2011/07/25
Um castigo libertador
Até melhor explicação, com a classificação de países endividados, como Portugal e a Grécia, na categoria de “lixo” as agências estão a dizer o seguinte: não comprem a dívida desses países porque eles não vão ser capazes de a pagar. É uma afirmação de desconfiança nesses países e, por tabela, na UE. Mas a verdade é que a situação económica e financeira de Portugal e da Grécia, sem serem iguais, são catastróficas e o risco de não cumprir os compromissos decorrentes dos empréstimos da UE/FMI é real, como aliás, já começou a acontecer com a Grécia. Tudo isto são pontos fracos a somar contra a UE e o euro.
Mesmo com a descida dos juros da dívida de 5,7 para 3,5% e 4,5% e o alargamento dos prazos, é difícil garantir que Portugal irá honrar os seus compromissos. Podemos acreditar que um País com um crescimento económico, digamos de 1%, e é se for, consegue pagar juros de dívida de 3,5% e 4,5%? Eis a questão.
Mas o problema europeu, ao contrário do que querem fazer acreditar os aparatchiks da UE, não é meramente financeiro. Eles tentam esconder as verdadeiras dimensões do problema e as verdadeiras razões do declínio da Europa. A Europa perdeu poder e capacidade normativa, de fazer valer a sua visão, no concerto das Nações e nas instituições internacionais. A Europa, com as suas instituições, já não vale o que valia há 20 ou 30 anos atrás. A Europa está muito mais enfraquecida. E pode agradecer à UE.
E isso deve-se essencialmente a duas ordens de razões:
a) a Europa encontra-se num declínio demográfico imparável, com o consequente declínio económico, já em curso, e, por outro lado, dá constantemente sinais de declínio político-militar. Resumindo: declínio demográfico, económico e militar. É assim que a Europa é percepcionada pelas potências mundiais e nas instituições internacionais. E, não obstante, os senhores da UE continuam a pensar que estão nos anos 80 ou 90 do séc XX.
b) a UE não tem legitimidade política. É um simulacro de democracia, ou melhor, uma fraude encenada pelos aparelhos partidários e burocráticos que povoam Bruxelas e Estrasburgo. A UE é uma construção política que não tem base na realidade das Nações Europeias, apenas nos aparelhos partidários e em certas ONG’s com interesses específicos. Fora e dentro da Europa toda a gente sabe que a UE não diz nada aos povos europeus, apenas aos políticos e partidos comprometidos com o sistema. Toda a gente sabe que essa aparente coesão institucional europeia é mantida à custa de distribuir subsídios e quadros comunitários de modo a contentar as partes para evitar que estale o verniz. A UE é a coisa mais artificial e opaca que existe na Europa: basta olhar para a política de referendos.
E porque falta legitimidade política à UE? Por uma razão muito simples: quem elegeu Durão Barroso, os elementos do “Conselho Europeu” e demais comissários? Pois é... é assim que a UE é percepcionada dentro e fora da Europa.
Em Portugal, o lixo oferecido pela Moody’s e os comentários de Barack Obama foram, compreensivelmente, recebidos com desagrado. Mas, uma e outra coisa, reflectem uma realidade a que não devemos fechar os olhos: hoje e agora estamos muito fragilizados. Todos nós gostaríamos de poder olhar o mundo como sendo aquilo que fomos há 50, 300 ou 500 anos. Mas a verdade é que hoje e agora já não somos isso. O peso que Portugal tem hoje no mundo é simbólico e histórico, não é real. E o poder que conta na política é o real, não o histórico nem o simbólico.
De nada serve dizer mal das agências de rating e dos americanos quando nos apontam as fraquezas, que, no fundo, são reais. Sobretudo quando se sabe que o grande inimigo da Europa e das suas nações está dentro, não está fora: essa super-estrutura sinistra e opaca, cheia de comissários não eleitos, que dá pelo nome de “União Europeia”. Ora se a UE deitou abaixo a Europa, a Europa tem que deitar abaixo a UE. Enquanto é tempo.
Talvez não seja descabido, pelo menos para alguns países, pensar em abandonar o euro e, eventualmente, a UE. Há mais vida para além da UE e do euro. Talvez seja esse o caminho que alguns países europeus precisam de percorrer para se encontrarem a si próprios e se libertarem desse monstro que dá pelo nome de UE.
Talvez as agências de rating sejam o castigo libertador que a Europa precisa para voltar a fazer brilhar as suas Nações.
manuelbras@portugalmail.pt
Etiquetas: FMI, União Europeia
2011/06/06
Socialismo a Diesel
Algo de positivo aconteceu: correram com o mal maior. Cumpriu-se o refrão:
Sei que gostas de correr
Eu também, e já te digo
Que tenho todo o prazer
Um dia destes, correr contigo
Porém, isto não é garantia de que o novo governo tenha a força, a moral e as convicções suficientes para cumprir as promessas eleitorais e os compromissos decorrentes da ajuda externa. Porque não tem. É bom perceber desde já que se os portugueses correram com o mal maior foi por estarem fartos de aldrabices, de truques e de esquemas manhosos, não porque o mal menor lhes tenha mudado a mentalidade política. A cabeça dos portugueses é, politicamente, a mesma de há 6 e 2 anos atrás: nada mudou. Os portugueses ainda não perceberam que o “Estado social” que lhes aviaram há trinta e tal anos é nefasto para o País e não é sustentável durante muito mais tempo. Resta saber quem são os desgraçados que vão ter coragem para quebrar este ciclo vicioso. Não será seguramente o governo de Passos Coelho. E não será porque não vai aguentar a pressão dos sindicatos, em Portugal com poderes a mais, na hora de pôr em prática os compromissos da ajuda externa, nem as prerrogativas do “Estado social”, nem o cerco da esquerda. Terá dificuldade em lidar com uma Europa divergente em que a União Europeia está cada vez mais desunida entre os seus partidários e os seus opositores, bem como com uma série de assuntos cujo enfrentamento exige uma percepção e uma coragem que não existe na elite política portuguesa actual. Terá dificuldade em atacar o grande problema do presente e do futuro de Portugal: o declínio demográfico, com todas as suas consequências. Só para dar alguns exemplos.
Nada de relevante em termos de poder vai mudar em Portugal. Os compromissos da ajuda externa vão, provavelmente, falhar. O PSD e Passos Coelho podem ir para o governo, até com o CDS, que nada de substancial vai mudar. Como já se viu de 2002 a 2005, estar no governo é muito diferente do que estar no poder. Este último é bem mais importante e cai bastante mais para a esquerda.
PSD e CDS não têm qualquer pretensão ideológica de mudar a mentalidade política dos portugueses, talvez porque não são assim tão diferentes do esquerdismo que vimos em acção nos últimos 6 anos, pautando-se por um mero pragmatismo.
É legítimo questionar se um governo liderado por Passos Coelho consegue fazer uma legislatura completa. Quem sabe se em Junho de 2014, Passos Coelho não é chamado para a Presidência da Comissão Europeia e tem que abandonar o governo português, passando a deixa ao António Costa, ao Seguro, ao Francisco Assis ou ao Sousa Pinto?
Por último: quando é que José Sócrates é nomeado para a ONU? Ou será que se vai atirar à Presidência em 2016?
Onde é que já ouvi isto?
manuelbras@portugalmail.pt
Etiquetas: Eleições legislativas, FMI, União Europeia
2011/05/25
UM HOMEM DE PALAVRA
Para defender o estado social. Porque a oposição chumbou o PEC IV.
Agora está disponível para governar com o FMI. Porquê?
Para defender o estado social. Porque a oposição chumbou o PEC IV.
Já disse que não é pessoa para virar a cara à luta. O que o faz correr?
Defender o estado social. Porque a oposição chumbou o PEC IV.
O que o distingue fundamentalmente dos partidos à sua direita, que também subscreveram o memorando com a Comissão Europeia e o FMI?
A defesa do estado social. Eles chumbaram o PEC IV.
Se voltar a vencer as eleições qual será a sua prioridade?
A defesa do estado social. Porque a oposição chumbou o PEC IV.
Do que mais se orgulha de ter feito nestes seis anos?
Da defesa do estado social. E do PEC IV, que a oposição chumbou.
Admite ter cometido algum erro?
Dei o meu melhor. Na defesa do estado social. Até a oposição ter chumbado o PEC IV.
Já pensou o que irá dizer à senhora Merkel quando voltar a estar com ela?
Digo-lhe que defendi o estado social. E que a oposição chumbou o PEC IV.
Tem horas que me diga?
Defendo o estado social. A oposição chumbou o PEC IV.
manuelbras@portugalmail.pt
Etiquetas: Eleições legislativas, FMI, União Europeia
2011/05/12
O FMI é alegria, pá
No entanto, o sucesso do plano, agora com as habilidades dos aldrabões (governantes) do costume mais limitadas e controladas, está, ainda assim, dependente da forma como os cortes e as racionalizações forem realizadas. Ou seja, é sempre possível continuar a aldrabar. A limpeza do processo não está garantida.
Com um exemplo de gastos em educação, isto percebe-se melhor.
"Escolas públicas passam a ser financiadas conforme o desempenho". Ora, como é que vai ser avaliado o desempenho? Quem é que se atreve a avaliar, ou seja, a discriminar? Temos o caos e a guerra civil com os sindicatos. Muito provavelmente, o que vai acontecer é que todas as escolas vão passar a ter um desempenho excelente. Falsifica-se o ensino, mas evita-se a guerra. Não vale a pena arranjar problemas.
http://sol.sapo.pt/inicio/Politica/Interior.aspx?content_id=18293
http://economico.sapo.pt/noticias/conheca-todas-as-medidas-da-troika-que-vao-mudar-a-sua-vida_117265.html
manuelbras@portugalmail.pt
Etiquetas: Eleições legislativas, FMI, União Europeia
2011/04/27
O pluralismo visto da UE
É claro que para caracterizar o conceito que a UE tem de pluralismo podíamos ir buscar diversos exemplos de ideias e convicções que se podem ter e não ter, que vão desde o juízo histórico sobre a Idade Média, passando pelo evolucionismo, pelo clima, até ao conceito e conteúdo dos “direitos humanos”.
A UE, essa espécie de União Soviética sediada em Bruxelas e Estrasburgo, que tenta coartar a liberdade e a soberania dos países europeus – eles sim, não o FMI – mediante a imposição de uma ditadura de leis e regulamentos, frequentemente, tão destruidores quanto absurdos. A UE, essa organização arbitrária e pouco honesta, que, em princípio, não gosta de referendos, mas se não os puder evitar manda fazer quantos forem precisos até que o resultado dê o que pretendem, não queria que os “Verdadeiros Finlandeses” tivessem uma ascensão notável nas eleições legislativas de 17 de Abril.
Os finlandeses, que parece que são mesmo verdadeiros, mandaram-nos passear, coisa que os burocratas de Bruxelas merecem, só com pena que seja à custa dos contribuintes, deram 19% aos “Verdadeiros Finlandeses”, 39 deputados, terceiro maior partido, entrando, possivelmente, na constituição do próximo governo, o que pode lançar mais dificuldades nos intentos de Bruxelas e obrigar a outras soluções, especialmente à modificação dos contornos da ajuda financeira externa a Portugal.
Se queremos discutir isto honestamente temos de começar por reconhecer que os finlandeses não têm culpa da forma leviana e incompetente como os políticos portugueses, nas últimas décadas, trataram o dinheiro dos contribuintes – como se fosse deles, sabendo que não o era – trataram o despesismo e o défice do Estado. Se alguém aqui deve sair de cena é classe política dominante em Portugal, os parlamentares. Seria um acto de patriotismo irem-se embora, depois da porcaria que fizeram.
http://www.reuters.com/article/2011/04/18/finland-election-results-idUSLDE73H0J620110418
http://online.wsj.com/article/SB10001424052748704613504576269200664054290.html
Como em tantas outras coisas, a moral da UE é sempre a mesma: as pessoas podem ter as opiniões e convicções que quiserem, podem fazer aquilo que quiserem, desde que isso seja também aquilo que a UE quer ou, pelo menos, não atrapalhem, porque os iluminados são eles.
A isto chamam pluralismo.
manuelbras@portugalmail.pt
Etiquetas: FMI, União Europeia
2011/04/14
Estabilidade ou mudança?
Mas, o que vai suceder em 5 de Junho?
Uma recente sondagem dá 6 pontos de avanço para o PSD (39%) em relação ao PS (33%). Como é possível que, depois de todas as trapalhadas com o PEC, UE, FMI, etc, ainda haja 33% de eleitorado capaz de votar no PS? Como é possível que ainda haja gente que acredite no homem que garantiu que o FMI não financiaria a economia portuguesa, para uns dias depois pedir a demissão e recorrer ao FMI, e uns dias depois vir o ministro das Finanças afirmar que só há dinheiro para financiar o "Estado social" por mais um mês. Com que então, o FMI não era preciso, pois não? E ainda há quem confie nesta gente. Isto é o que se chama brincar com os portugueses. José Sócrates escolheu o pretexto certo e a hora certa para abandonar o barco: um verdadeiro caso de estudo de propaganda política.
Se por um lado temos uma fraude gigantesca gerida com grande profissionalismo, por outro temos um candidato muito "tenrinho", que tudo tem feito, com as suas muitas hesitações, faltas de determinação e firmeza, para que o PS volte a ganhar as eleições. Passos Coelho tem sido uma ajuda inestimável para José Sócrates, que até lhe vai "roer os ossos". Passos Coelho é o homem que José Sócrates precisa para voltar ao governo.
Será que daqui a um mês o PSD continua 6 pontos à frente do PS? É algo muito duvidoso. Para um "tribuno" como José Sócrates e uma memória como a de muitos portugueses, 6 pontos não é nada.
E, se assim for, os portugueses poderão apreciar, mais uma vez, como uma coisa e o seu contrário podem acontecer ao mesmo tempo, no mesmo lugar e nas mesmas circunstâncias: José Sócrates continuará estavelmente no governo e o "Estado social" transformar-se-á num monstro cada vez mais totalitário. Porque só com monstros destes é que é possível que governantes sejam envolvidos em esquemas extremamente suspeitos sem se demitirem ou, no mínimo, darem uma explicação convincente. Os governos de José Sócrates singularizam-se pelo facto de passarem incólumes por suspeitas e escândalos que fariam cair imediatamente ministros e governos de outras forças políticas.
Será superioridade moral?
manuelbras@portugalmail.pt
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2011/04/12
Para a compreensão da situação actual
Aconteceu outra vez: They have run out of other people’s money
Público 2011-04-08 José Manuel Fernandes
O dinheiro não nasce das pedras, pelo que se acabou a festa e não nos resta senão mudar de vida
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Pois foi. Como disse uma vez, há mais de 40 anos, a sra. Thatcher, "eles gastaram todo o dinheiro dos outros". Por isso, sem dinheiro, acabou-se a festa. E acabaram-se as ilusões. E a mitomania.
Ontem ainda se ouviam vozes indignadas, até inconformadas. O Bloco acusava os bancos de terem decidido "estrangular o apoio financeiro ao Estado". Ana Gomes proclamava que "aqueles que elegemos para mandar (...) andam a toque de caixa dos banqueiros". E o PCP pedia explicações e anunciava alternativas.
Pior: apesar de ser óbvio que o crédito da República tinha chegado ao fim, ainda ontem uma fonte do gabinete do primeiro-ministro assegurava que "o factor fundamental que levou a que o Governo solicitasse esta ajuda foram as dificuldades financeiras do sector financeiro, e não tanto por dificuldades de financiamento do Estado".
Esta gente ainda não percebeu o mundo em que vive e como chegámos até à situação desgraçada em que estamos. Esta gente ainda não percebeu que não pode continuar a gastar o dinheiro dos outros - dos bancos, dos contribuintes - porque já gastou tudo (e muito mais) do que havia a gastar. Há mais de um ano que a banca portuguesa não tem acesso directo ao mercado de crédito, há mais de um ano que depende do BCE. Há mais de um ano que, mesmo assim, são os bancos portugueses que asseguram boa parte do financiamento do Estado, sacrificando ao mesmo tempo o financiamento do sector produtivo da economia. Há muitos meses que se sabia que não era possível sustentar por muito mais tempo esta teia de dependências.
O que agora sucedeu foi que os bancos portugueses deixaram de conseguir aceder a novos empréstimos porque parte das garantias que tinham para dar - em especial os títulos de dívida pública portuguesa - se desvalorizaram. Por isso disseram o que não podiam deixar de dizer: que não continuariam a ir aos leilões da dívida. Ora, sem os bancos portugueses nesses leilões, não haveria Fundo de Equilíbrio da Segurança Social que salvasse Portugal e a nossa insaciável necessidade de mais e mais dinheiro para cumprir obrigações tão elementares como assegurar que os trabalhadores das empresas de transportes recebem os seus ordenados.
Alguns lunáticos, que acreditam que o dinheiro nasce debaixo das pedras ou, em alternativa, medra no fundo das caves dos bancos, proclamam que nos bastaria deixar de pagar aos credores ou cobrar mais impostos à banca para nos salvarmos da situação. Enganam-se: no dia em que o fizéssemos, não teríamos de cortar apenas cinco por cento aos salários da administração pública - teríamos de cortar, no mínimo, uns 20 por cento e, como já nos sucedeu no século XIX, meses haveria em que os salários não chegariam ou chegariam com atraso.
Repito: acabou-se a festa e finaram-se as ilusões e não nos resta senão mudar de vida. O que pode acontecer de duas formas: continuando a apertar o cinto de forma cega e desvairada, mas mantendo o essencial da estrutura do Estado e dos hábitos que temos, ou preferindo perceber que o mundo mudou e que, se quisermos escapar a uma miséria e tristeza crescentes, temos também de começar a pensar o país de maneira diferente.
aí que tenhamos, no curto prazo, dois grandes desafios pela frente.
O primeiro é tentar negociar com a União Europeia e com o FMI um pacote de ajuda que, além de nos dar o balão de oxigénio financeiro, também nos dê espaço para fazermos as reformas capazes de lidar com o principal dos nossos problemas, isto é, com a incapacidade da economia portuguesa de crescer e de criar riqueza.
O segundo é aproveitar a próxima campanha eleitoral para começar a discutir o que temos de mudar nas nossas vidas, no modo de funcionamento do nosso Estado e nas regras da nossa economia para que os próximos dez anos não voltem a ser dez anos perdidos, como foram os que decorreram entre 2000 e 2010.
O país está exaurido e necessita de perceber, de uma vez por todas, que secou a fonte do dinheiro que nos permitiu viver muito acima das nossas possibilidades (entre sector público e sector privado, gastámos todos os anos, nos últimos 15 anos, mais cerca de 10 por cento do que aquilo que fomos sendo capazes de produzir) e dela não brotará de novo dinheiro fresco e leve. É mesmo verdade que "eles" - os Governos, o Estado - "gastaram todo o dinheiro dos outros", o mesmo é dizer o nosso dinheiro e o dos que nos foram emprestando euros atrás de euros. É por isso que os nossos problemas são muito diferentes dos da Islândia (essa Némesis onde muitos julgam podermo-nos inspirar) e muito mais próximos dos da Grécia. Historicamente próximos: é que "nós estamos num estado comparável somente à Grécia - mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento dos caracteres, mesma decadência de espírito", como escreveu Eça de Queirós em... 1872. Jornalista
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2011/04/11
O senhor que sai
A estatística e os resultados valem o que valem, mas este resultado, por um lado, deve animar José Sócrates a continuar a sua marcha e, por outro lado, deve fazer pensar Passos Coelho e Paulo Portas sobre o que andam a fazer na política ao ponto de muitos portugueses não lhes encontrarem diferenças com Sócrates. Talvez porque fogem sempre de falar de ideias e convicções, para se ocuparem de factos e de casos mais comezinhos, que não comprometem.
Independentemente de Sócrates voltar ou não ao governo, vale a pena fazer a síntese avaliativa dos seus mandatos.
E aí, o que é que fica para a História? Na economia, na inovação e na competitividade, que ele afirmava serem as prioridades, é o que se vê. Sem comentários. Os factos falam por si: empresas a falir, muitos jovens estudantes e profissionais, bem como profissionais qualificados, a emigrar com fartura - consta que em Luanda estão 400 mil portugueses.
Se na economia foi a catástrofe, não houve nada em que o engenheiro se saísse bem? Claro que houve: ele foi o homem que promoveu mais o aborto, que tem estado a aumentar, muitas vezes de forma reincidente. Este peso ficará com ele para sempre. Mas ele também foi o homem do divórcio dos heterossexuais e do "casamento" dos homossexuais. Este belo paradoxo tinha que ser dele. Faltou-lhe a eutanásia, mas o governo morreu primeiro.
http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1825388
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Patriotismo
Eu acho-lhes imensa piada e à forma como eles usam os vocábulos, para eles provavelmente vazios, para se safarem das culpas e responsabilidades. Se a soberania nacional está comprometida, é só agora que está comprometida? E quem são os culpados? Se o PEC IV fosse aprovado seríamos mais livres e soberanos?
Há trinta e tal anos, no PREC, invocar o patriotismo num programa político dava seguramente direito a prisão, por conotação com o "colonialismo". Nos anos seguintes o termo foi sendo tolerado, mas nunca bem visto, sempre a lembrar-lhes a afirmação da Pátria e, com ela, da História, coisa que os políticos nunca quiseram fazer com medo de "arranjar problemas", tais como serem carimbados de extremistas ou fascistas. Mas agora, que vem aí o FMI e, provavelmente, vai descobrir imensas falcatruas nos dinheiros e nas contas públicas ao longo dos anos, e isso não interessa a alguns que se saiba, aí está o patriotismo, mais uma vez, para defender a escumalha que sempre o desprezou, e que sempre insultou aqueles que afirmam a Pátria, e não o partido, como realidade política suprema. Agora, que estão "à rasca" é que se lembraram do patriotismo. Coitados...
Quando a UE entrou em Portugal e passou a impôr as suas pressões, directivas, normas e regulamentações, muitas vezes absurdas e outras destrutivas, estes políticos da treta não se lembraram do patriotismo nem da perda de soberania, porque estavam a encher os bolsos. Quando os tratados de Maastricht, Nice e Lisboa foram aprovados, continuaram a não se lembrar do patriotismo nem da perda de soberania; não lhes fazia diferença. Agora, quando estão prestes a ser chamados a prestar contas, sentem-se encurralados e já se lembram do patriotismo e da soberania.
O facto do FMI financiar a economia e supervisionar as contas públicas portuguesas não só não é perda de soberania, como pode ajudar a descobrir imensas coisas a respeito do "Estado social" e dos seus cavaleiros andantes, pôr as contas e os dinheiros públicos na ordem, coisa que até hoje, e desde há muitos anos, nenhum político do "pacto MFA-partidos" foi capaz de fazer.
O FMI pode ajudar a correr com a "má moeda" e tornar Portugal um País mais credível, em primeiro lugar perante os próprios portugueses. Que melhor subsídio para o patriotismo e para a soberania podemos nós querer? Não vale a pena é pensar que os políticos do costume sejam capazes de o fazer. Não são.
Portanto, o FMI é bom para o patriotismo e para a soberania, na medida em que vem tentar corrigir a porcaria que esta classe política reles e vigarista, comandada pela esquerda, nos deixou em herança.
O pior que nos pode acontecer é isto continuar na mesma.
manuelbras@portugalmail.pt
Etiquetas: Eleições legislativas, FMI, União Europeia
2011/04/08
O lixo acumula-se
Mas não se pense que com o financiamento do FMI tudo fica ipso facto resolvido. Nem pensar. Nada nos garante que o próximo governo terá autoridade para e saberá lidar com a situação, nem é garantido que as contas públicas – do Estado – vão ser postas em ordem. De resto, qualquer empresa no lugar do Estado social português já tinha falido há muito tempo, com tanto défice, tanta dívida, tanto dinheiro mal gasto.
Aliás, nem está garantido que o Sócrates seja corrido, como merece. Como não está garantido que Passos Coelho, se ganhar as eleições de 5 de Junho, seja capaz de dar conta do recado, com tanta hesitação a que já nos habituou.
É necessário, pois, que os portugueses, em particular, e todos aqueles que prezam a realidade e não lhe fecham ideologicamente os olhos, em geral, se preparem para a eventualidade de não existir hoje no País ninguém à altura que o momento exige. A classe política é fraca e incompetente: não podemos esperar grande coisa.
Num país com a cabeça formatada pela esquerda, que usa a mentira com profissionalismo, que manipula a imprensa, a cultura, a educação, ao serviço dos seus objectivos ideológicos, é possível que ainda muita gente esteja iludida a respeito do “Estado social”, esperando subsídios e rendimentos. Com a ajuda de uma direita incompetente, incapaz de combater pelas suas convicções, que nem sequer sabe mentir, quanto mais de comunicar e pôr em acção os seus objectivos políticos, tudo é uma incógnita. Mesmo que Passos Coelho seja o próximo Primeiro-Ministro em Junho, o que não é garantido, quanto tempo demorará o PS e os seus aliados a voltar ao governo?
Vencer o cenário miserável que o País atravessa não é apenas uma mera questão técnica de habilidades económicas e ginástica financeira. Passa também, e primordialmente, por moldar outras convicções e outras mentalidades. Quem despreza isto, despreza o mais importante.
O País não precisa só de mudar de governo. Os mesmos continuarão a fazer o que sabem: o mesmo que fizeram até aqui. O que o País precisa é de uma mudança de regime. Porque este agoniza.
Um dos benefícios que esta crise pode trazer é emagrecer o Estado. Assim como um alastramento do fenómeno à Espanha pode pôr em risco o euro e a própria União Europeia, mantida apenas por e para os aparatchiks de Bruxelas e Estrasburgo, que pode sucumbir a esta crise continuada, que se alimenta também do progressivo declínio demográfico europeu.
Seja muito ou pouco o tempo a esperar para que o País entre num rumo certo, uma coisa não podemos esquecer: o Estado não é a Nação.
Não tenhamos medo nem pena que este Estado social podre caia. No fundo o “Estado social” só serve os interesses da esquerda, só serve para dar mais poder à esquerda.
E se assim é, bom é que caia.
manuelbras@portugalmail.pt
Etiquetas: Eleições legislativas, FMI, União Europeia
2011/01/26
E ela ganhou
Como se esperava e eles mereciam, lá ganhou a Miss Abstenção com 53%. Ou seja, foram mais os que não votaram do que os que votaram. Até que participação percentual é que umas eleições são legítimas e representativas? 47%? 40%? 30%? 20%?
Não se falou, obviamente, da situação miserável da economia nacional provocada pelo despesismo estatal ao longo de anos e anos, e muito menos da hipotética requisição dos serviços do FBI, perdão, do FMI. E ainda menos da miserável situação demográfica portuguesa, pois são todas questões que nada interessam a um candidato a PR, como é bom de ver.
Há 5 anos atrás, Cavaco Silva falava no distrito da Guarda sobre a contínua baixa natalidade em Portugal e perguntava que podiam os portugueses fazer para ter mais filhos. Ora, se ele não sabe, quem é que pode saber? Talvez não tenham que fazer muito: apenas deixar de fazer algumas coisas.
manuelbras@portugalmail.pt
Etiquetas: Eleições presidenciais, FMI
2010/11/16
A resposta à crise

Alguns apostam no FMI. Mas eu tenho uma solução original, homófona e muito melhor que todas as outras:
o FBI
http://www.fbi.gov/
Que tal?
manuelbras@portugalmail.pt
Etiquetas: FMI, União Europeia
2008/11/12
O descontentamento militar
Miguel Lima
Acabo de ler no sítio "PortugalClube", o artigo do Sr. Maj. General Paula Vicente, sobre a actual situação militar e o seu compreensivo descontentamento.
A análise que faz é lúcida, merece os nossos parabéns e apoio, nomeadamente por referir algo que é importante numa Nação (há uns anos atrás, por dizer este palavra, seria apelidado de fascista!):
as forças armadas colaboraram de forma vergonhosa na descolonização e na instalação de reviralhistas nas cadeiras do Poder;
estes, não tendo valores, não tendo os necessários conhecimentos técnicos, éticos e sociológicos (da Nação Portuguesa), nem tendo sido educados para o exercício do Poder, tudo o que fizeram, foi levar a ruína, a destruição, a morte, a guerra onde não havia,... entretanto, encheram os bolsos à nossa custa!
Recordo a este propósito que em 1976, já estávamos a contrair empréstimos no estrangeiro (FMI, BM, EUA, etc...), o País estava estagnado, só recuperando parcialmente, depois de 1986, com os governos de Cavaco Silva e as esmolas comunitárias, que nos retiraram do marasmo em que estávamos, mas também foram a nossa perdição e uma das causas directas da ruína económica em que estamos!
O que nunca compreenderei, é como uma maioria de oficiais, se deixaram levar numa louca aventura, mais a mais sendo contemporâneos de algumas das trágicas independências em África e na Ásia, bem como da guerra do Biafra, não tendo pensado que a consequência seria a construção de novos "Biafras".
Seja como for, "não vale a pena chorar sobre o leite derramado" e agora, há que corrigir o mal feito, extirpando do corpo da Nação, o cancro existente (e com muitas ramificações) constituído por estes políticos (será que algum se salva?); acção que deveria contar com as Forças Armadas, assim como a criação de novas associações políticas, limpas e descomprometidas com as tacanhas mentalidades dos que nos governam, independentes dos lobis e outras obscuras forças anti-Nação.
Vamos criar um novo movimento político!
A Bem da Nação.
M. Lima
miguel.martel@gmail.com
2008/11/11 Alô PORTUGAL <noticias@portugalnoticias.com>
O descontentamento militar
Fernando Paula Vicente Maj-General da FAP
O descontentamento das Forças Armadas, traduzido essencialmente em manifestações de rua e intervenções de carácter diverso na comunicação social, a que o País tem vindo a assistir nestes anos mais recentes, é um assunto demasiado complexo para poder ser tratado, de uma forma inteligente, num mero comentário de jornal que me é pedido, o qual não pode visar outra coisa que não seja o esclarecimento da Nação sobre o que está realmente em causa. Ele traduz muito mais que uma reivindicação de direitos e de subsídios, e radica profundamente no sistemático atentado à condição militar. E, nesse sentido, para ser justo, tenho que começar por afirmar que ambas as partes Forças Armadas (FA) e sucessivos Governos constitucionais têm, nesta matéria, grossas culpas no cartório.
Começando pelas FA, é preciso que se diga sem rodeios que elas tudo fizeram para que uma significativa parte da Nação lhes tenha perdido o respeito que tradicionalmente lhes era devotado. Ao executarem, por razões corporativas, um golpe de Estado, permitiram que ele se transformasse numa das mais anárquicas revoluções do século passado.
Liderada por comunistas, socialistas e toda a gama de oportunistas, nestes se incluindo muitíssimos militares — recorde-se aqui o sinistro Conselho da Revolução — tudo aquilo que a revolução conseguiu foi destruir as estruturas do Estado, por em prática um plano de nacionalizações cujo verdadeiro impacto está ainda por quantificar e conceder, ilegitimamente até do ponto de vista constitucional, a prematura independência às Províncias Ultramarinas, com as consequências que todos conhecemos e que, lá, se cifraram pela destruição quase completa das muitas infra-estruturas existentes e por centenas de milhares de mortos.
Qualquer país digno desse nome, já teria nesta altura investigado essa página negra da nossa História e atribuído responsabilidades a muitos — militares e civis — que ainda por aí abundam armados em heróis. Portugal não precisava de um 25 de Abril para se democratizar: a sua incontornável entrada para a CEE teria obrigado o País a democratizar-se, da mesma forma que, para tentar ser aceite na União Europeia, a Turquia procede actualmente à sua democratização interna.
Para além disso e mais importante ainda, a revolução destruiu os padrões morais em que funcionava a sociedade portuguesa, criando as condições para tornar Portugal no mais corrupto e mais atrasado país da Europa comunitária neste início do século XXI. Tudo isso, ainda que indirectamente, graças às Forças Armadas.
Ainda sobre os militares, com excepção da Força Aérea que, imediatamente após a independência do nosso Ultramar, reduziu os seus efectivos de 20 mil para cerca de 10 mil homens (a sua dimensão normal para o território do continente), modernizou a sua gestão e, tanto quanto possível, também o seu dispositivo, as FA, sem liderança política competente, foram deixadas absorver milhares de milhões de contos em programas que pouco tinham a ver com o quadro estratégico em que presumivelmente elas poderiam vir a actuar, isto porque os respectivos chefes de Estado-Maior, defendendo cada um os interesses corporativos do seu Ramo, foram incapazes de se por de acordo sobre aquilo que era verdadeiramente o interesse nacional.
Cabe aqui dizer que têm também graves culpas nesta matéria todos os Ministros da Defesa e todos os deputados que integraram as sucessivas Comissões Parlamentares de Defesa, que permitiram tudo isso sem oposição que tenha sido visível.
Faltou aos militares a honestidade da visão do interesse nacional e a Nação pagou por isso um altíssimo preço.
O desgaste da imagem das FA foi-se acentuando até que, de há uns anos a esta parte e seguros de que, finalmente, não há mais espaço para golpes militares — a insinuação, por outras palavras, feita pelo Gen. Loureiro dos Santos, de que a democracia portuguesa está em risco é leviana — os políticos têm estado a fazer às FA aquilo que bem lhes apetece, nomeadamente, retirando aos chefes militares quase todas as competências administrativas e outras; não actualizando as grelhas salariais em correspondência com aquilo que eram os tradicionalmente equivalentes níveis de remuneração da função pública; legislando sobre outras remunerações a militares e, em completo desrespeito pela lei, recusando o respectivo pagamento (neste momento, a dívida é gigantesca); destruindo os subsistemas de saúde militares e substituindo-os por um novo (ADM) que há mais de um ano não paga aos respectivos utentes qualquer comparticipação; destruindo os fundamentos da justiça militar e da condição militar e querendo transformar os militares em meros funcionários públicos.
Os militares, porque estatutariamente não têm poder reivindicativo, têm estado a pagar, mais do que qualquer outra classe, o preço da crise.
Por tudo o que antecede, constata-se que, actualmente, os militares têm vergonha de andar fardados na rua e isso, num país democrático, é um péssimo indicador social, que faz ricochete na imagem dos Governos e da própria Nação. Claro que, como recentemente aconteceu, quando Portugal admite que um desertor se candidate à Presidência da República, sabendo-se que, se ele for eleito, será também o Comandante Supremo das Forças Armadas, está tudo dito, vale tudo!
Os políticos perderam finalmente o medo — e, como tal, também o respeito — pelos militares e estes estão cheios de razões para trazer ao conhecimento da Nação o seu descontentamento. Uma entidade insuspeita, o Senhor D. Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas, não se coibiu de, muito recentemente, fazer publicamente eco desse descontentamento em termos que não deixaram margem para dúvida sobre a sua legitimidade.
As FA não são um corpo de funcionários públicos. Não têm horário de trabalho das 9 às 18: se necessário, trabalham 24 horas por dia, nas condições mais adversas, inaceitáveis para os funcionários públicos, sem direito a receber horas extraordinárias. Servem a Nação e juram solenemente por ela dar a vida, onde necessário, se necessário.
Não têm sindicatos. Abdicam, enquanto em serviço activo, do direito à liberdade de expressão. A Instituição Militar é um dos pilares da segurança nacional e da sobrevivência da Nação e um dos mais importantes vectores da política externa do Estado.
Quando é hostilizada pelo Governo da Nação, fatalmente o que está errado não são as FA com os seus defeitos e virtudes, o que ressalta é que ao Governo falta noção de Estado.
E isso tem um preço político, nacional e internacional. O Governo, os Chefes Militares e o próprio Presidente da República na sua função de Comandante Supremo, que tão calado tem estado no quadro da «cooperação estratégica» que pauta o seu desempenho, deviam todos ter vergonha!
Fernando Paula Vicente Maj-General da FAP (Reformado)
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