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2007/10/15

Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte VII – nº 11 – DE PRESSA… QUE NÃO TEMOS VAGAR 

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Podia ser esse o lema de Rufino e sua equipa.

A apoiar e corroborar o outro lema, o da “UL… UM PROJECTO NACIONAL”.

Para começar… pareceu-lhe…

Já tinha feito as suas sondagens, nos meios do Ministério da Educação e entre os próprios associados da cooperativa titular do estabelecimento Universidade Livre.

E era comum a análise concluir em dois pontos, com poucas divergências.

Primeiro. Apesar da larga margem de cobertura das despesas pelas receitas das propinas, o saldo de tesouraria da UL era pequeno para as grandes ambições de investimento a que o desenvolvimento sonhado da UL obrigaria.

Segundo. Era preciso mais dinheiro, portanto. Porque não alargar o leque dos associados? Mas para interessá-los não seria possível, à escala desejada, com um pacto social de cooperativa, que não estimulava o investimento, porque o direito de voto era igual para todos os associados, qualquer que fosse a participação de cada um no capital social. Isto é, havia que transformar a cooperativa em sociedade anónima.

Foi fácil convencer os mais reticentes dos associados da primeira hora, garantindo-lhes alguns privilégios, sobretudo honoríficos, como “sócios fundadores”.

Mas o argumento decisivo foi este: para subscrever o capital alargado da sociedade anónima, com que todos concordaram, os novos sócios teriam de pagar o dobro do valor nominal de cada acção, ao passo que os sócios fundadores as pagariam apenas pelo valor simples delas, o valor nominal.

Não obstante isso, foi uma verdadeira corrida à subscrição do capital da nova sociedade anónima.

As acções subscritas e pagas acima do par não assustaram nem indignaram ninguém.

A publicidade à UL, e sobretudo a propaganda graciosa feita pela Comunicação Social simpatizante, pareciam explicar, só por si, o sucesso.

Mas talvez não tivesse bastado se… Se Rufino e os seus “ultras” (assim começavam a ser conhecidos os seus mais fiéis, isto é, quase todos), se efectivamente não tivessem imaginado um plano mirabolante de novas realizações a partir da UL, plano que aliás em menos de cinco anos seria amplamente concretizado.

O País parecia entusiasmado, até como que ansioso por entregar-se a uma espécie de “revolução” de direita e à direita.

Depois do susto pregado pela esquerda – chegou a dizer-se – o País respirava de alívio, com esta inesperada e profunda mobilização à direita e entregava-se a ela entusiasticamente.

Parece excessivo?

Só quem viveu a experiência e a compreendeu pode avaliar a verdade do que aí fica, embora na própria altura isso fosse já o juízo expresso pelas sensibilidades e discernimento dalguns mais lúcidos que o comum.

Cada vez mais, desde então, e por um número rapidamente crescente, seria entendido que a UL fora o golpe definitivo no PREC-Processo Revolucionário em Curso a partir de 25 de Abril de 1974.

Estava de facto criado o clima necessário para outras reformas contra-revolucionárias que finalmente abririam o País completamente à direita, como viriam algum dia a compreender tantas cabeças, muito e pouco dotadas.

Dir-se-ia que o sucesso da UL fez compreender a muitos “estadistas” e futuros “estadistas” qual era a verdadeira natureza do País, o seu sentir mais profundo, até a sua capacidade de reacção contra-revolucionária absolutamente imprevista e talvez mesmo imprevisível, mas evidentemente lógica, se pensarmos bem.

Por isso a UL foi tão bem vista no País, da direita à esquerda. Com excepção evidentemente dos comunistas que continuavam a ver nela, não o factor saudável de recuperação nacional que os demais viam, mas a encarnação de todos os demónios possíveis e impossíveis de direita e extrema-direita, visíveis a olho nu, segundo os marxistas de obediência soviética, os menos e os mais retintos.

O caso impressionava sempre Rufino e a sua gente, talvez incapazes de compreender e aceitar essa única mancha colada pelos “comunas” ao extraordinário percurso da “sua” UL.

Realmente, a UL – pensavam Rufino e os seus homens – só fora possível porque o País se revelara totalmente outro do que aquilo que os comunistas imaginavam dele.

Como não viam isso os marxistas e seus adeptos ou simpatizantes?

Seria preciso convertê-los às realidades que os portugueses em geral tão fácil e rapidamente haviam descoberto e assimilado?

Mas como, se era tão persistente a cegueira dos "comunas"?

A.C.R.

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