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2007/10/03

Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte VII - N.º 07 - VAI HAVER UMA REVOLUÇÃO 

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Afinal o Bispo sabia de tudo ou quase tudo que Rufino fazia e tinha feito em Paris, nesses três anos.

Mas não lho disse logo, esperou que o próprio Rufino contasse com todos os pormenores para, com uma pergunta aqui, outra ali, acabar por fazer-lhe perceber que estava ao par de muitas coisas de Paris e do Office.

O Bispo, nesse ponto, foi mesmo entusiástico, por, mal chegado a Paris, Rufino ter logo dado com o Office, ainda completamente ignorado em Portugal, disse, e que tenha sabido logo apreciá-lo tão justamente e ao seu líder.

- Uma equipa formidável! – comentou o Bispo, com os olhos a brilhar de admiração e a alegria de demonstrá-la.

- Sabes? – acrescentou – São a melhor coisa, a melhor mão-cheia de leigos cristãos activos, inteiros e íntegros que há em toda a Europa. Atenção! Íntegros, repito. Não integristas! Precisávamos de ter uma equipa assim em Portugal… Que inveja! Se soubesses, Rufino…

Mas mudou logo de assunto, como que arrependido de ter adiantado muito, ou exteriorizado precipitadamente opiniões íntimas que talvez fossem mal entendidas em certos meios católicos…

“Como os da Acção Católica dos leigos, acabada de criar, por exemplo?” – pensou Rufino para consigo.

- Fico muito feliz, Rufino, por me confirmares que tens andado, lá por França, por tão bons caminhos!

- Senhor D. José… – aproveitou Rufino para retorquir um tanto a medo. – Se não fossem Vossa Reverendíssima e o senhor Prior… bem, eu tinha-me perdido completamente, sem o muito que me ensinaram!...

- Caiu a semente em bom terreno, afinal! Sobretudo quando é o próprio a dizê-lo.

Rufino viu ali um ligeiro toque de quem sabia tudo o que consigo se tinha passado, talvez mesmo a história de Isabel e dos dois sopapos!

E não pôde deixar de sorrir, mesmo ao de leve, como se fosse só para si…

- Porque te ris, Rufino? – perguntou-lhe o Bispo, que parecia querer puxar-lhe pela língua.

- Nada, nada, Excelência… Lembram-me coisas de que só devia ter vergonha, mas às vezes…

- Percebo. Lembram-te os dois murros valentes que te curaram para sempre… por agora.

- Não, Senhor D. José. Para sempre! Vou voltar a França para a semana, já. Estou a caminho de licenciar-me. Sabia? Depois de alguns anos, não muitos, a praticar lá o que estou a aprender, quero voltar para Portugal e aplicar…

- Sim, meu caro. É isso mesmo, podes fazer cá uma revolução. No melhor sentido! Sabes?... O “regime” não vai durar sempre, talvez não vá sequer durar muito. E, nessa altura, teremos em Portugal a maior crise política destes cem anos. Vamos precisar cá de gente que deite a mão “a isto” e salve o país. De gente que pense como tu, que pense como tu e saiba agir como tu e com a coragem e a força de alma que tu tens demonstrado. Não são precisos muitos, hem! Poucos, chegam, se estiverem nos sítios certos… Tenho a certeza de que tu serás um deles, assim o queiras e te prepares… Hei-de ver-te fazeres grandes coisas, maganão! Deus te ajudará e a nós todos!

Rufino sentiu-se de repente ameaçado de uma oura que poderia atirá-lo ao chão, ainda com piores efeitos que os sopapos do “prior novo”, sopapos de… boa memória.

Tentando que Dom José não desse por isso, encostou-se o mais discretamente de que foi capaz, à ombreira mais próxima.

Não era a primeira vez que aquilo lhe dava. Não podia ouvir louvores… Tinha de procurar um médico e não devia demorar. Como a Felisberta já tantas vezes tinha insistido consigo!

À partida, antes de oferecer-lhe a mão a beijar, como sempre, Dom José fez questão de dar-lhe um forte abraço também. E depois, como Rufino fizesse menção de curvar-se para o beija-mão, o Bispo deixou-o ajoelhar-se, abençoou-o com todas as regras e estreitou-o de novo noutro abraço, ainda mais apertado, pedindo calorosamente que, de ora em diante, lhe mandasse notícias assiduamente.

Vários sentimentos enchiam Rufino.

Mais tarde ou mais cedo, entendera ele, haveria em Portugal uma grande revolução, talvez uma enorme catástrofe política.

Apesar disso, o que parecia mais importante não era a revolução contra o Regime, mas a contra-revolução que já se preparava.

Que tinha desde sempre em homens como D. José os seus organizadores e talvez em D. José o seu principal profeta.

Iria haver revolução, acreditavam esses.

Mas também já sabiam como enfrentar a revolução.

O futuro apresentava-se risonho.

A.C.R.

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