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2007/09/12

Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte VII – nº 01 – A CASTA DOCENTE
ou… A REALIDADE MELHOR QUE QUALQUER FICÇÃO 

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Porquê conhecia Rufino tão bem a casta académica das Universidades?

Em Paris relacionara-se muito com a casta do HESAF*, um dos institutos superiores franceses aonde acorriam todos quantos aspiravam aos altos quadros da Administração Pública em França.

Rufino frequentara o HESAF onde se licenciara com certo brilho, licenciatura que lhe foi oficialmente equiparada pelo ME, podendo assim exercer funções públicas de elevado nível em Portugal. Por isso regressou ao País, logo a seguir, mas principalmente com a ideia de, a partir de Lisboa, lançar um “movimento” português paralelo ao Office, que, dizia ele, teria de ir muito mais longe que o propriamente dito.

Em Paris, como em Lisboa, ou Coimbra, até no Porto, era a mesma subserviência, o mesmo acatamento espontâneo dos mecanismos exteriores do funcionamento da casta.

Foi com o Office, porém, que melhor se apercebeu de como funcionavam esses mecanismos.

As vestes académicas, os rituais, os títulos e graus da carreira haviam sido “desmontados” nas conversas com os jovens universitários da rue des Renaudes, em grandes galhofas uns com os outros… embora todos eles, os miúdos, já confessamente candidatos a entrar na casta tão depressa quanto possível.

Rufino deu verdadeiros espectáculos de teatro a fingir de homem da casta também.

Conseguia divertir os novos amigos, simulando os cenários, os rituais, as praxes, as adouanes, os salamaleques, o latinório, as precedências e as paciências, multidão de ininteligências, arcaísmos, mediavelices de papa-tolos a substituir o talento e a… Desculpava-se depois com o atraso nacional que ainda valorizava isso, essas ininteligências, mais que o talento, a iniciativa, o saber, a investigação, a descoberta.

A rapaziada do Office acudia a sossegá-lo, com muito entusiasmo e simplicidade, porque era o mesmo em França, diziam eles e elas, também o atraso nacional francês explicava os tiques e reflexos condicionados da mesma clique universitária, que continuava, não obstante, a ser um dos mais fortes sustentáculos do “orgulho de ser francês”, chilreavam as raparigas do grupo, mais cruas e directas ainda que os rapazes…

Aves de crista, eles, apesar de tudo menos dispostos a deixar ferir e desacreditar as suas próprias cristas, objectos de estimação desenvolvidos desde pequeninos…

Não tardavam a achar-se todos muito latinos, o português e os franceses, vítimas das mesmas causas… naturalmente latinas… dos atrasos comuns, descobrindo de repente uma única e mesma fatalidade que os solidarizava, unidos numa só comunidade de destino.

Era já a velha França “do Porto a Vladivostok”.

E passava-se tudo no Office, entre gentes do Office, inspiradas e alimentadas ideologicamente pelo mesmo Office de Jean Ousset, que todos idolatravam!

Aqui chegado, combinei com o Miguel que iríamos interromper por duas semanas a publicação das “Memórias das minhas Aldeias” ou qualquer outra publicação no blogue. Nem ele nem eu, nem o Dr. Manuel Brás, estaríamos inteiramente disponíveis para a habitual colaboração de cada um de nós.

Eis porém que – já estava publicado aquele aviso à blogosfera – me apareceu o Miguel com um e-mail do “Legião Patriótica” questionando-me amavelmente sobre a Aliança Nacional, suas origens, ligações partidárias, PNR, etc.

Não sou capaz de resistir ao desafio duma oportunidade assim de desfiar memórias, esclarecer equívocos, acertar nalguns alvos que até andariam a “pedi-las”, já mesmo de há anos, como era o caso entre a Aliança Nacional e o PNR.

Num ápice, desdobro-me em seis pequenos textos de memórias, publicados de a 6ª da segunda semana de Agosto; embora sem ponta de ficção, não deixam de integrar-se bem no conjunto de memórias minhas que ando a publicar, tratando-se, como se trata, da criação do PNR, assunto que só agora tive a serenidade para friamente recordar em pormenor.

Ficção para reconstruir o passado dispensa-se, neste caso. Está tudo fresco na minha memória.

Feita a advertência, peço que considerem, pois, esses textos como fazendo parte das “Memórias das minhas Aldeias” e que os leitores destas não deixem de lê-los como um capítulo das mesmas.

Penso que, neste caso, a realidade é ainda melhor que qualquer ficção.

Aqui e agora a imaginação não teve que preencher lacunas da memória para adivinhar ou reconstruir o passado, como tantas vezes tem sido necessário, nestas memórias pessoais que já se desdobram em mais de duzentos anos.

A.C.R.

*Hautes Études de L´Administration Française.

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