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2003/09/12

HÁ UMA ARTE DE GOVERNAR? NÃO SE BRINCA AOS GOVERNOS... 

Melhor se chamaria às presentes notas “algumas considerações sobre a Arte de Governar”, tão simples é a ambição que me move ao escrevê-las.
Digo desde já que me inspiram os modelos de governo de alguns dos maiores estadistas dos últimos setenta anos, como: Oliveira Salazar, Franklin Roosevelt, Adenauer, Alcide De Gasperi, Robert Schumann, Charles De Gaule, Lord Atlee, Harry Truman, Lady Margaret Thatcher, Ronald Reagan, mesmo Cavaco Silva, nalguns aspectos, mas também Tony Blair, sobre o qual, aliás, se pode , naturalmente, não ter ainda um juízo histórico global definitivo.
Citei apenas modelos positivos de governar, não citei modelos negativos, os daqueles que, nisto ou naquilo, aqui e ali, seriam excelentes exemplos de como não se deve nem pode governar. O que, já se sabe, não deixaria de ter utilidade para o presente objectivo. Tenhamos no nosso espírito alguns desses maus exemplos, mas não os citemos nominalmente, talvez para não criar confusões. Creio, em todo o caso, que os maus exemplos portugueses que há dos últimos quase trinta anos nem como modelos negativos serão instrutivos bastante, tal é a sua mediocridade.
Também quero observar que muitas vezes referirei ou terei presente, nas minhas considerações, o caso do governo de Durão Barroso, que todos trazemos desde há ano e meio sob os nossos olhos. Não porque sobre o seu governo se possam tirar já conclusões totalmente seguras, mas porque nasceu com uma grande ambição de inovar e seguir caminhos de reacção contra o estado a que o País tinha sido conduzido. Persistentemente seguidos, mesmo com numerosas incertezas, esses caminhos, embora longe ainda de chegados ao fim, tornam já a experiência um utilíssimo caso de estudo. Um caso português e interessantíssimo, como seguramente não tivemos outro desde Abril/74, mesmo contando o caso dos governos Cavaco Silva.
Mas estes findaram e sobre eles podemos ter juízos plenamente fundamentados; ao passo que a governação de Durão Barroso terá ainda de prestar muitas provas – muitas, grandes e eventualmente dolorosas provas e sofridas algumas delas.
Só as oposições como as que aí temos podem proferir todos os dias juízos definitivos. Parecem julgar ser esse o seu papel político: serem sempre precipitadas a julgar, com apenas as aparências de informação ou pseudo informação disponível no momento, como se a sua única função fosse desgastar aceleradamente os governos em exercício, para o mais rapidamente possível os substituírem e logo começarem, por sua vez, a ser desgastados sempre mais aceleradamente pelas novas oposições que a sua vitória terá suscitado.
É isto que eles e elas chamam a “alternância democrática”?... Não será antes a mais estúpida forma de destruir o País que os políticos portugueses inventaram ou macaqueiam , a partir de moldes estrangeiros pessimamente compreendidos e desastradamente aplicados?...
Talvez porque, na verdade e em última instância, vêem e praticam a política como políticos apenas, não como estadistas que no fundo não ambicionam ser, ao contrário dos nomes que há bocado referi.
Duas características saltam à vista em tais exemplos modelares, independentemente dos regimes ou sistemas políticos em que esses estadistas governaram.
Todos eles tiveram governos longos ou, pelo menos, se esforçaram por esgotar o tempo todo que as constituições dos países respectivos lhes permitiam ou o máximo que os respectivos eleitorados lhes concederam.
Num ou noutro caso, até que a morte lhes cortasse os seus tempos, como foi com Salazar e Roosevelt.
Todos esses estadistas sentiram que a obra de Estado exige tempo – talvez tempo acima de tudo. E tempo foi sempre aquilo por que lutaram, tempo para realizarem a obra sonhada ou exigida.
Não podemos deixar de louvar o actual Primeiro Ministro, desde logo pelos sinais que acaba de dar de que também ele vai lutar por que o País lhe dê tempo – até 2010, diz – para realizar, concretizar na prática, as reformas que considera indispensáveis.
Penso que o País deve regozijar-se com esse anseio.
Outra característica dos estadistas referidos é a de não terem tido a obsessão do consenso activo da maioria dos governados.
Eles sabem ou souberam que um governo eficaz não precisa senão de 20% a 10% de apoiantes, porque, se a sua obra for convincente e mobilizadora para esses, tais apoiantes arrastarão o País atrás do governo.
Penso que Durão Barroso há muito entendeu isto, em toda a sua dimensão, o que é talvez a sua maior força para desorientar as oposições que tem.
Continuaremos, em breve, a desenvolver o tema.

A. C. R.

2003/09/11

História ocultada 

Com a devida vénia, pela sua importância para avivar/reavivar memórias, transcrevemos do “Público” de 31 de Agosto último, o artigo seguinte do Senhor GENERAL RICARDO DURÃO.


Há situações limite de que pode resultar a não integração na cadeia de comando ou a demissão, assumindo-se a respectiva responsabilidade.

Ricardo Durão

Estabeleceu-se uma enorme polémica, quando do funeral do tenente-coronel Maggiolo Gouveia, a propósito das honras militares que lhe eram devidas. Sem dúvida tratava-se de um tenente-coronel português de pleno direito, cuja situação militar foi sucessivamente clarificada por despachos, de quem tinha competência e legitimidade, desde o general Costa Gomes até aos últimos ministros da Defesa Rui Pena e Paulo Portas.
Tudo foi preparado cuidadosamente, sem nenhuma provocação, de forma digna e igual a qualquer funeral de um tenente-coronel. Tratava-se de uma satisfação à respectiva família, que sabe agora onde está sepultado um ente querido que morreu em circunstâncias trágicas, tendo sido assassinado algures no fim do mundo e que se encontrava numa vala comum.
A este respeito surgiram intervenções sectárias, insultuosas, impregnadas de complexos, objectivos políticos, e até algumas de falta de humanidade.

MÁRIO MESQUITA

Confesso que não o entendo. Na generalidade, disserta sobre disciplina e quase vai ao ponto de considerar uma disciplina de direita e uma disciplina de esquerda. Refere fidelidade institucional e integração na cadeia de comando. Era preferível que em vez de fidelidade aludisse a lealdade. Com um bocadinho de esforço ainda cairia em considerar como disciplina no redutor conceito de “obedecer cegamente”.
Disciplina é o cimento que consolida a coesão de um corpo ou equipa, mas há que existir um chefe de onde emanam as ordens legítimas que não podem ferir a dignidade, a inteireza de carácter, as mais profundas convicções e concorram para a manutenção de valores superiores da equipa ou da instituição que servimos, do povo, da nação e da pátria. Como tal, há situações limite de que pode resultar a não integração na cadeia de comando ou a demissão, assumindo-se a respectiva responsabilidade.
Mário Mesquita, cuidado com o seu conceito de disciplina. A sua dissertação pode levar a que os inimigos do 25 de Abril de 1974 venham a considerar como indisciplinados os militares que se excluíram da cadeia de comando. Mantendo-se integrados na cadeia de comando, não teria havido 25 de Abril. Também os revolucionários do “Verão quente” poderão emitir a mesma opinião acerca dos democratas de 25 de Novembro de 1975; não colhe a defesa de que estes se mantiveram na cadeia de comando legítima, porque sabe bem o que aconteceria, se porventura o general Costa Gomes não os acompanhasse. A outro nível, Otelo foi substituído por Vasco Lourenço...
Parece considerar muito grave o combate anticomunista. Então Mário Soares, Salgado Zenha e muitos mais cometeram esse crime? O que se passou na Alameda D. Afonso Henriques foi assim tão abominável?
Cito Melo Antunes: “Fui acusado de estar a cortar as pernas à possibilidade do desenvolvimento de uma sociedade socialista, tal como eles a imaginavam, e eu disse publicamente: ‘Pois estou! É exactamente para isso que eu estou aqui, é para impedir o avanço nessa direcção... Revoltei-me contra o caminho que as coisas estavam a tomar, isto é, levar Portugal a tornar-se um país cada vez mais próximo do modelo soviético...’ Sou acusado e outros de sermos uns contra-revolucionários que impediram que as ideias comunistas e o PC impusessem os seus valores...”
Aqui está mais um indisciplinado ou traidor?
Paz à sua alma, era um homem de carácter, o seu funeral foi com as honras devidas a um tenente-coronel, com a presença de elevadas entidades do Estado e nem por isso foram honras nacionais.
“Fidelidade institucional e integração na cadeia de comando”? qual a instituição e qual a cadeia de comando? Esqueceu-se do que se passava em Portugal no período em causa?
Um MFA degenerado pela acção de elevada quantidade de medíocres, oportunistas sem carácter, à mercê de uma descarada manipulação e à imagem do seu ídolo grotesco e festivo que não dava ordens; se alguma vez as dava, não eram cumpridas, adaptando-se alegremente e com entusiasmo às circunstâncias consequentes. Um caos que inviabilizava qualquer espécie de disciplina e cadeia de comando. Felizmente que ainda restaram alguns democratas e o povo tomou consciência, gerando um processo de rejeição que tornou possível pôr termo àquele “bagunça”, resistindo e vencendo em 25 de Novembro de 1975, permitindo que prosseguisse o projecto de Abril.

ANA GOMES

Na sua intervenção revela ter acreditado piamente na sua fonte de informação. As atitudes de Maggiolo não foram de modo nenhum a origem da invasão de Timor pela Indonésia. Com Maggiolo Gouveia ou sem ele haveria sempre uma guerra civil em Timor. Do mesmo modo e por razões idênticas também houve uma guerra civil em Angola. Até aqui, longe de Timor, se sabia que, se a Fretilin tomasse o poder, como o fez, declarando a independência unilateralmente, a Indonésia não o toleraria, face à ideologia marxista-leninista proclamada.
O tenente-coronel Maggiolo Gouveia, em Timor, melhor o sabia e foi contra isso que desesperadamente lutou. Não o podia fazer integrado na tal “cadeia de comando”, que há longo tempo vinha cumprindo a estratégia do degenerado MFA, infiltrado e manipulado, que consistia na relação privilegiada com a Fretilin. O mesmo se passou noutros territórios relativamente ao MPLA, Fretilimo, PAIGC, etc.
Participei em discussões com elementos da “virose” que causou a degeneração do MFA e foi-se expressamente declarado que só havia duas soluções; a independência de Timor sob a égide da Fretilin ou a integração na Indonésia. Ligação a Portugal é que nunca.
Maggiolo Gouveia até estava bem informado do que se passava na metrópole; só que, em Timor, não havia a Alameda D. Afonso Henriques. Daí as suas referências ao PS que estava em Lisboa num combate anticomunista com possibilidades de êxito.
Quem são os traidores? Maggiolo Gouveia? Os revolucionaristas de Lisboa? Os que criaram as condições que obrigaram à fuga para Atauro?
Ana Gomes fala do consenso nacional: não percebeu o que se passou? Foi uma catarse colectiva, ou seja, uma “reacção de libertação de um recalcamento, trauma ou de um conflito mal resolvido”. Para o comum das pessoas, um peso na consciência colectiva.

MARI ALKATIRI E XANANA GUSMÃO

Para além da intolerável intromissão da forma como decorreu, em Portugal, o funeral de um militar português, deviam-se apenas cingir à narração da sua versão sobre os acontecimentos em Timor.
Registam-se as contradições que confirmam o que já sabíamos: a responsabilidade da Fretilin no martírio e assassinato de Maggiolo Gouveia.
É natural que venham em defesa da Fretilin. Só que a Fretilin agora já foi reciclada relativamente à sua origem e beneficiou do desenrolar dos acontecimentos, dado que veio a congregar o ancestral sentimento, quase geral, do povo de Timor relativamente à Indonésia, tendo como resultado o seu expressivo desenvolvimento.
Porém, acabou, na resistência, por se aliar à “maldita” UDT, constituindo-se o CNRT. As suas versões podem constar na História de Timor, mas não na História de Portugal.

MÁRIO TOMÉ

Tem uma intervenção que não causa surpresa. Todos os militares que apoiaram a unicidade sindical, a institucionalização do MFA e o Pacto MFA-Partidos são traidores do 25 de Abril. Conseguiram até estabelecer uma tremenda confusão entre uma acção militar meritória em 25 de Abril e o período lamentável que se lhe seguiu. Desta confusão resultou que todos são de Abril, até as FP25, para não irmos mais longe; o facto de se proclamar tanto de Abril obriga-me, fique bem esclarecido, que, face a tamanha “caldeirada”, não sou de Abril, prefiro Novembro.
A dita revolução revelou um sentimento totalitário militarista, porque militarismo é o “predomínio”, directo ou indirecto, dos militares no governo de um país”. A democracia portuguesa levou oito anos a institucionalizar-se. Só em 1982 é que foi erradicado o Conselho da Revolução. O meu posto é general, mas sou antimilitarista.
Não quero alargar-me acerca do termo desertor, dado o mau gosto revelado pelo Bloco de Esquerda, que pretende honras de Estado para todos os desertores.
Na guerra de África os portugueses escreveram uma das maiores epopeias da nossa História. Um milhão de portugueses resistiram durante 13 anos e combateram por um imperativo histórico, mobilizando-se face a uma bárbara e monstruosa chacina em 15 de Março de 1961, no Norte de Angola. Mário Tomé até faz parte dessa milhão e cometeu o “crime” de não desertar. Os desertores foram uma percentagem ínfima, e, se alguns o foram por consciência, a grande maioria foram-no por comodidade ou covardia.
De notar que Manuel Alegre, que é um patriota, numa mesa-redonda na televisão, entre diversos desertores, esclareceu que não era um desertor. Declarou que não se podia eximir ao sacrifício da sua geração, apesar do que lhe ia na consciência. Continuou a ser perseguido pela PIDE e, para não ser preso, teve que se evadir.
Portugal é muito mais do que salazarismo e abrilismo. Cito Afonso Costa: “Portugal não é um pequeno país. Os que sustentam isso esquecem as províncias ultramarinas que fazem com o território metropolitano um todo uno e indivisível.”
Acerca do seu conceito de descolonização “especial de corrida”, volto a citar Melo Antunes: “Assumo a responsabilidade de certos erros que foram cometidos; a descolonização foi uma tragédia, foi das coisas mais difíceis, mais dramáticas e trágicas que aconteceram em Portugal. Esses erros poderão eventualmente estar na origem de situações que mais tarde foram extremamente danosas para os novos países independentes... Há quem afirme que a descolonização foi aquela que era possível. Acho que não foi assim...”
Fique lá com os seus companheiros revolucionários ditos “democratas” e, a propósito, cito Fernando Rosas: “ O PC terá pensado quanta razão nós tínhamos em não querer que as eleições se dessem, porque obviamente, as eleições instalam imediatamente uma contralegitimidade e uma contralegitimidade fortíssima que é a das urnas”. Está bem acompanhado.
O tenente-coronel Maggiolo Gouveia já era um herói antes de estar em Timor. Lá, foi martirizado perante a passividade do comando militar português, sendo um dos seus algozes um oficial miliciano do Exército português, Rogério Lobato, natural de Timor e actual ministro do Interior do Governo de Timor. Posteriormente é sumariamente fuzilado e perante a morte em nada contradisse a sua estatura de herói. Constituir-se-á num símbolo, libelo acusatório de uma das maiores vergonhas da nossa História.

2003/09/09

O Nacionalismo do Século XXI: Rumos e Soluções 

Comunicação ao I Congresso Nacionalista Português


Dr. Miguel Jardim

Minhas Senhoras e meus Senhores:
Camaradas e Amigos:

O tema em questão suscita duas condições prévias, as quais o Nacionalismo do séc. XXI deverá sempre ter em conta: a pluralidade ideológica e metodológica na atitude nacionalista e a ausência de dogmatismos quando abordamos os desafios com que nos confrontamos.
Lembrando Guillaume Faye, autor que tem tanto de profeta como de genial, designo o mundo actual como um palco onde convergem catástrofes nunca antes verificadas na história da humanidade, considerando que estas ocorrem desconcertadamente a nível global.
Comecemos pelo desmantelamento do tecido social europeu, provocado pelo consumo de drogas no seio da juventude, associado ao império da criminalidade que, cada vez mais, assume uma face legal, lavada, “civilizada”, por força do capitalismo financeiro e especulador, que vai, progessivamente, desalojando a economia produtiva radicada no trabalho e na poupança. A especulação nos mercados, o endividamento, o consumismo, a cega privatização dos serviços públicos são o espelho desta nova “velha” economia!
A estupidificação do grande público por via do electrovisual e audiovisual – televisão, jogos de vídeo, programas de entretenimento – contribui decisivamente para o desarmamento das defesas morais e espirituais das Nações, remetendo os seus povos para a alienação e ignorância.
Os confrontos e choques, cada vez mais frequentes, entre grupos étnicos e neo-tribais nas grandes metrópoles europeias resultam em sentimentos de insegurança e angústia nas populações autóctones. O fenómeno da “terceiro-mundialização” da Europa através da invasão de não europeus (afro-asiáticos) com a consequente “ghettização” desses mesmos grupos étnicos acompanhados da desvalorização dos salários, que só favorecem a grande plutocracia, levam-nos inevitavelmente ao conflito final.
Por outro lado, o envelhecimento da Europa, bem visível nas estatísticas, somado à desvalorização do matrimónio, ao estímulo ao aborto livre e à ideologização dos grupos de pressão homossexuais – o homossexualismo ideológico – contribuem para uma crise económica e demográfica sem precedentes entre os povos europeus.

Paralelamente a esta Europa debilitada e enfraquecida, vivemos o caos no Sul, particularmente em África, no Sul da Ásia e, em alguns casos, na América do Sul. A partir do Mahgreb, aqui tão perto, multidões de jovens desempregados, munidos do islamismo militante e agressor, estão preparados para invadir. O caos étnico e económico-social de países como a Nigéria, Somália, Libéria, Indonésia, Afeganistão e outros, associado à subida de todo o tipo de integrismos religiosos e políticos, mas todos com um denominador comum: o ódio às nossas culturas e ao nosso modelo civilizacional, constituem uma síntese que se revela uma ameaça imediata e perigosa à nossa estabilidade e identidade.
O corolário desta ameaça é a possibilidade de alguns países utilizarem a energia nuclear para fins militares, projectando assim o terrorismo a situações inimagináveis...
Sejamos frontais: estamos envolvidos num conflito de contornos visíveis e invisíveis em que a nossa identidade mais remota e a nossa sobrevivência estão em risco! Para não referir a ameaça ecológica que, paulatinamente, vai correndo o nosso planeta, consequência dos mitos do progresso interminável de inspiração demo-liberal de índole mundialista.
A pandemia da SIDA em África chegou ao limite dos Estados Unidos a considerarem como uma ameaça à sua própria segurança nacional, enquanto que nós, europeus, cerramos os olhos a este cenário demolidor aqui tão perto!



Perante esta perspectiva apocalíptica, que respostas?...

Cometemos o erro trágico de encararmos o outro como o imaginamos no nosso imaginário; é esta a atitude de Portugal e da Europa nos últimos sessenta anos! Com o intuito de enfrentarmos as catástrofes que o futuro nos oferece, impõe-se, antes de mais, definir quem são os nossos amigos, adversários e inimigos. Uma cuidadosa leitura de Karl Schmidt permite-nos deter os instrumentos de análise necessários e capazes para definir o nosso percurso num mundo cada vez mais complexo e polarizado.
Outro imperativo ao qual não podemos fugir é o de possuirmos uma perspectiva do globo numa dimensão “geocultural”, em que a Geografia predomina sobre o lirismo político. Rudolf Kjellen, politólogo, geopolítico e filósofo, de nacionalidade sueca, ser-nos-á bastante útil. Na linha do seu pensamento definimos Portugal como um País Ibérico, Latino e Europeu. Esta premissa é fundamental para compreender o nosso futuro como povo!

Temos que conviver com a trágica, mas estimulante, consciência de que retornámos ao nosso espaço geográfico de partida, o qual – paradoxalmente – se tornou, passados tantos séculos, o nosso ponto de chegada: a Península Ibérica, a Europa. A identidade etnocultural é o nosso último reduto na retirada, se quisermos ter viabilidade como realidade nacional.
Num mundo que é, cada vez mais, um gigantesco “hipermercado”, onde tudo se dissolve anonimamente, é na memória mais remota, a que expulsou os árabes invasores, e não a que conquistou ou expulsou, que nos devemos apegar! A memória funciona hoje como instrumento insubstituível de análise do presente e projecção do futuro. Sobretudo quando Portugal e a Europa estão sendo ocupados física e espiritualmente!


Pistas para o futuro...

Num contexto político de adversidade como o que vivemos hoje, a criação e desenvolvimento de Associações, Fundações, Revistas, Comunidades e, inclusivé, Partidos, onde coexistem e corporizam as diferentes famílias e correntes do Nacionalismo Português, são tão urgentes como necessárias.
Sem se cair na “doença infantil” do nacionalismo, expresso na “fulanização” dos pequenos chefes, ou na tentação grupuscular, todos os movimentos, associações e organizações deverão estabelecer um pacto de respeito pela identidade e personalidade de todos os integrantes do movimento nacionalista, entendido este na sua globalidade.
Os parâmetros fundamentais da nossa acção comum devem assentar na preservação da nossa mais profunda identidade, reflectida nos campos etno-linguístico, cultural, artístico, patrimonial, arquitectónico e económico.
A visão geopolítica e internacional de Portugal deve estar subordinada à construção – e esta é uma perspectiva intimista – de um gigantesco Espaço geopolítico e geoeconómico fundamentado na memória colectiva, cultural e civilizacional comum: o nosso Lar europeu. Nele se incluirá, no futuro, a Rússia, e se exclui, por razões óbvias, a Turquia. A expressão político-constitucional desse Espaço realizar-se-á de acordo com a vontade dos povos e Nações europeias e contra os nossos inimigos que nos pretendem aniquilar. Desse modo, poderemos enfrentar os Islâmicos, que lentamente nos vão cercando, e competir de igual para igual com os Estados Unidos.
No caso particular de Portugal, o Brasil poderá complementar a nossa projecção na política internacional. As nossas comunidades espalhadas pela Europa e pelo mundo devem converter-se em elementos activos e promotores da nossa cultura e identidade, em particular no que concerne à Língua Pátria. Quanto à nossa posição no Continente Africano, as nossas relações deverão pautar-se pelo respeito mútuo de cada um dos espaços geopolíticos e simultaneamente manter as melhores relações comerciais e económicas, abandonando, desde logo, os delírios de qualquer eventual integração política, que seria, no mínimo, suicida e destruidora de Portugal, tal como o concebemos.
Em síntese, minhas senhoras, meus senhores, camaradas e amigos: o futuro da nossa Nação, da nossa Pátria, deverá radicar, por um lado, na nossa grande família civilizacional: a Europeia; por outro, na única aristocracia que reconheço: a do carácter e do espírito, nas tradições mais longínquas do nosso Povo e, finalmente, na Justiça social da nossa vivência comunitária.

E como um dia o Poeta escreveu: é a Hora!
Da Aventura e da Esperança!
Viva Portugal!
Viva a Europa!



I Congresso Nacionalista Português

Lisboa, 13 e 14 de Outubro de 2001

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2003/09/08

Maggiolo Gouveia e os seus detractores 

Com a devida vénia se transcreve o artigo, com este título, do Senhor GENERAL CARLOS DE AZEREDO, transcrito de o "Público" de 30 de Agosto pº pº, pelos dados perfeitamente esclarecedores que contém.

A.C.R.
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Sobre tudo e sobre todos, avultou a personalidade impar, nimbada da trágica grandeza que o conflito entre valores fundamentais imprime às atitudes humanas, do tenente-coronel Maggiolo Gouveia.

Certo dia, no já longínquo ano de 1980, o primeiro ministro dr. Francisco Sá Carneiro chamou-me ao seu gabinete e, entregando-me duas pastas “Âmbar” com a espessura de uma mão travessa cada, pediu para ler o célebre “Relatório de Timor” e ainda os depoimentos dos vários militares inquiridos, insertos na segunda pasta e que serviram de fundamento ao referido relatório, a fim de lhe dar um parecer sobre o assunto.
Demorei seis dias, na leitura e estudo do relatório, seis infindáveis dias de vergonha, de amargura e indignação, à medida que me ia inteirando da tragédia que se viveu na mais oriental parcela do nosso império, durante os últimos meses da administração portuguesa.
Tudo o que de pior não pode de forma alguma ser encontrado entre militares, ali aconteceu e abundou:
— uma chefia indecisa, timorata e sem autoridade;
— oficiais afectos a ideologias filo-comunistas transformados em orientadores políticos das tropas;
— entrega por militares de dois depósitos de armamento e munições à formação política timorense Fretilin, então de orientação marxista, em luta contra a UDT, que pretendia ainda a permanência temporária da nossa administração;
— a quádrupla fuga dos mais altos responsáveis com o abandono das tropas acantonadas nas várias guarnições do território (mais tarde evacuadas pelo CEMFA Morais e Silva), etc., etc.
Salvou-se, no meio desta vergonhosa desgraça, o coronel comandante militar, que, não aceitando a politização das suas tropas, pediu a exoneração do cargo, e várias unidades militares que mantiveram a disciplina até final.
Mas sobre tudo e sobre todos, avultou a personalidade impar, nimbada da trágica grandeza que o conflito entre valores fundamentais imprime às atitudes humanas, do tenente-coronel Maggiolo Gouveia.
Acusando corajosa e frontalmente a política, imposta no território, de criminosa, por conduzir as gentes de Timor, ainda sob a nossa responsabilidade, para um desastre de proporções imensuráveis (como se veio a verificar), Maggiolo Gouveia foi forçado pelas suas convicções, a tomar a única atitude que lhe restava: Depor perante o governador os seus galões de tenente-coronel do exército e aliar-se ao grupo de timorenses que se opunha à “bandalheira” marxista armada e municiada por elementos do nosso (?) Exército.
Por tudo isto que pude conhecer, não só pela leitura do célebre “Relatório de Timor”, mas ainda pelo relatório da Cruz Vermelha Internacional e pelo “Diário do Notário” de Dili, não posso deixar de reagir com indignação contra a acusação de desertor que, segundo a imprensa, algumas “toupeiras fardadas” vergonhosamente escondidas nos subterrâneos do anonimato, vieram bolsar sobre o nome de um camarada morto “por Portugal”, por Timor e pela sua fé”.
Além do mau gosto, da inclassificável atitude em termos de camaradagem militar, da covarde falta de coragem em assumir responsabilidades, essas “toupeiras fardadas de militares” denotaram uma falta de ética castrense deplorável.
É que, ser militar é apenas um meio, um instrumento, para servir Portugal, e quando o ambiente militar em que nos inserimos desserve a pátria para obedecer a ideologias que nada têm a ver connosco, o homem, alicerce imprescindível em que se constrói o militar, é posto perante o dilema trágico de ter de optar entre a instituição que já não serve e a razão última do seu servir que é a sua pátria.
Foi essa a grandeza e a tragédia de Maggiolo que os pigmeus, “entoupeirados” no anonimato, não compreenderam pela simples razão de não bastar, para se ser militar, andar mascarado com uma farda.
Além do mais, Maggiolo assumiu a sua atitude com carácter e a frontalidade que devem ser inseparáveis da carreira, enquanto aqueles que pretendem insultar o seu nome se acobardam no vergonhoso anonimato dos fracos e possivelmente dos culpados pela tragédia de Timor.
Quanto a uma senhora, que já foi diplomata e anda para aí na praça pública em “bicos de pés”, nem merece qualquer comentário da minha parte: use mais a cabeça e os calcanhares e menos os dedos dos pés.
Quanto ao chamado “Bloco de Esquerda”, que há a dizer sobre a pobreza e o mau gosto da sua intervenção neste assunto?
Façamos silêncio sobre as misérias alheias.

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