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2007/06/27

Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte VI - N.º 10 - Ano Propedêutico salva UL 

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Pelo caminho para Lisboa, muito depois de passarem a Serra do Caldeirão, jantaram os quatro no primeiro restaurante da estrada que lhes pareceu convidativo.

O entusiasmo e descontracção eram tantos que até o vogal Rosa chegou a dizer coisas interessantes.

Segundo ele, aquilo das instalações para a Universidade futura… Tinha-lhe ocorrido o que poderia ser uma solução… Ia dizer-lhes mas recomendando segredo, porque não convinha “levantar lebres” antes de tempo, tanto lhe parecia a coisa excepcional, a merecer todo o empenho e, chegada a hora, diligências fulminantes. “Que tal – disse – o prédio da Fundação monárquica, em Lisboa, na Rua Vítor Córdon?”

Ninguém conhecia, por dentro, mas todos conheciam, naturalmente, por fora, que era sítio corrente de passagem e muito bem situado no centro da capital e no centro da rede geral de transportes da cidade, em todas as modalidades, até o “metro”.

Tinham de agir rapidamente, no momento próprio e cair de surpresa “em cima do Senhor Dom Duarte”, tornou a insistir, porque considerava os companheiros muito mais espertos que ele próprio, mas tinha-os por muito distraídos, em coisas correntes e de senso comum.

“E está vaga? – perguntou Manuel Arnao.

“Está, ao que sei, mas precisa de algumas obras de conservação e possivelmente de adaptação, que a Fundação talvez não esteja em condições de fazer porque há bastante tempo que não recebe dali dinheiro algum. E a casa esteve ocupada durante uns anos por retornados do Ultramar. A não ser que se paguem adiantadas algumas rendas, mas não muito, porque o Senhor Dom Duarte vai precisar delas para se casar e para se sustentar e aos Irmãos.”

“E alimentar os seus sonhos de Restauração…” – acrescentou o vogal Rosa.

Todos perceberam que o assunto fora já falado, mais que evidentemente, com o interessado, possivelmente pelo próprio vogal Rosa.

- Não fui eu. Foi o Professor que me contou – explicou, corando, o vogal Rosa.

Naquele momento, Rufino decidiu para si que iria ele falar sobre o assunto com dom Duarte Pio, talvez já no dia seguinte, uma vez que desde a criação do “movimento” tinha acesso fácil junto do Rei. Mas teria de informar-se primeiro, com Manuel Arnao seguramente, sobre como funcionava a Fundação e, tanto quanto possível, quis eram os recursos desta e os do Príncipe.

Um propósito o animava desde logo: não seria ele que minimamente prejudicasse os interesses da Família real e, em particular, do Senhor Dom Duarte. Mas também não comprometeria desnecessariamente os recursos da futura Universidade, que ainda eram uma completa incógnita.

Pensou que isso seria a definir urgentemente, mesmo a renda a pagar à real Fundação dependendo dessa dfinição.

Mas como apalpar a reacção das famílias ao próximo aparecimento da Universidade e o que estariam dispostas a pagar?

Não menos, com certeza, que aos melhores colégios do País…

O governo veio inesperadamente em auxílio dele e da viabilidade do projecto, publicando essa semana o Decreto de criação do Ano Propedêutico, na verdade um ano complementar do secundário, especialmente pensado visando preparar os finalistas para a entrada na Universidade ou melhor, para o salto de fora para Universidade, cada um aprendendo a cair e aguentar-se de pé, uma vez lá dentro.

A ideia do governo era não criar cursos para o efeito, nas escolas, mas transmiti-los pela T.V. e cada aluno a receber em casa as lições, entregue a si próprio.

A gente do meio que consultou estava indignada.

Ia ser uma catástrofe e a anarquia, asseguravam todos.

Alguém lhe deu a ideia revolucionária.

Porque não lançar imediatamente a futura Universidade privada com aulas para grandes turmas de Ano Propedêutico, com os alunos a seguirem as lições pela televisão e com explicações de professores da matéria no fim de cada sessão, para desfazer dúvidas?

O pânico e a desorientação eram tais que alunos não faltariam com certeza, pagando as adequadas propinas.

Financiamento garantido para a futura Universidade e alunos garantidos a seguir para os cursos universitários, pela admissão dos que terminassem o propedêutico, os quais, desde que candidatos a uma Universidade privada, não teriam que temer o numerus clausus, só aplicado pela lei às Universidades estatais.

Hurrah!

Parecia de encomenda mas, na verdade, era tudo perfeitamente transparente.

Começa aí a corrida contra o tempo de Rufino e a sua equipa.

Estava-se em Maio ou Junho, as aulas do Ano Propedêutico teriam de começar em Setembro e estava tudo por fazer!

Por onde começar?

Mas, no dia dois de Setembro de 1977, as aulas do Propedêutico da arbitrariamente chamada Universidade Livre começaram imparavelmente, diga-se que com enormes turmas – mais de novecentos alunos ao todo – e nenhuma preocupação de legalidade formal da coisa, porque ninguém levantava problemas e o Ministério da Educação menos que ninguém.

Na verdade, aquilo que o ME mais desejava, muito acima de tudo, era que lhe resolvessem, com tão poucas ondas quanto possível, os imbróglios do Ano Propedêutico e do numerus clausus, criados levianamente pelas luminárias da “5 de Outubro”.

Coitadas das luninárias!

Pressionadas por outras luminárias, as do Instituto Nacional do Emprego, que queria abater às estatísticas, para estrangeiro ver, os milhares de jovens que, inseridos no Ano Propedêutico, deixariam de contar como desempregados, as luminárias do ME deixaram-se levar na onda dos improvisos apressados pelas luminárias do INE.

Com os seus quase mil ali alunos logo inscritos no primeiro Ano Propedêutico, a dita “Universidade Livre” foi um achado, até para as estatísticas. O ME bem viria a agradecer-lho.

A.C.R.

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