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2007/11/07

Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte VII – N.º 20 – INCURSÕES POLÍTICAS DA UL 

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A Conferência de Imprensa não passara dum apalpar terreno...

Isto é, apalpou terreno em domínios inevitáveis, mesmo obrigatórios, se a UL queria ir mais longe, ou seja, tão longe quanto podiam imaginar e ambicionar os patrões…

Os patrões eram, na verdade, dois, três, cinco ou seis, dez ou onze no máximo…

Rufino secretário-geral; Celestino Maria chefe do gabinete de Imprensa e uma espécie de adjunto do primeiro; o Reitor, em Lisboa; os pró-Reitores, em cada pólo da Universidade, como delegados do Reitor; o “ministro das Finanças” da UL, dotado de poderes ditatoriais na matéria; e pouco mais, ou mesmo nada mais.

Tudo gente da absoluta confiança do secretário-geral, por ele escolhidos e feitos eleger, além de principescamente remunerados de muitas maneiras, mas todos seguindo sem hesitações a batuta dele, sempre distante e sempre presente, discreta mas absolutamente eficaz.

Ninguém fugia à lei que dimanava da batuta porque todos estavam em perfeita consonância com o seu detentor, unidos nos objectivos grandiosos do projecto, e porque todos sabiam o que tinham a perder, se fugissem às regras.

E não era pelo dinheiro das remunerações e prémios de rendimento que pudessem perder.

Isto é, não era só por isso.

Mas principalmente porque a Universidade se tornara um poder enorme, ao abrigo do qual todos os seus agentes se sentiam protegidos dos abusos de quaisquer outros poderes vigentes na sociedade portuguesa, incluindo os poderes do Estado e os poderes dos partidos, dos negócios ou do capital e da alta burguesia ou dos bispos.

E as forças “revolucionárias” de Abril?

Ainda se exibiam bastante, mesmo excessivamente para o gosto dos mais sensíveis, mas haviam-se tornado praticamente inoperantes, praticamente inúteis, bla-bla somente.

Ora! Se até o PCP…

O PCP estava mesmo em bom caminho de render-se aos “encantos” do projecto-UL!

Rufino andava fora de si…

Para dizer a verdade, o modelo do Salazar estadista subira-lhe à cabeça!

Achava ele…

O pior não era, de facto, que tivesse subido ou não; o pior era ele estar convencido de que sim, que lhe subira à cabeça, que Salazar talvez tivesse reincarnado em si, no humilde Rufino das berças.

Ia agora cada vez mais frequentemente visitar-lhe a campa, no cemitério do Vimieiro, rezar-lhe à beira, não saberia dizer se para rezar-lhe pela alma, se para pedir-lhe inspirações.

Acabara até por deixar-se entusiasmar pelo projecto de alguns grandes fanáticos, o projecto da fundação do museu-casa Salazar, nas pobres casas, a reconstruir, do espólio legado à família por ele, no entendimento correcto e seguro de que as casas e o “cheirinho” a Salazar delas é que poderiam vir a tornar-se no grande chamariz do museu em vista.

Mas os comunistas estavam-lhes na cola e garantiam que museu-Salazar no Vimieiro e – para pior! – nas próprias casas em que nascera e vivera o estadista, só por cima dos cadáveres de todos eles, os comunistas!

“Olha a sorte!” – clamavam os salazaristas mais lixados.

“Vamos à casa-museu que, ainda para melhor, vamos ter de passar por cima dos comunistas resistentes, todos mortos!”

Mas o museu foi mesmo avante sem ser preciso dar cabo dos comunas-marxistas todos.

Apesar do que chamaram “movimento dos anti-fascistas portugueses contra a erecção do museu Salazar no Vimieiro”, dum dia para outro, como quem diz, o museu apareceu mesmo erecto, triunfalmente erecto.

Os partidos de direitas que detinham o poder, na Alemanha, impuseram-se decididamente, enviaram fundos mais que suficientes, para as ambições modestas da “comissão erectora” de salazaristas portugueses, empenhados na iniciativa, e foi um “vê se te avias”, com milhares de curiosos e de apaixonados a participarem na inauguração solene e festiva da casa-museu, num domingo de dois mil e tal, já tínhamos desaparecido todos os primeiros promotores da Ideia.

A.C.R.

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