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2007/09/07

Frente Leste 

Aí está o mês de Setembro. E com ele o inapagável espectro do dia 11 de há seis anos, o único dia da História em que todos os europeus foram americanos, o dia que mudou para sempre o mundo. Dizem.

Este mês de Setembro tem uma particularidade acrescida, com a consequente agitação: é um mês de apresentação de relatórios e de avaliação das medidas aplicadas em 2007.

Nunca considerei a invasão do Iraque e o consequente derrube do regime de Saddam Hussein uma medida acertada. Não por causa da existência, ou não, de armas de destruição maciça, que as teve e usou e, eventualmente, armas nucleares. Quem não se lembra das andanças de Hans Blix? Embora as tropas americanas não tenham encontrado nada disso, esse tipo de armamento deve ter ido para algum lado…

Também não creio que o regime de Saddam Hussein fosse mais perigoso para Israel em 2001 do que em 1991 ou em 1998.

Não! O que me leva a considerar essa invasão um erro é uma questão de princípio: o Iraque era um país soberano que não cometeu qualquer acto de beligerância contra ninguém. Mais: o Iraque reunia condições políticas para ser um aliado do Ocidente, como em tempos já tinha sido.

O colapso do regime de Saddam, como não podia deixar de ser, alterou o equilíbrio de forças no Médio Oriente (MO).

As dificuldades sentidas, sobretudo a partir de 2005, devido ao incremento da violência sectária e dos ataques terroristas não surgiram, seguramente, por acaso. A esse desfecho não terão sido alheias algumas potências vizinhas, nem tão pouco a proximidade das eleições intercalares americanas de Novembro de 2006. Viu-se ali todo o efeito político que uns meses de terrorismo mais intenso e organizado tiveram sobre o eleitorado americano, precisamente quando têm os seus homens em uniforme a combatê-lo.

Parece hoje óbvio que todos os problemas do MO estão interligados: a situação no Iraque, as ameaças do Irão, a questão israelo-palestiniana, o Hezbollah, o Hamas, a al-Qaeda, os taliban, a situação no Afeganistão e no Paquistão.

A invasão do Iraque teve, acidentalmente, a virtualidade de mostrar ao Ocidente o potencial de fogo e de terror do MO, que nos últimos dois anos se concentrou no Iraque. E penso que é bom sabermos isso para não sermos enganados. Pelo menos os que o não quiserem.

É por isso que uma saída apressada das tropas americanas e inglesas, para cumprir calendário desenhado em gabinete político a fim de satisfazer necessidades eleitorais, é um desastre muito pior que a invasão, porque teria consequências muito piores para os iraquianos e para o próprio Ocidente. A questão que se põe em termos práticos é esta: por muito que não se aprove a invasão americana, quem é que vai fazer melhor que a coligação anglo-americana? O Irão? Qual é a alternativa? Uma guerra civil em várias frentes? A entrega do Iraque ao Irão?

É por isso que, ganhe quem ganhar as eleições presidenciais americanas em Novembro de 2008, não parece haver outra alternativa senão aguentar as tropas no MO durante mais uns anos: 5, 10? Quer queiramos, quer não, neste momento já nada pode voltar atrás. Ou o Ocidente enquadra o MO dentro de uma relativa ordem por si comandada ou se arrisca a ser enquadrado na desordem do MO.
Quer se goste, quer não, é a segurança do Ocidente que está em jogo e quem tem ao momento capacidade e coragem para lutar na frente leste é o Reino Unido e os EUA. O resto é conversa.

Os ocidentais, em especial os europeus, nunca perceberam bem o que está em jogo no MO. Cuidam que os dois lados do conflito são equiparáveis e que tanto faz ganhar uns como os outros. Cuidam que existe ali uma guerra convencional, quando isso já acabou há mais de 40 anos. O vulgar ocidental desconhece as características e as implicações da estratégia terrorista que tem como táctica a guerrilha. Estão completamente enganados.

As disparidades na guerra são colossais: homens em uniforme, identificados, de um lado, contra soldados à civil, suficientemente armados, que usam escudos humanos, atacam de surpresa e querem morrer, do outro. Pergunta-se: os combatentes taliban e da al-Qaeda são militares ou civis?

Mas, o que pensam e o que querem os insurrectos do MO?

Vejamos algumas das suas citações:

Abu al-Layth al-Libi, leader of al-Qaeda in Afghanistan, April 28, 2007:

“Immediately after the collapse [of the Taliban], gloomy events hindered the people and prevented the movement of the mujahideen…. Everyone was shocked and overwhelmed waiting to see what the West, which was coming with its military machine, would do…. [T]oday we are experiencing mountains of realistic and true hopes [in Afghanistan], while our enemy is experiencing mountains of weakness, fear and apprehension.… [We will] finish off the remnants of the enemy’s force and completely crush it.… [Abu Musab al-Zarqawi] took the jihad from the edges of the place of the real conflict to the focal point of the conflict, which is Iraq”.

Abu al-Layth al-Libi, interview, al-Sahab Productions, April 28, 2007, trans. in Jamestown Foundation, “Briefs,” Terrorism Focus, Vol. 4, Issue 12 (May 1, 2007), at http://jamestown.org/terrorism/news/article.php?articleid=2373359 (July 23, 2007).

Adam Gadhan, a.k.a. Azzam the American, American spokesman for al-Qaeda, May 29, 2007:

"[Y]ou and your people will…experience things, which will make you forget all about the horrors of September 11, Afghanistan and Iraq, and Virginia Tech. And let us be clear: A pullout from Iraq alone, in the absence of compliance with the remainder of our legitimate demands, will get you nowhere, and will not save you from our strikes. So stop wasting your time and trying to save face with these futile farcical maneuvers on Capital Hill and start making some serious moves”.

Adam Gadhan, video address, May 29, 2007, trans. in Middle East Media Research Institute Special Dispatch Series No.1602, May 31, 2007, at http://memri.org/bin/articles.cgi?Page=subjects&Area=jihad&ID=SP160207 (July 23, 2007).

Ayman al-Zawahiri, al-Qaeda deputy leader, December 22, 2006:

“The first is that you [Democrats] are not the ones who won the midterm election, nor are the Republicans the ones who lost. Rather the Mujahideen—the Muslim Ummah’s vanguard in Afghanistan and Iraq—are the ones who won, and the American forces and their Crusader allies are the ones who lost”.

Ayman al-Zawahiri, quoted in Brian Ross and Hoda Osman, “Al Qaeda Sends a Message to Democrats,” ABC News The Blotter, December 22, 2006, at http://blogs.abcnews.com/theblotter/2006/12/al_qaeda_sends_.html (July 23, 2007).

Mullah Dadullah, March 2, 2007:

“Next spring, we will bring shameful defeat upon the Jews and the Christians. The cries you are now hearing from them once a day—you will hear them 20 times a day. The number of countries abandoning America will be doubled, and countries will refrain from helping or allying with the U.S.America will remain alone. We pray to Allah that America will remain without an ally”.

Mullah Dadallah, interview, Al-Jazeera TV, March 2, 2007, trans. in Middle East Media Research Institute Special Dispatch Series No. 1511, March 21, 2007, at http://memri.org/bin/articles.cgi?Page=subjects&Area=jihad&ID=SP151107 (July 23,2007).

Ayman al-Zawahiri, July 9, 2005:

“If our intended goal in this age is the establishment of a caliphate in the manner of the Prophet and if we expect to establish its state predominantly—according to how it appears to us—in the heart of the Islamic world, then your efforts and sacrifices—God permitting—are a large step directly towards that goal.

So we must think for a long time about our next steps and how we want to attain it, and it is my humble opinion that the Jihad in Iraq requires several incremental goals.

The first stage: Expel the Americans from Iraq.

The second stage: Establish an Islamic authority or amirate, then develop it and support it until it achieves the level of a caliphate—over as much territory as you can to spread its power in Iraq, i.e., in Sunni areas, is in order to fill the void stemming from the departure of the Americans, immediately upon their exit and before un-Islamic forces attempt to fill this void, whether those whom the Americans will leave behind them, or those among the un-Islamic forces who will try to jump at taking power.

There is no doubt that this amirate will enter into a fierce struggle with the foreign infidel forces, and those supporting them among the local forces, to put it in a state of constant preoccupation with defending itself, to make it impossible for it to establish a stable state which could proclaim a caliphate, and to keep the Jihadist groups in a constant state of war, until these forces find a chance to annihilate them.

The third stage: Extend the jihad wave to the secular countries neighboring Iraq.

The fourth stage: It may coincide with what came before: the clash with Israel, because Israel was established only to challenge any new Islamic entity”
.

Ayman al-Zawahiri, letter to Abu Mus’ab al-Zarqawi, July 9, 2005, trans. in Global Security, “Letter from al-Zawahiri toal-Zarqawi,” at www.globalsecurity.org/security/library/report/2005/zawahiri-zarqawi-letter_9jul2005.htm (July 23, 2007).

Com estas citações não se pretende tomar o todo pela parte, nem se pode retirar, evidentemente, que o perigo para o Ocidente está no islamismo enquanto religião, nem que este seja o pensamento da generalidade dos muçulmanos. Tanto mais que os movimentos terroristas que preconizam esta ideologia, a que poderíamos chamar “islão político”, reconhecem a necessidade de, a dado passo, o terceiro segundo Ayman-al-Zawahiri, estender a jihad aos regimes vizinhos do Iraque, que não são do seu agrado.

A pergunta imediata é: podem os ocidentais, sobretudo aqueles que mais apelam para um abandono militar do MO, confiar nesta gente?

Logicamente, a resposta ocidental adequada não pode, de modo algum, ser só militar. É psicossocial: as populações têm de se sentir apoiadas pelas forças ocidentais, militares e civis, com acções concretas que as ajudem a refazer as suas vidas e a trazer a normalidade a essas sociedades. Por exemplo, se se quer combater a produção de papoila do ópio no Afeganistão, os que vivem da agricultura precisam de alternativas. Ninguém deixa de cultivar Papaver somnipherum a troco de nada.

O problema principal do Ocidente não é militar, é moral: reduz-se à capacidade, ou incapacidade, de aguentar um conflito de baixa intensidade durante vários anos no MO. É esta a fortaleza moral que os ocidentais precisam.

Perante uma derrota na frente leste, serão os europeus aqueles que primeiro e principalmente sofrerão as consequências, mais tarde ou mais cedo.

Não há soluções perfeitas. Só há soluções possíveis.

Manuel Brás
manuelbras@portugalmail.pt

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