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2007/11/05

Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte VII – N.º 19 – “PRIMEIRO MINISTRO DUM REI ABSOLUTO” 

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Nestas pinceladas duma biografia da infância e adolescência/juventude, da autoria de Rufino, que vimos publicando, o Autor corria o risco duma gaffe/lacuna importante que felizmente o próprio Salazar não cometeu.

Foi ele, de facto, que deixou escrito o seguinte, em “A Minha Resposta” às acusações de, com outros três professores da Universidade de Coimbra, ter aproveitado a implantação da Monarquia do Norte (1919), para actuar contra o regime republicano vigente.

“Pobre, filho de pobres, devo àquela casa (o seminário de Viseu) grande parte da minha educação que de outra forma não faria; e ainda que houvesse perdido a fé em que me lá educaram, não esqueceria nunca aqueles bons padres que me sustentaram quase gratuitamente, durante tantos anos, e a quem devo, além do mais, a minha formação e disciplina intelectual.”

Uma prosa e peras, hem!, a anunciar já a arte de se confessar em grande estilo e o coração nas mãos, que atingiria o seu apogeu daí em diante, uns vinte e trinta ou quarenta anos mais tarde

Como um grande Senhor que era!

O verdadeiro, indiscutível clássico moderno das Letras Portuguesas.

Rufino tinha como seguro que nenhum escritor português do séc. XX aproveitara mais dos clássicos do que Salazar.

Dos “clássicos” do séc. XIX e fins do séc. XVIII.

De António Vieira e os cronistas; não de Camilo, Garrett ou Eça, portanto, demasiado terra-a-terra, leigos, ligeiros, superficiais e simplistas ou simplificadores, para poderem inspirar-lhe a expressão, falada ou escrita.

E, no entanto, Rufino achava-lhe a prosa extremamente expressiva, imaginosa, actual, que modelava tudo em que tocava com aparência de eternidade.

A arte de seduzir o leitor ou o ouvinte, em toda a sua plenitude; a arte de acertar-lhe em cheio, a arte de conquistá-lo, tomar conta dele, antes de o leitor ou o ouvinte dar por isso; “pode falar-se, explicava Rufino, da suprema arte de anestesiar, paralisar os destinatários da sua prosa”, toldando-lhes as resistências, sempre com a maior elegância e em nome da razão, da verdade e do bom senso.

“Devo à Providência a graça de ser pobre…

Lembram-se?

Quem não conhece?

Foi na abertura da campanha eleitoral para a última reeleição do já então Marechal Carmona como Presidente da República, em 1949, numa intervenção a que Salazar deu o título de “O Meu Depoimento”, com que está publicada nas edições dos seus “Discursos”.

Com uma arte consumada e “o coração nas mãos”, Salazar entrega-se aos portugueses e portuguesas com uma abertura, uma sinceridade, uma transparência e uma humildade tais que – diria Rufino – não houve mulher portuguesa, mesmo sem saber fosse o que fosse de política e razões de Estado, que não tivesse deixado cair a sua lágrima irresistível.

“Mesmo do contra e reviralho”, assegurava Rufino também.

Era uma crença antiga de Rufino que o salazarismo era sustentado sobretudo pelo sentimentalismo salazarista das mulheres portuguesas, de todas as idades e todas as classes e origens.

Donde vinha esse entusiasmo romântico das mulheres por Salazar, Rufino explicava-o confusamente e sem nenhuma preocupação de acertar ou não, porque, dizia ele, “é um facto evidente e verificável facilmente por quem quer que não seja cego e surdo”.

“Qualquer um de nós, acrescentava Rufino por vezes, tem em casa uma mãe e uma irmã, ou ambas, mais ou menos evidentemente apaixonadas por Salazar! É incompreensível, não é?... Sobretudo atendendo à ideia generalizada de que ele não é dado a romances, porque tem um verdadeiro romance, o romance único com a Nação!... Será essa entrega absoluta a um só amor que fascina e convence as mulheres?... Mas as mulheres, bem conhecedoras da facilidade do português em geral para a poligamia e a infidelidade conjugal, teriam assim tão facilmente sido convencidas do contrário, relativamente a Salazar?...”

E Rufino só encontrava uma saída.

“Foram as entrevistas do António Ferro, em 1933… Lá estão as sementes originais de todos os mitos que rodearam Salazar até hoje, muito depois da sua morte!”

Da plateia, um jornalista saiu-se com esta.

“Mas olhe que eu já as li várias vezes e não encontrei lá nada a esse respeito…”

“Então leia mais vezes… Tantas quantas for preciso! E acabará por encontrar, garanto-lhe.”



“São a construção perfeita do estadista e da sua obra! Não falta lá nada!”

“Todos os entendidos o dizem!”

E com esta deu Rufino por encerrada a conferência de Imprensa, na UL, em que isto se passava.

Conclusão também do autor destas Memórias das minhas Aldeias: Acaba aqui a nova biografia de Salazar. Não é precisa. Tudo o que pudéssemos acrescentar já está no António Ferro! Se não leram, vão lê-lo!

Que Rufino nos perdoe.

A.C.R.

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