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2007/07/18

Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte VI - N.º 18 - UM HOMEM DE AÇO 

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Primeiro que tudo houve que criar a cooperativa impulsionadora e proprietária do futuro estabelecimento de ensino superior.

Rufino estudou com os juristas do grupo tudo o que havia a ler de legislação cooperativista para elaborarem a minuta do estatuto que faria parte do pacto notarial fundador da Cooperativa de Ensino Universidade Livre C.R.L..

A preocupação essencial foi limitar rigorosamente as possibilidades de acesso de novos associados.

Os “cooperadores” que participaram na escritura foram menos de trinta, mas o capital reunido pouco passou dos trezentos contos, que as entradas em catadupa das primeiras propinas de pressa ultrapassaram.

A ponto de, mesmo para as obras de urgência, o conselho de administração da cooperativa não ter tido que pedir à banca, por cautela e mais para apalpar terreno que por outra coisa, senão um pequeno empréstimo, eximiamente negociado por Rufino e o tesoureiro, que se entendiam… criativamente, quase sem se falarem.

O conselho de administração era completamente dedicado a Rufino mas, em troca de remunerações equilibradas, que surpreenderam positivamente todos, Rufino obteve de cada um o compromisso de que estariam em qualquer momento disponíveis para trabalhar quanto fosse necessário e urgente, a começar por si próprio, desde havia meses ocupado com a U.L. praticamente em super full time.

Começara ele, logo que o interesse e fascínio pelo “ano propedêutico” se anunciara, por levar consigo os mais atrevidos, para negociarem com o presidente da Fundação monárquica o contrato de arrendamento do prédio da Vítor Córdon, com uma renda que Rufino quis que fosse alta para conforto e segurança da Família real, ainda que metade do pagamento das obras viesse a ser descontado nas rendas, durante o primeiro ano do contrato.

Desculpem os leitores estes pormenores aparentemente desinteressantes, mas verão que tudo é importante para a História.

O conselho de administração e Rufino, seu administrador-delegado, nunca porém viriam a arrepender-se de terem sido generosamente compreensivos e simultaneamente ponderados nestas negociações, que conduziram com o maior tacto, para vencerem definitivamente desconfianças que pudesse haver contra eles, nos meios monárquicos, sobretudo quanto à ortodoxia monarquista de alguns. Afigurava-se que, para muitos monárquicos, se alguém gostava deles, não podia deixar de ser monárquico também…

Este era um ponto particularmente sensível para o administrador-delegado, porque todos o consideravam monárquico e ele nunca como tal se declarara, a não ser que o seu muito grande respeito, estima e consideração pela Família real e pela memória de todos os Reis de Portugal fossem tomados como provas de monarquismo.

Como a questão acabasse por ser-lhe, uma ou outra vez, expressamente posta, teve de responder que não era monárquico nem republicano e que, se problema havia para o País, a solução era de mera oportunidade conjuntural e não ideológica, nem de coerência histórica.

Mas supõe-se que ninguém acreditava, porque todos continuavam a tê-lo ou parecer tê-lo por necessariamente monárquico, pode ser que por se mostrar cada vez mais um fiel, quase devoto cultor da História de Portugal, de que menos de um décimo do tempo fora ocupado pelo regime republicano contra mais de nove décimos, e os mais gloriosos, de monarquia absoluta e liberal.

Acaso ninguém conseguisse compreender que não fosse monárquico quem era tão obviamente e confessadamente homem da direita mais coerente.

Na verdade, tudo corria pelo melhor à Universidade Livre, S.C.A.R.L., e o primeiro teste à solidez da situação pôr-se-ia só uns meses mais tarde.

Mesmo assim, já depois de alargada ao Porto a UL.

O que, mais uma vez, mostrou a confiança de todos os interesses e pessoas aliciadas, nas iniciativas, ideias e quadros do “movimento”.

O “movimento” é que os tinha bons!” – diziam muitos.

“Bons e bonitos” – pensavam algumas raparigas, atraídas pelo trabalho em células.

Deve assinalar-se que, também neste grande e decisivo salto em frente, para a expansão do projecto da UL, o empurrão inicial se deveu igualmente ao Professor.

Isto é, foi ele quem perguntou um dia a Rufino se o “movimento”, nas células do Porto, também tinha gente para lá se abrir a UL, agora que em Lisboa já…

Disse-lhe Rufino que sim e o resultado viu-se logo.

Mas, por uma misteriosa iluminação, o administrador-delegado, Rufino, entendeu que desta vez os agentes para a operação teriam de ser predominantemente mulheres, raparigas ou senhoras, que o “movimento” até aí só empregara em tarefas quase domésticas e menos, ou muito raramente, em acções de desenvolvimento estruturante.

Falou pelo telefone e por telex com algumas e a reacção foi simplesmente da mais completa adesão e do maior e mais imaginativo empenhamento, logo a seguir.

Seria mais uma machadada, talvez a machadada final no PREC.

A.C.R.

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