2007/11/09
Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte VIII – N.º 01 – UM FACTOR PREVISTO: ÁFRICA
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Porquê África?
Como Lisboa, o Porto, Faro, Aveiro, Viseu, Vila Real, Braga, Castelo Branco, Beja ou Funchal…
Depois de esgotadas as possibilidades de crescer no Continente e nas Ilhas, restava África, a África de língua portuguesa, sobretudo Angola, antes de ensaiar o Brasil, que não deixava de ser uma hipótese, para um dia mais tarde, talvez.
Então como pôr o pé em África?
Aqui, como no Continente de começo, era preciso despertar o apetite das forças vivas locais.
O imbróglio principal era que aquilo estava tudo, ou quase tudo, dominado por governos de esquerda, a caírem para o marxismo puro e simples e o mais primário, de gente a quem tudo que não fosse esse marxismo, tudo parecia da direita mais reaccionária.
Sem uma profunda revolução naquelas cabeças seria inútil tentar fosse o que fosse, quanto à implantação da UL em Angola ou Moçambique?
Ainda pensou também em Macau, onde podia admitir-se que os chineses estivessem interessados numa Universidade em português, ali perto dos grandes centros da China, que lhes preparasse quadros para o acesso ao importante mercado luso-brasileiro-africano, de língua oficial portuguesa.
Mas decidiu deixar isso para mais tarde….
Para já havia coisas mais importantes, Angola e depois Moçambique, cada coisa de sua vez, não viessem a ser engolidos pelos demónios que suscitassem precipitadamente.
Mas onde encontrar os pontos de apoio motivados para a acção, suficientemente audaciosos e inspirados para que o marxismo os não inibisse?
E como interessá-los?
Como fazê-los acreditar na iniciativa privada, sobretudo na área do ensino, que os marxistas tinham por domínio reservado da iniciativa estatal, por natureza?
Era melhor desistir, chegava Rufino à conclusão, aparentemente de todo desanimado.
Na conferência de Imprensa apareceu um jornalista do diário do PCP, publicado em Lisboa.
O jornalista perseguiu Rufino constantemente durante todo o encontro, porque queria saber como ia a UL pôr o pé em África, se tudo lá lhe era hostil.
Mas Rufino, a certa altura, julgou perceber que nada havia de hostil na teima do jornalista, pareceu-lhe até que o homem queria era ajudar a UL a encontrar um caminho seguro, para não se perder nas contingências locais.
Rufino não conseguia perceber nem descobrir como, mas pensou que havia ali um aliado potencial.
“A questão – explicou o jornalista – digo-o aqui só entre nós dois, não está senão nisto... Que pode o partido ganhar, em troca dum apoio eficaz ao vosso projecto… para criardes um pólo da UL, por exemplo em Luanda?... Porque o resto irá atrás”
Por algum tempo Rufino ficou paralisado de espanto.
Verdade, verdade… não achava de súbito como avançar, de tal modo lhe parecia surpreendente o gesto de mão estendida do jornalista. Afinal, pensou Rufino, havia muito que aprender sobre os comunistas… E se fossem de reacções como as de toda a gente interesseira ou interessada?... Não, não podia ser isso… Tinha de haver outra coisa qualquer por trás daquela disponibilidade… O jornalista não podia ser um irresponsável. Ele, Rufino, ia precisar de algum tempo para descobrir o quê e quem era verdadeiramente o jornalista.
E não lho escondeu.
“Ouça, meu caro – disse dirigindo-se ao jornalista -. Vou precisar de um tempo para pensar, mas dentro de uns dias, daqui a uma semana, no máximo, quero voltar a conversar consigo mas num sítio mais reservado, onde possamos estar à vontade. Dê-me o seu telefone particular para poder…”
Alguém veio interrompê-los porque a conferência ia recomeçar e já muitos estranhavam a demora de ambos.
Rufino passou o resto do dia a espiar o jornalista, tentando descobrir alguma anomalia de comportamento ou no que dizia, que pudesse denunciar uma pista qualquer, coerente ou incoerente com o que ele lhe adiantara.
Mas nada.
De modo que Rufino não acharia outra saída senão contar tudo ao seu adjunto para a Imprensa, sob total reserva, isto é daquilo que se passara com o jornalista do Diário. Combinaram decidir juntos a estratégia a seguir, para explorarem a porta por ele aberta. Porque, seria quase a única certeza, era claro para ambos tratar-se duma porta, que não iriam deixar que lhes fechassem na cara.
A.C.R.
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