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2007/05/11

Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte V – N.º 13 

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O principal responsável pelo outro grande feito desenvolvimentista de Seia, nos anos 30, já o disse, foi Joaquim Fernandes Ferreira Simões.

Conhecemo-nosm, pessoalmente, só em 1965.

Coubera-me lançar em 1963, no então recém-criado Fundo de Desenvolvimento de Mão-de-Obra (FDMO) do Ministério das Corporações, um novo serviço, em pleno arranque naquele ano de 1965, para promover a criação de centros de aprendizagem e de aperfeiçoamento e reciclagem profissional, indo muito além dos centros de “formação profissional acelerada” que o Ministério possuía havia alguns anos.

Com uma particularidade: o governo pretendia que, na iniciativa e na direcção e gestão desses centros, viessem a ser seus parceiros as organizações sindicais e patronais das áreas profissionais respectivas.

Protocolos tripartidos regulariam o funcionamento dessas parcerias.

O ministro Gonçalves de Proença encarregara-me de sondar na Covilhã os organismos patronais e sindicais do sector dos lanifícios, que o governo admitia ter grandes carências de formação profissional e ao qual o governo prometia todos os recursos financeiros para a criação do centro capaz de colmatá-los.

Fui recebido na Covilhã pelo presidente do grémio sem a menor simpatia, mesmo depois de ouvir a minha oferta que transmiti fielmente.

Não sei se desconfiou da fartura ou se tinha contas a ajustar com alguém… Mas o facto é ter-me respondido que os industriais dispensavam o apoio do Estado, que eles mesmo fariam a formação.

Sem hesitar, fui direito a Seia, do outro lado da Serra, já então o segundo centro nacional da indústria de lanifícios, para falar com o presidente da Câmara e grande industrial a que se devia todo esse desenvolvimento, Joaquim Fernandes Simões, e propus-lhe a mesma oferta que me levara à Covilhã, em nome do ministro das Corporações e Previdência Social.

Ele não hesitou um segundo.

Prometeu imediatamente arranjar casa para os cursos de cerzideiras que eram, na conjuntura, a mais urgente carência de mão-de-obra da indústria. Não tardaria que, transitoriamente, puséssemos a funcionar os primeiros desses cursos no edifico do actual Totta e Açores, à Visconde de Valongo.

(Lembram-se deste nome?)

Mas, como logo se capacitasse de que aquilo que queríamos era ir bem mais longe, criar um grande centro de formação para todas as profissões e escalões dos lanifícios, um dia mesmo para o ensino superior, a engenharia têxtil – então inexistente em Portugal – logo Joaquim Fernandes Simões e a Câmara garantiram terreno onde, menos de dois anos depois, também inteiramente paga pelo Estado, começou a construção do Centro de Formação Profissional da Indústria de Lanifícios, inaugurado em 1969 ou 1970, se não erro, mas já eu lá não estava, “saneado” para outra área profissional, um saneamento de ciumeiras da escala hierárquica acima de mim.

Era assim o Homem Joaquim Fernandes Simões.

Duma visão rápida, que imediatamente transformava em acção, via claro e sem hesitações onde outros desconfiavam e se punham a “mastigar”. Descobria depressa em quem podia confiar, o que, junto à sua pronta intuição do que era essencial e do que era secundário, lhe permitia não desperdiçar nenhuma oportunidade séria. Acreditava que, com tudo isso, podia vencer a qualquer momento algum contratempo que lhe surgisse pelo caminho e mudar o destino a seu favor. Inspirava confiança total. Tinha todas as condições dum grande realizador e excepcionalíssimo homem de acção , como não conheci outro.


Gosto de imaginar como tantas qualidades devem ter nele amadurecido cedo, para aos vinte e quatro anos apenas se ter abalançado a comprar a “falida” fábrica de Vodra aos herdeiros de João Dias, de Quintela, que a fundara em 1905.

Muito depressa tinha singrado o rapazito que o pai, importante comerciante de lãs de Vila Verde, mandara sozinho, aos dez anos, feita a 4ª classe, trabalhar e aprender para a Covilhã, com o correspondente e agente de negócios dele no maior centro de lanifícios do País e o maior centro consumidor das lãs que ele, pai, vendia!

O tempo – a década dos anos vinte, em que o rapazito entrou no comércio de lãs – era de fortíssima reestruturação desse negócio, até então nas mãos de quase multidão de pequenos comerciantes e alguns grandes, mas que irreversivelmente se foi concentrando nas mãos de muito poucos, com inúmeras falências e desistências de pequenos ou pequeníssimos comerciantes pelo meio. Primeiro, em consequência das crises que se seguiram à guerra de 1914-18; e, anos mais tarde, no desenvolvimento da grande crise mundial de 1929-32.

Mas a Joaquim Fernandes Simões bastaram alguns anos apenas para se tornar um desses grandes, a ponto de, segundo me contou, chegar a ser o primeiro fornecedor de lãs, nacionais e estrangeiras, à industria de lanifícios de toda a Serra.

Por certo a Guerra Civil de Espanha, de 1936-39, terá proporcionado oportunidades que ele não deixaria de explorar, talvez fazendo fornecimentos directamente aos Nacionalistas – estavam aqui tão perto – e seguramente aos fornecedores portugueses que os abasteciam, “beneficiando” do vazio criado pelo boicote económico internacional estabelecido pela Sociedade das Nações – a ONU de entre as duas guerras mundiais – boicote a que Portugal expressamente não aderira, com aquele sexto sentido bem informado ou instinto seguro a que Salazar nos ia habituando.

A.C.R.

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