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2007/10/31

Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte VII – N.º 17 – “PRIMEIRO MINISTRO DUM REI ABSOLUTO” 

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Estado, Igreja, Família…

Salazar sentia dever-lhes tudo, como entidades que o criaram, educaram, desenvolveram e abasteceram das mais preciosas armas da vontade e do espírito.

Se não fosse assim, como é que num meio tão acanhado como o de Santa Comba Dão/ Vimieiro poderia ter-se formado personalidade tão vigorosa, completa e requintada como a de António de Oliveira Salazar?

É que, para uma grande inteligência como a dele, com extraordinário poder de observação e enorme queda para a reflexão, as mais pequenas coisas e novidades ou as mais insignificantes experiências são motivos suficientes para despoletar as mais fecundas conclusões e descobertas.

Rufino acreditava que foi principalmente a inteligência que salvou Salazar da pequenez do meio – mais que a ambição de sucesso, de poder ou de riqueza.

A inteligência e os três grandes bordões citados – Estado, Igreja e Família – em que desde muito cedo se apoiou ou o apoiaram, e que jamais renegou, depreciou ou desmereceu.

Um dito dele que tem sido referido ou invocado por pessoas diversas, que lho ouviram e que ficou célebre, considerava-o Rufino o fecho ou coroação certos e eloquentes do projecto político de Salazar, como aqui fica evocado, na versão de Rufino.

Rufino ouviu-o da boca daquele que foi, durante certo período de máximo relevo da vida de ambos, o mais importante, assíduo e fiável interlocutor de Salazar, o futuro Cardeal D. Manuel Gonçalves Cerejeira.

Supõe-se que tenha sido numa altura em que Salazar já se traçara o seu próprio destino e em que já aceitaria, talvez apenas com um encolher de ombros, que na sua roda se falasse disso como coisa natural e perfeitamente viável e previsível, do entendimento corrente ou que viria a ser corrente.

Ou seja, ser… vir a ser…

… “Primeiro Ministro dum Rei Absoluto”!

Teria feito sem dúvida os seus trinta anos, porventura os trinta e cinco, possivelmente depois até da chamada em vão de 1926, logo depois do 28 de Maio, para fazer parte dum governo que não chegou a concretizar-se… Porque já tinha visto em 1922, como deputado eleito pelo Centro Católico, a balbúrdia do Parlamento a que não resistiu senão dois dias, também agora, em 1926, foi ele que tomou a iniciativa de fugir a correr para Coimbra, no primeiro comboio que se lhe proporcionou, desistindo de ocupar o Ministério das Finanças, que lhe fora proposto, porque em menos de um mês percebeu que não se entenderia com as companhias que ia ter e que ele não havia escolhido…

Depois, levou ainda dois anos até se tornar Ministro para sempre. Rufino dizia, com piada, que essa demora de dois anos, para voltar a ser Ministro das Finanças, não foi por Salazar não querer voltar, mas… por não lhe aparecer o tal Rei Absoluto.

Até que o Rei Absoluto se lhe terá revelado…

“Foi o General António Óscar de Fragoso Carmona”, contava Rufino com pormenores não confirmados, mas que ele dava como certos, mesmo quando sorria de gozo incontido debitando os tais pormenores que nunca ninguém, de facto, desmentiu também.

Rufino acreditava que o papel de Rei Absoluto, no General Carmona, era inteiramente merecido e que ele próprio, Carmona, sempre terá achado que o papel lhe assentava como uma luva.

Até talvez melhor ainda.

Que o doutor Salazar era de facto o Primeiro Ministro ideal dum Rei Absoluto… do Rei Absoluto que o seu Primeiro Ministro fez efectivamente dele, Carmona, para uso próprio!...

“Parece – acrescentava Rufino, não sei se por blague, que a primeira pessoa a quem Salazar contou essa do Primeiro Ministro dum Rei Absoluto, foi mesmo o próprio General Carmona, que se terá fartado de rir.”

“Mas, ó Senhor Primeiro Ministro! – teria retorquido o Presidente Carmona prontamente – Se nunca fui monárquico nem serei, como posso ser rei, Absoluto ou não?...”

E terá voltado a deitar as mãos à barriga, para gargalhar à vontade da sua própria piada, com mais vontade ainda que da piada do seu Primeiro Ministro.

Rufino queria acreditar que, com efeito, o Presidente rira muito, mas por ter pensado, naquele instante, nas caras que fariam, se calhasse ouvirem, os seus confrades e camaradas da Maçonaria, anti-monárquicos folgazões e sem freio.

Começava a estar em voga menosprezar a maçonaria, troçando dela, reduzindo-a a objecto risível, até os próprios, para provarem que não eram menos interessantes e de brincadeiras que os outros.

Rufino não era desses.

Não via ou pressentia a Maçonaria por todo o lado, como alguns, mas temia-a mais que nunca.

A.C.R.

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