2009/03/30
Rodrigo Emílio - 5 Anos

18/02/1944 - 28/03/2004
Um dado dia há-de vir,
em que eu cairei para sempre a dormir,
à guarda d’um sono que já não se esgarce;
que nada possa vir, à viva força, mal-ferir,
dada a minha inteira ausência de disfarce...
—...pois que «morir
es repatriarse»!
www.rodrigoemilio.com
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2009/02/19
Rodrigo Emílio
2008/12/16
Dr. Eduardo Alves
Recebi através do Engº Francisco Ferro a dolorosa notícia do falecimento do Dr. Eduardo Alves, no passado dia 8 de Dezembro.
Embora sabendo, como também ele sabe, que a vida não acaba, apenas se transforma, que a vida e a morte têm um sentido, convicção que, seguramente, o terá ajudado a aceitar a passagem, é sempre dolorosa a experiência de ver partir um amigo.
Conheci o Dr. Eduardo Alves há cerca de 10 anos. Entre outras iniciativas que o seu dinamismo inspirou, ressalto que foi um dos principais na preparação, organização e participação activa no I e II Congresso Nacionalista Português, respectivamente, em 2001 e 2003.
Conheci o Dr. Eduardo Alves como um homem de mente aberta, disposto a discutir ideias, a procurar a clareza dos conceitos, a ouvir os outros, a aprender sempre mais, a aprofundar a compreensão da realidade. Combatia por ideias. Não esperava que os outros fizessem aquilo que ele podia fazer: fazia ele. Foi assim que, juntando um grupo de colaboradores – ou de impulsionadores, como gostava de dizer o saudoso Rodrigo Emílio – se avançou para a realização dos Congressos Nacionalistas neste início do séc. XXI.
Que ficou desses Congressos?
Um conhecimento mais aprofundado das correntes do pensamento nacionalista que existem em Portugal. Ficámos a saber o que pensam os nacionalistas actuais sobre a Nação, a Pátria, a política…
Esclareceu-se, discutiu-se, trocaram-se ideias, definiram-se conceitos.
E convenhamos que não é pouco.
Seguramente que outras pessoas conheceram há mais tempo o Dr. Eduardo Alves e que estarão habilitadas a fazer-nos chegar alguns apontamentos biográficos que, de alguma forma, o possam homenagear. Serão bem vindos.
À Família, envio as minhas mais sentidas condolências.
manuelbras@portugalmail.pt
Nota: Todos aqui na AN, com igual pesar, tomamos a liberdade de subscrever este texto do Manuel Brás, enviando, nomeadamente, também as nossas mais sentidas condolências à Família.
AN
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2005/11/29
Um dia, duas efemérides
Nesse mesmo dia 30 de Novembro, e talvez não seja por acaso, - já que estamos a falar de Poetas – decorrerá o lançamento do livro “Pequeno presépio de poemas de Natal”, do saudoso Poeta Rodrigo Emílio, no Círculo Eça de Queiroz, Largo Rafael Bordalo Pinheiro, 4, em Lisboa, pelas 19h, cuja apresentação será feita pelo Poeta António Manuel Couto Viana.
Parabéns à “antília editora” pelo lançamento deste livro, com a esperança de que seja para continuar, pois a cultura bem precisa de poetas e escritores como o Rodrigo e tantos outros que por aí estão (forçosamente) esquecidos.
Manuel Brás
manuelbras@portugalmail.pt
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2005/07/26
RodrigoEmilio.com

Abaixo transcrevemos o e-mail que amavelmente nos foi enviado pelo filho do poeta, Gonçalo Melo.
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Quando a 28 de Marco de 2004 recebi o telefonema da morte do meu pai, estava longe de imaginar a epopeia informática em que me iria envolver nos 15 meses seguintes.
Durante mais de um ano, sempre que me sentei num comboio, metro ou autocarro aqui em Londres, trabalhei em prol do rodrigoemilio.com como se fosse a única coisa que importasse. E foi a única coisa que importou durante este tempo todo.
Juntamente com a minha irmã, a minha incansável irmã, desenvolvi este sistema para que todos possam de agora em diante usufruir da poesia de Rodrigo Emílio, meu pai. Nosso pai.
"Para todos os que lhe sentem a falta, tenho um conselho: LEIAM-NO!" - disse José Campos e Sousa.
Neste momento podemos ir mais longe e dizer: Leiam-no, ouçam-no e conheçam-no. Está tudo no RodrigoEmilio.com e de fácil acesso.
Por favor divulguem: http://www.RodrigoEmilio.com
Um agradecimento especial a todos os que estiveram também envolvidos nesta saga: Tera (minha mãe a quem dedico todo este projecto), Alberto Lima (Nonas), António Carlos Rangel, Sofia Ferreira, Raúl Pina, Catarina Sacadura, Alex Tsoucas, Bruno Santos, Jorge Queijo e Vanessa Ferreira.
Rodrigo Emílio, Presente!
Gonçalo Melo
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2005/04/01
Homenagem a Rodrigo Emílio

Amanhã, sábado, 2 de Abril, às 16.00h, na Sociedade Histórica da Independência de Portugal (Palácio da Independência), em Lisboa, terá lugar uma homenagem ao poeta Rodrigo Emílio, falecido em 28 de Março do ano passado, com a presença dos Professores António José de Brito, Carlos Soveral, Pinharanda Gomes, entre outros, com recitação de poemas e interpretação musical por José Campos e Sousa.
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2005/01/06
“Abordagens” – José de Melo
Não se trata de um livro académico de fria análise literária ou de “ciência” da Literatura que, talvez por isso, nunca é aborrecido.
Também não se trata, como em muitas obras de artigos de especialistas de Literatura, mas de esquerda, de um obra que discrimine os autores pela sua cor política.
Assim é que encontramos nas suas páginas desenvolvidas referências aos valores literários de Autores como, Amândio César, Rodrigo Emílio, Torcaz de Figueiredo, Vitorino Nemésio, Pedro Homem de Melo, Antero de Figueiredo, Luís Forjaz Trigueiros, Carlos Malheiro Dias, Carlos da Cunha, Campos Monteiro e Joaquim Paço d’Arcos, não falando de Pessoa que toda a esquerda em Portugal passou a fazer questão de “engolir”, ainda que à custa de lhe ignorar alguns dos textos mais importantes de ensaísmo ou filosofismo sócio-político.
Recomenda-se a Obra, pois, a gente de todas as cores, interessada em ter um larguíssimo e independente apanhado de Obras e Autores literários portugueses do Séc. XX, sobretudo.
Por mim, grande obrigado e parabéns a José de Melo.
A.C.R.
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2004/11/18
"Rodrigamente Cantando"


Aqui registamos, com emoção, a homenagem, em c.d., de José Campos e Sousa ao poeta Rodrigo Emílio. O poeta que, como diria Manuel Brás, é "Portugal em figura humana ..."
As encomendas, como vem explicado no "Último Reduto", podem ser feitas para: josecamposesousa@hotmail.com
MCR
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2004/06/08
O PENSAMENTO NACIONALISTA NO SÉCULO XX (II)
J. Pinharanda Gomes

Pode faltar um Estado próprio. Temos aí os casos das nações hispânicas (Galiza, Catalunha, por exemplo), que são reais nações com todas as componentes, embora hajam de se abrigar noutra realidade jurídica, o Estado da Monarquia Espanhola, que alberga várias nações, enquanto, no caso português, que durante séculos enquadrou múltiplas raças, línguas e nações, ela foi obrigada, a partir de dentro, a uma implosão, resumindo-se à uníade da monadologia europeia. Há, na Europa, todavia, nações que não têm estado próprio, sendo típicas as nações das Gálias, unificadas e como que suprimidas, pelos centralismos parisienses, tanto pelo democratismo da Revolução Francesa como pelo Imperialismo napoleónico, que chegaram ao ponto de proscrever as línguas nacionais, entre elas o clássico langue d'oc, mátria da Literatura neo-românica, em favor da língua parisiense.(4)
Convém introduzir algumas distinções. Uma delas relativa a um conceito moderno, produto híbrido de nacionalismo+totalitarismo, na forma nacionalitarismo, que, sem que o diga, constituí, na realidade, a hegemonia do Estado sobre as nações que nele se abriguem. Outro conceito é o de internacionalismo. Muitas e repetidas vezes se assume internacionalismo como contrário de nacionalismo e, até, de anti-Nação. Ora, no rigor dos conceitos, internacionalismo é o sistema ou estado de relacionamento entre nações. Só há internacionalismo se houver nações que o constituam. Sabemos todos, como é obvio, o prejuízo causado à ideia pelo internacionalismo ideológico das seitas socialistas, e de modo especial pelo sovietismo, ao preconizar uma nação transnacional, a do Proletariado, obediente a outra finalidade já desvinculada de cada uma das tradições nacionais. No fundo da questão, este internacionalismo não é tal, uma vez que aposta na dissolução das nações, para constituir uma única. Confunde-se com globalismo que, sendo dominável por potências poderosas, afectará a onticidade existencial e jurídica das nações menos poderosas, obrigadas à alienação dos seus valores, sujeitando-se às que lhes são alheias.
Nacionalismo constitui uma forma, um continente, passível de conteúdo. Ele admite todas e quaisquer tipologias políticas, porque se estas propõem regras económicas e sociais, o Nacionalismo não contém em si mesmo qualquer forma de governo. Fundamento e firmamento, ele pode ser assumido em variados contextos. O Nacionalismo pode conter a Monarquia, ou a Aristocracia, ou a Democracia, e, até, os socialismos totalitários, como se verificou na União Soviética e na Alemanha, ou em Cuba, por exemplo. Sistema de referência axiológica, não é um sistema político. Potencia sistemas políticos enquanto forma, mas deles não se constitui matéria, nem programa.
Em boa verdade, o Nacionalismo é superpartidário. É uma escola abrangente, um movimento de ideias paradigmáticas, capaz de, na obediência ao essencial, permitir a realização de patamares organizativos, desde que estes garantam os fundamentais privilégios da liberdade de consciência e da equipolência de alternativas. Jamais se isola. É uma porta aberta, mas ciosa da sua propriedade, ou do que é próprio de seu.
Cabe agora reflectir, nem que de modo breve, sobre o caso do próprio português, dito Portugalidade. António Sardinha cunhou o vocábulo, para o contrastar com a mais potenciada ideia de Hispanidade, que tende, não a manter a portugalidade, mas a dissolvê-la no centralismo castelhano. Porém, se no pensamento de Sardinha a ideia se reveste de maior significação antropológico-cultural(5), é no discurso mítico de Fernando Pessoa que a ideia de Nação ganha o relevo de mistério: "As nações todas são mistérios./ Cada uma é todo o mundo a sós" (6). Dizendo em molde poético-profético, Pessoa aproxima-se, ainda que o ignorasse, da tese tomista segundo a qual as pátrias são causas específicas, no providencialismo da história, para ajuda do trânsito humano no tempo e no mundo, o que tudo ainda remete para a historiologia agostiniana.
Os paradigmas de Mundo Novo, Quinto Império, de retorno ao absoluto, de reintegração ôntica, são característicos da nossa espiritualidade, considerados mitos febris pelos positivistas e estrangeiros, todavia sempre em ressurreição, em cada uma das novas gerações, em poetas e em pensadores. Damos aqui, por necessidade didáctica, dois exemplos, aliás motivados por alguma heterodoxia. Dos poetas, que poderíamos citar muitos mais (F. Palma Dias, S. Franclim, Rodrigo Emílio, José Valle de Figueiredo...) escolhemos Eduardo Aroso, no poemário "A Quinta Nau".
A quinta nau pode ser a nau perdida da frota de Vasco da Gama na viagem para a Índia? A História ensina que eram só três naus, mas a poesia tem liberdade para ampliar do facto para o mito e pressupor cinco.
É ainda certo que, descoberta a Índia física, após a qual, segundo alguns, os portugueses ficaram desempregados, outros assumiram que, achada a Índia real dos mapas, ainda falta achar a Índia ideal.
Este nome, Índia ideal , é muito dinâmico, supõe o projecto de para além da História, de subir da contingência para a essência, e do estado de imperfeição para a vida perfeita. Sonho embora, ai de nós se perdermos o dom do sonho, se esquecermos a ideia da Índia ideal, que pode traduzir-se por V Império, reino de Justiça e de Paz, depois do qual não haverá outro!
Se a História é a inteligência dos factos, se a Filosofia é a inteligência das ideias, a Poesia é a inteligência das imagens visíveis e invisíveis, de onde o seu necessário carácter profético, e de onde, na ordem da inteligência criativa, a Poesia ser superior à História.
Porque transcende da opacidade dos factos mortos para a transparência das imagens vivas. Raro se tem prestado o devido apreço à realidade de o melhor da História Portuguesa ser mostrado, não pelas interpretações, muitas vezes ideológicas e fraccionárias, da Historiografia, mas pela visão da Poesia.
O signo da inteligência poética da História, porventura modelada no poema épico de Luís de Camões, não ficou por aqui.
Ampliou-se e continuou-se, numa árvore de saber e de tradição, em que se constituem marcos as obras de Bandarra, de Garrett, de Teixeira de Pascoaes, de Corrêa d'Oliveira, de Mário Beirão, de Dalila P. da Costa, e, sem dúvida, do Fernando Pessoa da Mensagem.
Uma família espiritual, em que a ideia de Portugalidade substancia o discurso poético-histórico, com privilégio ao poético, na pesquisa ou na hermenêutica da pureza e do essencial.
Colocar esta família sobre a chancela de "Nacional-Saudosismo" é pouco, é nada. Ela embebe-se da ideia de Portugalidade, já não como simples sentimento do amor pátrio, mas como complexo entendimento das origens e dos fins últimos a que a História nos propõe, através dos erros e das falhas da humana capacidade para vencer as objecções do caminho pelo mundo.
Estas reflexões nascem da leitura de um poemário que ousamos situar na directa sequência de Bandarra e de Pessoa, outra arte de trovar e outra arte de transmitir mensagem: "A Quinta Nau", poemas de Eduardo Aroso (Gresfoz, Figueira da Foz, 2003), que se afirma voz da Pátria no retrato de um seu antepassado, o sapateiro Gonçalo de Trancoso (Bandarra):
Na mão
Tinha a sovela;
No coração
A trova mais bela.
Via ele o futuro incerto,
No labor a proteger os pés;
E o pensamento liberto,
Escrevendo de lés-a-lés.
Além de ser sapateiro,
Foi ele a voz de Deus,
Sentir de um povo inteiro:
Cristão, Árabe e Judeu.
Eis a verdade singela:
O único que nasceu
Para ir além da chinela.
Músico e Poeta, tem Aroso uma vantagem acrescida a Bandarra e a Pessoa , porque, dominando a técnica das pautas, não comete ele falhas de elocução e de modo de dizer. De onde resulta um conjunto de poemas de límpida forma, de oficinal estilo, de música ambiente. Cada poema é um filosofema, ou uma admonição, ou uma imagem audível. Elenco de poemas, no estilo, no jogo das formas e no ludismo das imagens, o recurso aos símbolos, a recuperação de tópicos clássicos, ele actualiza o melhor entendimento da teoria da Portugalidade à luz da intencionalidade profética. O destino comum veiculado através da imagem, cuja missão é mostrar e não demonstrar.
Para além de Pessoa, e do retrato que ele traçou do Rei Lavrador, plantador de naus e haver? Eduardo Aroso reconverte: Diniz já tinha a nau. Pelo menos a que surgiu nas brumas do sonho da sua consciência futurante. Eis a "Toada do Pinhal de Leiria", com a qual, e sem mais, assinalamos o secreto signo deste feixe de poemas de Eduardo Aroso, poeta em Coimbra para todas as partes do mundo a haver:
Antes do Pinhal de Leiria
Já o mar, o mar bramia.
Ninguém sabia aclamá-lo,
Só el-rei, el-rei sabia.
Antes do pinhal de Leiria
Já o amor, amor havia,
Quem sabia assim cantá-lo,
Só el-rei, el-rei sabia.
Nasceu o pinhal de Leiria,
Já uma nau, uma nau havia.
O que iria descobrir,
Só el-rei, el-rei sabia.
Cresceu o pinhal de Leiria,
Mas o vento já havia.
Dos moinhos do poema
Só el-rei, el-rei sabia.
Depois do pinhal de Leiria
De el-rei nome teria.
Lavrou bem nosso futuro.
O porquê ele sabia! (7)
(continua)
_________________________________
(4)Lemos num jornal que a R.D.P. se propõe um programa de formação linguística, para unificar pronúncias, de modo a evitar que o locutores do Norte digam o v por b, etc. Não é novo. O poeta e encenador António Pedro, quando, lá por volta de 1960, ensaiou a peça de F. Durrenmat, A Visita da Velha Senhora, interpretada por Amélia Rey Colaço, não permitiu a estreia enquanto os actores lisboetas não corrigissem a pronúncia do ditongo io (rio), pois é lisboeta a pronúncia iu (riu ...). Cf. Correio da Manhã, 2.2.2004, p.2, o artigo de Ferreira Fernandes.
(5)Demorada abordagem ao tema hispanidade/portugalidade pode ser aferida no nosso Meditações Lusíadas, Lisboa, 2001, pp. 9-74.
(5)F. Pessoa, Mensagem, I, quarto. Cf. André Coyné, Portugal é um ente..., Lisboa, Fund. Lusíada, 1999, notável interpretação da entidade nacional à luz de Fernando Pessoa.
(7)Eduardo Aroso. A Quinta Nau, Figueira da Foz, ed. Gresfoz, 2003. Rec. crítica in o Diabo, n.º 1480, Lisboa, 23.12.2003, p. 19
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2004/04/02
Dois inéditos de António Manuel Couto Viana, “à memória de Rodrigo Emílio”


Para a apresentação de “O Velho de Novo”, encontrei-me ontem no Círculo Eça de Queiroz com o Manuel Arnao Metelo, que trazia consigo estes inéditos de A.M.C.V., ainda na letra do Autor, em fotocópias que o “forcei” a oferecer-me, porque lendo-os logo pensei reproduzi-los aqui.
Do atrevimento peço desculpa ao Manuel Metelo e ao Autor, mas penso que me perdoarão por não ter perdido a oportunidade de divulgar esta bela homenagem de um grande Poeta a outro grande Poeta, saída espontaneamente do coração ao primeiro no próprio dia em que chegava a toda a gente a notícia da morte do segundo.
ELEGIA PARA RODRIGO EMÍLIO
Hasteou, em farrapos, a bandeira
De uma pátria vazia
E obrigou-a a ondear, livre e inteira,
Aos ventos que dão glória à valentia.
A sua alma, firme e verdadeira,
Moldou-se em revoltada rebeldia,
Para ler, página a página, a Odisseia,
Cada dia.
Não conheceu fronteiras
Para a sua ousadia,
Castigando, no fogo da fogueira
Dos seus versos, traição e cobardia.
Recusou a coleira
De toda a hipocrisia
E teve, por esperança derradeira,
A poesia, a poesia, a poesia.
(29.03.04)
António Manuel Couto Viana
A MORTE EM MIM
À memória de Rodrigo Emílio
Perguntas quem me morreu?
Fui eu.
Eu morro de cada vez
Que me avisa o coração
Que morreu um poeta português
E eu não.
Mas ressuscito se escuto
A voz em que se exprimia,
Pois nunca visto com a dor do luto
A poesia.
(29.03.04)
António Manuel Couto Viana
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2004/03/29
Morreu Rodrigo Emílio

Ele foi o que quis e como quis e fez de si o que quis.
Digamos que não há outro exemplo de ser humano, que eu conheça, que, segundo apreciações convencionais, tanto tenha usado a liberdade e liberalidade que Deus lhe deu, em prejuízo próprio.
Dir-se-ia que queria sair deste mundo sem ficar a dever nada a ninguém.
Creio tê-lo conseguido em cheio.
Terá sentido como ninguém o nada que cada um de nós vale?
Ou terá sofrido do mais exaltado e exaltante orgulho, incompreensível e inatingível para homens comuns?
Em qualquer caso — ouso dizê-lo e não sinto ponta de sacrilégio — Deus não terá remédio senão
PERDOAR-LHE!
A.C.R.
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2003/12/04
Leva de ABRIL (II)
De Gil Roseira Cardoso Dias
Editora Nova Arrancada
HOJE
Pedra caída no poço
ave que morre voando
ferro em brasa no pescoço
nu afogado boiando;
o desespero que esboço
quando não há espreitando
aqueles de quem eu posso
escondê-lo disfarçando;
aquele nó o caroço
na garganta sufocando
a lentidão do esforço
com que minto divagando;
e na fundura que roço
garras há dilacerando
sem porquê nem como ou quando
o Passado que foi nosso.
TROVAS
De verde e rubro vestido
País de luto em Abril,
Humilhado e vendido
Por vaidade e um ceitil.
Secaram de Maio os cravos
Quem berra mais alto ganha.
A propaganda arrebanha:
Povo livre – homens escravos.
Povo sido varonil
Tão rendido, tão cansado,
Tão mansamente curvado
Povo de luto em Abril.
Mais tempos inda hão-de vir
De tristeza e indigência.
Povo criado inocência
E falhado no porvir.
Nem futuro, nem mais nada,
Podes agora esperar,
Senão o ver apagar
A tua História passada.
Acabou! Agora esquece.
Não vale a pena lutar.
Cada povo que falhar
Tem a sorte que merece.
DESABAFO
Ó poetas da democracia
E do amor
Pelos mortos de Timor...
Ó letristas-cantadores
Dos “meninos à volta da fogueira”
Com a AK companheira...
Ó carpideiras das baleias
Das focas e das marmotas...
Ó dos direitos do autor
E do homem e da mulher...
Ó antitouros de morte
De trancos e de Barrancos...
Ó dos direitos dos animais
E mais
Os outros todos que tais...
Que brutal
Mordaça ideológica vos nega
Que choreis
Que digais
Que canteis
Que vivais
Os nossos mortos?!
NA VIA DO SOCIALISMO
Meu País de sonho apetecido
retrato descolorido
em revista semanal desactualizada.
País hipótese falhada
desfile permanente em marcha engalanada
a caminho do jazigo de família.
A louça e os partidos já não têm conserto.
Já não há compõe-louças para pôr gatos de arame
a louça não se reaproveita
e a lança no lixo.
Um partido não serve para comer
e mesmo que servisse -
- que há para sonhar no meu País ?
Meu País de cravos em Abril
ornando praças onde os mortos passam
disfarçando em canos de espingarda
a fuga dos seus donos.
Para quê lutar, se whisky é melhor
e de origem garantidamente democrática ?
Para quê ir para o mato, se os apartamentos
de Paço de Arcos são mais confortáveis ?!...
Meu País da logorreia institucional
da fome como padrão
da sobrevivência como ambição
e no fim
tam-ba-la-lão... tam-ba-la-lão...
um palmo só de chão
que nem espaço há para enterrar os mortos
e a terra é de quem na trabalha.
Meu País de fingimento da abundância
alçado a forma de governo
e a pedincha de capital em capital.
O primeiro ministro tem de frequentar um curso
(acelerado!)
de vendedor de banha de cobra
e dizer ao FMI que sim e mais também
que aceitamos os dólares
e a Bruxelas que aceitamos os ecus
mais as condições que quiserem impor
que Salazar era uma besta e já morreu
e a fome é imperativa.
Então
morra o povo
para que viva o governo do povo.
SONETO - V
Quando cair, que seja lentamente,
Como o Infante herói de Alfarrobeira.
Não preciso sequer de uma bandeira,
Basta a vossa lembrança tão somente.
Aqui ou onde seja (é indiferente,
Agora toda a terra é estrangeira)
Que finde a minha vida passageira,
Meu pensamento é da minha gente:
Aquela que morreu de armas na mão.
Aquela, regressada ao pátrio chão,
Cuspida pela elite da escumalha.
Os hoje abandonados à má-sorte.
Os que ganharam a paz fria da morte,
Perdendo tudo numa só batalha.
TESTAMENTO
Ninguém me diga nada, que não ouço
e niguém mo repita, se não grito;
e ninguém me murmure, que não ligo
e que ninguém me toque, que o rejeito.
Não falem de Nação – então me excedo
e não me digam Pátria, que me exalto.
E não me digam sim, que desconfio,
e nem me digam não, que corro já.
Não me cantem o fado, que me espanto
e, por favor, nem samba, nem canção.
Não cantem mais mandós, que atropelo
as memórias do Longe e da Idade.
De África não falem – ainda dói.
Mas que ninguém se cale. É bem melhor
esboçar a Idade e a Distância.
Estou cansado e enfêrmo de Saudade,
mal me recorda a mocidade longe...
Das coisas que ainda são, já me aborreço,
das memórias me dispo e distancio.
Não me importa saber do que me esqueço,
do pouco que recordo me alumio.
Nem lembranças serão… É a Esperança
que me receba Deus na Eternidade.
GIL ROSEIRA CARDOSO DIAS
Como dizer quem é Gil Roseira Cardoso Dias? E que dizer deste seu primeiro livro?
Dêle, se tivesse de o definir n’uma palavra, diria: íntegro.
Se em três: íntegro, fiel, intransigente.
Quanto ao trato: educado, mas imprevisível. Cardoso de nome, mas também Roseira. Com espinhos também, mas com rosas.
O livro, de tão curto, lembra-me o “Fel”, de José Duro, e a “Mensagem”, de Pessoa. Não pela dimensão, mas porque de fel transborda cada memória da rendição de Abril, e de mensagem resplandecem cada verso, cada grito ou estertor, cada lamento …
No fundo, este livro é uma Oração, quer pelos caídos - nossa honra - quer pelos vindouros, se daqueles lhes soubermos preservar a memória, e do nosso tempo a VERDADE.
Ah! Se não fosse VERDADE o nosso tempo, poderia este livro ter sido escrito? Não, certamente.
Como testemunho vale, pois, inelutável.
Graças a Deus.
Nas “Pequenezas autobiográficas” e no sequente “Aviso ao Leitor”, mais do que o seu trajecto na vida dá-nos o Autor, em breves traços, o seu perfil perante a vida, e perante os outros.
Não há nessas linhas uma palavra impensada, uma palavra a mais ou só de estilo. De menos talvez, que muito cala, da sua vida e da dos outros com quem se cruzou.
Irredutível nas suas convicções, tece meditadas reservas à fidelidade do último Concílio, assim como – a tempo - as tecia já ao Portugal de Spínola e Marcelo, nunca aceitando, inconformado, o portugal dos abrilistas.
Ele é assim. Quem não o entender tal como é, siga o seu caminho e deixe-o. Não lhe queira impor ideias ou modelar sentimentos que, como Régio, não vai por aí…
Dos poemas – de nítida influência pessoana - pouco há a dizer. Falam por si.
Com uma musicalidade natural e notáveis força e riqueza de imagens, sem liberdades poéticas fáceis mas com toda a liberdade que o ritmo ou a sonoridade lhe requeiram, desde que o não afastem da ideia ou da emoção-raíz de cada poema, que nunca se trai a si próprio, nem cede.
Bem haja por isso, que uma coisa é ser Poeta, outra versejar...
Hinos de Crença e Lusitanidade quase todos, gritos de revolta outros, já lamentosos, já sarcásticos, qual de nós, ao lê-los, não se sente pré-plageado? Quem não sente – neste ou n’aquele poema, neste ou n’aquele verso - que aquilo é o que lhe vai n’alma, o que gostaria de ter dito?
Gil Roseira Cardoso Dias é mais uma voz que se ergue - a par de Couto Viana e Rodrigo Emílio - a cantar a nossa dor e revolta, e a dar testemunho, para que a VERDADE na Memória se não perca, da infame traição que de Nação Imperial nos converte, complacente e acomodada, em caudatária e servil sub-região europeia, sem voz nem alma…
Na época economicista que se atravessa - e nos é imposta, que nem viver orgulhosamente sós o destino pátrio nos consentem as massas dominantes - importa dar testemunho da VERDADE, da nossa VERDADE, portuguesa e humanista, do Minho ao Além, para que os nossos filhos nos entendam ou pelo menos nos aceitem, e para que os seus filhos, ou os filhos dos seus filhos, possam um dia re-despertar Portugal.
É preciso dar testemunho de Portugal português, antes que as globalizações – novos impérios – nos dissolvam no Nada, nos matem como Nação.
É preciso gritar! É preciso marcar Abril como sinal de traição e vergonha. É preciso não colaborar, pelo silêncio, com os vendidos.
É preciso clamar por D. Sebastião – quer venha ou não – para que a Pátria, essa, não pereça. É preciso gritar, para que o nosso clamor chegue a Deus.
O grito, moribundo, de Camões não deixou que a Pátria morresse em 1580. É preciso que os Poetas - os nossos Guerreiros – não a deixem morrer ainda, e sedimentem a nova Restauração, quando fôr a HORA.
Manuel Arnao Metello
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