Aliança Nacional - Nação & Liberdade

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Um aditamento.

Como se fosse nota em pé de página ao nº 1 desta Parte VI das “Memórias das minhas Aldeias”.

Em entrevista à revista Pública do “Público” dos Domingos, contou recentemente Eduardo Lourenço o seguinte episódio passado com Salazar.

O Homem era um poço de surpresas como todos sabemos.

O curioso é que nunca se sabe de surpresas que o diminuam, venham por amigos ou adversários, mesmo inimigos.

Agigantava-se sempre, mesmo quando a intenção de quaisquer dos seus contestadores possa ser oposta, o que não é de todo o caso.

Vamos ao episódio.

Conta Eduardo Lourenço, o grande ensaísta, na sua entrevista a que o “Público” deu o título de “Eduardo Lourenço. Retrato do pensador errante”.

“Lembro-me de o Torga me ter contado uma história que se passou com um ministro de Salazar, o Leite Pinto, que ia ao Brasil.* O Torga tinha estado lá e era muito conhecido no Brasil. Ora esse Leite Pinto, antes de partir, foi-se despedir de Salazar e, nessa visita, começou a recitar um poema de Torga. O mais interessante é que Salazar continuou o poema e acabou de o dizer. O Torga contou-me isto com lágrimas nos olhos. A vida é muito complicada.”

Vem o episódio a propósito de Eduardo Lourenço dizer, linhas antes, o seguinte sobre o relacionamento de Salazar e os intelectuais portugueses.

“Não está feita a história do que foi o verdadeiro comportamento de uma parte dos escritores e intelectuais portugueses nessa época, ambiguidade que mantiveram em relação ao regime e ao seu chefe. Veja o Aquilino (…). Depois de 1945, ele chegou realmente a ter obras apreendidas (pela Censura, entende-se). Mas sempre trouxe nas badanas dos seus livros uma frase de Salazar, a gabar-lhe o estilo (…).”

Notável e esclarecedora a tal “ambiguidade”, não é?

A.C.R.

*Tratando-se dum Leite Pinto, só poderá ter sido o irmão mais velho, Francisco Leite Pinto, que foi efectivamente ministro da Educação Nacional com Salazar.

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