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2007/12/03

Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte VIII – N.º 08 – UM GRANDE ACERTO DA PROVIDÊNCIA 

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Por um grande acerto da Providência, a Portugal calhara, nesse segundo semestre do ano, ocupar a presidência da UE-União Europeia…

Mesmo sem a ajuda dos “gatos fedorentos”, houve situações de mais que suficiente humor.

Infelizmente, seria a última vez que a oportunidade de presidirmos nos seria dada, porque entretanto as regras para a eleição e rotatividade da presidência, no futuro, tinham sido já mudadas…

Nunca mais um Primeiro-Ministro nosso poderia voltar a gabar-se de, numa presidência de apenas seis meses, ter sido obrigado a dar quatro ou cinco vezes e tal a volta ao mundo, de avião. Para quê?... Para se mostrar aos presidentes de imensos países de toda a terra, ansiosos todos por conhecerem presidente tão efémero em tudo, menos na arte de engolir quilómetros e acertar o relógio mais de duas centenas de vezes, naqueles poucos dias de Presidente e não apenas na Europa, mas no Mundo inteiro.

Se o Camões tivesse podido prever tais feitos, como os Lusíadas teríamos saído ainda mito mais engrandecidos em glória e presunção, na Obra dele!

O “embaixador” da UL em Luanda, Celestino Maria (dos Anjos), e o agente “discreto” do governo de Luanda na UL, Jucelino Carvalho da Silva, não pensando de maneira alguma concorrer com os records quilométricos e para acertos de horas do Primeiro-Ministro, puseram-se juntos a caminho de Pretória, sem vestígios de infundadas suspeições do segundo e muito menos do primeiro.

Longe de imaginarem quem os esperaria no aeroporto, à partida para Pretória.

O próprio Primeiro-Ministro do governo de Luanda, acompanhado apenas pelo seu chefe de gabinete, que foi quem primeiro se lhes dirigiu para os conduzir à sala dos super-VIP, onde o PM os aguardava com visível nervosismo!

Queria ele – em poucas palavras – dissuadi-los da viagem a Pretória e das diligências para lançamento da UL – expressão textual do PM – “na capital do segregacionismo racista”, por antever que isso poria em risco a sua criação em Luanda, isto é, em Angola, como também no Maputo ou na Beira, porque já falara com o PM moçambicano.

Bem tentaram os dois companheiros convencê-lo do contrário… “Senhor Primeiro-Ministro, antes pelo contrário…” respondiam ambos à vez a cada um dos novos argumentos do PM, mas em vão.

A certa altura, o chefe de gabinete propôs-se, por prudência, ir mandar atrasar a partida do avião.

Dir-se-ia que o PM tinha com essa exibição do seu poder recebido um novo fôlego, logo se tornando a sua agitação ainda mais desenfreada.

Mas os dois companheiros não desistiam.

Acabavam por tornar-se evidentes a estratégia e obsessões do PM de Luanda.

O que aquilo era, a África do Sul, a seu ver, era o racismo feito figura de Estado, antes com os brancos por cima e os negros por baixo, mas agora com os brancos por baixo e os negros por cima.

Venha o Diabo e escolha! – gritavam os olhos do PM.

Racismo, fosse branco, fosse preto, não era solução para Angola! – berravam-lhe as mãos e a agitação incontida do seu corpo todo.

Mas mais…

“Aquilo não passava duma enorme ameaça imperialista! – sussurrava o homem para quem quisesse ouvi-lo – Imperialismo é tão mau o dos brancos como dos negros, meus Senhores! Não quereremos nunca ser governados pelo imperialismo negro de Pretória. Não rejeitámos imperialismo português para nos alapardarmos debaixo do imperialismo dos vátuas de Pretória!...”

“É isso mesmo, Senhor Primeiro-Ministro, é isso mesmo! Juramos-lhe que é isso que nos move! Com muitos negros e brancos a falarem português, os próprios vátuas terão de falar português também. O português será a língua comercial, cultural e do dia-a-dia de toda a África a sul do Equador! Não teremos um império negro, nem branco… Teremos só o império da língua lusitana, organizado e instalado por uma colossal rede de universidades portuguesas. É esse o sonho que vamos radicar também em Pretória, para completar a expansão maravilhosa da nossa língua!”

O PM explodiu numa grande gargalhada, mas não resistiu a desejar-lhes “Boa sorte, então!” E ele próprio os empurrou porta fora, porque os altifalantes tinham acabado de anunciar a partida imediata, dando aos passageiros apenas dez minutos para se apresentarem a bordo.

Mas foi dali que o PM angolano saiu com a teima de forçar os PM dos países lusófonos todos a referendarem o acordo ortográfico, pronto havia tanto tempo, mas ainda não assinado por alguns, por questões de lana caprina…

Iria abrir-lhes os olhos para perceberem que, também em matéria de línguas, o essencial era a política!

A.C.R.

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