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2007/05/21

Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte V – N.º 17 

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Não esqueço, evidentemente, os professores do Colégio mas é altura de não demorar mais a sua apresentação.

O que será um estabelecimento de ensino, seja qual for, e por melhores e mais importantes que sejam os seus impulsionadores primeiros e os seus organizadores, se os professores não forem ainda mais competentes e dedicados?

Continuo a acreditar, no mais fundo da minha consciência, que era o caso do Colégio Dr. Simões Pereira.

Todos os nossos professores deram o seu melhor, embora muito poucos com verdadeira formação pedagógica para o exercício da função de ensinar. Um ou outro foram arrancados às suas profissões próprias, que nada tinham a ver directamente com o ensino, mas eram profissionais sabedores e foram postos a ensinar o que sabiam, e bem.

Lembro aqui…

A Drª Ester Barata, que nos deu lições de Português, de Francês e de Inglês e que classifiquei um dia, já muito posteriormente, em placa de homenagem afixada à entrada das instalações antigas do Colégio, “como grande senhora e grande educadora”…

O Dr. António Almeida Melo, director técnico da farmácia da família, que nos ensinou Ciências Naturais, Química e Geografia, com uma persistência e insistência que faziam de nós todos bons e esforçados estudantes…

O Dr. Fernando Bandeira, um professor apaixonado pelo que ensinava, Português e Francês, a quem ficava necessariamente a dever-se o contágio dos seus entusiasmos e o exemplo do seu saber mobilizador, mas que ensinou no Colégio durante apenas uns dois anos…

O Dr. José Cabral e o Dr. Abrunhosa, meus professores de Matemática e Geometria aos quais devo grande parte da boa formação matemática que tive…

O Padre Dr. José Quelhas Bigotte, Reitor da paróquia de Seia, deu-me aulas de Português e Latim e de História Universal e História de Portugal, sendo por isso aquele que terá influído até à altura mais, nas raízes e desenvolvimento da minha formação cultural…

Não ficaria bem comigo mesmo, se aqui não registasse também o nome do Professor Diamantino, de Pinhanços, com quem fiz os exames da 3ª e 4ª classes, o qual me proporcionou a excelente preparação da Instrução Primária que muito facilitaria o meu percurso escolar posterior todo.

Pelo papel importantíssimo que teve no arranque do ensino secundário privado no concelho de Seia, e embora o não tenha conhecido pessoalmente, queria voltar a falar do Dr. Joaquim de Sousa Félix.

Existe hoje, no Vimieiro, uma rua com o seu nome que entronca com a rua Doutor António de Oliveira Salazar, de quem Sousa Félix terá sido grande admirador, pois o último de muitos colégios que fundou, na Metrópole e em Angola, cerca de vinte, foi em Santa Comba Dão, logo mudado para o Vimieiro, para muito perto da casa onde Salazar nascera.

Fechava assim um longo ciclo de iniciativas a partir da fundação do colégio em Paranhos; depois em Seia; direcção no de Oliveira do Hospital; fundação do Colégio de Tondela; em 1961 Angola, onde terá fundado catorze colégios; para em 1974, creio, se instalar em Santa Comba Dão e no Vimieiro, malogradamente aliás.

Um verdadeiro herói do ensino secundário privado.

Mesmo a sua participação e fomento da “guerra das matrículas”, entre colégios da mesma zona, parece ter sido não mais que uma desesperada manifestação do seu zelo de multiplicador de iniciativas.

Que se saiba, o Colégio de Seia, cujos proprietários lhe haviam comprado o alvará utilizado primeiro na fundação do colégio em Paranhos, foi objecto desse zelo. De facto, zangado com os proprietários de Seia, terá tentado levar alguns dos alunos daqui para o Colégio de Oliveira do Hospital, onde foi director, e depois para o de Tondela, que terá fundado a seguir.

Mas o conjunto da sua obra pelo ensino privado secundário parece-me absolvê-lo largamente desses pecadilhos de duro lutador incansável, tanto mais que alguns dos seus adversários não resistiram a praticar outros pecadilhos do género, iguais ou piores.

Aquele homem era um vendaval.

E o tempo era efectivamente propício a esses vendavais, que parece ter compatibilizado com o seu papel de educador.

A.C.R.

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