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2007/09/24

Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte VII - N.º 03 - AS VOLTAS QUE O MUNDO DÁ! 

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As voltas que o mundo deu desde que o avô ou bisavô Rufino destes meninos – uns vinte já, ao todo – nasceu na aldeia do Salvador, em 1920, recordo, com a minha fixação pelas datas – chaves destas memórias.

Sua aldeia que aliás Rufino deixou quando já não podia mais com as invejas e intrigas de que alguns contemporâneos do seu tempo o tinham começado a perseguir. Pensava-o e dizia-o ele, repetidamente, aos seus fiéis, que tinha e que pareciam não se cansar de ouvi-lo esmiuçar a história do seu rápido mas intenso percurso como jovem zelador da paróquia.

O pároco, Padre Manuel, cedo começara a seguir, incrédulo primeiro, fascinado depois, a revelação daquele garoto que, desde o primeiro ano da catequese, como de pressa soubera que também na primeira classe da escola primária, se mostrava ele o mais dotado que por ali passara em muitos anos que paroquiava a freguesia.

Terminada a catequese, com a primeira comunhão, Pe. Manuel fez questão de seguir com o rapaz debaixo de olho, mantendo-o o mais ligado possível às actividades da igreja, sobretudo no meio dos garotos mais pequeninos e os da sua idade, com funções de liderança para que também o pároco lhe descobrira inclinação e múltiplas capacidades.

O Papa reinante, Pio XI, fora eleito pouco depois do garoto nascer. O seu antecessor, Bento XV, o Papa da I Guerra Mundial, a de 1914-18, desenvolvera os seus esforços principalmente no sentido de preservar e fazer a paz na Europa, mas verdadeiramente dilacerado pelo limitado sucesso das suas iniciativas.

Pio XI teria que jogar noutro tabuleiro, principal, como efectivamente jogou.

Viria a ser o Papa do reforço da implantação da Igreja na sociedade sobretudo através da criação da Acção Católica e, ainda antes dela, através da multiplicação dos esforços de animação da sociedade civil para a sua reaproximação institucional à Igreja.

Também àquela pequena paróquia da Beira Alta, imediatamente antes de começar a subida para a Serra, também ali chegaram as instruções do Papa para a mobilização intensiva dos leigos, ao serviço da reconquista cristã.

O pároco quis, nesse sentido, rodear-se dos leigos com mais provas dadas ou mais promissores e Rufino foi um dos primeiros destes, naquele pequeno recanto perdido da Igreja universal.

A verdade, porém, é que leigos à volta das batinas dos párocos sempre houve – embora não tantos talvez como desde então – pelo que Rufino, como os outros novos recrutas do Pároco, todos tiveram de sujeitar-se a algum ou alguns dos leigos que já dispunham de poder junto do Pe. Manuel.

Não podendo os mais lúcidos desses novos recrutas, evidentemente, deixar de descobrir que, naquele pequeno círculo, estavam formados sub-grupos mínimos de aliados e rivais uns dos outros.

Aos quinze anos, Rufino teve a revelação do gosto pelas inevitáveis manobras de poder, que não muito mais tarde identificaria como “manobras políticas”, porque lhe deu vergonha de considerá-las inspiradas por Deus e nem sequer para serviço da Igreja, que, por muito que tentasse, não conseguia confundir com serviço de Deus.

Até muito tarde viveria o seu catolicismo profundo mergulhado nestas confusões.

Pois podia lá ser serviço de Deus tomar partido pelo “senhor Alfredo”, o líder dos homens que iam à missa, contra a “professora Liberata”, a líder ferrenha do mulherio, aspirante verdadeiramente a substituir o Padre em tudo, nas suas ausências ou impedimentos, exceptuando apenas, talvez, a consagração do pão como corpo de Deus?

Foi afinal o seu sucesso rápido e total junto dos outros jovens que abriu os olhos de Rufino e acabou por definir a situação e dar-lhe a vitória, ao lado do “senhor Alfredo”.

Muitas do mulherio jamais lhe perdoariam. Mas também percebeu que nem por isso algumas das mais novas e ainda outras, que podiam ser jovens tias suas, deixaram de continuar a olhá-lo com interesse, agora dissimulado de curiosidade e até de ternura furtiva e admiração às claras por aquele rapazinho – prodígio e tão “genioso”.

A palavra seria ressuscitada quase setenta anos depois por um dos netos mais novos dele, como se lembrarão.

Devia ter passado gravada nos genes familiares, de geração em geração, ainda que o sentido dela talvez não fosse exactamente o mesmo…

A.C.R.

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