2003/09/29
NACIONALISMO E DEMOCRACIA: SÍNTESE POSSÍVEL? (IV)
Comunicação ao I Congresso Nacionalista Português - Lisboa, 13 e 14 de Outubro de 2001
Eng.º Francisco Ferro
4. Apontamentos finais
Caracterizada a Democracia e definido o Nacionalismo, julgo estarmos de posse dos elementos necessários para responder à pergunta decisiva: é possível uma aliança entre os dois conceitos? A resposta é não. Pouco importa que alguns considerem o sufrágio universal a única fonte de legitimidade do poder, o que é falso, porque a maioria não tem a capacidade de criar verdade e não é o número de votos, qualquer que seja a sua expressão, que torna o poder legítimo mas sim o seu exercício, respeitador do interesse nacional, ou desenvolvido no sentido da sua negação; nem importa sequer que outros defendam, aliás com argumentos pouco convincentes, essa aliança espúria como indispensável: os democratas, a nosso ver, devem sim aliar-se aos comunistas, com quem mantêm laços familiares muito fortes; por isso é que vemos o Dr. Mário Soares dar palmadinhas nas costas de Fidel Castro; por isso é que o General Eanes se curvou, comovido, diante dos restos mortais de Josip Broz, mais conhecido por marechal Tito; por isso é que a democracia americana, conduzida por Kennedy, se juntou à União Soviética para nos expulsar das nossa posições africanas; por isso é que o inefável Ceausescu se viu condecorado pelos dirigentes de Abril.
A verdade, a nossa verdade (em política não há uma única verdade, mas há verdades que devemos ter em conta), é outra. A democracia tem no sufrágio universal um pilar insubstituível e o Nacionalismo rejeita-o porque não tem em conta a diferenciação humana; a democracia grita-nos que a soberania reside no povo, considerado como mera soma aritmética dos eleitores inscritos, e o Nacionalismo defende a soberania da Nação, entendida como identidade de destino no plano universal; a democracia é liberal e o Nacionalismo condena sem apelo o liberalismo, cujo culto da liberdade permite, afinal, atitudes e acções dirigidas contra a Nação; a democracia é individualista e o Nacionalismo submete o interesse individual ao interesse colectivo, ou seja, ao interesse da comunidade que representa a Nação; a democracia não pode viver sem os partidos e o Nacionalismo combate-os, porque “a Nação tende irresistivelmente para a unidade e os partidos para a divisão”; finalmente, como já foi dito, o Nacionalismo é, por tudo isto, resolutamente anti-democrático. As contradições entre democracia e Nacionalismo são insanáveis e nenhuma moda, por natureza transitória e efémera, as pode resolver; por outro lado democracia e Portugal não se dão bem: será necessário falar no período 1910-1926 e da política democrática de Afonso Costa? Será necessário escalpelizar aqui as “conquistas” de Abril, a posição subserviente perante Bruxelas, a degradação moral da sociedade, o crescimento galopante da corrupção partidocrática, o desrespeito pela dignidade das Forças Armadas, a descolonização exemplar e outras atitudes de incontroversa gravidade? Julgamos que não; não há sínteses possíveis entre conceitos radicalmente opostos.
Sinto que fui demasiado longo e até me admiro por não me terem já mandado calar, mas não posso concluir esta intervenção sem fazer referência a duas personalidades: Alfredo Pimenta, meu mestre da juventude longínqua a que permaneço fiel, e Salazar, o “criminoso” na linguagem mesquinha dos abrilaicos, a quem devo, em grande parte, o meu orgulho de português. Escreveu Alfredo Pimenta: “A Democracia afoga-nos, subverte-nos, arruina-nos, envenena-nos. Diante dela, a sociedade portuguesa está vencida, sucumbida e morta para toda a energia sã, para toda a acção salvadora. (...) A sociedade portuguesa sofre do uso e abuso da Democracia. Deixaram-se corromper por ela todas as classes, todos os partidos, todas as categorias. A onda democrática bate o seu pleno – desde as mais altas esferas intelectuais até às mais baixas camadas populares. Por isso, a sociedade portuguesa se encontra na fase mais crítica da sua existência, fugindo do poço de lama para que a Democracia arrasta para ir cair no lago de sangue para que a Democracia a atrai”2.
Escreveu Salazar: “Não discutimos a Pátria, quer dizer, a Nação na sua integridade territorial e moral, na sua plena independência, na sua vocação histórica. (...) Deixemos aos filósofos e aos historiadores o entretenimento de alguns devaneios acerca da possibilidade de diferente aglomeração de povos e até das vantagens materiais de outras combinações que a História não criou ou desfez; no terreno político ou social, para nós portugueses que somos de hoje e velhos de oito séculos, não há processo que possa ser revisto, pedaço de soberania ou de terra que nos pese e estejamos dispostos a alijar de cansados ou de cépticos”3.
Tinha de acabar assim, neste momento em que tudo se compra e tudo se vende, menos a nossa alma. Muito obrigado aos que tiveram a paciência de me ouvir.
VIVA PORTUGAL!
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2. Acabemos com isto, "A Época", 1924
3. Salazar, Discursos
Eng.º Francisco Ferro
4. Apontamentos finais
Caracterizada a Democracia e definido o Nacionalismo, julgo estarmos de posse dos elementos necessários para responder à pergunta decisiva: é possível uma aliança entre os dois conceitos? A resposta é não. Pouco importa que alguns considerem o sufrágio universal a única fonte de legitimidade do poder, o que é falso, porque a maioria não tem a capacidade de criar verdade e não é o número de votos, qualquer que seja a sua expressão, que torna o poder legítimo mas sim o seu exercício, respeitador do interesse nacional, ou desenvolvido no sentido da sua negação; nem importa sequer que outros defendam, aliás com argumentos pouco convincentes, essa aliança espúria como indispensável: os democratas, a nosso ver, devem sim aliar-se aos comunistas, com quem mantêm laços familiares muito fortes; por isso é que vemos o Dr. Mário Soares dar palmadinhas nas costas de Fidel Castro; por isso é que o General Eanes se curvou, comovido, diante dos restos mortais de Josip Broz, mais conhecido por marechal Tito; por isso é que a democracia americana, conduzida por Kennedy, se juntou à União Soviética para nos expulsar das nossa posições africanas; por isso é que o inefável Ceausescu se viu condecorado pelos dirigentes de Abril.
A verdade, a nossa verdade (em política não há uma única verdade, mas há verdades que devemos ter em conta), é outra. A democracia tem no sufrágio universal um pilar insubstituível e o Nacionalismo rejeita-o porque não tem em conta a diferenciação humana; a democracia grita-nos que a soberania reside no povo, considerado como mera soma aritmética dos eleitores inscritos, e o Nacionalismo defende a soberania da Nação, entendida como identidade de destino no plano universal; a democracia é liberal e o Nacionalismo condena sem apelo o liberalismo, cujo culto da liberdade permite, afinal, atitudes e acções dirigidas contra a Nação; a democracia é individualista e o Nacionalismo submete o interesse individual ao interesse colectivo, ou seja, ao interesse da comunidade que representa a Nação; a democracia não pode viver sem os partidos e o Nacionalismo combate-os, porque “a Nação tende irresistivelmente para a unidade e os partidos para a divisão”; finalmente, como já foi dito, o Nacionalismo é, por tudo isto, resolutamente anti-democrático. As contradições entre democracia e Nacionalismo são insanáveis e nenhuma moda, por natureza transitória e efémera, as pode resolver; por outro lado democracia e Portugal não se dão bem: será necessário falar no período 1910-1926 e da política democrática de Afonso Costa? Será necessário escalpelizar aqui as “conquistas” de Abril, a posição subserviente perante Bruxelas, a degradação moral da sociedade, o crescimento galopante da corrupção partidocrática, o desrespeito pela dignidade das Forças Armadas, a descolonização exemplar e outras atitudes de incontroversa gravidade? Julgamos que não; não há sínteses possíveis entre conceitos radicalmente opostos.
Sinto que fui demasiado longo e até me admiro por não me terem já mandado calar, mas não posso concluir esta intervenção sem fazer referência a duas personalidades: Alfredo Pimenta, meu mestre da juventude longínqua a que permaneço fiel, e Salazar, o “criminoso” na linguagem mesquinha dos abrilaicos, a quem devo, em grande parte, o meu orgulho de português. Escreveu Alfredo Pimenta: “A Democracia afoga-nos, subverte-nos, arruina-nos, envenena-nos. Diante dela, a sociedade portuguesa está vencida, sucumbida e morta para toda a energia sã, para toda a acção salvadora. (...) A sociedade portuguesa sofre do uso e abuso da Democracia. Deixaram-se corromper por ela todas as classes, todos os partidos, todas as categorias. A onda democrática bate o seu pleno – desde as mais altas esferas intelectuais até às mais baixas camadas populares. Por isso, a sociedade portuguesa se encontra na fase mais crítica da sua existência, fugindo do poço de lama para que a Democracia arrasta para ir cair no lago de sangue para que a Democracia a atrai”2.
Escreveu Salazar: “Não discutimos a Pátria, quer dizer, a Nação na sua integridade territorial e moral, na sua plena independência, na sua vocação histórica. (...) Deixemos aos filósofos e aos historiadores o entretenimento de alguns devaneios acerca da possibilidade de diferente aglomeração de povos e até das vantagens materiais de outras combinações que a História não criou ou desfez; no terreno político ou social, para nós portugueses que somos de hoje e velhos de oito séculos, não há processo que possa ser revisto, pedaço de soberania ou de terra que nos pese e estejamos dispostos a alijar de cansados ou de cépticos”3.
Tinha de acabar assim, neste momento em que tudo se compra e tudo se vende, menos a nossa alma. Muito obrigado aos que tiveram a paciência de me ouvir.
VIVA PORTUGAL!
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2. Acabemos com isto, "A Época", 1924
3. Salazar, Discursos
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