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2007/10/17

Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte VII – nº 12 – “INVASÃO” DO CAPITAL ESPANHOL 

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Os resultados da subscrição e realização do capital da nova sociedade traduziram-se na multiplicação do número de sócios por dez, relativamente à cooperativa, e na multiplicação da tesouraria associada ao capital por mais de cem imediatamente realizada.

Mas Rufino não autorizou se promovesse um jantar comemorativo, proclamando alto e bom som que o dinheiro dos accionistas não era para ser gasto em jantares de festa, como lhe era pedido pelos colaboradores, mas para ser de pronto investido na expansão da UL.

“Meu dito meu feito.”

Esse dia mesmo, ele e os membros principais do grupo de trabalho nomeado por si, uma semana antes, para estudarem e proporem as cinco ou seis cidades onde instalar os novos pólos da UL, saíram numa volta por aí, a sondar apoios locais para o efeito, em Faro, Beja, Aveiro ou Viseu, Braga e Vila Real.

Sem prevenir, visitaram antes de mais, os governadores civis e os presidentes dos municípios, além doutros influentes de circunstância, durante os doze dias que durou a tournée praticamente triunfal.

De toda a parte saíram com promessas firmes de cedência de instalações gratuitamente, onde arrancar com a UL local.

Os jornais locais dariam eco amplo e entusiástico às iniciativas, em todos os casos.

A primeira coisa que o secretário-geral fez à chegada a Lisboa foi abrir a correspondência que lhe era pessoalmente dirigida e, entre ela, antes de mais, uma carta de remetente desconhecido, mas vinda de Espanha.

Era simplesmente surpreendente.

Um grande investidor espanhol, como ele próprio se classificava, propunha-se investir em Portugal, associado aos portugueses, para um grande projecto de desenvolvimento da UL!

Sugeria-lhe ele que se encontrassem em Lisboa, três dias depois, no hotel donde lhe telefonaria, uma vez chegado, para conversarem desenvolvidamente.

Sem perder um instante, Rufino pegou no seu telefone privativo e telefonou à procura do espanhol, que foi ele a atender em pessoa, sem manifestar a mínima surpresa, mas evidentemente agradado com a prontidão da resposta do português.

Depois Rufino apressou-se a convocar uma reunião do conselho de administração para essa noite, com a participação também dos membros todos do conselho fiscal.

Rufino quis jantar sozinho antes.

Queria aproveitar a solidão para pensar maduramente na proposta surpreendente de Madrid, mas só uma coisa segura conseguiu decidir: que não falaria do assunto essa noite no Conselho nem a mais ninguém, até ver.

Quanto à conversa de daí a três dias com o espanhol, pensou - provisoriamente embora – que era cedo para transacções, visto como, considerava isto seguro, a UL estava já em vésperas de grandes desenvolvimentos que iriam valorizá-la enormemente e tornariam dispensável o recurso ao capital espanhol, que já começava então a “invadir” Portugal com muita gana, em provas de expansionismo que anunciavam, para alguns mais atentos, o que aconteceria quando ambos os Países aderissem à União Europeia, poucos anos depois.

Como se, naqueles instantes, nada mais o preocupasse, Rufino dirigiu a reunião do Conselho em lugar do presidente e a seu pedido, porque este só pôde comparecer mais de hora e meia depois da hora do início.

E o presidente sabia e respeitava a obsessão da pontualidade do seu secretário-geral, que não perdoava nem permitia qualquer atraso superior a três minutos!

Quando o presidente efectivamente chegou, quase duas horas depois, o secretário-geral pô-lo rigorosamente ao par das decisões tomadas, fazendo questão de vincar bem que não podiam ser alteradas, até por haverem sido tomadas todas por unanimidade.

Encavacado, o presidente, ainda de pé, explicou-se humildemente do seu atraso, com a desculpa de a reunião haver sido convocada em cima da hora e ele ter marcadas para aquela noite duas reuniões de empresas suas, tendo sido obrigado, mesmo assim, para estar ali, a faltar à última delas.

“E porque não faltou também à primeira?” – retorquiu-lhe Rufino com inédita sobranceria.

Com rispidez, deu logo a sessão por encerrada, dizendo ao secretário dela que queria a acta pronta no dia seguinte, para ser apresentada ao presidente e por ele imediatamente assinada.

A.C.R.

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