<$BlogRSDUrl$>

2007/07/09

Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte VI - N.º 14 - APOIOS IMPREVISTOS 

(<--)

O “Office”, rue des Renaudes, ao Arco do Triunfo, foi descoberto por Rufino através duma revista, “Permanences”, que regularmente, uma vez por mês, chegava à embaixada, não longe dali e onde ele a devorava de ponta a ponta.

Uma tarde, sem ter agendada nenhuma reunião de “mobilização” de imigrantes, decidiu-se por dar um salto ao “Office”, que já conhecia por fora, de lá ter passado recentemente para ter uma ideia de como era e onde era exactamente.

Foi recebido por dois rapazes na casa dos vinte anos, a que logo veio juntar-se uma rapariga da mesma idade, estudantes universitários os três, já licenciados mas a prepararem mestrados, coisa de que pouco ou nada se falava ainda em Lisboa ou Braga, Évora, Coimbra e Porto, que eram então os únicos centros universitários portugueses, se não contarmos Luanda e Lourenço Marques, em vésperas de entrarem a funcionar.

Rufino contou-lhes, no seu bom francês, onde trabalhava, “com os imigrantes portugueses na embaixada de Portugal”, para a “organização” dos interesses deles, sem carácter sindicalista mas na base da “doutrina social da Igreja”, que “inspira o regime político português”, sintetizou, porque sabia, da leitura da revista, que isso os faria interessarem-se pelo seu trabalho.

Mas, na verdade, os seus interlocutores mostraram-se muito interessados nas informações do português, que no entanto se limitaram a registar cuidadosamente, como percebeu pelas perguntas muito acertadas que lhe fizeram.

Uma novidade para Rufino deveria ser, a certo ponto, a insistência na importância dos métodos de trabalho do doutrinação, que, explicaram, era a grande novidade de Jean Ousset. Só como insistência, porque isso na revista não surgia tão evidente, como nos livros que esse dia levaria dali.

E quem era Jean Ousset?

Rufino não disse que o lia sempre na revista, antes de ler os demais colaboradores, mas pediu-lhes que lho explicassem e que gostaria de conhecê-lo em pessoa. Percebera que mostrar tal interesse deveria abrir-lhe definitivamente todas as portas, ainda que, nas bocas e entusiasmos dos seus interlocutores, tudo lhe parecesse um tanto teórico, se não mesmo em excesso…

Eles aconselharam-no a que lesse o livro “L`Action”, que acabava de sair, antes de encontrar-se com Ousset, o autor, o qual só voltaria a Paris daí a duas ou três semanas, porque andava numa importante digressão pela América do Sul. Estava, aliás, a começar muito auspiciosamente a avaliar por notícias já chegadas, que falavam do grande entusiasmo de Jean Ousset por várias personalidades muito jovens, com que já se encontrara longamente e lhe pareciam muito prometedores talentos para os objectivos do “Office”. Que essa era a grande obsessão e o grande esforço de Ousset, descobrir talentos e pô-los a trabalhar segundo os métodos de que era o grande sistematizador e o grande impulsionador, como “L´Action” demonstrava.

E eles a insistirem!

Rufino não precisava de tanta insistência e para o demonstrar, mas não só, pediu que lhe vendessem três exemplares, queria um para si e os outros para oferecer ao embaixador e ao cônsul.

“Não precisa de comprar para o vosso Ministro dos Negócios Estrangeiros, nem para o Presidente Salazar, que, antes de partir, já Jean Ousset deixou dois exemplares dedicados (“dédicassés”) que já devem ter recebido, pois logo lhos mandámos” – disseram-lhe.

A olhá-lo, com um sorriso que Rufino não foi capaz de classificar logo, o mais jovem dos seus interlocutores franceses deixou levantar e afastarem-se os seus dois camaradas, para dizer-lhe em voz baixa já completamente sério…

“Se Monsieur convencer Jean Ousset de que Monsieur também é uma talentosíssima esperança, vai ver que tem dele tudo o que precisar. Mas não caia em lisonjeá-lo, que isso ele não perdoa, porque acha a lisonja a maior prova da falta de talento e incapacidade de quem à lisonja se entrega…”

Rufino saiu dali, era quase noite, carregando um grande embrulho de livros, porque acabou por não se limitar ao “L´Action” e comprou todos os restantes de que Jean Ousset era autor e não eram muito poucos, nem de poucas páginas.

A.C.R.

(-->)

Etiquetas: , , , ,


This page is powered by Blogger. Isn't yours?

  • Página inicial





  • Google
    Web Aliança Nacional