2007/10/03
Si non è vero…
Estamos num tempo em que abundam vocábulos e expressões ambíguas, que as pessoas vulgarmente utilizam, mas cujo significado pode ser muito variado, ou mesmo contraditório. Estou-me a lembrar do elenco dos “direitos”, que dão para tudo e para o seu contrário.
O clima, sobretudo desde que os políticos aí descobriram um filão, de há 15 anos a esta parte, talvez na falta de melhores causas, ou até para esquecer outras causas, entretanto, perdidas, passou também a ser matéria alvo de ambiguidades, de confusões, de meras hipóteses catapultadas em dogmas inquestionáveis. Basta olhar para a imprensa.
Assim, há duas expressões recentemente consagradas: “alterações climáticas” e “aquecimento global”, obviamente, por causas antropogénicas.
Sucede que o clima nunca foi fixo, sempre foi variável. Por outro lado, há vários climas e não um só clima. O termo “alterações” é ambíguo no sentido em que alter significa outro, o que sugere (pelo menos em português e não parece que a tradução tenha sido assim feita por acaso…) a mudança para outro clima, alegadamente cheio de catástrofes... É por isso que prefiro utilizar o termo “variações climáticas”, por ser mais rigoroso e objectivo.
Essas variações climáticas seriam causadas por um aquecimento dito “global”, devido a causas antropogénicas (actividades humanas, especialmente a emissão de gases com efeito de estufa devido à queima de combustíveis fósseis, à indústria e agro-pecuária). Esse aquecimento seria responsável pelo derretimento de gelos polares, pela subida do nível das águas, pelo aumento e frequência de fenómenos extremos como furacões, inundações, secas e ondas de calor, pela extinção de milhões de espécies, pela propagação de inúmeras doenças… É a este cenário que, em sentido lato, chamam “aquecimento global”. Como se a subida média da temperatura à superfície, durante o séc. XX, conduzisse indubitavelmente, daqui a algumas dezenas de anos, às catástrofes anunciadas.
Aqui impõem-se algumas perguntas:
1. Como é esse aquecimento?
2. Como se sabe que essas catástrofes vão mesmo ser frequentes daqui a uns anos (10 ou 15, dizem alguns)?
3. Quanto vale, realmente, a contribuição das actividades humanas para essas variações climáticas?
4. Como se explicam essas variações climáticas?
1. Se olharmos para os registos do séc. XX verificamos que a temperatura média à superfície aumentou 0,6-0,7ºC, o que se traduz por um aquecimento. O que sucede é que os valores médios não dizem o que se passou em cada local. Assim, a temperatura, nos locais em que aumentou, não aumentou o mesmo nem ao mesmo ritmo, tendo havido locais em que diminuiu, como aconteceu com a película de gelo da Antártida entre 1982 e 2004 (dados da NASA). De resto, o aumento médio no Hemisfério Norte foi superior ao do Hemisfério Sul.
Aventa-se que esse aquecimento é “sem precedentes”. Será mesmo? No séc. XX houve três ciclos de variação de temperatura – muito bem retratados nas capas da “TIME”: de 1910 a 1945, de aquecimento; de 1945 a 1975, de arrefecimento; de 1976 até aos últimos anos, de aquecimento. Vamos ver o que nos reservam os próximos 5-10 anos, pois serão elucidativos para saber se continua uma certa regularidade nos padrões de variação de temperatura ou não.
A este respeito existem registos de épocas anteriores quentes, como na Idade Média (Medieval Warm Period, séc. IX-X), em que se cultivou a vinha na Inglaterra, coisa que hoje não acontece, o Roman Warm Period (séc. II-III a.C.) ou o Minoan Warm Period (séc. XIV a.C.). Isto é, o aquecimento verificado durante o séc. XX enquadra-se dentro de ciclos de aquecimento e arrefecimento que têm durado cerca de 1200 anos, de há 5000 anos para cá. Não admira, pois, que no séc. XX a temperatura média tenha subido, pois que foi precedido pela Little Ice Age, que teve o seu “epicentro” no séc. XVII. Não basta, pois, falar indiscriminadamente em aquecimento, sem o caracterizar, pois ele é explicável dentro da variabilidade natural dos climas.
2. As previsões catastróficas com que o mundo ocidental é bombardeado todos os dias têm origem, principalmente, no IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), um órgão que funciona sob a égide da ONU, meio político, meio científico, que elabora relatórios periodicamente – os últimos foram publicados em 2007 sob a forma de “Summary for Policymakers”, o que, neste caso, significa que a redacção é da responsabilidade dos políticos do órgão, enquanto se aguarda pela publicação do relatório científico na íntegra.
Este órgão faz as suas previsões baseado em modelos computacionais, cujo resultado (previsão) depende dos cenários e dos dados que são introduzidos. Daí que alguns estudiosos contestem o rigor (ou a falta dele) e a metodologia de tais previsões, alegando que a ciência da modelização climática ainda tem que “comer muito pão”, enquanto outros questionam o “consenso” que se diz existir sobre a certeza do peso das actividades humanas nas variações climáticas, esquecendo que o consenso é uma categoria política e não científica. Em ciência não faz sentido o consenso, porque esta é demonstrativa, baseia-se na evidência experimental.
A dificuldade da demonstração da ciência climática está em que o clima é uma realidade extremamente complexa de estudar na medida em que depende de muitos factores: evidentemente, da composição gasosa da atmosfera, mas também depende da actividade solar, da maior ou menor incidência de raios cósmicos, da dinâmica das massas de ar entre regiões polares e temperadas, da frequência de anticiclones e depressões, eventualmente, de desvios da trajectória terrestre.
Assim, não admira que cada vez que o IPCC elabora um novo assessment report surgem novas previsões… e novas correcções. Exemplo paradigmático disto são as curvas de temperaturas do último milénio apresentadas pelo IPCC em 1990, que tem em conta o Medieval Warm Period e a subsequente Little Ice Age, e em 2001, que, pura e simplesmente, os omite, introduzindo o conceito de “hockey stick”, que abriu o caminho para o tal aquecimento “sem precedentes”.
Apesar de toda a histeria na imprensa quando em Fevereiro saiu o “Fourth Assessment Report” (4AR), dizendo que a probabilidade das actividades humanas induzirem variações climáticas seria 90%, este revê em baixa as previsões do assessment anterior, de 2001, para o fim do séc. XXI: segundo os modelos usados, as temperaturas médias deverão variar entre 1,8 e 4,0ºC – quando a previsão anterior era de 1,4 a 5,8ºC – e o nível das águas do mar deverão subir de 18 a 59 cm, cerca de um terço da previsão anterior.
Outra correcção do IPCC digna de registo neste último “Summary for Policymakers” foi ter deixado cair o “hockey stick”.
A resposta à pergunta encontra-se, pois, nos modelos, mais ou menos perfeitos, imperfeitos, realistas ou utópicos, que são utilizados.
3. Não é fácil responder com exactidão. Trata-se de algo muito difícil de quantificar e, tanto quanto se sabe, ninguém sabe ao certo. A razão está na complexidade dos factores que influenciam, simultaneamente, o clima. Mas, se alguém souber fazer, que o faça e demonstre. Porém, só os modelos não bastam.
Quando vimos, lemos e ouvimos a propaganda mediática – não tem outro nome – sobre o chamado aquecimento devido ao efeito de estufa “antropogénico” fica-se com a sensação que apenas as actividades humanas já referidas emitem gases de estufa para a atmosfera. Nada mais enganoso.
Apresenta-se, de seguida, uma estimativa baseada em dados recolhidos em “Global Warming Information Page” e “US Environmental Protection Agency”, naturalmente corrigível, lamentando-se apenas que tais medidas e resultados não sejam mais numerosos, frequentes, acessíveis e conhecidos.
Como se vê, a fracção antropogénica é diminuta em relação às emissões naturais dos mesmos gases. Obviamente, isso não impede que possa ter alguma influência sobre o clima, mas não poderá ser muito grande, nem maior que os outros 94%. O difícil é quantificar. Mas há mais. O principal e mais potente GEE não é habitualmente mencionado: o vapor de água. Porque será? Alegam alguns que o vapor de água actua por “feed-back” e não por “forçamento”. Não é isso que está em causa. Mesmo que assim seja, não deixa de ser o vapor de água o principal GEE.
Apesar das dificuldades, alguns estudiosos defendem que a contribuição dos GEE antropogénico para as variações climáticas ronda, no máximo, os 2%, pois que, segundo o IPCC, o “forçamento radiativo” devido aos GEE antropogénico seria de 1,6W/m2, isto é, cerca de 2% do “forçamento radiativo” natural, e que pode ter uma relação com o aquecimento médio de 0,7ºC durante o séc. XX, pois que 2% de 33ºC é a isso que corresponde. No entanto, é pertinente a seguinte questão: se não existissem emissões antropogénicas de GEE no séc. XX, a temperatura média não tinha subido? Lugar destacadíssimo no ranking de acusações ocupa o CO2. Questionando pessoas sobre a concentração de CO2 na atmosfera obtêm-se as respostas mais curiosas e absurdas. De facto, ninguém tem a noção de que o CO2 corresponde apenas a 0,038% da atmosfera em volume, ao passo que a concentração média de vapor de água é quase 10 vezes superior (0,3%). O CO2 é apontado como o grande agente do aquecimento. Sendo verdade que é um GEE, também aqui não há “consenso”, na medida em que se é admissível que o aumento de CO2 na atmosfera pode fazer aumentar a temperatura, também é sabido que o aumento de temperatura faz aumentar o CO2 na atmosfera, porque diminui a solubilidade do CO2, e doutros gases, nas águas dos oceanos, mares e lagos. A questão é saber o que é que causa o quê. Alguns estudiosos defendem, com base em registos dos últimos 400 mil anos que o aumento de temperatura precede o aumento da concentração de GEE, em especial o CO2. E o mesmo pode estar a acontecer desde a época da Revolução Industrial, com a temperatura a aumentar desde o início do séc. XVIII, altura em que ainda não se queimavam combustíveis fósseis.
A tese que defende que o aumento de CO2 é a causa significativa do aumento de temperaturas no séc. XX tem ainda uma outra contradição pela frente. É que entre 1945 e 1975 a concentração de CO2 continuou a aumentar, ao passo que a temperatura média baixou. Como é que isto se explica?
Este assunto merece um aprofundamento, medições e estudos baseados na realidade, subsequente, para quantificar com mais rigor o efeito antropogénico e conhecer melhor os mecanismos que presidem à dinâmica climática.
Parece não haver dúvidas de que o factor antropogénico é diminuto, suficientemente diminuto, e o rigor dos modelos e suas previsões suficientemente débil, para justificar o pânico e a loucura que os políticos e os media ao seu serviço lançam pelo mundo.
4. Uma explicação reside no já exposto “forçamento radiativo”, isto é num aumento da fracção de radiação térmica retida por um acréscimo de GEE na troposfera. Como vimos, não se pode desprezar, à partida, esta contribuição, que tem apenas em consideração os equilíbrios térmicos entre a superfície terrestre, a atmosfera e o exterior. Ao fim e ao cabo o “forçamento radiativo” tem apenas em conta as influências do efeito de estufa e da temperatura no clima.
Mas a questão mais abrangente é esta: dependerá o clima só destes factores?
Parece claro, e já vimos, que não.
Uma outra explicação, em meu entender mais dinâmica e completa, reside na hipótese dos Anticiclones Móveis Polares (AMP), desenvolvida pelo Prof. Marcel Leroux, que pretende explicar a dinâmica climática do séc. XX em moldes não tradicionais, tendo em conta também as variações de pressão, a frequência de anticlones e suas aglutinações, trocas de massas de ar polar e meriodional, a contra-radiação celeste e terrestre. Em concreto, explica o aquecimento ocorrido durante o séc. XX na Europa, sobretudo a partir de 1975 para cá, com base num concomitante aumento médio da pressão atmosférica à superfície em todo o continente europeu, relacionando-o com um aumento da frequência e aglutinação de AMP que, em virtude da maior estabilidade anticiclónica proporciona maior insolação e aquecimento. Esta hipótese contraria e desmente o “forçamento radiativo antropogénico”, pois se o aquecimento fosse devido a uma crescente retenção de calor por EE a pressão nunca aumentaria. Segundo esta hipótese, é o aumento de pressão que conduz ao aquecimento e não o contrário. Explica, assim, as variações climáticas com base na dinâmica aerológica.
Aos leitores interessados num ulterior aprofundamento, recomendo “Global Warming – Myth or Reality”, Marcel Leroux, Springer Verlag (2005).
Uma questão epistemológica
Paralelamente ao que a Ciência nos permite e não permite saber sobre as variações climáticas, a forma como o assunto tem sido tratado por políticos e figuras mediáticas parece denunciar alguma pretensão de dirigir a Ciência e de a subordinar a objectivos e interesses políticos e ideológicos.
A maneira como essas pessoas pensam sobre a contribuição das várias ciências para o estudo do clima denuncia uma “cambalhota” epistemológica: primeiro desenha-se a conclusão, depois vai-se à procura de factos que a corroborem; e os que não corroborarem as conclusões previamente estabelecidas, nem a ideologia que as suporta, são omitidos e rejeitados.
O Homem tem que ser culpado das variações climáticas, então encontremos dados que suportem tal desiderato.
A utopia é pretender que o clima seja fixo e desenhado pela vontade humana. Ao som de umas guitarradas.
Se as previsões catastróficas de Al Gore forem tão rigorosas como as de Paul Ehrlich nos idos de 60 e 70 a propósito dos horrores da “explosão demográfica”, de certeza absoluta que acerta em cheio.
Manuel Brás
manuelbras@portugalmail.pt
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