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2003/09/30

Que tem a Inteligência dos Governantes a ver com a “Arte de Governar”?... 

Fala-se muito da inteligência dos políticos, sobretudo quando chegam a chefes de Partido ou de Governo.
Que inteligência se discute?
Não vejo que alguém se preocupe com ser rigoroso a esse respeito, ao menos em discussões do tipo conversa “à mesa do café”... ou do tipo daquelas conversas supinamente apaixonadas em que, no mínimo, se conclui negando qualquer inteligência a todos os políticos destes tempos e temporadas.
Salvo a um,
Álvaro Cunhal.
Em relação a esse, muitos são os que regularmente erguem loas à sua enorme inteligência de estratega político.
Particularmente curioso tem sido sempre o caso de louvores quase babados, desencadeados do lado da Direita.
E não é só desde que Cunhal se tornou politicamente inofensivo, porque a Direita faz sempre questão de não parecer que “bate em mortos”. Até pelo contrário: quanto mais “mortos”, mais a Direita parece ébria de exaltar certos inimigos.
Não se pode é saber se esses inimigos apreciam as loas da Direita...
Porque fingem que as não ouvem.
Mas não é essa a questão agora. A questão é que a inteligência que os louvadores ou louvaminhas exaltam em Cunhal não é a inteligência do Cunhal.
Ainda se louvassem a sua inteligência criativa de “romancista”, “desenhador”, “orador arguto”, de tradutor de teatro e comentador literário...
É que a “sua” inteligência de estratega e táctico político não era dele.
Era do Politburo soviético.
Não estranhe, que eu explico.
O Politburo é que tinha uma política própria para África, incluindo as nossas Províncias Ultramarinas, e para a Península Ibérica; como tinha de há muito fixado as regras e definido os interesses para a conquista do Poder na primeira e de como subverter o Poder na segunda, vingando quanto possível a derrota de 1936-39, na Guerra Civil de Espanha.
Cunhal fora um bom aluno, ficou a saber todas as “receitas” ou “mandados”; e foi um bom e entusiasta executor, à letra, dos desígnios políticos do Politburo, na Península e em África, mas nem sequer parece ter advertido os seus Senhores de que o plano deles iria necessariamente falhar, mais tarde ou mais cedo.
Ficou a ser um dos grandes derrotados da Guerra Fria.
Falta de inteligência apropriada?
Falta de fria serenidade, tanto foi o entusiasmo?*
Escolha o leitor/navegador, se concorda com o diagnóstico.
Tudo considerações que hão-de ter-se em conta para o caso de Bush, que as esquerdas e algumas direitas se comprazem teimosamente a chamar “estúpido”.
Como se as políticas que ele executa exigissem um factor apreciável de originalidade pessoal e “jeitinho para divagações e sentimentalidades à margem do assunto”, de que as esquerdas gostam e bastantes direitistas.
Ele não brinca aos políticos ou às políticas: pertence a uma escola de Poder.
O que importa é que Bush tenha compreendido as políticas preconizadas, planeadas e articuladas pelos grandes interesses estratégicos dos EUA, interesses e objectivos que não mudam, que se veja, há uns bons cem anos e que Bush, aliás, assimilou e aplica perfeitamente.
Quando esses interesses e objectivos em grande parte coincidem com os interesses do Ocidente em geral, melhor ainda.
E é isso verdade mais vezes que o contrário.
Mas o factor pessoal tende a ser quase nulo, porventura tão insignificativo quanto, relativamente aos desígnios soviéticos, foram as faculdades de Cunhal, que as esquerdas e uns tantos de Direita incensam como admirável génio político.
Se havia “génio”, aí quem o tinha era o Politburo, não os seus paus mandados.
Primeira conclusão — A inteligência para a Arte de Governar pode não ter nada a ver com a inteligência que se deseja ou se nega aos governantes em apreço;
Segunda conclusão — Funciona mais a “escola” de governar que a “Arte” dos governantes.

A.C.R.
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* Isso não impede que se reconheça “a sua determinação na destruição de Portugal dos anteriores quinhentos anos”.

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