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2003/09/16

A II Guerra Mundial e o Eclipse do Nacionalismo (I) 

Comunicação ao I Congresso Nacionalista Português - Lisboa, 13 e 14 de Outubro de 2001

Dr. Manuel Marques José

Epígrafe

«Duma civilização que regressa cientificamente à selva separa-nos sem remissão o espiritualismo - fonte, alma, vida da nossa História. Fugimos a alimentar os pobres de ilusões, mas queremos a todo o transe preservar da onda que cresce no mundo a simplicidade da vida, a pureza dos costumes, a doçura dos sentimentos, o equilíbrio das relações sociais, esse ar, modesto mas digno da vida portuguesa - e, através dessas conquistas ou reconquistas das nossas tradições, a paz social.»

António de Oliveira Salazar, em 15 de Abril de 1937


Meus senhores, minhas senhoras, muito bom dia.

Quero, em primeiro lugar, agradecer o convite que me foi endereçado para estar aqui. Não me julgo, neste tempo, muito capaz de estar à altura da tarefa que me propuseram. Todavia, e porque demonstraram confiança em mim, resolvi aceitar. Também, para não cometer grandes gaffes, escrevi o discurso.
Diante de diversas perspectivas de abordagem do tema proposto, escolheria naturalmente a filosófica. Acontece, porém, que, embora seja licenciado em Filosofia, estou há alguns anos afastado de lides filosóficas mais aturadas. Mesmo assim, enveredei por essa perspectiva, embora de um modo algo difuso.
Com algum esforço pois, consciente de grandes limitações, procurei traçar, por vezes de uma maneira nómada senão mesmo caótica, algumas considerações que, julgo, têm qualquer coisa a ver com o tema que me foi proposto: «A II Guerra Mundial e o eclipse do nacionalismo» .
(Quero, no entanto, desde já dizer que gostaria de me ficar apenas pelo que enunciarei num ponto um.)

1.
Há uns 30 e poucos anos atrás, quando ainda a Nação Portuguesa existia, era eu menino de escola primária, local onde se aprendia a ler, a escrever, a contar, a ter boa conduta cívica e moral, coisas que, nos dias que vão correndo, nem mesmo na universidade se têm conseguido com regularidade aceitável. Bem...
Havia uns textos no livro da 3ª classe de que eu não gostava particularmente. Não sei porquê, ou, pelo menos não me recordo. São, todavia palavras belíssimas, de grandeza e simplicidade, de eloquência extrema, e eu gostaria de os citar integralmente - neles se diz tudo sobre a Nação, sobre a nossa Pátria (de então).
Primeiro texto:
«Menino, sabes o que é a pátria?
A pátria é a terra em que nascemos, a terra em que nasceram os nossos pais e muitas gerações de portugueses como nós.
É a nossa pátria todo o território sagrado (sublinho sagrado) que D. Afonso Henriques começou a talhar para a Nação Portuguesa, que tantos heróis defenderam com o seu sangue ou alargaram com sacrifício de suas vidas. É a terra em que viveram e agora repousam esses heróis, a par de santos e de sábios, de escritores e de artistas geniais. A pátria é a mãe de nós todos, os que já se foram, os que vivemos e os que depois de nós hão-de vir.
Na pátria está, meu menino, a casa em que vieste à luz do dia, o regaço materno que tanta vez te embalou, a aldeia ou a cídade em que tu cresceste, a escola onde melhor te ensinam a conhecê-la e a amá-la, e a familia e as pessoas que te rodeiam.
Na pátria estão os campos de ricas searas, os prados verdejantes, os bosques sombreados, as vinhas de cachos negros ou de côr de ouro, os montes com suas capelinhas brancas votivas.
A pátria é o solo de todo o Portugal, com as suas ilhas do Atlãntico (Açores e Madeira, Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe...), as nossas terras dos dois lados de África, a Índia, Macau, a longínqua Timor.
Para cá e para além dos mares, é a nossa pátria bendita todo o território em que, à sombra da nossa bandeira, se diz na formosa língua portuguesa a doce palavra Mãe!...»1


Segundo texto:
«A nossa querida pátria
Ao vermos a enorme extensão do Império Português, admiramos o heroísmo com que os nossos antepassados, - sábios, marinheiros, soldados e missionários, - engrandeceram a pátria. Por ela atravessaram mares desconhecidos, sofreram as inclemências de climas insalubres e travaram lutas cruéis em paragens longínquas.
Aprendamos a lição do seu esforço, para amar e servir, como eles, a nossa querida Pátria.»2


Ora foi apenas cerca de trinta anos depois do fim da II Guerra Mundial que estas palavras «perderam» (ponho perderam entre aspas), sentido. Portugal aguentou muito tempo... E apenas foi vencido por uma gente bem caracterizada por Adulcino Silva: anões e pigmeus da Pátria (que é o título de um livro).3
O meu discurso terminaria aqui, segundo inicialmente o concebi.
Mas permitam-me que ajunte mais umas coisas.

2.
Resistimos durante muitos anos à ofensiva soviético-americana - (sionista) - ponho aqui o sionista entre parêntesis - do pós-guerra e, não fossem alguns traidores acompanhados por algumas centenas de débeis mentais, não teria a nossa Pátria perecido, não teria a nossa Pátria vivido as tragédias que viveu - que ainda vive...
A Nação Portuguesa, irmandade de povos, no dizer de Salazar, permaneceu como último bastião de uma ordem hoje destruída - Deus morreu (dando expressão real à proclamação nietzscheana de há cem anos atrás), a Pátria tornou-se em meia dúzia de acções vendáveis numa qualquer reles bolsa de valores, a Família transformou-se numa instituição atomizada e volúvel.
Em nome de nada, ou em nome do dinheiro, em nome do partido comunista, ou de outras coisas quaisquer.
O diminuir da Nação, a nossa grande casa, onde poeticamente habitamos («o Homem habita poeticamente», Hölderlin, Heidegger), onde nos encontramos com os nossos santos e os nossos heróis, acarreta a perda de encanto da nossa terra e do mundo, desertificando, abrindo lugar aos predadores (americano-soviéticos e outros mais ou menos incógnitos!)
O diminuir da Nação acarreta o fim de um chão para cuidar, de um céu nítido aonde se erguem os olhos para Deus: corrói a Pátria, a nossa terra, a nossa casa, em nome de um chão não topologizado, insignificativo, terra de ninguém, aberta a tudo, mesmo à ignomínia, na emergência da necessidade de afirmação dos novos impérios vencedores da lI Guerra Mundial: a URSS, os USA, o Sionismo - o Partido Comunista não tem pátria (embora, mesmo nos dias de hoje, ainda existam uns partidozecos que apõem ao comunista uma nacionalidade, e outros nem comunistas já se chamam), e o Capital também não tem pátria!
________________________________________
1. Livro de Leitura da 3ª Classe, Porto Editora, Lda., 1958, pp.5-6
2. Livro de Leitura da 3ª Classe, Porto Editora, Lda., 1958, p. 11
3. Adulcino Silva, Anões e pigmeus da Pátria, Erasmus, Amadora, 1997

(continua no próximo post)

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