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2007/11/30

Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte VIII – N.º 07 – APROPRIAÇÃO DUM SONHO 

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Não faltavam motores voluntariosos à iniciativa.

Ele próprio, Carvalho da Silva; Celestino Maria ali mesmo em Luanda, que aquele tinha já por um camarada e no qual começava a confiar sem limites; em Lisboa, no centro geométrico do conjunto, Rufino, que nitidamente dominava e impulsionava tudo naquela máquina afinada, graças aos talentos providenciais do grupo.

Os três, como um só, sintonizados sem uma falha, uma visão em “trindade santíssima”.

Precisavam, porém, de apressar o andamento.

E ir desde já tão longe quanto fossem capazes de imaginar e empreender.

A ele tinha-lhe ocorrido uma ideia maluca… inesperadamente e sem saber como.

Maluca… mas de génio, acreditava Jucelino Carvalho da Silva.

“Temos de meter a África do Sul nisto também!”

Celestino Maria não arregalou os olhos porque não se apercebera ainda do alcance todo do projecto, na versão muito pessoal de Jucelino. Se soubesse tê-los-ia arregalado ainda muito mais e teria talvez começado a preparar-se para cortar algumas penas nas asas de Jucelino…

De facto, Celestino Maria possuía abertura bastante para todos os sonhos, mas, como Rufino, sempre afastara a África do Sul de todos os esquemas de ambos… porque com esse, ainda havia pouco, grande domínio britânico, e já futura potência africana de primeira oredem, ambos entendiam que não devia “brincar-se”, nem mesmo a “brincar”. Pelo menos enquanto não revelasse até que ponto fora ou não fora contagiada pelo modelo imperialista, monopolizador e absorvente dos anglo-saxões europeus.

Amigos sim, e respeitando-se mutuamente, mas negócios, negócios… e colaboração íntima, só com todas as cautelas e as maiores precauções.

Foi isso que Celestino Maria se apressou a tentar meter na cabeça do filho do soba da Lunda, sem explicar mais do que o estritamente necessário.

E o filho do soba, como, da sua parte, também não queria ainda explicar tudo que lhe ia na mente, por não achar oportuno, ficou-se igualmente por ali, por cálculo e não por falta de confiança.

Eram amigos, cada dia mais amigos e, por o serem, respeitavam religiosamente as sensibilidades uns dos outros.

Às vezes poderiam enganar-se no que seriam as sensibilidades uns dos outros, e aqui é que poderiam cometer erros com algumas consequências negativas mas, como diria Rufino, antes demais que de menos.

Porém, três dias depois, Rufino mandava um longo e-mail a Celestino Maria, informando-o de que pusera a questão no Conselho de Administração da UL, “com todos os prós e os contras”, mas que o Conselho decidira que se avançasse já para Pretória, dada a enorme colónia de origem portuguesa em idade de estudos universitários ali existente. “ Por muitas razões que agora seria deslocado referir em pormenor, temos de associar aos nossos projectos uma reserva assim importante de valores humanos, mas sem perder tempo”. E terminava acrescentando que, para contactos locais, deveriam pedir-se “instruções”, sim, instruções, a Carvalho da Silva!

Nada menos.

Celestino Maria não conseguiu afastar uma suspeita.

Porquê, que elementos possuía para isso ou que interesse tinha nisso o Conselho, para pôr nas mãos do filho do soba, e não nas suas, os primeiros passos do encaminhamento da UL para a África do Sul?... E logo a África do Sul!

Já Rufino e o Conselho não confiavam em si, Celestino Maria?

Como havia de descobri-lo?

E se não ligasse, se continuasse a comportar-se como se não se tivesse apercebido de mudança alguma?

Até porque… E se fosse apenas impressão sua?... Mas, nesse caso…

Nesse caso, persistiria sempre a dúvida, do seu lado. E com a dúvida a “chagá-lo”, conhecia-se bem, mais tarde ou mais cedo denunciar-se-ia. E, denunciando-se, podia, viria a instalar-se para sempre um clima de suspeição, entre todos…

Não! Não! Não!

Não podia deixar-se chegar as coisas a tal ponto!

Ou algo estava a funcionar mal consigo e dentro de si…

Pela natureza da questão…

Pensou que estaria a caminho da cura!

A.C.R.

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