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2007/05/18

Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte V – N.º 16 

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Para mim e possivelmente para adolescentes como eu, os que nos interessávamos pelos acontecimentos de política internacional, a guerra terá sido sobretudo rocambolesca, porque todos os dias havia surpresas e coisas novas. Mas passava-se longe, a guerra era acima de tudo um excelente e fascinante espectáculo, seguido pela rádio e pelos jornais, de que o meu e o mais lido, como já no Congo, era nesse tempo “O Século”, diariamente.

De resto, tomar então partido não era tão fácil como fora com a Guerra Civil de Espanha, em que se sabia desde o começo qual era o “lado bom”, porque o governo, como era expresso, ajudara sempre os Nacionalistas, portanto nossos amigos.

Por isso, até os operários da fábrica de lanifícios da aldeia, uma dúzia, pouco mais, haviam festejado com uma bebedeira a queda de Madrid nas mãos dos Nacionalistas de Franco, cinco meses antes de começar a invasão da Polónia pelos alemães, em 1 de Setembro de 1939.

Essa fora uma guerra também bastante “nossa”, tão empenhadamente e de vários modos o governo nos envolvera nela e tão conhecido e proveitoso era o contrabando a favor dos Nacionalistas que assiduamente os nossos empresários faziam para Espanha.


Portanto, a vitória nacionalista era também uma vitória incontestavelmente portuguesa, “nossa”.

Daí, a natural emoção.

Ah! Mas também houve emoção com a nova guerra.

Foi quando os alemães tomaram Paris, num dia de Junho de 1940… Lembro-me bem de ter chorado ao ouvir pela rádio a notícia dada essa tarde pela Emissora Nacional, tinha o meu pai dias antes partido para o Congo, a ver como os negócios corriam, por lá, com o que eu também chorara amargamente, a sós comigo.

Santo Deus! Que mês aquele!

Depois, em certa altura de Junho de 1941, com a invasão da URSS pelos alemães, tomar partido tornou a ser para alguns ainda mais complicado, uma vez que os invasores apareciam desde então como paladinos incontestáveis do anti-comunismo, que era a bandeira de muitos portugueses e do próprio governo também.

Em todo o caso, isso era problema de relativamente poucos, uma vez que tomar partido sem dificuldade aparente é um vício, uma tentação irresistível de todos nós, cidadãos e portugueses imberbes, tristonhos ou solertes que todos somos ou nos habituámos a parecer.

Mal nos percatamos, todos aí estamos a tomar partido, com ou sem necessidade, só para alinhar com alguém ou alguma coisa que nos ajude a definirmo-nos, a sermos gente e agentes perante nós mesmos.

De facto todos éramos anti-soviéticos, mas poucos tinham passado a ser pró-alemães.

Não nos preocupávamos, por isso, o andar da guerra resolveria a questão pelo melhor, desde que não tivéssemos de entrar nela. E isso era hipótese que não nos afligia, pois ele, Salazar, e Ela , Nossa Senhora de Fátima, velavam infalivelmente pelos Portugueses e por Portugal.

Não havia dilema algum, pensava-se.

Ou a solução dele estava nisto: que os alemães vencessem os comunistas e que, depois, os Aliados vencessem os alemães.

Seria o melhor dos mundos, o mundo perfeito e sem brechas!

As coisas não correram tão bem assim e, no fim da guerra, ficámos todos a braços com os russos, logo iniciada uma nova guerra, não declarada mas incontornável, para que todos nos sentimos e nos desejámos imediatamente mobilizados: a Guerra Fria, em que pela primeira vez desde a Guerra Civil de Espanha todos sabíamos sem qualquer dificuldade de que lado estava a verdade e todos sabíamos quem era o inimigo a abater, para que não fôssemos “nós” os abatidos.

“Nós” éramos nós e o Mundo todo não-comunista, necessariamente anti-comunista, ou supostamente.

Nunca nada fora tão fácil, porque o aliado era também um só, os Estados Unidos e apartir de certa altura todos unidos à volta deles, questionando o menos possível, porque era de vida ou de morte o que estava em jogo e agora nenhuma neutralidade seria compreensível.

Mas andei um tanto depressa demais.

Há que voltar atrás, porque certas omissões seriam imperdoáveis.

A.C.R.

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