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2003/08/25

Reacções dum Nacionalista - A neocolonização da África é inevitável? (II) 

O panorama da África ao Sul do Saará é desesperante. “Numa zona rica em diamantes, bandos armados espalham o terror sem respeitarem fronteiras, populações, tradições, regras. Há refugiados por todo o lado, as infra-estruturas mínimas próprias da modernidade deixaram de existir e, na Libéria, em apenas cinco anos, a esperança de vida dos homens caiu de 56 para 44 anos. Na Serra Leoa situa-se nos 32 anos. Face à realidade destes países destroçados, é bom não ter ilusões: os exércitos ocidentais que chegam não deverão regressar a casa em breve” – conclui JMF, o director do “Público”.
Quem chega a esta conclusão, não é cego nem surdo com certeza. Num acesso extremo de coerência terá de perguntar-se a si próprio:
Mas os exércitos bastarão?
Não será preciso que voltem igualmente a administração e a organização política dos antigos colonizadores, investidos, no mínimo, dos direitos de protectorado, internacionalmente reconhecidos, onde for justificada a sua aplicação?
JMF não o reconhece claramente, mas não deixa de explicar melhor:
“Não bastará organizar eleições e partir: Charles Taylor (o recém - demitido presidente da Libéria) também organizou e ganhou eleições e isso não atenua os crimes de genocídio de que é acusado. Na região (...) o homem como que se reprimitivizou. Talvez não seja a única explicação (...) mas talvez nos prepare para uma presença bem mais longa do que a anunciada de tropas ocidentais em África.”
Fim de citação.
Parece insistência demasiada, para poder-se evitar concluir que este e muitos outros analistas não têm verdadeiramente em mente senão a ideia de que a neo-colonização, com protectorados, colónias, feitorias ou zonas internacionais, etc., vem aí a passos largos.
Ouviu-se, aliás, falar pela primeira vez em nova forma de colonialismo, que estaria a ensaiar-se, a propósito da invasão e vitória dos EUA no Afeganistão e no Iraque e dos termos das ocupações que naturalmente se seguiram.
Foi um Iraquiano, professor universitário, inimigo declarado dos Americanos, quem lançou a ideia-acusação. Mas não teve grande êxito. Nem os mais ferozes adversários portugueses da invasão do Iraque pelos Americanos lhe pegaram. Porque não lhes convém agitar a acusação?
Agora a ideia, pé-ante-pé, parece destinada a pegar em África.
Mas a tarefa será gigantesca, porque vai ter de ser aplicada noutros países, que não simplesmente as pequenas Libéria, Serra Leoa, Costa do Marfim. Terá de restabelecer-se a ordem, mais tarde ou mais cedo, também no Corno de África, no antigo Congo Francês, no antigo Congo Belga, em toda a África Central que é a chave da África ao Sul do Saará, para não dizer da África inteira.
Percebe-se que Europeus e Americanos procurem parceiros em África para a tarefa colossal e relativamente pouco interessante, em termos simplesmente económicos ... e ambientais.
A Nigéria e a África do Sul parecem já (a)creditadas, por Europeus e Americanos, das qualificações necessárias para o efeito.
Não faltará quem pense, até, que serão igualmente aconselháveis as adequadas parcerias com a Igreja e com as igrejas protestantes, forças espirituais incontornáveis também em África.
Seria a vingança – ou a reabilitação? – dos antigos colonizadores.
Na divisão do trabalho pelos participantes da nova ordem mundial, em formação, não cremos que esteja aí, isto é, em novas colonizações do antigo, o papel de Portugal e da Lusofonia.
Sobre qual possa esse papel vir a ser ... veja-se o nosso blogue de 11 do corrente, que talvez abra perspectivas.

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