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2007/09/14

Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte VII - N.º 02 - VIDA E MEMÓRIAS EM FAMÍLIA, DE PASSAGEM 

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Vou associando a família quanto posso e me é necessário à recuperação das “memórias das minhas aldeias”:

Há dias pedi ao meu filho Gonçalo António que me tirasse umas fotografias ao jazigo de família daquele natural de Tourais que me inspirou a personagem das MMA a que dei o nome de Zé Gomes, comendador e africanista de topo.

Relembro que o Comendador arrematou a Casa das Obras, com os prédios rústicos do lote ou lotes da mesma proveniência, em 1912, quando logo a seguir à queda da monarquia foram à praça, para pagamento das imensas dívidas dos proprietários, a família Stockler Mendonça Arraes.

Não me constara, até hoje, que tivesse havido mais pretendentes arrematantes a discutir-lhe a posse da Casa das Obras, por ele tão ambicionada e com que muito sonhara ao longo dos anos.

Mas alguém ouviu a conversa sobre o caso que, no café ou noutro lugar público qualquer eu estava a manter com um conhecido. Interveio quem ao lado nos ouvia para dizer que houvera pelo menos intenção, da parte dum contemporâneo de seus avós ou bisavós, de participar na arrematação. Só não passara da intenção porque a esposa se opusera, chamando-lhe a atenção para o facto de o edifício “ter demasiadas janelas”.

A Maria da Graça diz-me que se compreende perfeitamente, pois, naquele tempo, não havendo os produtos e facilidades de limpar vidros e caixilharias que hoje há, deveria ser problema mesmo ingente manter apresentáveis, ao nível que a honra da casa exigia, os vidros e portadas das mais de sessenta portas e janelas que o edifício tem voltadas para as ruas em volta…

Se havia, mesmo que só mais um capitalista em Seia, ou em todo o concelho que fosse, a sentir-se com potencial financeiro para entrar na arrematação judicial da Casa das Obras, visando investimento de tal gabarito, é de tirar-se-lhe o chapéu!

Enquanto voltávamos a casa, do cemitério de Tourais, vim contando ao Gonçalo a aventura épica do comendador que lá jaz, no seu jazigo, inspirador – disse e repito – da personagem Zé Gomes das MMA.

Depois de eu acabar, ao fim de poucos segundos, o GA comentou: “Mais uma prova do nosso grande jeito português para capatazes”.

Reajo quase zangado, porque Zé Gomes foi evidentemente, como o seu inspirador, muito mais do que isso, verdadeiramente um “grande capitão”, como lhe chamaram os subordinados e companheiros.

Não simplesmente “grande capataz”.

Mas “grande capitão”, como de justiça, pelo seu talento enorme e instintivo para mobilizar e chefiar homens; pela sua clarividência para os golpes de iniciativa inéditos mas certeiros; pelo seu grande sentido estratégico e táctico, em geral, e das melhores oportunidades, em particular; pela sua visão voltada toda para a antecipação do futuro; pela sua extraordinária capacidade de prosseguir vários projectos simultaneamente, com o mesmo vigor e o mesmo sucesso em todos, ou sucessivamente, sem parar nem desenfiar, como se diria em linguagem brejeira.

Um homem, enfim, duma visão e duma operacionalidade raríssimas!

Um caso de génio absoluto.

Tenho a certeza de que o GA, no seu íntimo, o percebe com facilidade e naturalidade. Mas…

A propósito de génio, lembra-me o pequeno episódio que vos conto, de dois dos meus netos mais novos, o Vasco e a Leonor, oito e três anos, respectivamente.

Ele é o caso mais extraordinário de desenvolvimento mental precoce que conheço, devidamente certificado já como sobredotado.

Há dias – estavam todos cá em casa, de férias – o Vasco discutia, conversava, com a irmã Leonor, enquanto eu assistia ouvindo-os interessado e, a certo ponto, tão divertido com a conversa, como que de igual para igual, que não resisti a dizer:

- Ó Vasco! Se te descuidas, ela agarra-te. Passa-te à frente!

E o Vasco respondeu-me de imediato, sem sombra de ciúmes, antes com um leve sorriso convicto e feliz:

- Pois! Pois… Ela é ainda mais “geniosa” que eu!

Ao lado, a irmã mais velha, a Madalena, de dezoito anos, sorria com ternura igual para os dois.

À mesa ao almoço, com os pais e a avó, a conversa fora uma revelação para mim. A Madalena, embora com notas bastantes no 12º ano, que terminou há um mês, para entrar em qualquer Faculdade de Medicina nacional, parece mais interessada em entrar na Faculdade de Medicina de Heidelberga, diz ela que considerada a melhor escola alemã de Medicina.

Fez o secundário todo na Escola Alemã de Lisboa, o que lhe permite entrar em qualquer Faculdade Alemã em igualdade com qualquer estudante alemão com o secundário completado. No dia seguinte, talvez em memória do interesse que lhe manifestei, ofereceu-se-me para organizar o ficheiro de todos os talvez mais de quinze mil volumes da minha biblioteca, em estado completamente anárquico de arrumação e seriação.

A.C.R.

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