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2003/09/08

Maggiolo Gouveia e os seus detractores 

Com a devida vénia se transcreve o artigo, com este título, do Senhor GENERAL CARLOS DE AZEREDO, transcrito de o "Público" de 30 de Agosto pº pº, pelos dados perfeitamente esclarecedores que contém.

A.C.R.
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Sobre tudo e sobre todos, avultou a personalidade impar, nimbada da trágica grandeza que o conflito entre valores fundamentais imprime às atitudes humanas, do tenente-coronel Maggiolo Gouveia.

Certo dia, no já longínquo ano de 1980, o primeiro ministro dr. Francisco Sá Carneiro chamou-me ao seu gabinete e, entregando-me duas pastas “Âmbar” com a espessura de uma mão travessa cada, pediu para ler o célebre “Relatório de Timor” e ainda os depoimentos dos vários militares inquiridos, insertos na segunda pasta e que serviram de fundamento ao referido relatório, a fim de lhe dar um parecer sobre o assunto.
Demorei seis dias, na leitura e estudo do relatório, seis infindáveis dias de vergonha, de amargura e indignação, à medida que me ia inteirando da tragédia que se viveu na mais oriental parcela do nosso império, durante os últimos meses da administração portuguesa.
Tudo o que de pior não pode de forma alguma ser encontrado entre militares, ali aconteceu e abundou:
— uma chefia indecisa, timorata e sem autoridade;
— oficiais afectos a ideologias filo-comunistas transformados em orientadores políticos das tropas;
— entrega por militares de dois depósitos de armamento e munições à formação política timorense Fretilin, então de orientação marxista, em luta contra a UDT, que pretendia ainda a permanência temporária da nossa administração;
— a quádrupla fuga dos mais altos responsáveis com o abandono das tropas acantonadas nas várias guarnições do território (mais tarde evacuadas pelo CEMFA Morais e Silva), etc., etc.
Salvou-se, no meio desta vergonhosa desgraça, o coronel comandante militar, que, não aceitando a politização das suas tropas, pediu a exoneração do cargo, e várias unidades militares que mantiveram a disciplina até final.
Mas sobre tudo e sobre todos, avultou a personalidade impar, nimbada da trágica grandeza que o conflito entre valores fundamentais imprime às atitudes humanas, do tenente-coronel Maggiolo Gouveia.
Acusando corajosa e frontalmente a política, imposta no território, de criminosa, por conduzir as gentes de Timor, ainda sob a nossa responsabilidade, para um desastre de proporções imensuráveis (como se veio a verificar), Maggiolo Gouveia foi forçado pelas suas convicções, a tomar a única atitude que lhe restava: Depor perante o governador os seus galões de tenente-coronel do exército e aliar-se ao grupo de timorenses que se opunha à “bandalheira” marxista armada e municiada por elementos do nosso (?) Exército.
Por tudo isto que pude conhecer, não só pela leitura do célebre “Relatório de Timor”, mas ainda pelo relatório da Cruz Vermelha Internacional e pelo “Diário do Notário” de Dili, não posso deixar de reagir com indignação contra a acusação de desertor que, segundo a imprensa, algumas “toupeiras fardadas” vergonhosamente escondidas nos subterrâneos do anonimato, vieram bolsar sobre o nome de um camarada morto “por Portugal”, por Timor e pela sua fé”.
Além do mau gosto, da inclassificável atitude em termos de camaradagem militar, da covarde falta de coragem em assumir responsabilidades, essas “toupeiras fardadas de militares” denotaram uma falta de ética castrense deplorável.
É que, ser militar é apenas um meio, um instrumento, para servir Portugal, e quando o ambiente militar em que nos inserimos desserve a pátria para obedecer a ideologias que nada têm a ver connosco, o homem, alicerce imprescindível em que se constrói o militar, é posto perante o dilema trágico de ter de optar entre a instituição que já não serve e a razão última do seu servir que é a sua pátria.
Foi essa a grandeza e a tragédia de Maggiolo que os pigmeus, “entoupeirados” no anonimato, não compreenderam pela simples razão de não bastar, para se ser militar, andar mascarado com uma farda.
Além do mais, Maggiolo assumiu a sua atitude com carácter e a frontalidade que devem ser inseparáveis da carreira, enquanto aqueles que pretendem insultar o seu nome se acobardam no vergonhoso anonimato dos fracos e possivelmente dos culpados pela tragédia de Timor.
Quanto a uma senhora, que já foi diplomata e anda para aí na praça pública em “bicos de pés”, nem merece qualquer comentário da minha parte: use mais a cabeça e os calcanhares e menos os dedos dos pés.
Quanto ao chamado “Bloco de Esquerda”, que há a dizer sobre a pobreza e o mau gosto da sua intervenção neste assunto?
Façamos silêncio sobre as misérias alheias.

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