pretexto da liberdade”. (João Paulo II).

    (Artigos publicados no Diário do Minho)

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