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2003/10/10

Porquê o I Congresso Nacionalista? Porquê o II Congresso Nacionalista Português? 

Porque o nacionalismo voltou a estar na moda, tornando-se incontornável novamente, e cada vez mais isso anima os nacionalistas a falar alto?

Porque, não obstante, os nacionalistas e o nacionalismo são ainda anatematizados e perseguidos pelo pensamento político dito correcto e pelos seus porta-vozes, quase sempre incorrectos?

Porque queremos definitivamente sair do gheto que nos construíram e onde quiseram fechar-nos?

Ou porque era preciso uma iniciativa destas — o Congresso — para que os nacionalistas portugueses tivessem uma oportunidade de se conhecerem e as suas várias tendências de se proclamarem e definirem?

Foi exactamente este o motivo primeiro para um pequeno grupo de nacionalistas, aliás apontados e designados numa assembleia maior, convocada pela Aliança Nacional, em começos de 2001, se abalançarem à iniciativa do I Congresso Nacionalista Português, que viria a realizar-se em 13 e 14 de Outubro desse ano.

Esse específico motivo, foi também a razão por que todos os que no País se dissessem nacionalistas foram igualmente convidados para o Congresso, sem lhes ser perguntado que espécie ou orientação nacionalista praticavam.

Não houve, pois, censura nem exame prévio...

Mas terá havido equívocos e algumas incompreensões. Um grupo de aderentes iniciais houve, por exemplo, a exigirem, logo à partida, numa reunião em Coimbra, que se excluísse do Congresso este ou aquele ou aqueloutro conhecidos nacionalistas, porque não eram do apreço deles.

Coerentes com o critério “fundador” estabelecido, os promotores designados na referida assembleia, em Lisboa, recusaram prontamente o “diktat” referido, mas a realização do Congresso teve de ser protelada por alguns meses.

Acabou ele, porém, por fazer-se sem os dissidentes — se é que tem verdadeiro sentido chamar-se-lhes tal — e valeu a pena, por ter correspondido inteiramente às expectativas para que foi premeditado e organizado, excedendo-as até, na minha opinião.

De facto,

— sabemos hoje melhor quais são e o que são as três ou quatro tendências nacionalistas fundamentais em Portugal;

— sabemos o estilo de pensamento, acção e comportamento de cada uma e dos militantes que as servem, bem como os tipos de alianças a que se dispõem, os graus de compatibilidades e incompatibilidades de umas com as outras e as tradições históricas que reivindicam;

— também imaginamos hoje melhor a compatibilidade de cada tendência nacionalista com este nosso tempo e com os cenários de futuro que se desenham para as nações e para a humanidade;

— revelaram-se novos quadros, de que o nacionalismo tanto carece, confirmaram-se muitos outros, mais ou menos antigos, e regressaram alguns que andavam desocupados ou descrentes;

— enfim, conhecemo-nos hoje muito melhor. E, no geral, sabemos também muito melhor o que queremos e o que não queremos.

Nada pouco!

Por isso, uns tantos tanto temiam o Congresso e bastante fizeram para o sabotar!

Tudo clarificações.

Até em matéria de organização política dos nacionalistas houve clarificações entretanto, aliás muito úteis, resultado em boa parte do que se disse e pensou no I Congresso e do que se fez ou não fez, em consequência. Mesmo que algumas pessoas o não compreendam, estamos hoje em muito melhores condições para decidir sobre o que vale e não vale a pena.

Estamos, de facto, convictos de também sabermos hoje muito mais fundadamente o que é para deixar cair; e o que é para aguentar e desenvolver.

Méritos, em grande parte, do I Congresso.

Que nos deu excelentes pistas de reflexão e para a acção, mas acima de tudo para a renovação do pensamento nacionalista português.

Estamos a preparar, por isso, o II Congresso que, esperamos, alargará mais e mais os nossos horizontes de nacionalistas e tornará mais evidente a nossa actualidade.

Não percamos as oportunidades de reflexão que também o II Congresso há-de ser e tiremos dessas oportunidades os proveitos, o enriquecimento que a acção exige de nós todos, Nacionalistas portugueses.

Boa sementeira e bons frutos!

A.C.R.

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2003/10/09

A libertação de Paulo Pedroso 

Desta vez não consegui compreender o Director José Manuel Fernandes que escreveu hoje no seu jornal, pg.5, editorial “O Sistema Funciona”:

“A reacção do procurador-geral da República é a reacção de um mau perdedor. Lamentável.”

Simplesmente espantoso! Se estamos a falar das mesmas declarações do PGR, as que fez ontem à SIC, no noticiário das 20 horas, JMF excedeu-se verdadeiramente.

Disse ele, em síntese, lembrando o que não parecia óbvio para os manifestantes, que a decisão da Relação de Lisboa dizia respeito apenas aos fundamentos da prisão preventiva (risco de fuga do arguido à Justiça, risco de o arguido em liberdade poder perturbar o processo; etc.) e não quanto aos indícios da prática dos crimes.

O arguido permanece tão arguido como antes.

O PGR esclareceu isto serenamente, com perfeita clareza e sem qualquer parcialidade.

Não era nem um perdedor nem um vencedor. Dava o esclarecimento que o ambiente criado estava a exigir e que lhe pediram.

Era o perfeito Magistrado duma Justiça que agora todos descobrem estar a funcionar bem, mesmo os que ainda há dias ou horas achavam que a Justiça estava “em crise”...

A.C.R.

Discurso Inaugural proferido no I Congresso Nacionalista Português, em 13 de Outubro de 2001 (II) 

Discurso Inaugural pelo Dr. Eduardo Fernando Alves (continuação do post de 2003/10/07)

Senhoras e Senhores:

Perante a visão ensombrada que expomos, existirá dúvida da necessidade e oportunidade deste CONGRESSO?
Como nacionalistas confessos, não nos limitaremos a apontar defeitos mas a propor orientação e caminhos para o renascimento.
Sobre as ruínas dos nossos castelos, carreados as pedras dispersas, gizado o projecto duma Pátria Nova, há de nascer e crescer, em momento propício, uma obra revestida de nobreza, precursora dum futuro melhor.
Aos timoratos ou hesitantes oporemos aquele «talent de bien faire» apanágio de quem nos fez grandes. Sejamos optimistas que é a filosofia dos fortes! Os derrotistas chamarão a isto utopia.
Quem, como nós, conheceu e viveu uma época áurea de ressurgimento e exaltação dos mais nobres sentimentos de amor pátrio, e, a dado ponto, é sacudido por demoníaca convulsão que nos precipita na mais abjecta vileza, sente impulso de bradar a Sua inconformidade, a sua revolta. Não nos move a ânsia de dinheiro ou do poder, não sacrificamos ao bezerro de ouro, mas sim pretendemos derrubar os falsos deuses para alçar, na pureza dos propósitos, o altar da Pátria, pela qual é bom e justo viver ou até morrer. Morrer de pé, se necessário!... Mas tudo isto ordeira e pacificamente, por convicção, no campo doutrinário.
Saudosistas, nós? Certamente, quando evocamos as glórias pretéritos e as cotejamos com a baixeza presente.
Da História dos altos feitos como das sombras da “vil tristeza" vamos extrair lições para agir com fé e ponderação.
Ao deixarmos de ser ultramarinos ou pluricontinentais, logo ansiámos integrar-nos na Europa. No entanto, consideramos estarmos doentiamente embevecidos, contemplando uma visão onírica, ao sermos contemplados com dádivas generosas. Felizes, podemos viver à larga, com pouco trabalho. Até quando? Meditemos... É quase certo estarmos a abusar das "delícias de Cápua". Não nos seduzem demiurgos ufanos de realizarem outros trabalhos de Hércules.
Pensamos ser erro grave fazer da Europa, num processo «contra natura» um aglomerado de tribos cuja convivência, decorrido o período de euforia e de alcance de benesses, caia em agitação, turbulência e até agressividade. Temos exemplos recentes e alguns à vista. Sejamos bons vizinhos, respeitadores, colaborantes para o progresso e felicidade comuns, sem, todavia, nos desviarmos da nossa raiz cultural. Saibamos resistir a sofismas revolucionários. Há que assumir o grave dever de sermos guardas zelosos do depósito histórico que herdámos.
Aceitamos, certamente, os espaços económicos, resguardada que seja,
porém, a soberania.
Será que o conceito de pátria é mito ultrapassado e a Nação algo vago e despiciendo, nesta hora em que tantas forças nos querem coagir à mundialização - essa aurora cujos róseos contornos se vislumbram enganosamente auspiciosos?
Hoje, entre nós, só os bons ou maus resultados de algumas actividades desportivas ou de um ou outro atleta isolado, suscitam emoção ou desconsolo, às vezes paixão, porque ainda representam as "cores nacionais". É nosso propósito lutar contra esta apatia.
A História não é apenas um acervo de factos irrelevantes, de guerras bárbaras e sangrentas, de crimes e costumes nefandos, olvidando o quanto custaram a liberdade de cada povo, o aperfeiçoamento de cada língua, a manifestação da religiosidade, a erecção de monumentos ou de uma infinidade de realizações que servem ao povo.
Propomo-nos accionar as mentes de velhos e novos para uma revolução dos espíritos. Para Tanto, os NACIONALISTAS não baixarão os braços, usarão dos meios lícitos convenientes e necessários para continuar esta cruzada.
Meios, para tanto? Pois é aqui que se nos põe o desafio de encontrar soluções. Uma determinação férrea, um exemplo que arraste, o cerrar de fileiras, mesmo de poucos para, doutrinando, formarmos alargada e briosa legião disposta à reconquista de almas generosas. Será o rejuvenescimento dum povo que se ergue, se purifica e se adestra para a batalha sem tréguas, contra a dissolução, a covardia, a traição e o vício.
Para nós, são benvindos quantos, pessoa! e colectivamente, experimentam as mesmas preocupações quanto à defesa da portugalidade, nobilitando o povo pela dignificação da família, dentro da moral cristã, sem embargo de se admitirem outras confissões minoritárias, mas aceitáveis.
Isto o que nos move. Delírio o nosso? Juvenilidade?
Tudo se poderá conseguir, no respeito pela Lei, mas sem subserviência, nem cedências. Manteremos a dignidade. Por isso, antes de agir, há que ponderar.
Estamos dispostos a honrar a tradição e a História Pátria autêntica, não no sentido estático, mas como incentivo duma dinâmica para um Futuro de harmonia e prosperidade.
Se o nosso objectivo for alcançado, mesmo parcialmente, dar-nos-emos por retribuídos, a exemplo do nosso Vate Maior:
«Vereis amor da Pátria não movido
De prémio vil, mas alto e quase eterno...»

Senhoras e Senhores:
Nada vos trouxe de novo. Contudo, pensamos que, para a cura dos males há que escalpelizar as chagas a fim de acorrermos com o remédio salutar.
No entanto, seja-nos permitido um apelo veemente, que aqui vos deixamos:
Ó gente da Velha Lusitânia, da conquista e do povoamento;
Ó povo intrépido de santos, guerreiros e marinheiros;
Ó visionários do Quinto Império;
Ó sacrificados, abnegados, heróicos lutadores, na paz e na guerra, aquém e além, em tarefas homéricas;
Ressurgi, levantai-vos, construí o presente e abri o porvir anunciando certezas...
Ó Mocidade esperançosa, sonhadora, prenhe de entusiasmo e de audácia para esta redentora campanha nacional, contamos com a tua generosidade, para erguer nos braços a Pátria desfeiteada.
Assim, ela não morrerá. Ela, assim, será exaltada!
Chegou a tua hora, Ó Mocidade. Investida de brio, vais redimir ultrajes, esconjurar traições, construir futuros, agindo e gritando:
«Seja o eco duma afronta
O sinal de ressurgir.»
Portugal, o velho tronco, enfim, vai reflorir!...

Tenho dito.

2003/10/08

A segunda das catástrofes que assolaram a Beira Interior. E um teste, repetimos, à Arte de Governar deste Governo. 

Num nosso post de 2003/10/02, falei apenas de uma das duas grandes catástrofes que nos últimos meses atingiram a Beira Interior: a situação do ensino secundário da BI, traduzida no mau ranking dos 55 estabelecimentos desse ensino, no conjunto dos 615 do País.

Não disse tudo, nem por sombras, do que poderia ser dito, mas creio ter dito o suficiente para não ficarem dúvidas de quão urgente é mobilizarem-se todos os recursos, materiais e de imaginação criativa e decidida vontade do Poder e da sociedade civil para invertermos radicalmente a situação.

Com a catástrofe do acontecido à floresta, é o mesmo, se não pior.

A floresta portuguesa sofre tradicionalmente de dois males:

1º - O despovoamento do território, até à situação actual, chegando-se a andar quilómetros dentro dela, a pé ou de jeep, sem encontrar ninguém. Isso traduz-se em falta de vigilância que facilita os incêndios, sejam espontâneos, sejam de origem criminosa ou de pura inadvertência e descuido.

2º - A falta de investimento na floresta a respeito da qual sempre se entendeu — por uma mentalidade vinda de mais longe ainda — que é (ou foi) uma fonte de rendimento certo e seguro, espontâneo, ou quase, ainda que modesto, mas sem exigir investimento.

Como pode lutar-se contra estes dois males, isto é, contra a falta de vigilância assídua da floresta, por parte dos próprios donos dela, e contra o desinvestimento na floresta, que não permite geri-la racionalmente e torná-la fonte interessante de rendimento?

A questão essencial está, de facto, em criar e assegurar actividades rentáveis para a floresta.

Os proprietários deixaram de interessar-se pelos seus “bocados” florestados ou florestáveis, e de percorrê-los assiduamente, porque eles não lhes dão rendimento que valha a pena o esforço.

Ora, não investindo na reflorestação dos terrenos onde a floresta ardeu e na beneficiação (limpezas, desbastes, nutrientes, desinfestações, etc.) dos reflorestamentos, não haverá rendimento.

É um círculo vicioso que temos de romper.

Não há investimento porque não se espera rendimento a médio prazo; e não há rendimento porque não se investiu oportunamente.

Têm de convencer-se os proprietários de que a silvicultura não é uma actividade condenada a recuperar o investimentos só muitos anos depois de plantadas as árvores, quando chega a altura de as cortar para vender a lenha e a madeira ou começar a colher as resinas, na melhor hipótese.

É evidente que se trata de criar actividades não estritamente florestais, mas na floresta, que comecem a render de imediato, ou quase, sem prejuízo do material lenhoso das árvores e, ao mesmo tempo, dando vida e presença humana às áreas florestadas, o que, só por si, reduzirá decisivamente os riscos de incêndios.

É para isto, também, que se exige do Governo uma política de compreensão para o que está em jogo e que disponha rapidamente dos recursos do Fundo Financeiro Florestal, a favor da recuperação da floresta nacional e, em particular da floresta das zonas mais deprimidas. É o caso da Beira Interior, onde já existem instrumentos técnicos, associativos e empresariais que darão garantia de segurança e bons resultados aos investimentos a fazer pelo Estado e pela iniciativa privada.

Voltaremos ao assunto.

Porque o meu leitor/bloger não pensará, seguramente, que isto não é assunto digno de nacionalistas compenetrados...

Penso até que a velha mística nacionalista aqui é que teria hoje um dos seus mais importantes e úteis pontos de aplicação

A.C.R.

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2003/10/07

Discurso Inaugural proferido no I Congresso Nacionalista Português, em 13 de Outubro de 2001 (I) 

Discurso Inaugural pelo Dr. Eduardo Fernando Alves

Senhoras e Senhores Convidados:
Senhoras e Senhores Congressistas:

Ao iniciarmos os trabalhos deste conclave nacionalista, ainda no dealbar de novo milénio, apraz-nos a todos saudar, ao mesmo tempo que auguramos o melhor êxito para esta, quanto a nós, auspiciosa ocorrência.
Alguém, dentre vós, poderá' interrogar-se:' para quê um congresso nacionalista, no Portugal de agora, onde fervilham ideias desencontradas, se prevê um globalismo total, se descortinam correntes de pensamento com objectivos díspares, todas apregoando a virtude redentora de males, de injustiças sociais, duma ansiada felicidade do povo, quando o nacionalismo é apostrofado como perverso, reaccionário?
A realização do Congresso nasce das preocupações e apreensão dum punhado de cidadãos comuns que, não suportando, sem protesto, o estado actual em que vive a Nação, concluiu ser hora duma reflexão tão larga quanto profunda para, penetrando nas almas, as liberte do marasmo, as convença de erros a corrigir e, mesmo lentamente, por convicção, leve o povo a abraçar doutrina e princípios que lhe restituam o brio e proporcionem mais felicidade.
Este grupo, atento ao fluir da vida social portuguesa hodierna, às tendências adulterantes do que tem como princípios sagrados, na prossecução da História, com respeito pelo passado, mas atento às exigências plausíveis do futuro, considerando o conceito da autêntica portugalidade, resolve soltar um grito de alerta e fazer uma chamada de consciência para os trilhos da honra e do dever a retomar.
Contemplando o panorama presente, resultante das últimas décadas, presenciamos:
- A derrocada, sem honra nem glória, do nosso Império;
- A deterioração galopante dos sentimentos nacionais;
- A degradação da moral familiar e social;
- A juventude atascada em vícios;
- O abastardamento da nobre língua portuguesa;
- A corrupção e hipocrisia reinantes;
- A comunicação social mercenária, em concubinato com certos senhores,
certas instituições ou certas ideologias.
Estamos a colher o fruto duma revolução. Há quem se louve nas virtudes e benefícios alcançados e quem se lamente dos prejuízos.
Há revoluções que se fizeram para salvar as nações; outras para a sua perdição. Analisando, com pormenor os enunciados, vejamos:
O nosso povo foi pioneiro europeu na exploração do mar, dando «novos mundos ao mundo», contactando terras, das mais próximas às mais remotas, desde o litoral às inimagináveis distâncias dos continentes, incorporando vasto património material e espiritual, no mundo do Ocidente. Agora que, por motivos bem conhecidos, Portugal deixou de ser euromundista, para se reduzir à humilde, inexpressiva presença apenas europeia, recusamo-nos a abdicar dum esforço de fortalecimento de laços de História e de cultura com o nosso ex-Ultramar, donde decorra uma convivência amiga e frutuosa. Assim haja ânimo e sensibilidade política para atingir tão almejado êxito.
Vimos assistindo a uma notória subversão de valores. A civilização, não apenas a euro-ocidental, mas ainda a mundial sofre duma crise profunda, primeiro, menos acentuada, a partir da Segunda Guerra Mundial, depois e nomeadamente, ao correr da década de sessenta e posteriores. A liberdade, mais exigida do que licitamente conquistada, resvalou para a licenciosidade sem peias, estando arredia a responsabilidade. A dignidade humana degradou-se. Nunca, talvez, tenhamos descido tanto.
Independentemente da actualização natural, do "aggiornamento" – a civilização avança, dizia Eça de Queiroz - a doutrina que milenarmente nos congregou e nos fez executores admiráveis de alevantados ideais, quase abruptamente se desmoronou, subvertendo a ética vigente, reflectindo-se nas próprias normas emergentes do chamado poder legislativo.
A tradição, sobre a qual se afirma o presente a projectar-se no futuro, é rudemente esquecida, quando não vituperada, sobrevindo, desta ruptura, novos padrões de valores que anseiam satisfazer prazeres imediatos ou situações pragmáticas assentes no peso da pecúnia e do poder. «Auri sacra fames» - a insaciável sede de ouro, como já, no seu tempo, gritava Vergílio.
A velha sociedade dissolve-se, a corrupção campeia e a justiça não consegue impor o jugo da Lei, mesmo quando mais permissiva.
Ora, é esta crise de civilização provocada pela alteração cultural e moral da família e da sociedade a que aludimos, sem se ponderar que a liberdade exige responsabilidade consciente, sem ofensa à dignidade, é esta crise, repetimos, que nos reduziu à situação calamitosa, arrepiante, de nossos dias.
Enche-se a boca com "democracia", com "Estado de Direito" e outros chavões do glossário da política em uso. E, no entanto, quiçá nunca a democracia terá sido tão mal tratada, traída, prostituída como agora.
Por outro lado, proferem-se as piores apóstrofes contra o fascismo, real ou fabricado, num esconjurar de demónios que só atormentam cabeças delirantes.
A família, quantas vezes mal constituída, ou vítima do ambiente deletério, desmorona-se, ao menor contratempo, num aviltamento generalizado.
A educação oficial claudica ou simplesmente se ausenta, conduzindo à delinquência juvenil, consequência duma educação familiar frouxa ou inexistente. O incitamento ao sexo, sem peias nem limites de idade, desde que se use o preservativo, induz à libertinagem e a consequências graves (como doenças venéreas ou gravidez de adolescentes) constituindo realidade gritante.
Os espectáculos televisivos e outros com programas sistematicamente violadores da moral, com cenas depravadas, às vezes próprias de prostíbulos, passaram a actos correntes.
A escola oficial tornou-se incapaz de disciplinar, moralizar e infundir espírito patriótico. Já Garrett dizia: «Nenhuma educação pode ser boa se não for eminentemente nacional».
O acúmulo destas agressões conduz ao agravamento da degradação geral.
Não importa realçar as excepções quando a regra é avassaladora.
Haverá quem pense não existir hipótese de regresso a uma moral social, anteriormente exigida e que consideramos sã. Será quixotismo lutar contra tal situação? Não acreditamos.
A nossa «madre língua portuguesa», mal estudada e pior usada, vem sofrendo rudes golpes, não apenas por não cultivada com desvelo, como pelas ofensas que lhe são desferidas contra a pureza e o respeito gramatical. Brada aos céus a pecha do recurso desnecessário aos barbarismos. Onde vamos parar? ...
A comunicação social, que, por definição deveria responsabilizar-se pela formação correcta da opinião pública, peca, escandalosamente, por não se mostrar esclarecida nem defender, com isenção, os superiores interesses da Nação, como aliás se consignava na tão injuriada Constituição Política de 1933. Veja-se, a título de exemplo, a acção dos partidos manipuladores da opinião, detentores ditatoriais dos meios de difusão, com propaganda, tantas vezes falaciosa, só para «capturar votos» usando a linguagem de Adriano Moreira. Este o meio usual para eleições que guindam candidatos aos altos cargos dos órgãos de soberania.
Quem tem acesso aos "media"? Quase só determinada classe de senhores, de selectas instituições ou ideologias. Há privilegiados para frequentes intervenções. Os demais sofrem de ostracismo, acoimados, sistematicamente, de retrógrados, saudosistas, altamente perniciosos porque não se revêem nos "sagrados princípios" duma tal democracia mundialista. Interpõe-se uma espessa cortina vedando a expressão de ideias e realização de actos aos que rejeitam ler pela cartilha ditatorialmente imposta pelos detentores do poder.
Haverá aí quem nos esclareça da razão de, actualmente, os ideários políticos serem aceites ou não, segundo o seu sentido de movimento "sinistrorsum" ou "dextrorsum"?
Quem, na verdade, minimamente esclarecido, cultor da dignidade e amante da Pátria, pode sentir-se satisfeito com tal situação...

(continua num próximo post)

2003/10/06

EXORTAÇÃO NACIONAL 

Comunicação ao I Congresso Nacionalista Português - Lisboa, 13 e 14 de Outubro de 2001

Dr. Manuel Brás

Senhor Presidente do Congresso, senhores membros das Mesas, senhores interventores nas Conferências e Painéis, minhas senhoras e meus senhores, caros compatriotas:

É com grande júbilo que me dirijo a cada um dos presentes mediante esta exortação no início deste acontecimento inédito na nossa História. E faço-o para que fervilhe no íntimo de cada um de nós o português, o nacionalista, o patriota que somos.
É com estes sentimentos e disposições que olhamos para Portugal. Vamos reflectir, vamos debater, vamos estudar, vamos realizar.
Vamos lançar-nos à aventura, como muitas vezes aconteceu na nossa História ao longo de quase 900 anos, também, e especialmente, em momentos críticos, para dar um novo alento de vida a esta Pátria, nossa amada.
Porém, não nos iludamos: isto é só um começo. Temos muito trabalho pela frente. Mas temos de começar bem.
Numa atmosfera generalizada de dissolução nacional em que vegeta a sociedade portuguesa, para já não falar dos governantes, a nossa presença aqui significa quebrar um muro que nos asfixia o olhar e nos impõe uma mentalidade de cubículo. Significa coragem, frontalidade, vontade de vencer, e sobretudo, confiança numa ideia de Portugal.
Nós somos os nacionalistas da primeira hora do séc. XXI. Aqui estamos.
Talvez nos recordemos de tantos outros que também poderiam aqui estar, mas que ficaram em casa, por tibieza ou comodismo. Talvez esses sejam os da segunda hora. Mas não nos esqueçamos de que para haver os da segunda hora é preciso que antes estejam presentes os da primeira. Virão os da segunda hora, se nós, os da primeira, o merecermos.

Que esperamos nós deste Congresso? Que procuramos ao vir aqui? Em concreto, o que espera a minha geração do nacionalismo português?
Sem dúvida, uma ideia de Portugal. Para o presente e para o futuro.
Ancorados na tradição, com o pouco que, eventualmente, somos no presente, rumo ao futuro, mas a um futuro diferente da dissolução nacional que nos querem impôr. Mas se queremos moldar um futuro com Portugal e em Portugal, actuemos e preparemo-lo no presente. Não há lugar para mais lamentações inconsequentes.
O que é Portugal, hoje?
É este o nosso ponto de partida. É da nossa identidade que hoje e agora havemos de partir para o futuro.
Com veneração pelo passado e vontade de aprender com o que ele teve de digno na nossa História, mas com a consciência clara de que Portugal não é hoje o que foi há largas décadas.
Com uma visão inequivocamente profética, o maior poeta português do séc. XX anunciava que outros haveriam de ter o que houvéssemos de perder.
O corpo da Pátria foi desmembrado e reduzido, de tal forma que as nossas fronteiras actuais são as mesmas do início do séc. XV. Retrocedemos. Mas é este o nosso ponto de partida para o futuro.
Mas, como então, havemos de estar à altura para continuar Portugal, com as limitações que o presente nos impõe, mas ao mesmo tempo para além desses condicionalismos. Superá-los-emos se para isso tivermos vontade e determinação.
Caros amigos, não nos iludamos: este Congresso não é um encontro de saudosistas e nostálgicos de outros tempos, independentemente da idade que cada um tiver. Precisamos de juventude e a juventude é rigorosamente um estado de espírito.
Mas é precisamente do espírito da Nação que o Corpo da Pátria precisa. Espírito que cultivaram homens ilustres como D. Afonso Henriques, D. João I, D. Nuno Álvares Pereira, D. João IV e também aquele homem que foi o maior estadista português do séc. XX.
Mas permitam-me que pergunte: que espírito nacional é o nosso? O que é a Nação Portuguesa, hoje?
De uma coisa estamos absolutamente seguros: precisamos que o espírito da Nação anime o corpo da Pátria, por pequeno que este seja hoje.
Que ideia de Portugal vai sair deste Congresso?
Com a derrocada das ideologias dominantes do séc.XX não temos dúvidas de que a ideia nacional – o nacionalismo português – é a resposta ao vazio que paira sobre aquilo que resta da Pátria e da Nação e que só ele nos poderá conduzir a um futuro de prosperidade, soberania e independência, tão afastado do isolamento como desse abandono vende-pátrias que pulula por aí.
Que nacionalismo é o nosso?
Urge que sejamos capazes de o definir e de o tornar claro ao espírito dos portugueses.
Ao dar espírito ao corpo da Pátria, o nacionalismo assume vários matizes, pelos quais nos devemos bater: um nacionalismo tradicionalista do ponto de vista histórico-político, um nacionalismo cosmopolita do ponto de vista estético, um nacionalismo universalista do ponto de vista ético, um nacionalismo justicialista do ponto de vista social, um nacionalismo revolucionário do ponto de vista ontológico, um nacionalismo vanguardista do ponto de vista cultural.
Como se não bastasse o enfraquecimento da Pátria e da Nação, cerca-nos o mais funesto intento de dissolução nacional dos nossos dias: a famosa globalização. Também aqui o nacionalismo é a resposta adequada à nossa sobrevivência e afirmação como Povo e como Nação. E, por isso mesmo, o nacionalismo é a verdadeira garantia de respeito pelas outras nações. Os nacionalistas, porque prezam a sua Nação, compreendem e respeitam que os outros estimem as suas.
Como será o nacionalismo contemporâneo, o do séc. XXI?
Arrastados para um espaço económico, social e político, por decisão unilateral de uns quantos senhores, e privado que foi o Povo Português de se exprimir, não pretendo neste momento ajuizar do acerto da integração na União Europeia, nem sequer sobre vantagens ou inconvenientes que tal passo acarreta. O futuro o dirá, se é que o presente já não o diz. O que está em questão é a forma, à margem dos portugueses, como esse processo foi conduzido, em flagrante contraste com alguns outros países europeus. Poderemos nós confiar o futuro de Portugal a uma classe política que só se lembra de falar nos portugueses em vésperas de eleições? Poderemos nós confiar numa classe política que na hora da verdade, de tomar decisões mais transcendentes, ignora o nosso Povo?
Estamos na Europa. Na verdade, sempre estivémos. Mas soberanos e independentes. E já que fomos dispensados de nos pronunciarmos sobre a União Europeia, só nos resta agora intervir na defesa dos nossos interesses económicos, sociais e políticos e garantir a nossa soberania e independência.
Em que Europa queremos nós estar? Numa Europa federalista ou numa Europa de Nações?
Na Europa e no mundo Portugal tem um caminho próprio, só nosso, a percorrer. Sejamos capazes de o descobrir, como o fomos em momentos altos da nossa História.
Num tempo em que se demonstra não haver forças mundiais inexpugnáveis, por muito poderosas que pareçam, que tem o nacionalismo contemporâneo para dar a Portugal e ao mundo?

Esperamos ansiosamente que aqui se comecem a delinear orientações válidas no campo da organização da sociedade portuguesa para o séc. XXI.
Que causas sociais são as nossas? Que tipo de sociedade queremos?
Numa sociedade dominada pelo medo da nossa própria identidade nacional, pela insegurança que se abate sobre a nossa sobrevivência, só nos resta começar por resistir e permanecer de pé. Mas, se isso é um começo adequado, por si só não basta. Precisamos de definir causas e rasgar caminho para dar forma e conteúdo a uma sociedade que queremos nossa em toda a linha.
Mas, como poderemos nós dar forma e conteúdo a uma Nação sem imagens que a tornem reconhecida, sem símbolos que a revelem?
Quais são as imagens e os símbolos de Portugal no séc. XXI?
Eis a grande tarefa de uma cultura nacionalista genuinamente portuguesa.
Temos que esclarecer. Temos que definir. Temos que escolher. Temos que trabalhar. Temos que lutar.
Este Congresso é um arranque, um começo.
Portugal precisa que estejamos unidos no essencial, superando eventuais divergências e desconfianças pessoais ou de grupo, que nos esterilizam se as colocamos acima dos interesses nacionais.
A Pátria e a Nação chamam por nós. Organizemo-nos. Unamo-nos no que é essencial. Aquilo que temos em comum é muito mais e melhor do que aquilo que nos separa. Só assim teremos força e poderemos estar presentes com eficácia nos mais variados campos da sociedade em que se joga a vida nacional. Só assim poderemos ganhar massa crítica, constituindo-nos uma força social e política inevitável e indispensável para moldar o Portugal do futuro, que queremos nosso.
Só assim poderemos estar à altura da História e ser penhor da prosperidade, da soberania e da independência nacionais, como, de resto, nos compete.

Viva Portugal!

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