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2003/09/22

O Papa Pio XII um Grande Estadista? A Igreja, Mestra na Arte de Governar? 

Alguém me perguntou, um dia destes, porque não considerei PIO XII entre os grandes governantes do séc. XX que podem ser considerados modelos de estadistas (v. post de 2003/09/12).
Respondi: – Lamento muito. Lapso meu!
Vou tentar explicar porque penso ter cometido um erro lamentável.
O papa Pio XII foi um estadista, não tanto porque dirigia um Estado, embora pequeno, mas porque, como Chefe Supremo da Igreja, uma organização à escala universal, exerceu uma grande influência nos assuntos mundiais, o que o tornava ouvido e considerado pelos homens de Estado mais importantes e lhe permitiu influenciar opções políticas, ou com efeitos políticos, de muitos milhões de católicos, entre eles incontáveis católicos governantes dos mais importantes Estados em todo o Mundo.
Nestes termos, sim, Pio XII — Papa de 1939 a 1958 — foi, na verdade, um estadista e mesmo um dos maiores ou mais influentes estadistas do séc. XX, grande particularmente pela acuidade e profundidade da sua visão da ordem política mundial.
É que — só com os meios citados de que dispunha — pôde exercer uma influência enorme, absolutamente determinante do desenho do mundo que se foi construindo no pós – Guerra Mundial de 1939-45.
Graças também à herança do seu antecessor Pio XI, o criador da Acção Católica e signatário do Pacto de Latrão com Benito Mussolini, Pio XII soube iniciar a mobilização dos católicos para a resistência à ameaça comunista na Europa e no Mundo, tornada evidente para todos por factos tão graves como a chamada “Cortina de Ferro” (1946), o Golpe de Praga (1947), a vitória de Mao-Tse-Tung (1949), a Guerra da Coreia (1951-53), etc.
Nas democracias europeias, de grandes Países europeus — a Itália, a França, a República Federal da Alemanha — mas também a Bélgica e a Holanda, impuseram-se, com o apoio decidido do Papa e da Igreja, os respectivos partidos democratas-cristãos dirigidos por grandes estadistas como Adenauer, Da Gasperi, Schuman, Bidault.
Foram eles, politicamente, os mais importantes factores, nesses Países, da oposição aos grandes partidos comunistas locais que, com os sindicatos comunistas, pareceram, algumas vezes, tornar irresistível a vitória do Comunismo num ou outro daqueles Estados, sobretudo na França e na Itália.
A Guerra Fria — declarada com a Guerra da Coreia — só viria a findar em 1991, trinta e três anos depois da morte de Pio XII. Mas sem dúvida que a firmeza da visão e orientação do Papa, no plano político europeu, foi decisiva para a afirmação e consolidação da frente interna de resistência ao marxismo, principalmente na Europa.
Tanto mais que, nesse tempo, os partidos socialistas seguiam ainda, em muitos casos, políticas ambíguas e nem sequer pensavam em riscar dos seus estatutos e programas a submissão do socialismo às teses da mais pura ortodoxia marxista.
Não admira que muitos ainda hoje não perdoem a Pio XII e à sua memória... Porque, contrariando talvez a linha desses muitos, Pio XII foi um dos maiores dirigentes e inspiradores da resistência ao Comunismo, no terreno político como no domínio da reacção espiritual e ideológica ao marxismo.
Aos olhos de muitos observadores, só um outro grande Papa, João Paulo II, vinte e três anos depois voltou a enfrentar a ameaça do totalitarismo marxista-leninista-estalinista com a mesma firmeza e lucidez, ao dar todo o seu apoio ao sindicato dos metalúrgicos polacos Solidariedade e a toda a luta deste e dos católicos polacos com o governo comunista da Polónia.
Ao fim dessa luta que durou oito anos, até 1989 — João Paulo II era Papa desde 1981 — o destino da Cortina de Ferro estava marcado. Todos os Países dela foram renegando rápida e sucessivamente o Comunismo — em revoltas secretas ou mais ou menos “de veludo” — até que em 1991 ruía a própria URSS.
Não eram apenas Reagan e o alemão Kohl os grandes vencedores máximos da Guerra Fria: havia um terceiro, não menos decisivo que qualquer deles: o Papa João Paulo II (ordenado sacerdote no pontificado de Pio XII).
Mas antes deles houvera muitos outros grandes estadistas e, logo nos primeiros anos da reacção anti-comunista, outro grande Papa , Pio XII.
O meu interlocutor do começo deste “post” tinha razão: omitir Pio XII na lista foi imperdoável.
Espero ter-me redimido.
Mas agora completo: Como a omissão aí de João Paulo II igualmente o foi, imperdoável também.
Só falta responder à outra pergunta do título: A Igreja, mestra na Arte de Governar?
Não tenho dúvida em responder:
E que Mestra!
Louvada seja a Igreja que, em horas decisivas, de riscos extremos, não hesita em “sujar as mãos” nas coisas do governo deste Mundo!

A.C.R.

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