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2007/12/13

Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte VIII – N.º 10 – JOVENS PRETOS E BRANCOS… MARCAM PONTOS 

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A rapaziada – mas não poucas raparigas no meio dela – é que tomou o freio nos dentes, como comentavam os professores mais timoratos, mas bastantes também dos mais avançados, que de pressa perceberam como a desenvoltura dos jovens trabalhava efectivamente também a favor dos interesses da Universidade, como dos interesses dos futuros alunos e dos futuros professores, talvez os destes acima de quaisquer outros.

Mesmo antes de criada a Universidade, lançaram os jovens mais empenhados no arranque dela a ideia de constituírem de imediato a associação dos futuros alunos, isto é, dos decididos a virem a ser seus alunos.

Notável originalidade… talvez a primeira e melhor prova do espírito inovador… e disposto a tudo… daquela gente.

Tal ousadia deu à rapaziada um ar e estatuto de pioneiros de que viriam a servir-se abundantemente no futuro para não poucas vezes se arrogarem direitos de precedência, como “fundadores”, que poderiam ter questionado os direitos da empresa proprietária da UL e do seu nome, não fora a mão de ferro de Jucelino e de Celestino Maria, sempre alertados e postos em guarda, a partir de Lisboa, por Rufino. Que esse não perdia pitada do que se passasse na UL, fosse lá em que pólo dela fosse, cada vez mais convencido de que o essencial, naquela desmedida iniciativa, eram as questões de poder e, ao serviço do poder, as questões da qualidade do ensino e dos serviços prestados. Tal se tornou, na verdade, uma espécie de escola ou de princípio escolástico, para todos os que participavam activamente na iniciativa, fosse em Pretória, Luanda, Maputo, Porto, Faro, Braga, etc. ou em… Cabo Verde e na Baía, como também já se anunciava, apesar da manifesta oposição de Jucelino e de Celestino Maria, vá lá saber-se porquê, a que a UL pusesse para já o pé no Brasil.

Insinuavam, sem explicar, que era prematuro, apenas isso e mais nada, que a melhor forma de aprender, diziam, era que cada um aprendesse à própria custa todos os porquês.

Havia ocasiões em que a Rufino se afigurava que era megalómano, capaz de suscitar invejas e as maiores raivas e temores, frágil, portanto, aquilo que estavam a construir, para mais a um ritmo cada vez mais alucinante, talvez atingindo interesses mal definidos, mas sobretudo, até então, interesses por organizar, se não mesmo incapazes de se organizarem e de mobilizarem os meios de fazer frente ao colosso em que a UL estava a tornar-se.

Se alguma vez esses interesses se organizassem, e reunissem meios bastantes, como poderiam eles, os da UL, fazer-lhes frente e destrui-los, em tempo útil?

Rufino acreditava fundamentalmente em duas razões que lhe pareciam mais que suficientes para que a UL vencesse todas as forças adversas ou concorrentes que pudessem revelar-se:

Primeiro… continuar a avançar cada vez mais de pressa, antecipando-se a todos os que pudessem ter talento para organizar-se também, contra a UL.

Segundo…

Bem, segundo… era desenvolver a arte de chamar à iniciativa, para colaborarem no seu desenvolvimento, os melhores, os mais espertos e com mais visão de novas oportunidades, desinteressando-os de actuarem de conta própria.

Mas talvez houvesse ainda uma terceira razão para não recear pelo futuro…

Era, porém, cedo ainda para descobrir esse outro jogo, que por enquanto existia só nas cabeças de dois ou três, que mal ousavam confessá-lo entre si.

Ora esses três sabiam que, sem arriscar esse passo, nada estaria seguro em definitivo.

Mas era um passo de carácter político, bem podia dizer-se, e a política era a coisa em que os homens de acção portugueses menos se sentiam à vontade e descomplexados.

O empurrão a que não puderam resistir veio-lhes directamente dos partidos políticos, sobretudo de um deles, que na altura parecia especialmente vocacionado para assumir papel muito auspicioso na cena política nacional.

O PCP!

Talvez ninguém apostasse no que veio a acontecer, mas aconteceu.

O PCP esteve na altura, à beira de ganhar as então mais recentes eleições legislativas, a ponto de, sem a sua participação ou compromisso, não ser possível organizar-se governo viável em Lisboa, para mais que uns meses apenas.

Os partidos burgueses ficaram desorientados pelos resultados inesperados e um deles, o PS, não tardou a pôr-se em bicos de pés descaradamente, oferecendo-se para o “sacrifício” duma espécie de coligação com os comunistas, mesmo com o risco de surpreender os seus congéneres europeus.

De facto – e isto é seguro, não é conjectura ou especulação – de facto os comunistas passaram de súbito a deixar de ser diabolizáveis, ou passaram a muito menos diabolizáveis depois das derrotas dos congéneres além Cortina, na Hungria, na Checoslováquia e na Polónia, aparecendo quase como gente tratável e sem peçonha, com quem era possível, praticamente sem riscos, acertar planos de acção a médio e a longo prazo.

Na verdade, o novo governo português resultou duma coligação de esquerda e de direita, aquela representada por comunistas e socialistas e esta incarnada por uma troca de favores mantida havia tempos entre comunistas, em Lisboa, Luanda, Maputo e Pretória, e gente da UL, toda ela claramente de direita e muito poderosa, constava à boca cheia. E não era difícil de acreditar, tantos e tais eram os indícios.

A.C.R.

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