2007/07/21
Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte VI - N.º 19 - A UL NO PORTO
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Elas rapidamente descobriram os locais certos.
Mais de pressa ainda os professores necessários.
E num ápice lançaram larga campanha publicitária e instalaram a secretaria.
E mobilaram as salas todas, com o dinheiro disponibilizado por Lisboa.
O novo Ano Propedêutico arrancaria no Porto, em 1 de Setembro de 1978, com algumas centenas mais de alunos, que a procura continuava a ser grande, da parte dos que pretendiam assegurar o acesso à Universidade.
Rufino agarrou imediatamente a oportunidade de reforçar o seu poder nos órgãos sociais da Cooperativa, inserindo neles os elementos do Porto que mais se haviam destacado e prontamente aceitaram propor-se como cooperadores.
Com eles, o Conselho onde se decidia a admissão de novos cooperadores passou a dispor de larga maioria favorável ao administrador-delegado, que a minoria se apressou a aceitar sem objecções, cavalheirescamente.
Quando o grupo do Professor deu pelas consequências, era tarde. Ainda tentou recuperar espaço, mas os seus candidatos foram quase todos rejeitados, com o pretexto simples de serem pouco ou nada conhecidos da maioria dos membros do Conselho que tinham de votá-los. Eram quase todos catedráticos das Universidades públicas e os poucos conhecidos à volta daquela mesa, pela maioria, pareciam autores de declarações recentes muito desafectas, insinuou o tesoureiro, a tudo o que cheirasse a ensino universitário privado. Foram mesmo feitas citações a abeirar-se de explosivas. Rufino que presidia, na cuidadosamente preparada ausência do titular, apressou-se a precipitar as votações, não fosse a conversa dar mais para o torto.
Dos doze candidatos apresentados pelo Professor, foram admitidos dois e rejeitados outros dez.
Ficava sobretudo dado o tom para eventuais futuros despiques, que podiam resultar menos bem.
Rufino, à saída do encontro, pediu ao Professor para falarem a sós e dizer-lhe o que há muito pensava: que ele deveria começar desde já a preparar o primeiro ano da verdadeira Universidade. Havia muito a fazer, com decisões académicas a tomar que impunham a designação do Reitor.
“Penso – disse de chofre – que o Reitor deve ser o Senhor Professor. Está disposto a sacrificar-se e aceitar, Senhor Professor? Já prestou à iniciativa tão grandes serviços, que não deve estranhar que lhe peçamos mais este! Digo-lhe que todo o grupo do “movimento” ponderou este convite e me encarregou de transmitir-lho!”
O Professor ficou visivelmente lisonjeado, mas não perdeu o sangue-frio.
“Não, Amigo, não. Temos de arranjar um verdadeiro Professor universitário, com toda a sua carreira feita na Universidade. Saiba, eu nunca tive de prestar quaisquer provas académicas em concurso público. Todas as minhas nomeações foram de mérito académico comprovado na secretaria, sabe… Não é a mesma coisa, aos olhos dos professores de carreira, nem aos olhos do homem comum, mesmo que não perceba nada destas subtilezas… Temos de convidar um verdadeiro académico de carreira e com uma grande carreira!”
“Mas – retorquiu-lhe Rufino – não temos nada feito nessa área que justifique e nos dê crédito para um convite a esse nível, só os nossos projectos, sem sequer podermos abrir matrículas, fazer publicidade, sem os cursos sequer decididos.”
“Ora! Para tanto basta um vice-Reitor. Posso ser… mesmo assim provisoriamente, posso ser esse vice-Reitor!”
“Deixe-me dar-lhe um abraço! – exclamou Rufino, abraçando-o – Encontramos sempre a solução conveniente para todos e a melhor para os nossos projectos!”
“Por favor! Dê cá outro abraço, Professor!”
E depois de se abraçarem novamente, afastou-o de si, como para olhá-lo de menos perto e apreciá-lo melhor, e exclamou.
“Vamos longe, Professor! Digo-lho eu! Vai ver que vamos muito longe! Eu e o Senhor juntos, nenhum poder vai resistir-nos!”
E, como comprovando-o, arrastou o Professor, verdadeiramente arrastou-o consigo, para o seu gabinete no Ano Propedêutico – começavam já então a chamar-lhe o IPU-Instituto de Preparação para a Universidade – e fez o Professor sentar-se num cadeirão ao lado da sua secretária, para expor-lhe as suas inquietações sobre como fazer o governo aceitar os factos consumados.
É que Rufino desconfiava de todos os governos, especialmente dos que nos governavam desde a Revolução, mas acreditava que eram esses os mais frágeis de todos e podiam por isso ser enganados como nenhuns outros.
Mais de pressa ainda os professores necessários.
E num ápice lançaram larga campanha publicitária e instalaram a secretaria.
E mobilaram as salas todas, com o dinheiro disponibilizado por Lisboa.
O novo Ano Propedêutico arrancaria no Porto, em 1 de Setembro de 1978, com algumas centenas mais de alunos, que a procura continuava a ser grande, da parte dos que pretendiam assegurar o acesso à Universidade.
Rufino agarrou imediatamente a oportunidade de reforçar o seu poder nos órgãos sociais da Cooperativa, inserindo neles os elementos do Porto que mais se haviam destacado e prontamente aceitaram propor-se como cooperadores.
Com eles, o Conselho onde se decidia a admissão de novos cooperadores passou a dispor de larga maioria favorável ao administrador-delegado, que a minoria se apressou a aceitar sem objecções, cavalheirescamente.
Quando o grupo do Professor deu pelas consequências, era tarde. Ainda tentou recuperar espaço, mas os seus candidatos foram quase todos rejeitados, com o pretexto simples de serem pouco ou nada conhecidos da maioria dos membros do Conselho que tinham de votá-los. Eram quase todos catedráticos das Universidades públicas e os poucos conhecidos à volta daquela mesa, pela maioria, pareciam autores de declarações recentes muito desafectas, insinuou o tesoureiro, a tudo o que cheirasse a ensino universitário privado. Foram mesmo feitas citações a abeirar-se de explosivas. Rufino que presidia, na cuidadosamente preparada ausência do titular, apressou-se a precipitar as votações, não fosse a conversa dar mais para o torto.
Dos doze candidatos apresentados pelo Professor, foram admitidos dois e rejeitados outros dez.
Ficava sobretudo dado o tom para eventuais futuros despiques, que podiam resultar menos bem.
Rufino, à saída do encontro, pediu ao Professor para falarem a sós e dizer-lhe o que há muito pensava: que ele deveria começar desde já a preparar o primeiro ano da verdadeira Universidade. Havia muito a fazer, com decisões académicas a tomar que impunham a designação do Reitor.
“Penso – disse de chofre – que o Reitor deve ser o Senhor Professor. Está disposto a sacrificar-se e aceitar, Senhor Professor? Já prestou à iniciativa tão grandes serviços, que não deve estranhar que lhe peçamos mais este! Digo-lhe que todo o grupo do “movimento” ponderou este convite e me encarregou de transmitir-lho!”
O Professor ficou visivelmente lisonjeado, mas não perdeu o sangue-frio.
“Não, Amigo, não. Temos de arranjar um verdadeiro Professor universitário, com toda a sua carreira feita na Universidade. Saiba, eu nunca tive de prestar quaisquer provas académicas em concurso público. Todas as minhas nomeações foram de mérito académico comprovado na secretaria, sabe… Não é a mesma coisa, aos olhos dos professores de carreira, nem aos olhos do homem comum, mesmo que não perceba nada destas subtilezas… Temos de convidar um verdadeiro académico de carreira e com uma grande carreira!”
“Mas – retorquiu-lhe Rufino – não temos nada feito nessa área que justifique e nos dê crédito para um convite a esse nível, só os nossos projectos, sem sequer podermos abrir matrículas, fazer publicidade, sem os cursos sequer decididos.”
“Ora! Para tanto basta um vice-Reitor. Posso ser… mesmo assim provisoriamente, posso ser esse vice-Reitor!”
“Deixe-me dar-lhe um abraço! – exclamou Rufino, abraçando-o – Encontramos sempre a solução conveniente para todos e a melhor para os nossos projectos!”
“Por favor! Dê cá outro abraço, Professor!”
E depois de se abraçarem novamente, afastou-o de si, como para olhá-lo de menos perto e apreciá-lo melhor, e exclamou.
“Vamos longe, Professor! Digo-lho eu! Vai ver que vamos muito longe! Eu e o Senhor juntos, nenhum poder vai resistir-nos!”
E, como comprovando-o, arrastou o Professor, verdadeiramente arrastou-o consigo, para o seu gabinete no Ano Propedêutico – começavam já então a chamar-lhe o IPU-Instituto de Preparação para a Universidade – e fez o Professor sentar-se num cadeirão ao lado da sua secretária, para expor-lhe as suas inquietações sobre como fazer o governo aceitar os factos consumados.
É que Rufino desconfiava de todos os governos, especialmente dos que nos governavam desde a Revolução, mas acreditava que eram esses os mais frágeis de todos e podiam por isso ser enganados como nenhuns outros.
A.C.R.
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