2007/10/12
Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte VII – nº 10 – OS TRUQUES DO IMPÉRIO
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Rufino fazia questão de boas bibliotecas – mesmo que os alunos não lessem, que era o mais corrente – fosse no estabelecimento central, fosse nos pólos ou nos núcleos locais mais pequenos da UL.
O mesmo quanto a laboratórios, onde – anunciava a publicidade – tudo era “inovador”, absolutamente inovador.
Mas o governo tinha entretanto mudado e não se sabia o que pensava, embora todos acreditassem que, por coerência com o seu posicionamento político, em geral, e por questão de princípios, não deveria hostilizar de modo nenhum as iniciativas da sociedade civil.
Havia que enfrentá-lo com as exigências mais avançadas e audazes.
Não “os” deixar pensar duas vezes… Aproveitar-lhes os repentes…
De resto, a UL vinha a comprovar a sua importância, mesmo para a retoma das Universidades públicas: estavam visivelmente a entrar nos eixos e todos os observadores ligavam a acalmia delas e dos seus piores protagonistas ao aparecimento e desenvolvimento da UL.
Com suprema arte de abordagem dos políticos, como se nunca tivesse feito outra coisa, Rufino pôs a sua equipa mais próxima a trabalhar em força junto do novo ministro da Educação, que em dois ou três dias lhe concedeu uma audiência que habitualmente não levava a obter-se menos de um mês.
Mas Rufino tinha conseguido impor a sua noção de urgência.
E o facto é que, depois da audiência, não demorou mais de oito dias que o Diário da República publicasse aquilo a que se chamou, na falta de legislação para o ensino universitário privado, o “despacho de autorização provisória de funcionamento” da Universidade Livre, subscrito pelo Secretário de Estado da educação por delegação do Ministro.
O sucesso da UL era tal e tão perfeitamente badalado que nenhum governante ousaria levantar-lhe o mínimo embaraço!
O despacho foi lido a todas as turmas, em voz alta, pelo próprio secretário geral, que logo a seguir comentou em termos entusiásticos a importância do “reconhecimento” governamental da Universidade Livre e o “formidável” triunfo para a UL e para os alunos e suas famílias, que o diploma representava.
Foi para Rufino, até aquela altura, o mais prodigioso reconhecimento do seu êxito, ver-se entusiasticamente aplaudido e levantado em ombros pela multidão de alunos e alunas que o aguardavam à saída da UL, ao fim do dia!
Prevenidos a tempo, os repórteres dos jornais, rádios, canais televisivos amigos ou simpatizantes acorreram para assistir à “espontânea” homenagem.
Vários grandes órgãos da Comunicação Social ainda essa noite ou no dia seguinte fizeram espectacular eco à hora de glória de Rufino e seu grupo colaborador de jovens prodígios, deixando quase na sombra o membro do governo signatário do diploma “libertador”.
Rufino teve uma fúria.
Reunido com a equipa, encontrou uma saída.
Ele próprio redigiu os telegramas que foi decidido remeter nesse instante mesmo ao Primeiro-Ministro, aos Ministros da Educação e da Cultura e aos seus Secretários de Estado.
Os telegramas não retiravam nada ao acontecido, mas punham em relevo o essencial das manifestações “dos alunos em peso”.
UL, os seus criadores e Gestores, Professores e Alunos reunidos, no Porto e Lisboa, em toda a sua força, segundo os telegramas, tinham simplesmente querido manifestar ao governo do País o seu “imorredoiro” agradecimento pela publicação do Diploma que reconhecia a plenitude da existência e funcionamento da Universidade Livre, libertando “para sempre os Alunos e suas Famílias” de todas as incertezas sobre o seu futuro.
Subscritos pelo secretário-geral Rufino e pelo Reitor, todos os telegramas terminavam igualmente.
“Viva o Diploma Libertador!”
Tinha o sonho tomado completamente conta de todos.
Mas, mais radical e importante, ainda, era que o sonho continuava a tomar conta de muitos outros, os que o divulgariam, lhe dariam maior base de sustentação, o transformariam num verdadeiro sonho nacional.
Era isso! – descobria Rufino, com todos os seus companheiros do ideal sonhado.
Dia a dia Rufino e os companheiros foram sentindo a UL transformar-se, de projecto de alguns, num projecto nacional, verdadeiramente nacional.
Sem saberem como, esse passou a ser, em certa altura, como que um dos slogans da UL.
Os comunistas acharam que era demais.
Resolveram descobrir que o que aquilo era, na verdade… era um projecto nacionalista.
Rufino temeu a politização malévola da UL.
O mesmo quanto a laboratórios, onde – anunciava a publicidade – tudo era “inovador”, absolutamente inovador.
Mas o governo tinha entretanto mudado e não se sabia o que pensava, embora todos acreditassem que, por coerência com o seu posicionamento político, em geral, e por questão de princípios, não deveria hostilizar de modo nenhum as iniciativas da sociedade civil.
Havia que enfrentá-lo com as exigências mais avançadas e audazes.
Não “os” deixar pensar duas vezes… Aproveitar-lhes os repentes…
De resto, a UL vinha a comprovar a sua importância, mesmo para a retoma das Universidades públicas: estavam visivelmente a entrar nos eixos e todos os observadores ligavam a acalmia delas e dos seus piores protagonistas ao aparecimento e desenvolvimento da UL.
Com suprema arte de abordagem dos políticos, como se nunca tivesse feito outra coisa, Rufino pôs a sua equipa mais próxima a trabalhar em força junto do novo ministro da Educação, que em dois ou três dias lhe concedeu uma audiência que habitualmente não levava a obter-se menos de um mês.
Mas Rufino tinha conseguido impor a sua noção de urgência.
E o facto é que, depois da audiência, não demorou mais de oito dias que o Diário da República publicasse aquilo a que se chamou, na falta de legislação para o ensino universitário privado, o “despacho de autorização provisória de funcionamento” da Universidade Livre, subscrito pelo Secretário de Estado da educação por delegação do Ministro.
O sucesso da UL era tal e tão perfeitamente badalado que nenhum governante ousaria levantar-lhe o mínimo embaraço!
O despacho foi lido a todas as turmas, em voz alta, pelo próprio secretário geral, que logo a seguir comentou em termos entusiásticos a importância do “reconhecimento” governamental da Universidade Livre e o “formidável” triunfo para a UL e para os alunos e suas famílias, que o diploma representava.
Foi para Rufino, até aquela altura, o mais prodigioso reconhecimento do seu êxito, ver-se entusiasticamente aplaudido e levantado em ombros pela multidão de alunos e alunas que o aguardavam à saída da UL, ao fim do dia!
Prevenidos a tempo, os repórteres dos jornais, rádios, canais televisivos amigos ou simpatizantes acorreram para assistir à “espontânea” homenagem.
Vários grandes órgãos da Comunicação Social ainda essa noite ou no dia seguinte fizeram espectacular eco à hora de glória de Rufino e seu grupo colaborador de jovens prodígios, deixando quase na sombra o membro do governo signatário do diploma “libertador”.
Rufino teve uma fúria.
Reunido com a equipa, encontrou uma saída.
Ele próprio redigiu os telegramas que foi decidido remeter nesse instante mesmo ao Primeiro-Ministro, aos Ministros da Educação e da Cultura e aos seus Secretários de Estado.
Os telegramas não retiravam nada ao acontecido, mas punham em relevo o essencial das manifestações “dos alunos em peso”.
UL, os seus criadores e Gestores, Professores e Alunos reunidos, no Porto e Lisboa, em toda a sua força, segundo os telegramas, tinham simplesmente querido manifestar ao governo do País o seu “imorredoiro” agradecimento pela publicação do Diploma que reconhecia a plenitude da existência e funcionamento da Universidade Livre, libertando “para sempre os Alunos e suas Famílias” de todas as incertezas sobre o seu futuro.
Subscritos pelo secretário-geral Rufino e pelo Reitor, todos os telegramas terminavam igualmente.
“Viva o Diploma Libertador!”
Tinha o sonho tomado completamente conta de todos.
Mas, mais radical e importante, ainda, era que o sonho continuava a tomar conta de muitos outros, os que o divulgariam, lhe dariam maior base de sustentação, o transformariam num verdadeiro sonho nacional.
Era isso! – descobria Rufino, com todos os seus companheiros do ideal sonhado.
Dia a dia Rufino e os companheiros foram sentindo a UL transformar-se, de projecto de alguns, num projecto nacional, verdadeiramente nacional.
Sem saberem como, esse passou a ser, em certa altura, como que um dos slogans da UL.
Os comunistas acharam que era demais.
Resolveram descobrir que o que aquilo era, na verdade… era um projecto nacionalista.
Rufino temeu a politização malévola da UL.
Pensou que só a salvaria se a fizesse crescer ainda mais de pressa.
A.C.R.
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