2007/05/07
Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte V – N.º 11
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Talvez o progresso mais importante acontecido em Seia, nos anos trinta, tenha sido a criação do Colégio Dr. Simões Pereira, que já terá funcionado em 1937/38.
Isso, se não tivesse acontecido, também em 1937, a compra da fábrica de lanifícios de Vodra pelo comendador Joaquim Fernandes Ferreira Simões, ponto de partida para a criação do maior grupo industrial de sempre do concelho e circundantes.
Tinha ele pouco mais de vinte anos.
Outra coisa é certa, o colégio nasceu no Concelho de Seia, mas em Paranhos da Beira.
Porquê em Paranhos, a dez quilómetros de Seia, para Norte?
Porque lá é que surgiu um grupo dinâmico de pais com filhos em idade de entrar no ensino secundário que, para continuar estudos, teriam de ir para relativamente longe – Coimbra, Guarda ou Viseu.
Mas pais também com disposição e meios para arriscarem.
Em todo o caso terão ponderado se não lhes ficaria mais barato arriscar num colégio in loco, que terá estado já a funcionar em 1932/33.
Conseguiu-se apurar apenas os nomes de dois dos investidores e impulsionadores da iniciativa audaciosa, mas há a convicção de que seriam mais. Foram eles os nomes de Adelino Carvalho e do professor primário Benjamim Coelho, sendo aquele também proprietário do solar onde desde logo o colégio funcionou.
Admito, em todo o caso, que o homem fulcral da iniciativa tenha sido, a partir de 1934, o licenciado em Matemática Joaquim de Sousa Félix, originário de Moimenta da Beira, convidado para professor de Matemática e Física e logo a seguir director do colégio, já a funcionar em 1932, pelo que não poderá ter sido ele o inspirador da criação deste, como cheguei a supor.
Do que não há dúvida é de ter sido ele director do Colégio, que também não sei que nome teve para começar, talvez simplesmente Colégio de Paranhos e que funcionava num solar conhecido por solar dos Viscondes de Paranhos, onde chegou a ter uns quarenta e cinco alunos, segundo me referiu um aluno desse tempo.
No ano lectivo de 1936/37, já sob o controlo do Dr. Sousa Félix, o Colégio foi mudado para a Ponte de Santiago, numa casa derrubada em 2005, num cruzamento de estradas e muito mais próximo de Seia, que naturalmente seria o “mercado” potencial maior para o Colégio, num tempo em que os transportes colectivos e individuais apropriados eram muito escassos.
Tanto assim que, logo no início do ano lectivo de 1938-39, foi o Colégio transferido para Seia, para a conhecida “Casa do Pau Preto”, actual Biblioteca Pública.
Passou na altura o alvará, então propriedade do Dr. Joaquim de Sousa Félix, para a posse do grupo de Seia constituído pelos Dr. António Mendes Cabral, notário, Dr. Virgílio Calixto Pires, notário também, e Adriano de Almeida Melo, farmacêutico e proprietário da farmácia Melo.
O problema é sempre o mesmo.
Os três eram pais de bom conjunto de rapazes e algumas raparigas em idade de fazerem exame de admissão ao liceu ou já a frequentarem, fora, o ensino secundário, e que poupariam dinheiro aos pais, se houvesse em Seia onde fazerem o secundário, ao menos do 1º ao 6º ano, que era cedo para pensar-se em obter autorização para leccionar também o 7º ano.
Assim abriu o Colégio Dr. Simões Pereira, sob o alvará do Colégio nascido em Paranhos, mas a partir de 1940 em edifício próprio, construído de raiz e sucessivamente ampliado, primeiro, e aumentado com outro edifício ao lado, mais tarde.
Tudo pois, nos anos quarenta e cinquenta, que hoje, são considerados pelos especialistas o período de arranque do grande desenvolvimento nacional moderno.
No Colégio em Seia, havia um cheiro a dinheiro para instalações que em Paranhos parece não ter havido.
Dizia-se que contava para isso a família de António Marques da Silva, sogro que fora do falecido médico Dr. Simões Pereira, patrono do Colégio.
António Marques da Silva era o homem mais abastado e influente da região e também o mais conhecido empresário de sucesso de três ou quatro distritos e empresário de ponta, grande criador da Hidroeléctrica da Serra da Estrela, com centrais eléctricas espalhadas pela Serra da Estrela, desde a Lagoa Comprida e vale do Alva, e com o monopólio de abastecimento público, industrial e privado de energia eléctrica nos concelhos de Seia, Gouveia, Nelas, Manteigas, Oliveira do Hospital, etc.
Disse-se que teria sido ele quem deu garantias à banca para o empréstimo destinado à primeira construção do Colégio, feito aos três proprietários, homens pouco endinheirados, embora influentes.
A homenagem ao genro, um herói da medicina, durante a epidemia de pneumónica de 1919 e 1920, tê-lo-ia também sensibilizado na sua generosidade.
Mais tarde, a ampliação do primeiro edifício e a construção do segundo já pertencem a outra fase da História do Colégio.
A.C.R.
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