2007/06/20
Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte VI - N.º 07 - O PREC DE DIREITA
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Mas afinal…
O “PREC da direita”, na UL, que foi feito dele?
Um dia, acontecera o “25 de Abril” havia uns dois anos, recebeu Rufino uma carta de Espanha, dum português refugiado ali das incertezas e riscos do “11 de Março”, 1975, o famoso dia das nacionalizações que não deixavam esperança alguma de futuro à economia.
Bem… Mas foi em situações de quase quarenta anos antes, em 1936-37, que você, A.C.R., nos falou pela última vez de Rufino… – dirão os leitores menos distraídos.
Embora tenha sido há poucas páginas destas Memórias, os anos que entretanto decorreram é que foram muitos e nós sem sabermos do que fez e por onde andou Rufino, esses anos todos.
Era ele então apenas, pelo menos assim foi apresentado, um moço espertalhote e original, vivaço e talvez empreendedor, mas já mergulhado, ao que parecia, na falta de horizontes duma mediocridade de aldeia que, no fundo, pouco ou nada augurava…
Têm razão os leitores.
Sim, é verdade, o moço tinha na altura apenas dezassete anos, acabados de fazer. Que pode ter ousado depois que entretanto não tenha justificado menção?
Retomemos a carta de que se ia falar.
Vinha ela de um amigo muito mais velho, mas que ultimamente fazia questão de demonstrar-lhe estima e consideração, tanto como consideração e estima.
Para que se lembraria o catedrático “saneado” de Abril de demonstrar-lho de forma mais insistente e lisonjeira que nunca?
Dizia-lhe ele, o Professor, na sua carta insólita mas sem rodeios, que era “altura de darmos um contributo audaz para travar a corrida do País para o abismo”!
E insistia que era imperativamente urgente intervir, pois se chegara mesmo ao limite e só Rufino e o seu “grupo” estavam à altura de deitar mãos à iniciativa que se impunha.
Qual iniciativa?...
Criar uma escola privada de acesso à Universidade que fosse escorreita de todas as malformações que estavam a destruir a Universidade pública, escola onde, portanto, durante um ano pós-secundário, os filhos das famílias ainda sãs fossem preparados, cultural e moralmente, para ajudar a reverter a Universidade pública dos males profundos, largamente instalados já, que a iam destruindo desde “Abril”.
Donde vinha tão grande confiança do Professor em Rufino e seu “grupo”, tão grande que o surpreendia, embora nem minimamente o assustasse ou atrapalhasse, antes pelo contrário?
Talvez o currículo de Rufino explicasse a confiança que os amigos desde alguns anos lhe testemunhavam constantemente.
O currículo e sem dúvida também certo dom daquela simpatia instintiva e natural, que muitos anos antes lhe servira para conquistar as mulheres espontaneamente.
Não só as mulheres.
De facto conquistava quem quer que entrasse na sua roda, mesmo sem querer ou sem pensar nisso. A ponto de chegar a descobrir que, pelo poder com que também contava, de criar antipatias, se o quisesse, conseguia igualmente atingir os mesmos efeitos, isto é, congregar colaborações e lançar facilmente iniciativas arriscadas e fora do comum com o apoio do maior número.
Dera as melhores provas da sua auto-confiança e, descobrira-o também, das melhores maneiras de atrair a confiança dos outros, provocar-lhes a coragem e estimular-lhes o espírito de iniciativa.
E, contudo, estava a começar pensando que era ainda pouco.
Aquela grande ideia do Professor podia dar origem ao grande projecto nacional que o “grupo”, os grupos estavam candentemente a invocar para um grande salto em frente.
Iria convocar imediatamente os colaboradores mais íntimos e mais responsáveis, para aperceber-se das reacções e traçarem juntos as novas linhas do futuro.
De facto, as “células” começavam a demonstrar os seus limites e o movimento conjunto delas parecia patinar…
Não era exactamente a consciência disto, em todo o caso, mas o seu faro para as situações de impasse que o fariam agir.
Nem pensava Rufino, porém, ou podia imaginar neste caso, em que trabalhos ia meter-se e meter os seus maiores amigos.
A.C.R.
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