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2003/10/07

Discurso Inaugural proferido no I Congresso Nacionalista Português, em 13 de Outubro de 2001 (I) 

Discurso Inaugural pelo Dr. Eduardo Fernando Alves

Senhoras e Senhores Convidados:
Senhoras e Senhores Congressistas:

Ao iniciarmos os trabalhos deste conclave nacionalista, ainda no dealbar de novo milénio, apraz-nos a todos saudar, ao mesmo tempo que auguramos o melhor êxito para esta, quanto a nós, auspiciosa ocorrência.
Alguém, dentre vós, poderá' interrogar-se:' para quê um congresso nacionalista, no Portugal de agora, onde fervilham ideias desencontradas, se prevê um globalismo total, se descortinam correntes de pensamento com objectivos díspares, todas apregoando a virtude redentora de males, de injustiças sociais, duma ansiada felicidade do povo, quando o nacionalismo é apostrofado como perverso, reaccionário?
A realização do Congresso nasce das preocupações e apreensão dum punhado de cidadãos comuns que, não suportando, sem protesto, o estado actual em que vive a Nação, concluiu ser hora duma reflexão tão larga quanto profunda para, penetrando nas almas, as liberte do marasmo, as convença de erros a corrigir e, mesmo lentamente, por convicção, leve o povo a abraçar doutrina e princípios que lhe restituam o brio e proporcionem mais felicidade.
Este grupo, atento ao fluir da vida social portuguesa hodierna, às tendências adulterantes do que tem como princípios sagrados, na prossecução da História, com respeito pelo passado, mas atento às exigências plausíveis do futuro, considerando o conceito da autêntica portugalidade, resolve soltar um grito de alerta e fazer uma chamada de consciência para os trilhos da honra e do dever a retomar.
Contemplando o panorama presente, resultante das últimas décadas, presenciamos:
- A derrocada, sem honra nem glória, do nosso Império;
- A deterioração galopante dos sentimentos nacionais;
- A degradação da moral familiar e social;
- A juventude atascada em vícios;
- O abastardamento da nobre língua portuguesa;
- A corrupção e hipocrisia reinantes;
- A comunicação social mercenária, em concubinato com certos senhores,
certas instituições ou certas ideologias.
Estamos a colher o fruto duma revolução. Há quem se louve nas virtudes e benefícios alcançados e quem se lamente dos prejuízos.
Há revoluções que se fizeram para salvar as nações; outras para a sua perdição. Analisando, com pormenor os enunciados, vejamos:
O nosso povo foi pioneiro europeu na exploração do mar, dando «novos mundos ao mundo», contactando terras, das mais próximas às mais remotas, desde o litoral às inimagináveis distâncias dos continentes, incorporando vasto património material e espiritual, no mundo do Ocidente. Agora que, por motivos bem conhecidos, Portugal deixou de ser euromundista, para se reduzir à humilde, inexpressiva presença apenas europeia, recusamo-nos a abdicar dum esforço de fortalecimento de laços de História e de cultura com o nosso ex-Ultramar, donde decorra uma convivência amiga e frutuosa. Assim haja ânimo e sensibilidade política para atingir tão almejado êxito.
Vimos assistindo a uma notória subversão de valores. A civilização, não apenas a euro-ocidental, mas ainda a mundial sofre duma crise profunda, primeiro, menos acentuada, a partir da Segunda Guerra Mundial, depois e nomeadamente, ao correr da década de sessenta e posteriores. A liberdade, mais exigida do que licitamente conquistada, resvalou para a licenciosidade sem peias, estando arredia a responsabilidade. A dignidade humana degradou-se. Nunca, talvez, tenhamos descido tanto.
Independentemente da actualização natural, do "aggiornamento" – a civilização avança, dizia Eça de Queiroz - a doutrina que milenarmente nos congregou e nos fez executores admiráveis de alevantados ideais, quase abruptamente se desmoronou, subvertendo a ética vigente, reflectindo-se nas próprias normas emergentes do chamado poder legislativo.
A tradição, sobre a qual se afirma o presente a projectar-se no futuro, é rudemente esquecida, quando não vituperada, sobrevindo, desta ruptura, novos padrões de valores que anseiam satisfazer prazeres imediatos ou situações pragmáticas assentes no peso da pecúnia e do poder. «Auri sacra fames» - a insaciável sede de ouro, como já, no seu tempo, gritava Vergílio.
A velha sociedade dissolve-se, a corrupção campeia e a justiça não consegue impor o jugo da Lei, mesmo quando mais permissiva.
Ora, é esta crise de civilização provocada pela alteração cultural e moral da família e da sociedade a que aludimos, sem se ponderar que a liberdade exige responsabilidade consciente, sem ofensa à dignidade, é esta crise, repetimos, que nos reduziu à situação calamitosa, arrepiante, de nossos dias.
Enche-se a boca com "democracia", com "Estado de Direito" e outros chavões do glossário da política em uso. E, no entanto, quiçá nunca a democracia terá sido tão mal tratada, traída, prostituída como agora.
Por outro lado, proferem-se as piores apóstrofes contra o fascismo, real ou fabricado, num esconjurar de demónios que só atormentam cabeças delirantes.
A família, quantas vezes mal constituída, ou vítima do ambiente deletério, desmorona-se, ao menor contratempo, num aviltamento generalizado.
A educação oficial claudica ou simplesmente se ausenta, conduzindo à delinquência juvenil, consequência duma educação familiar frouxa ou inexistente. O incitamento ao sexo, sem peias nem limites de idade, desde que se use o preservativo, induz à libertinagem e a consequências graves (como doenças venéreas ou gravidez de adolescentes) constituindo realidade gritante.
Os espectáculos televisivos e outros com programas sistematicamente violadores da moral, com cenas depravadas, às vezes próprias de prostíbulos, passaram a actos correntes.
A escola oficial tornou-se incapaz de disciplinar, moralizar e infundir espírito patriótico. Já Garrett dizia: «Nenhuma educação pode ser boa se não for eminentemente nacional».
O acúmulo destas agressões conduz ao agravamento da degradação geral.
Não importa realçar as excepções quando a regra é avassaladora.
Haverá quem pense não existir hipótese de regresso a uma moral social, anteriormente exigida e que consideramos sã. Será quixotismo lutar contra tal situação? Não acreditamos.
A nossa «madre língua portuguesa», mal estudada e pior usada, vem sofrendo rudes golpes, não apenas por não cultivada com desvelo, como pelas ofensas que lhe são desferidas contra a pureza e o respeito gramatical. Brada aos céus a pecha do recurso desnecessário aos barbarismos. Onde vamos parar? ...
A comunicação social, que, por definição deveria responsabilizar-se pela formação correcta da opinião pública, peca, escandalosamente, por não se mostrar esclarecida nem defender, com isenção, os superiores interesses da Nação, como aliás se consignava na tão injuriada Constituição Política de 1933. Veja-se, a título de exemplo, a acção dos partidos manipuladores da opinião, detentores ditatoriais dos meios de difusão, com propaganda, tantas vezes falaciosa, só para «capturar votos» usando a linguagem de Adriano Moreira. Este o meio usual para eleições que guindam candidatos aos altos cargos dos órgãos de soberania.
Quem tem acesso aos "media"? Quase só determinada classe de senhores, de selectas instituições ou ideologias. Há privilegiados para frequentes intervenções. Os demais sofrem de ostracismo, acoimados, sistematicamente, de retrógrados, saudosistas, altamente perniciosos porque não se revêem nos "sagrados princípios" duma tal democracia mundialista. Interpõe-se uma espessa cortina vedando a expressão de ideias e realização de actos aos que rejeitam ler pela cartilha ditatorialmente imposta pelos detentores do poder.
Haverá aí quem nos esclareça da razão de, actualmente, os ideários políticos serem aceites ou não, segundo o seu sentido de movimento "sinistrorsum" ou "dextrorsum"?
Quem, na verdade, minimamente esclarecido, cultor da dignidade e amante da Pátria, pode sentir-se satisfeito com tal situação...

(continua num próximo post)

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