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2007/08/01

Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte VI – N.º 23 – OS JOVENS LOBOS 

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Rufino ficou com o sentimento de que o Professor talvez nunca viesse a perdoar-lhe a manobra descarada para o controlo da cooperativa, pelo que deveria recear conluios dos professores para recuperarem o terreno perdido.

Como antecipar-se na descoberta deles?

Começara a evidenciar-se dentre os professores um dos últimos contratados, o Dr. Baptista de Melo, que, se bem o entendera, nas suas meias palavras, já expressamente se lhe oferecera para delator dos colegas. Mas porque era visto com desconfiança por todos, que o desprezavam como intriguista e fala-barato, Rufino teve o cuidado de o manter tanto quanto possível à distância, apesar do assédio indiscreto que o Baptista de Melo insistia em fazer-lhe.

Foi aí que Rufino pela primeira vez se felicitou por não haver seguido o conselho dos seus mais íntimos colaboradores do “movimento”, no sentido, segundo os mesmos, de que deveria Rufino manter-se distante do grupo dos professores, para não perder a sua independência, relativamente a eles.

De facto, Rufino também estava certo já de que haveria de conquistar melhor a confiança dos professores sendo um deles e vivendo e comportando-se como eles, ao mesmo tempo que ia tomando nota dos seus problemas e ambições, méritos e fraquezas, para seu uso futuro, oportunamente.

Também cedo começou a esforçar-se por pagar-lhes bem, embora em estrita relação com os horários de facto cumpridos.

Mas havia outras compensações.

Os lugares de estacionamento automóvel no território da Universidade eram muitos no Porto, mas apertados em Lisboa. Pode dizer-se que, em troca da reserva garantida dum lugar para viatura ligeira, no espaço da UL, em Lisboa, os beneficiários professores davam tudo o que a Cooperativa precisasse deles, sem outra paga.

Rufino treinou-se a negociá-los – os lugares de estacionamento – sem o mínimo receio, nem pudor de parte a parte.

Mas o que mais felizes os deixou, foi assegurar-lhes os rituais académicos e o uso das vestes talares, talares como as asas de Mercúrio.

Aprendeu no meio de tudo que, para serem efectivamente talares, tinham de chegar aos tornozelos.

A ideia de os manter entretidos também com vestes e ritos académicos foi-lhe dada por um dos professores mais categorizados, do curso de Direito naturalmente, que um dia o convidou para almoçarem juntos ali perto, no Grémio Literário, fazendo até questão de ser ele a pagar a despesa.

Rufino mediu quanto o entretenimento lhes era caro, ao aperceber-se de como a classe se sentia frustrada por vestes e ritos terem sido suprimidos, ou passado a ser mal vistos, o que valia o mesmo, na Universidade pós-abrilina, Universidade sem rei nem roque, como todos a consideravam, sem meias-tintas.

Rufino queria tudo original, entusiasmou-se.

Isto é, não queria que se copiasse o “teatro” das Universidades clássicas, mas que os especialistas da matéria entre o corpo docente, inventassem um “teatro” novo.

O professor seu anfitrião ao almoço dissuadiu-o disso.

Segundo ele, a cópia exacta do “teatro” académico tradicional é que daria aos interessados em geral, isto é, famílias dos futuros alunos e futuros alunos, mas também autoridades académicas e as do Ministério, todas as garantias visíveis e convincentes de que o ensino na Universidade privada… seria pelo menos tão bom como o das Universidades públicas, incluindo a UCP.

“E quanto vai custar o espectáculo?” – perguntou desconfiado, mas sorrindo, o administrador delegado.

“Nada!” – retorquiu o outro sem pestanejar.

“Nada – explicou – porque todos temos os nossos graus académicos que nos obrigam a adquirir essas trapalhadas. Não precisamos portanto doutras. Só os professores não recrutados nas Universidades estatais é que não terão vestes próprias. Mas como não têm oficialmente graus académicos, também não poderiam usar as vestes correspondentes…”

“Entende?” – perguntou o Professor, a quem Rufino estava a parecer mais distraído que até aí.

“Entendo… Oh! Se entendo, Professor!”

Ao Professor não escapou mesmo assim que Rufino andava por longe dali, até que, voltando a si lentamente logo sugeriu de surpresa, como quem não quer perder mais tempo.

“E se fizéssemos uma abertura solene da nossa Universidade, hem! Que lhe parece Professor?... Não é uma ideia genial?”

“É verdade que o ano lectivo já vai mais adiantado do que conviria, mas…”

“Professor! Então o Senhor tem ideias excelentes e depois estraga-as com objecções sem importância!” censurou-o Rufino com muita aspereza e absolutamente decidido.

O Professor embatucou e combinaram com o maior entusiasmo todos os pormenores da sessão solene para daí a uma semana.

Foi geral a satisfação de alunos, pais, familiares e professores, como a Comunicação Social sublinhou, embandeirada em arco.

Desde o anúncio da abertura solene, matricularam-se logo muitas dezenas mais de alunos, nos dias úteis duma semana só.

A.C.R.

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