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2003/08/13

DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS 

Mas poderíamos acrescentar:
E dos dislates que a propósito deles se dizem.
Não acrescento, só porque poderia pensar-se que tudo são dislates.
Não. A verdade é que excelentes peritos têm dito coisas muito recomendáveis; e que alguns comentadores profissionais têm sabido divulgar bem, pelos seus jornais, o que esses ou outros bons peritos dizem de bom.
Mesmo assim a onda dos dislates, repetidos em geral por muitos políticos, é avassaladora.
Um professor de Direito de Coimbra garante que está tudo errado na política florestal do País, prosseguida há perto de cento e cinquenta anos, centrada na expansão do pinheiro bravo, primeiro, e do eucalipto, nas últimas quatro a seis décadas.
Conclusão do ilustre jurista: é preciso acabar com o pinhal bravo todo e todo o eucaliptal. Substituindo-os já por matas de espécies ditas autóctones, talvez a pensar nos carvalhos, nos castanheiros, nos plátanos, nos teixos, etc.
Assim, radicalmente.
O senhor é jurista, e muito ilustre, e não tem naturalmente que saber nada de política florestal e de soluções técnicas para a floresta.
Poderia, talvez, evitar pronunciar-se. Mas não resistiu à facilidade enorme que tem de escrever e opinar e “falar” de cátedra.
A maior praga, porém, vem-nos de inúmeros pequenos e grandes comentadores (políticos quase sempre) que descobriram um bombo da festa: o governo. Porque este ano as políticas financeiras restritivas o teriam levado a retirar verbas à “prevenção” dos incêndios florestais.
Pois os sapientes comentadores nem sequer sabem o que é prevenção de incêndios florestais, a avaliar pelos exemplos que um ou outro se atreve a dar. Um ou outro, porque o grosso da tribo não ousa tal, limita-se a repetir o chavão sem explicação alguma.
Os sapientes não sabem que a política de prevenção dos incêndios tem sido sempre muito pouco efectiva em Portugal, mesmos que o PAF e o PDF, desde 1987, tenham teoricamente criado apoios financeiros importantes à abertura e limpeza de caminhos e aceiros florestais e à limpeza da floresta, sendo a limpeza de caminhos pelas Câmaras Municipais, em geral, pouco mais que folclórica.
Mas no âmbito do PDF – Programa de Desenvolvimento Florestal, em vigor, coincidente com o III Quadro Comunitário de Apoio (2000-2006), o anterior governo restringiu as verbas para esse efeito quase no fim do seu mandato, tendo-as praticamente reposto o governo actual.
Diga-se, porém, em abono dele, que o anterior governo criou a solução mais inovadora e que poderia ser a de maior alcance nesta matéria: as brigadas de sapadores florestais.
Fê-lo, porém, timidamente.
E o presente governo não tem ainda sabido ou querido impor o grande salto em frente, que seria, em último caso, ir buscar às verbas para os instrumentos de combate aos incêndios, muitas vezes comprovadamente ineficazes ou menos eficazes, as verbas necessárias para urgentemente dar, através dos sapadores florestais, verdadeira prioridade à política de prevenção de incêndios, sobre a política de apaga - incêndios.
Mas talvez não seja de exigir aos sapientes que compreendam uma séria política de prioridades, inevitável.

ACR

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