2003/10/06
EXORTAÇÃO NACIONAL
Comunicação ao I Congresso Nacionalista Português - Lisboa, 13 e 14 de Outubro de 2001
Dr. Manuel Brás
Senhor Presidente do Congresso, senhores membros das Mesas, senhores interventores nas Conferências e Painéis, minhas senhoras e meus senhores, caros compatriotas:
É com grande júbilo que me dirijo a cada um dos presentes mediante esta exortação no início deste acontecimento inédito na nossa História. E faço-o para que fervilhe no íntimo de cada um de nós o português, o nacionalista, o patriota que somos.
É com estes sentimentos e disposições que olhamos para Portugal. Vamos reflectir, vamos debater, vamos estudar, vamos realizar.
Vamos lançar-nos à aventura, como muitas vezes aconteceu na nossa História ao longo de quase 900 anos, também, e especialmente, em momentos críticos, para dar um novo alento de vida a esta Pátria, nossa amada.
Porém, não nos iludamos: isto é só um começo. Temos muito trabalho pela frente. Mas temos de começar bem.
Numa atmosfera generalizada de dissolução nacional em que vegeta a sociedade portuguesa, para já não falar dos governantes, a nossa presença aqui significa quebrar um muro que nos asfixia o olhar e nos impõe uma mentalidade de cubículo. Significa coragem, frontalidade, vontade de vencer, e sobretudo, confiança numa ideia de Portugal.
Nós somos os nacionalistas da primeira hora do séc. XXI. Aqui estamos.
Talvez nos recordemos de tantos outros que também poderiam aqui estar, mas que ficaram em casa, por tibieza ou comodismo. Talvez esses sejam os da segunda hora. Mas não nos esqueçamos de que para haver os da segunda hora é preciso que antes estejam presentes os da primeira. Virão os da segunda hora, se nós, os da primeira, o merecermos.
Que esperamos nós deste Congresso? Que procuramos ao vir aqui? Em concreto, o que espera a minha geração do nacionalismo português?
Sem dúvida, uma ideia de Portugal. Para o presente e para o futuro.
Ancorados na tradição, com o pouco que, eventualmente, somos no presente, rumo ao futuro, mas a um futuro diferente da dissolução nacional que nos querem impôr. Mas se queremos moldar um futuro com Portugal e em Portugal, actuemos e preparemo-lo no presente. Não há lugar para mais lamentações inconsequentes.
O que é Portugal, hoje?
É este o nosso ponto de partida. É da nossa identidade que hoje e agora havemos de partir para o futuro.
Com veneração pelo passado e vontade de aprender com o que ele teve de digno na nossa História, mas com a consciência clara de que Portugal não é hoje o que foi há largas décadas.
Com uma visão inequivocamente profética, o maior poeta português do séc. XX anunciava que outros haveriam de ter o que houvéssemos de perder.
O corpo da Pátria foi desmembrado e reduzido, de tal forma que as nossas fronteiras actuais são as mesmas do início do séc. XV. Retrocedemos. Mas é este o nosso ponto de partida para o futuro.
Mas, como então, havemos de estar à altura para continuar Portugal, com as limitações que o presente nos impõe, mas ao mesmo tempo para além desses condicionalismos. Superá-los-emos se para isso tivermos vontade e determinação.
Caros amigos, não nos iludamos: este Congresso não é um encontro de saudosistas e nostálgicos de outros tempos, independentemente da idade que cada um tiver. Precisamos de juventude e a juventude é rigorosamente um estado de espírito.
Mas é precisamente do espírito da Nação que o Corpo da Pátria precisa. Espírito que cultivaram homens ilustres como D. Afonso Henriques, D. João I, D. Nuno Álvares Pereira, D. João IV e também aquele homem que foi o maior estadista português do séc. XX.
Mas permitam-me que pergunte: que espírito nacional é o nosso? O que é a Nação Portuguesa, hoje?
De uma coisa estamos absolutamente seguros: precisamos que o espírito da Nação anime o corpo da Pátria, por pequeno que este seja hoje.
Que ideia de Portugal vai sair deste Congresso?
Com a derrocada das ideologias dominantes do séc.XX não temos dúvidas de que a ideia nacional – o nacionalismo português – é a resposta ao vazio que paira sobre aquilo que resta da Pátria e da Nação e que só ele nos poderá conduzir a um futuro de prosperidade, soberania e independência, tão afastado do isolamento como desse abandono vende-pátrias que pulula por aí.
Que nacionalismo é o nosso?
Urge que sejamos capazes de o definir e de o tornar claro ao espírito dos portugueses.
Ao dar espírito ao corpo da Pátria, o nacionalismo assume vários matizes, pelos quais nos devemos bater: um nacionalismo tradicionalista do ponto de vista histórico-político, um nacionalismo cosmopolita do ponto de vista estético, um nacionalismo universalista do ponto de vista ético, um nacionalismo justicialista do ponto de vista social, um nacionalismo revolucionário do ponto de vista ontológico, um nacionalismo vanguardista do ponto de vista cultural.
Como se não bastasse o enfraquecimento da Pátria e da Nação, cerca-nos o mais funesto intento de dissolução nacional dos nossos dias: a famosa globalização. Também aqui o nacionalismo é a resposta adequada à nossa sobrevivência e afirmação como Povo e como Nação. E, por isso mesmo, o nacionalismo é a verdadeira garantia de respeito pelas outras nações. Os nacionalistas, porque prezam a sua Nação, compreendem e respeitam que os outros estimem as suas.
Como será o nacionalismo contemporâneo, o do séc. XXI?
Arrastados para um espaço económico, social e político, por decisão unilateral de uns quantos senhores, e privado que foi o Povo Português de se exprimir, não pretendo neste momento ajuizar do acerto da integração na União Europeia, nem sequer sobre vantagens ou inconvenientes que tal passo acarreta. O futuro o dirá, se é que o presente já não o diz. O que está em questão é a forma, à margem dos portugueses, como esse processo foi conduzido, em flagrante contraste com alguns outros países europeus. Poderemos nós confiar o futuro de Portugal a uma classe política que só se lembra de falar nos portugueses em vésperas de eleições? Poderemos nós confiar numa classe política que na hora da verdade, de tomar decisões mais transcendentes, ignora o nosso Povo?
Estamos na Europa. Na verdade, sempre estivémos. Mas soberanos e independentes. E já que fomos dispensados de nos pronunciarmos sobre a União Europeia, só nos resta agora intervir na defesa dos nossos interesses económicos, sociais e políticos e garantir a nossa soberania e independência.
Em que Europa queremos nós estar? Numa Europa federalista ou numa Europa de Nações?
Na Europa e no mundo Portugal tem um caminho próprio, só nosso, a percorrer. Sejamos capazes de o descobrir, como o fomos em momentos altos da nossa História.
Num tempo em que se demonstra não haver forças mundiais inexpugnáveis, por muito poderosas que pareçam, que tem o nacionalismo contemporâneo para dar a Portugal e ao mundo?
Esperamos ansiosamente que aqui se comecem a delinear orientações válidas no campo da organização da sociedade portuguesa para o séc. XXI.
Que causas sociais são as nossas? Que tipo de sociedade queremos?
Numa sociedade dominada pelo medo da nossa própria identidade nacional, pela insegurança que se abate sobre a nossa sobrevivência, só nos resta começar por resistir e permanecer de pé. Mas, se isso é um começo adequado, por si só não basta. Precisamos de definir causas e rasgar caminho para dar forma e conteúdo a uma sociedade que queremos nossa em toda a linha.
Mas, como poderemos nós dar forma e conteúdo a uma Nação sem imagens que a tornem reconhecida, sem símbolos que a revelem?
Quais são as imagens e os símbolos de Portugal no séc. XXI?
Eis a grande tarefa de uma cultura nacionalista genuinamente portuguesa.
Temos que esclarecer. Temos que definir. Temos que escolher. Temos que trabalhar. Temos que lutar.
Este Congresso é um arranque, um começo.
Portugal precisa que estejamos unidos no essencial, superando eventuais divergências e desconfianças pessoais ou de grupo, que nos esterilizam se as colocamos acima dos interesses nacionais.
A Pátria e a Nação chamam por nós. Organizemo-nos. Unamo-nos no que é essencial. Aquilo que temos em comum é muito mais e melhor do que aquilo que nos separa. Só assim teremos força e poderemos estar presentes com eficácia nos mais variados campos da sociedade em que se joga a vida nacional. Só assim poderemos ganhar massa crítica, constituindo-nos uma força social e política inevitável e indispensável para moldar o Portugal do futuro, que queremos nosso.
Só assim poderemos estar à altura da História e ser penhor da prosperidade, da soberania e da independência nacionais, como, de resto, nos compete.
Viva Portugal!
Dr. Manuel Brás
Senhor Presidente do Congresso, senhores membros das Mesas, senhores interventores nas Conferências e Painéis, minhas senhoras e meus senhores, caros compatriotas:
É com grande júbilo que me dirijo a cada um dos presentes mediante esta exortação no início deste acontecimento inédito na nossa História. E faço-o para que fervilhe no íntimo de cada um de nós o português, o nacionalista, o patriota que somos.
É com estes sentimentos e disposições que olhamos para Portugal. Vamos reflectir, vamos debater, vamos estudar, vamos realizar.
Vamos lançar-nos à aventura, como muitas vezes aconteceu na nossa História ao longo de quase 900 anos, também, e especialmente, em momentos críticos, para dar um novo alento de vida a esta Pátria, nossa amada.
Porém, não nos iludamos: isto é só um começo. Temos muito trabalho pela frente. Mas temos de começar bem.
Numa atmosfera generalizada de dissolução nacional em que vegeta a sociedade portuguesa, para já não falar dos governantes, a nossa presença aqui significa quebrar um muro que nos asfixia o olhar e nos impõe uma mentalidade de cubículo. Significa coragem, frontalidade, vontade de vencer, e sobretudo, confiança numa ideia de Portugal.
Nós somos os nacionalistas da primeira hora do séc. XXI. Aqui estamos.
Talvez nos recordemos de tantos outros que também poderiam aqui estar, mas que ficaram em casa, por tibieza ou comodismo. Talvez esses sejam os da segunda hora. Mas não nos esqueçamos de que para haver os da segunda hora é preciso que antes estejam presentes os da primeira. Virão os da segunda hora, se nós, os da primeira, o merecermos.
Que esperamos nós deste Congresso? Que procuramos ao vir aqui? Em concreto, o que espera a minha geração do nacionalismo português?
Sem dúvida, uma ideia de Portugal. Para o presente e para o futuro.
Ancorados na tradição, com o pouco que, eventualmente, somos no presente, rumo ao futuro, mas a um futuro diferente da dissolução nacional que nos querem impôr. Mas se queremos moldar um futuro com Portugal e em Portugal, actuemos e preparemo-lo no presente. Não há lugar para mais lamentações inconsequentes.
O que é Portugal, hoje?
É este o nosso ponto de partida. É da nossa identidade que hoje e agora havemos de partir para o futuro.
Com veneração pelo passado e vontade de aprender com o que ele teve de digno na nossa História, mas com a consciência clara de que Portugal não é hoje o que foi há largas décadas.
Com uma visão inequivocamente profética, o maior poeta português do séc. XX anunciava que outros haveriam de ter o que houvéssemos de perder.
O corpo da Pátria foi desmembrado e reduzido, de tal forma que as nossas fronteiras actuais são as mesmas do início do séc. XV. Retrocedemos. Mas é este o nosso ponto de partida para o futuro.
Mas, como então, havemos de estar à altura para continuar Portugal, com as limitações que o presente nos impõe, mas ao mesmo tempo para além desses condicionalismos. Superá-los-emos se para isso tivermos vontade e determinação.
Caros amigos, não nos iludamos: este Congresso não é um encontro de saudosistas e nostálgicos de outros tempos, independentemente da idade que cada um tiver. Precisamos de juventude e a juventude é rigorosamente um estado de espírito.
Mas é precisamente do espírito da Nação que o Corpo da Pátria precisa. Espírito que cultivaram homens ilustres como D. Afonso Henriques, D. João I, D. Nuno Álvares Pereira, D. João IV e também aquele homem que foi o maior estadista português do séc. XX.
Mas permitam-me que pergunte: que espírito nacional é o nosso? O que é a Nação Portuguesa, hoje?
De uma coisa estamos absolutamente seguros: precisamos que o espírito da Nação anime o corpo da Pátria, por pequeno que este seja hoje.
Que ideia de Portugal vai sair deste Congresso?
Com a derrocada das ideologias dominantes do séc.XX não temos dúvidas de que a ideia nacional – o nacionalismo português – é a resposta ao vazio que paira sobre aquilo que resta da Pátria e da Nação e que só ele nos poderá conduzir a um futuro de prosperidade, soberania e independência, tão afastado do isolamento como desse abandono vende-pátrias que pulula por aí.
Que nacionalismo é o nosso?
Urge que sejamos capazes de o definir e de o tornar claro ao espírito dos portugueses.
Ao dar espírito ao corpo da Pátria, o nacionalismo assume vários matizes, pelos quais nos devemos bater: um nacionalismo tradicionalista do ponto de vista histórico-político, um nacionalismo cosmopolita do ponto de vista estético, um nacionalismo universalista do ponto de vista ético, um nacionalismo justicialista do ponto de vista social, um nacionalismo revolucionário do ponto de vista ontológico, um nacionalismo vanguardista do ponto de vista cultural.
Como se não bastasse o enfraquecimento da Pátria e da Nação, cerca-nos o mais funesto intento de dissolução nacional dos nossos dias: a famosa globalização. Também aqui o nacionalismo é a resposta adequada à nossa sobrevivência e afirmação como Povo e como Nação. E, por isso mesmo, o nacionalismo é a verdadeira garantia de respeito pelas outras nações. Os nacionalistas, porque prezam a sua Nação, compreendem e respeitam que os outros estimem as suas.
Como será o nacionalismo contemporâneo, o do séc. XXI?
Arrastados para um espaço económico, social e político, por decisão unilateral de uns quantos senhores, e privado que foi o Povo Português de se exprimir, não pretendo neste momento ajuizar do acerto da integração na União Europeia, nem sequer sobre vantagens ou inconvenientes que tal passo acarreta. O futuro o dirá, se é que o presente já não o diz. O que está em questão é a forma, à margem dos portugueses, como esse processo foi conduzido, em flagrante contraste com alguns outros países europeus. Poderemos nós confiar o futuro de Portugal a uma classe política que só se lembra de falar nos portugueses em vésperas de eleições? Poderemos nós confiar numa classe política que na hora da verdade, de tomar decisões mais transcendentes, ignora o nosso Povo?
Estamos na Europa. Na verdade, sempre estivémos. Mas soberanos e independentes. E já que fomos dispensados de nos pronunciarmos sobre a União Europeia, só nos resta agora intervir na defesa dos nossos interesses económicos, sociais e políticos e garantir a nossa soberania e independência.
Em que Europa queremos nós estar? Numa Europa federalista ou numa Europa de Nações?
Na Europa e no mundo Portugal tem um caminho próprio, só nosso, a percorrer. Sejamos capazes de o descobrir, como o fomos em momentos altos da nossa História.
Num tempo em que se demonstra não haver forças mundiais inexpugnáveis, por muito poderosas que pareçam, que tem o nacionalismo contemporâneo para dar a Portugal e ao mundo?
Esperamos ansiosamente que aqui se comecem a delinear orientações válidas no campo da organização da sociedade portuguesa para o séc. XXI.
Que causas sociais são as nossas? Que tipo de sociedade queremos?
Numa sociedade dominada pelo medo da nossa própria identidade nacional, pela insegurança que se abate sobre a nossa sobrevivência, só nos resta começar por resistir e permanecer de pé. Mas, se isso é um começo adequado, por si só não basta. Precisamos de definir causas e rasgar caminho para dar forma e conteúdo a uma sociedade que queremos nossa em toda a linha.
Mas, como poderemos nós dar forma e conteúdo a uma Nação sem imagens que a tornem reconhecida, sem símbolos que a revelem?
Quais são as imagens e os símbolos de Portugal no séc. XXI?
Eis a grande tarefa de uma cultura nacionalista genuinamente portuguesa.
Temos que esclarecer. Temos que definir. Temos que escolher. Temos que trabalhar. Temos que lutar.
Este Congresso é um arranque, um começo.
Portugal precisa que estejamos unidos no essencial, superando eventuais divergências e desconfianças pessoais ou de grupo, que nos esterilizam se as colocamos acima dos interesses nacionais.
A Pátria e a Nação chamam por nós. Organizemo-nos. Unamo-nos no que é essencial. Aquilo que temos em comum é muito mais e melhor do que aquilo que nos separa. Só assim teremos força e poderemos estar presentes com eficácia nos mais variados campos da sociedade em que se joga a vida nacional. Só assim poderemos ganhar massa crítica, constituindo-nos uma força social e política inevitável e indispensável para moldar o Portugal do futuro, que queremos nosso.
Só assim poderemos estar à altura da História e ser penhor da prosperidade, da soberania e da independência nacionais, como, de resto, nos compete.
Viva Portugal!
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